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Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, vol. XL
1941. Há 83 anos
PASCOAL MOREIRA CABRAL
Em 1655 veio à luz do mundo, no território que seria em 1661 o termo da vila de Sorocaba, um menino que havia de trazer muito acrescentamento à coroa, restaurada dos Braganças, e cujo nome, em tudo igual ao do pai, ficaria indelevelmente unido à história do Brasil da expansão para o oeste, sobrepujando o primeiro Pascoal Moreira Cabral, também bandeirante de prol, mas fixado nas fraldas do Ipanema, o ponto mais avançado do povoamento ao ocidente de Piratininga.

Entre os povoadores vindos então ou talvez já anteriormente, estava Brás Teves, o primeiro vizinho mais próximo de Baltasar, com uma casa de morada sete léguas para o ocidente, na foz do Sarapuí com o Sorocaba. O capitão Brás Esteves Leme, em nome mais comprido, era legítimo mameluco, filho natural de pai homônimo, da brilhante estirpe dos Lemes, e de uma nativa, o qual morrera em 1636 no Jaraguá, donde extraiu muito ouro.

Daí que o motivo de sua mudança para o sudoeste do Araçoiaba seria a sede do ouro e de minas, porém já em aliança com a pecuária e a lavoura, elementos fixadores. Não esqueçamos o número de escravizados carijós necessários a essa tríplice empresa, os quais o audaz mameluco fora caçar com as suas próprias mãos no recôndito das selvas. [Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, vol. XL, 1941. Página 348]

Com 30 casais em 1661, casa de Câmara, igreja de Nossa Senhora da Ponte e dois padres beneditinos construindo o seu convento, Sorocaba era bem um oásis de vida civilizada na solidão e já começava a atrair viajantes, com a mira nos currais de gado e nos negócios das entradas em que o pobre carijó descido das selvas era a mercadoria. [Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, vol. XL, 1941. Página 350]

Em 1697 tem Paschoal Moreira Cabral, o filho, 24 anos de idade e já fizera mais de uma viagem ao interior, aprendendo, traquejando-se. Morreu Brás Teves. Do terreiro limpo da nova capela do Pópulo abre-se-lhe diante um panorama esplêndido: a vila de Nossa Senhora da Ponte, o Araçoiaba, à esquerda deste os ramos longínquos da Ibiticatú, à direita e ao fundo o vale do Tietê. Recorda-se das viagens anteriores, coordena as notícias dispersas ouvidas de velhos sertanistas e dos servos carijós, traça o roteiro na mente, no chão, no papel. E parte mais uma vez.

É a hora da mocidade. O velho ficaria tocando o seu pequeno povo de carijós a planta a mandioca e o milho e o algodão e a criar o gado na companha reiuna, onde as lagoas do Tinga e do Ipatinga estavam a espelhar o azul do céu, quando o não cortavam níveas garças. [Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, vol. XL, 1941 Página 351]

Era, aliás, uma resistência continuada desde a destruição do Guairá, num mesmo sentido, que aqueles paulistas simples não compreendiam de todo: a fixação dos limites pelos fatos, gerando um futuro Uti possidetis para os tratados definitivos. Rechaçados do atual Paraná em 1629, ficam os zelos sacerdotes no atual sul-mato-grossense, fundando as reduções dos Itatins, já em novembro de 1648 atacados pelos "portogueses de San Pablo". Nessa mesma ocasião André Fernandes, bisavô de Pascoal, já entrado em anos, ameaçava Talavera e o governador de Vila Rica (a do Paraguai) sugeria ao de Assunção a troca de jesuítas por franciscanos, mais estimados pelos paulistas.

Na ação contra a aldeia de Boiboi dos Itatins, e já referida, morrera o jesuíta Alonso Arias com 12 pobres nativos. E outro padre dizia, contando o ataque, que o "duque de Braganças fez a Tavares (Antonio Raposo) mestre-de-campo para conquistar estas terras e fazer passo para o Peru e que vem agora com muita gente", e que André Fernandes tomava o rumo de Maracajú com pequena escolta.

Ainda em 1676 os paulistas de Francisco Xavier Pedroso haviam saqueada Vila Rica del Espírito Santo, mas don Juan Andino, governador paraguaio, saiu-lhes em perseguição, reavendo 40 das famílias apresadas. O abade Maserati, embaixador espanhol em Portugal, reclamou em vão à Corte Bragantina, cujo Príncipe, aliás se achava caçando em Salvaterra. Voltaram os castelhanos a insinuar que Roque da Costa, governador-geral, viesse a São Paulo castigar os insolentes. Que aliás, preparavam 900 homens brancos e 4000 tupis para nova investida e, assim, mais uma vez as armas concedidas aos nativos e entregues lhes voltavam às mãos, em legítima defesa. Era exagero: preparava-se oficialmente a fundação da Colônia e chegou-se a proibir os paulistas fazerem entradas para aumentarem o exército de Manuel Lobo. [Páginas 352 e 353]

As intenções deste também foram encobertas até a última hora, parecia que descesse a fundar uma povoação no interior. Informações de sumo interesse levou-as ao governador paraguaio, em outubro de 1679, João de Peralta. Este fora trazido da Vila Rica, destruída em 1632, ainda criança de peito. Agora criminoso em São Paulo, resolvera fazer como João de Mongelos, voltar à pátria.

Para isso, embarcara-se na Candelária (Itú) em março, numa das seis canoas que vieram trazer munições e víveres aos mamelucos, que tinham suas roças no distrito da despovoada Gerez. Sabia que em 1678 tinham saído de São Paulo para "maloquear" nativos Francisco Pedroso, que já estava além-Paraguai, Antonio Antunes e Manuel de Campos com poucos nativos (poucos, acrescentamos, porque D. Manuel Lobo lá estava precisando deles).

O Peralta não chegou ao reduto do Gerez, mas escapando-se com um filho de 21 anos, outro de 14 e outro de 7 e passando pela última Vila Rica despovoada desde 1676, atingira Assunção, com cartas de Amaro Gauto espanhol e Francisco Barbosa de Abreu. Fugia à morte o mísero e lavava cicatrizes; e os filhos, paulistas de nascimento, seguiram-lhe a sorte, com os pés sagrando e a roupinha em trapos.

De tudo o que (graças à economia de A. de Taunay que, com uma verba diminuta, fez copiar esses documentos) se repreende um fato importantíssimo: os portugueses de São Paulo (incluindo os parnaibanos e sorocabanos) mantinham já em 1679 e, certo, algum tempo antes, um arraial onde obrigatoriamente se reuniam para plantar, colher e receber "refrescos" (auxílios todos os anos) no lugar onde foi Gerez, sobre o Mboteteu, hoje Miranda.

Era o centro das correrias, que faziam até Santa Cruz de la Sierra. Aí operou em cerca de 10 anos o nosso então jovem Pascoal Moreira Cabral. Na sua luta contra os jesuítas achavam aliados nos castelhanos muitas vezes; no contrabando, por que não? Por esse lado, sempre tiveram fronteiras abertas o Brasil e o Paraguai. O próprio Peralta diz que Alonso de Vilalva tangia gado de Vila Rica (onde crescera o número dele) a vender e Gerez. Negociava-se também em bestas, tabaco e erva-mate, que foi vício no planalto antes do café. E vinham moedas de prata castelhanas, sempre apreciadas até sob D. João VI.

Em 1675 o ouvidor do Rio, Pedro de Unhão, prendera Juan de Mangelos, "castelhano de nação", que falsificara moedas com cunho falso. Talvez perdoado por D. Manuel Lobo para ir à Colônia, preferira o Mangelos sertanizar e, segundo D. Luiz Antônio de Sousa, se passara para o Paraguai pelo Avinheima e Iguatemi. Data dessa ocasião, cerca de 1682, o famoso episódio de Pedro Leme da Silva, o torto, que nas campanhas da Vacaria desabusou um chefe castelhano. Sendo Pedro Leme morador em Sorocaba é possível que o arraial onde rastou o papel desbragadamente e ripostou ao inimigo fosse o mesmo de seu parente Pascoal Moreira. A data de 1678 combina melhor com a estadia de Pedro Leme anteriormente em 1679 e 1680 e março de 1682 na vila sorocabana.

Chefiavam aquela célebre bandeira os moradores de Sorocaba Brás Mendes e Pedro Domingues Pais, aquele como imediato, na opinião de Taunay, o que deve ser confirmado pela idade de ambos, sendo muito jovem o Mendes. A existência deste em Sorocaba, assinando em 1677 um papel sobre catequese de nativos, um papel que encontramos avulso no Arquivo Público do Estado confirma o milésimo preferido de 1678, ao passo que reafirma o ideal dos bandeirantes na Vacaria: descer selvagens, que o padre Antonio Barreto de Lima, ainda não vigário doutrinava e pedia, por isso, à Câmara 2$000 per capita. [Páginas 353, 354 e 355]

Falamos em caminhos.

Havia dois: o do Tietê, e o do Paranapanema, o do Tietê começando em Araritaguaba, descia o Anhembí e o Paraná e subia o Pardo, se se tratava da Vacaria, ou continuava ao salto do Guairá e até subia o Paranapanema, antes da destruição do Guairá.

A gente de Sorocaba preferiu muitas vezes atingir o Tietê pelo rio Sorocaba que só tinha uma cachoeira e era margeado por algumas matas onde abundavam os paus para canoas. O Paranapanema era atingido com 14 ou 15 dias de caminho de terra, pela serra de Botucatú, e descendo o rio em embarcações e subindo o Paraná para alcançar a Vacaria.

Não há a menor dúvida de que esta jornada foi a preferida desde que houve reduções até no Paranapanema. É o velho peabirú, caminho pre-colonial dos guaranis do Paraguai aos tupis do litoral e um ramo dele alcançava o de Cananéa aos campos de Curitiba e cabeceiras do Iguassú.

Quem subir com um bom óculo de alcance no Araçoiaba pode ver in-loco a veracidade desse asserto. O mapa será outro adminiculo, mas prenotando-se que até o ponto de embarque no Paranapanema se pode caminhar pelos campos (atualmente de Sorocaba, Itapetininga, Guareí, Angatuba, Bonsucesso, Avaré, e, após algum trecho de matas os Campos Novos). [Página 356]

O 1° livro de batismos de carijós de Sorocaba trouxe-nos agradável confirmatur de cor local aos estudos em que Taunay tanto se elevou. Chamou-nos logo a atenção a nomenclatura dos donos de escravizados vermelhos, todos bandeirantes de nomes conhecidos. Em seguida, o número de adultos trazidos a batismo num dó dia. Enfim, as datas. Exatamente a década 1684-1694. [Página 357]

Restavam, contudo, alguns abencerragens com os olhos postos na imensidão do ocidente e viviam muitos dos que, no período anterior, haviam feito do Miranda como o seu sítio da roça. A triste vitória do africano sobre o carijó em resistência aos trabalhos da mineração, desvalorizava aos poucos as peças vermelhas que, se mercado tivessem, ainda eram as fazendas de lavras e criar, isto é, São Paulo e parte do Rio nunca foram os ricos povoados de Minas, cujos escravizados podiam deitar na pia o ouro de sua carapinha, construindo com o seu suor a para si igrejas que os ricos calções-de-couro não conseguiram deixar-nos. [Página 362]

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