Usina do Ituparanga e a Brazilian Traction Tramway, Light and Power Co.: monopólio e expansão do capitalismo financeiro no final do século 19 (2019) - 01/01/2019 de ( registros)
Usina do Ituparanga e a Brazilian Traction Tramway, Light and Power Co.: monopólio e expansão do capitalismo financeiro no final do século 19 (2019)
2019. Há 5 anos
com o filho e Diogo do Rego e Mendonça, outro espanhol, casado com Mariana de Proença. Uma filha ilegítima de nome Suzana também se mudou com Balthazar Fernandes que ainda assim deixou filhos e netos em Parnaíba e São Paulo e especula-se que em sua rancharia no Lajeado, em Sorocaba, administrava perto de 400 naturais da terra cativos. Sobre o fundador, Elina Santos cita Almeida que diz que:
Balthazar era dono de muita escravaria, a riqueza do tempo, nativos carijós já batizados, provindos das reduções jesuíticas. Plantavam a mandioca, o milho, o algodão, o trigo e a vinha. Criavam gado vacum. Sua casa, um grande rancho feito de taipa e certamente coberto de telha, devia de morar mais ou menos na altura de São Bento atual.8
Almeida investigou também sobre a residência de taipa de pilão que o rico sertanista fez construir em sua chácara à margem do rio Sorocaba. Informa que foi avaliada por Luiz Saya quando técnico do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, concluindo este que era autêntica construção do século 17. Adolfo Frioli acrescenta que a casa consta no inventário de Izabel de Proença, a segunda esposa de Baltazar Fernandes. Após a morte do sertanista em 1667, as suas terras deveriam ser herdadas pela ordem de São Bento, que transformaria a capela na igreja e mosteiro de São Bento.A Câmara da vila, porém, embaraçou o direito dos padres, distribuindo as terras aos moradores, questão só resolvida pela Justiça de São Paulo em 1724 a favor da Câmara. [FRIOLI, Adolfo. Sorocaba: registros históricos e iconográficos. São Paulo: Laserprint, 2003. p. 34.]
Entre 1835 e 1855 foi residência do padre Florentino de Oliveira Rosa e, quando Almeida estava investigando as ruínas do Lajeado já em 1938, ouviu de seus moradores que eram assombradas pelas almas de padres que vinham ali rezar missas à meia-noite. Almeida passou a defender que as tais ruínas, já desaparecidas na atualidade, eram os resquícios finais da grande residência do sertanista Balthazar Fernandes. Além dessa residência, o Capitão Balthazar teria erigido a capela de Nossa Senhora da Ponte, o verdadeiro núcleo da povoação, tendo mandado construir os edifícios da Câmara e Cadeia da vila e conduzido em 1661 o pleito de criação da freguesia.
Por deferimento do governador Salvador Correia de Sá e Benevides, e após asprovidências do Ouvidor Capitão Antônio Lopes de Medeiros que deveria tudoaveriguar, ao sertanista foi outorgado o direito de “fazer oficiais da Câmara por ter a ditapovoação moradores bastantes” com Balthazar Fernandes e Pascoal Leite Paes atuandocomo juízes. Por eleição, ocuparam o cargo como vereadores, André de Zúnega eCláudio Forquim; o cargo de procurador foi exercido por Domingos Garcia e o de [RICARDI, Alexandre. Usina do Itupararanga e a Brazilian Traction Tramway, Light and Power Co.: monopólio e expansão do capitalismo financeiro no final do século 19. 2019.326 f. Tese (Doutorado em História). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas,Universidade de São Paulo, São Paulo, 2020. Página 152]
escrivão, cujo costume determinava que fosse nomeado, foi ocupado por FranciscoSanches. Vale lembrar que nessas eleições não havia povo votando, mas somente achamada nobreza da terra, os homens bons que possuíam terras e escravos, ainda quemuito não soubessem ler e nem escrever.10Esse foi importante mecanismo da expansão portuguesa que garantiu o suportedos homens rústicos que povoavam as até então insignificantes Capitanias do Sul naColônia do Brasil. O poder de governança em nome d’El Rei era-lhes assim dado, bemrepresentado tal poder nos instrumentos como o pelourinho e a Câmara e Cadeia. A essereconhecimento estavam atreladas também as normas sociais que ditavam que os queadotassem ofícios mecânicos não deveriam compor essa classe distinta. Ao comprovar apropriedade de escravos, posse essa também garantida pela lei ferreamente outorgadapela monarquia absoluta, brechas poderiam ser achadas nessas normas.O apresamento dos naturais da terra, que seria alternadamente estimulado edesestimulado pela Coroa portuguesa, era uma das principais atividades econômicasdesses homens rústicos. Para não os exasperar, seria dado pela Coroa o abrandamento àatividade com a figura do “índio administrado,” tornando possível a implantação de umescravismo erroneamente considerado menos impiedoso do que o africano, mas aindaassim escravismo. Em Sorocaba, as relações com o estabelecimento do escravismopodem ser bem observadas na primeira tentativa de povoamento feita por Braz EstevesLeme e Pascoal Moreira Cabral, sogro e genro.
Presentes na região desde 1654, esses sertanistas eram conhecidos caçadores de naturais da terra e administradores de muitas ‘peças’. Pascoal Moreira Cabral andou pelas terras do Mato Grosso, descendo pelo rio Tietê, mas voltando pelo Paranapanema, rio com menos obstáculos como cachoeiras e corredeiras. Pascoal também procurava por ouro e naturais da terra na região do Paraná, havendo notícia dele ter estado em Curitiba em 1699, junto com Salvador Jorge Velho e Miguel Sutil de Oliveira. Voltando a Sorocaba somente em 1715, foi um dos descobridores do ouro no rio Coxipó em 1718, tendo assinado a ata de fundação de Cuiabá inclusive, onde vários paulistas já se localizavam e exerciam resistência aos castelhanos.11
Do capitão André de Zúnega, depois vereador em Sorocaba, sabe-se que nasceuno Guairá e foi companheiro de campanha de Pascoal Moreira Cabral. Zúnega está entreos sertanistas que mais trouxeram naturais da terra subjugados da expedição ao Boteteí, [RICARDI, Alexandre. Usina do Itupararanga e a Brazilian Traction Tramway, Light and Power Co.: monopólio e expansão do capitalismo financeiro no final do século 19. 2019. 326 f. Tese (Doutorado em História). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2020. Página 153]