Carta escrita por Antonio Pires, Baía, 12 de setembro de 1558
12 de setembro de 1558, sexta-feira. Há 466 anos
Muitas coisas particulares avia que dizer e que alegrarão muito a V. P. e a todos os Irmãos, mas com só duas me contentarei agora pela novidades delas nesta terra. Uma é que um destes moços que os anos passados criamos e se ensinou a tecelão, está com seu tear em São Paulo e já faz pano, e o cuidado que antes tinham todos nas festas da carne humana e em suas guerras e cerimonias, o convertem em plantar algodão, e fiarem-no e vestirem-se, e este é agora o seu cuidado geralmente e é começo para todos se vestirem e de feito muitos o andam já.
A segunda é que nesta povoação de São Paulo está uma nativa moça que somente por amor da virtude se determinou viver em toda a castidade e limpeza; depois que lhe louvaram e ordenaram sua intenção e lhe contaram exemplos de Santas Virgens cresceu muito em o amor de seu propósito: é isto tão novo nesta geração, na qual a carne corrompeu tanto seus caminhos que nos espanta sed manus Domini no est aligata. [Carta escrita por Antonio Pires, Baía, 12 de setembro de 1558. Monumenta Brasiliae, 1956. Serafim Soares Leite (1890-1969). Página 570 do pdf]