' A lenda do Monte Tayó. Contribuição à centenária discussão sobre o significado do nome Itajaí, Magru Floriano. Consultado em 24.10.2022 - 24/10/2022 de ( registros) Wildcard SSL Certificates
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A lenda do Monte Tayó. Contribuição à centenária discussão sobre o significado do nome Itajaí, Magru Floriano. Consultado em 24.10.2022
24 de outubro de 2022, segunda-feira. Há 2 anos
Sobre os primeiros habitantes brancos temos a informação de que João Dias de Arzão requereu sesmaria em região próxima da foz do Rio Itajaí no ano de 1658.

Vale ressaltar que o pedido oficial de concessão de sesmaria ocorre sobre terra de São Francisco do Sul, município que João Dias de Arzão ajudou na fundação com o vicentista Manoel Lourenço de Andrade. O historiador Edison d´Ávila também nos traz contribuição sobre o tema na obra Pequena história de Itajaí. Diz:

“Assim, João Dias de Arzão, primeiro morador das margens do Itajaí, quando em 1658 requereu ao Capitão Mor da Vila de SãoFrancisco do Sul uma sesmaria para aqui vir morar, tinha a intenção de explorar estas minas de ouro.” (p. 17).

Segundo ainda Edison d´Ávila:

“Destes moradores muito pouco se guardou a não ser alguns dos nomes e a vaga localização das suas terras (...) Alexandre José de Azeredo Leão Coutinho tinha casa e plantações nas terras do bairro da Fazenda; José Coelho da Rocha plantava nas terras do hoje centro da cidade, embora morasse do outro lado do rio; José Correia de Negreiros e Silvestre Nunes Leal Corrêa moravam em Canhanduba e Itaipava; e Matias Dias de Arzão tinha fazenda nas terras da Barra do Rio.” (p. 18)

Os historiadores Elio Serpa e Maria Bernadete Ramos Florespublicaram o interessante Catálogo de documentos avulsos manuscritosreferentes à Capitania de Santa Catarina – 17171827 com dadosretirados do Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa. A obra nos dá umaboa referência sobre ocupação de terras da região pelos brancos.Vejam algumas citações que consideramos relevantes: [A lenda do Monte Tayó. Contribuição à centenária discussão sobre o significado do nome Itajaí, Magru Floriano. Consultado em 24.10.2022. Página 25]

Como podemos perceber, as formigas não chegam a merecer tantodestaque a ponto de receber o privilégio de nominarem o Vale. Apesar deser incrivelmente impressionante o fenômeno sazonal da migração dasformigas (formiga-correição) parece que a possibilidade de relacionarmos onome Itajaí às formigas deve ser considerada, mas em um segundo plano.Afirmamos isso porque cheguemos a presenciar a migração deformigas na sede campestre que a Univali possui no Município de Ilhota noano de 2009. Simplesmente assustador, mas nada que mude o cursoeconômico, altere valor de propriedade, mude hábitos ou conceitos ecultura de grupos. Essa avaliação sobre o fenômeno da “taióca” écorroborada por depoimentos colhidos junto a João Silvestre de Souza eJoão Silvestre de Souza Júnior, que tiveram oportunidade de assistir pordiversas vezes o fenômeno, o primeiro no interior de Camboriú, o segundona Várzea do Ranchinho, localidade que divisa os municípios de Itajaí eBalneário Camboriú.De qualquer maneira, não podemos desprezar nenhuma pista. Porexemplo, merece abertura de uma linha de investigação o fato do fenômeno“formiga-correição” ser conhecido no Vale do Itajaí como “taióca”. Nomemuito próximo em sonoridade com tayó e taiá. [Página 51]

Muita coisa foi dita sobre o significado do termo Itajaí. Poucasvezes, contudo, os pesquisadores refletiram sobre a possibilidade do termoItajaí estar relacionado diretamente à tendência dos primeiros habitantesdas terras do Vale a sonharem com um verdadeiro eldorado. João Dias deArzão foi um dos primeiros moradores do Vale, vindo se estabelecer àmargem esquerda do Itajaí-Açu, na desembocadura do Itajaí-Mirim, tendocomo principal ocupação a atividade de faiscador. Ou seja, Arzão abriu asportas do Vale do Itajaí na intenção de encontrar por aqui seu eldorado.Acabou encontrando ouro em diversos locais, destacando seu achado emum tal Monte Tayó.Quem conta um pouco da tragédia vivenciada por Arzão é Antôniode Menezes Vasconcellos de Drummond, que escreveu sobre suaexperiência no Vale do Itajaí quando residia na Europa.Escreveu Vasconcellos de Drummond:

“Durante o meu exílio na Europa, sendo colaborador do “Journaldês Voyages” etc. publiquei vários artigos concernentes aosinteresses do Brasil e em um ou dois deles falei do rio Itajaí, docélebre monte Taió, onde há, segundo se supõe, abundantes minasde prata, e da minha viagem e residência nas margens daquele rio”.(Vasconcellos de Drummond apud José Ferreira da Silva, Blumenauem cadernos, Tomo VI, 1963, n. 04, pág 05. As terras do ItajaíMirim e Vasconcellos de Drummond.)

“Se, das províncias setentrionais passarmos às províncias do sul, encontraremos na de Santa Catarina em particular, a opinião geralmente espalhada de que ela abunda em minas de prata. Há mais de um século que um certo Aragão descobriu numa montanha que ele denominou de Taió, grande quantidade de prata, de que tirou alguns fragmentos para seu uso e outros para os mostrar ao governador da província, a fim de lhe dar as provas palpáveis da descoberta que vinha de fazer”.

O governador remeteu essas amostras ao vice-rei no Rio de Janeiro que fez demorar por muito tempo a sua decisão. Por fim, ele resolveu que enquanto não recebesse resposta de Lisboa, o desgraçado Aragão seria seqüestrado em um cárcere, a fim de que não pudesse abusar do que sabia, visto com não lhe pertencia o segredo e, sim, ao rei.

Muito tempo depois o governo de Lisboa ordenou que Aragão fosseremetido para Portugal, a fim de lá fazer as suas declarações. Aochegar a Lisboa o desgraçado foi de novo metido num cárcere semque se o submetesse ao interrogatório para o qual lá fora levado.Morreu preso na miséria e moído de desgostos. Assim a pátria deCamões recompensa um colono honesto que teve a desgraça de fazeruma descoberta útil num país dominado então pela fôrça a maisignorante e a mais bárbara.Eu era, em 1820, governador das colônias da província de SantaCatarina, sob o título de inspetor geral, quando recebi do ministroVila Nova, ordem de fazer todas as tentativas necessárias pararedescobrir o maravilhoso monte Taió. Essa ordem vinhaacompanhada de uma cópia da correspondência que havia sidotrocada outrora a esse respeito e que não oferecia nenhuma pista aseguir. Convencido da importância dessa missão, desenvolvi todosos esforços para saber se ainda existia algum descendente dodesgraçado Aragão e cheguei a descobrir os netos dessa vítima, osquais sabiam, por te-lo ouvido dizer de seus pais, qual fora a sortede seu avô e que, presumívelmente ele havia levado consigo paraLisboa, o roteiro, o mapa do traçado que ele fizera para chegar aomonte Taió, plano esse que depois de sua morte se disse fora achadoentre seus despojos, na prisão de Lisboa.Em seguida, eu procurei colher informações entre os velhos doslogares os mais distantes das povoações brasileiras e as maispróximas das hordas de selvagens. Não consegui nada mais do queeu já conhecia. Sómente nas margens do rio Itajaí eu encontrei umhomem de 120 anos, que tinha conhecido Aragão e ao qual elefalara depois da descoberta das lâminas de prata. Ele me assegurouque todas as vezes que Aragão partia para as suas excursõespassava por sua casa e que, por essa razão, o monte Taió não podiaestar muito distante do rio Itajaí e era mesmo, segundo supunha,banhado por suas águas”.
(Idem, Pagina 13.) [Páginas 60 e 61]

Devemos observar que Vasconcellos de Drummond está atestando depróprio punho que não veio ao Vale tão-somente para edificar uma colônia,mas cumprir a “ordem de fazer todas as tentativas necessárias pararedescobrir o maravilhoso monte Taió.” Tem mais, ele atesta que erapossível tirar prata e ouro próximo da foz do Rio Itajaí porque “o monteTaió não podia estar muito distante do rio Itajaí” e completa dizendo quecontratou um lavrador “para fazer algumas tentativas ... ao cabo de trêsdias êle voltou, trazendo-me cinco onças de ouro em pó ...”. Também nãoestá bem definido se fala do Rio Itajaí-Açu ou do Rio Itajaí-Mirim em cujasmargens residia.Obviamente que esse ouro não foi encontrado muito longe de Itajaí,haja vista que o lavrador gastou apenas três dias para ir ao local dogarimpo, garimpar e retornar a Itajaí. Considerando que ele estava sozinho,utilizando uma embarcação rudimentar da época, três dias é um espaço detempo bastante exíguo. Por isso, podemos dar crédito a Almeida Coelho,que chegou a cogitar da possibilidade do famoso Monte Tayó ser naverdade o nosso conhecido Morro do Baú. Evidências não faltam, já queArzão subia o rio de canoa várias vezes no mesmo ano, o que seria bastantedesgastante se o tal monte estivesse na localidade que atualmenteconhecemos como Taió. Portanto, podemos muito bem aceitar a ideia deque o Monte Tayó é na verdade o Morro Baú.“Almeida Coelho transcreve um trecho de uma antiga idéia queacerca de desidiosa a administração de Drummond. O facto é queeste brasileiro procurou fazer conhecida na Europa a capitaniaCatharinense, escrevendo no “Journal des Voyages” vários artigossobre o Itajahy e o Morro do Tayó (talvez de Bahú)...” (Notas àhistória de Gaspar [II]. Antônio Francisco Bohn, Blumenau emCadernos,Tomo XXXII, mar/1991,n. 03, p.87.) [Página 62]

Outra possibilidade é identificar a morraria do Brilhante, no ItajaíMirim, como sendo o Monte Tayó, conforme evidencia o mapa datado de1776 assinado por Juan de La Cruz Cano Y Olmedilla que encontramos noArquivo Público do Estado de Santa Catarina, Florianópolis.Mateus Arzão era aparentado de João Dias Arzão, continuando aatividade de faiscador no Vale do Itajaí. Foi com ele que Drummondconseguiu complementar as informações que trouxe do Rio de Janeirosobre o “maravilhoso” e “célebre” Monte Tayó. Mateus era proprietário deterras localizadas na margem direita da desembocadura do Itajaí-Mirim.Segundo texto de Luiz Gualberto, havia um evidente estímulo aospioneiros pela busca às minas:“constava que o sertanista (Mateus Arzão) havia extraído ouro domorro Taió e ainda em 1829 a Câmara Municipal da Vila doDesterro informava ao governo da província que no sertão do Itajaí,Mateus Arzão tirava ouro de muito boa qualidade, segundo se sabiatradicionalmente. A fama do ouro do morro Taió e as riquezas dovale do rio Itajaí, pela fertilidade de seu território, eram igualmenteadmitidas. Todas essas circunstâncias determinaram as medidastomadas por Vila Nova Portugal, que mandou explorar o Vale doItajaí e descobrir o morro Taió famoso pelas suas jazidas minerais,como constava pela exploração de Mateus de Arzão, em tempospassados. Cheio dessas ideias e animado pela propaganda emcolonizar o Brasil por colonos europeus, de qualquer procedência,encontrou Tomaz Antônio de Vila Nova Portugal forte oposição,principalmente por parte do elemento português... E nessascondições mandou explorar o rico vale do Itajaí.” (Luís Gualbertoapud Zedar Perfeito da Silva, p. 55.)Diante da “forte oposição” restou a Antônio de Tomaz Vila NovaPortugal e seu escudeiro de confiança Antônio de Menezes Vasconcellosde Drummond mascarar ao máximo possível seus reais objetivos no Valedo Itajaí. Por isso fundou uma colônia a quem, incontestavelmente, nãoemprestou qualquer atenção. Isso porque seu interesse estava voltado paradescobrir o lendário Monte Tayó. Mas quem poderia estar lhe oferecendo [Página 63]

tentativas de extração desses minerais, como nos mostra o historiadorMarlus Niebuhr ao escrever sobre a história da região alta de Brusque nolivro Memórias de Porto Franco ... Botuverá: a sua história. Segundo ohistoriador o auge do garimpo na região (Ribeirão do Ouro + Guabiruba +Botuverá + Gaspar + Ilhota + Taió) foi em 1937 e 1938. Essa nova “febredo ouro” acabou em 1940. A maior pepita encontrada oficialmente naregião pesou 108 gramas.Marlus registra diversos depoimentos de moradores antigos queviram o ouro brotar nas terras altas de Brusque. Um depoimentointeressante é de José Tomio que diz: “... Aqui no nosso lugar tinha ourona água e no barranco também”; e o depoimento de Nicolau Witcosvky:“Oh, daqui foi tirado muito ouro”. (pag. 58)Aqui em Itajaí, o jornal O Novidades publicou na sua edição denúmero 43, datada de 26 de março de 1905, um texto bastante interessanteintitulado “Mineração no Baú”, onde fala sobre a “conhecida lenda dasriquezas do Tayó”. Ora, uma lenda faz referência à tradição oral dacomunidade que perpassa uma quantidade de tempo expressiva. Quer dizer,as notícias de que existia ouro no local ainda corriam na Itajaí de 1905 emforma de “lenda”.Segundo O Novidades, edição datada de 02 de outubro de 1910,“remonta a 1651 a notícia da existência de ouro nas cabeceiras do rioItajaí.” Interessante perceber que a informação contida no jornal ONovidades faz referência a Salvador Pires, filho do bandeirante FranciscoDias Velho Monteiro, fundador da Vila de Desterro (hoje Florianópolis).Devemos registrar também, que Salvador Pires já tem seu nome vinculadoà atividade de faiscador no tal Monte Tayó. Contudo, queremos crer que adata publicada pelo Novidades tem uma imprecisão história. O ano daatividade de Salvador Pires deve ser próxima de 1689, por tratar-se do anoda morte do seu pai pelos piratas que assaltaram a Ilha de Santa Catarina. [Página 66]

O historiador Oswaldo Rodrigues Cabral no livro História de SantaCatarina relaciona o irmão de Dias Velho garimpando no “interior”.Podemos inferir que Salvador Pires e seu tio José Dias Velho estavamjuntos faiscando no Vale do Itajaí quando ocorreu a morte trágica dobandeirante e fundador de Desterro – Francisco Dias Velho – pelos piratasvingadores.“Quando chegaram reforços do continente, já era tarde, a tragédiajá se havia consumado. Chamado do interior, onde andavafaiscando, o irmão do fundador, José Dias Velho, pouco depoisabalaram todos para São Paulo deixando ao abandono, com poucosmoradores, a póvoa do Desterro, levando no coração a memóriadolorosa dos trágicos dias então vividos. Para a Laguna transferiuse um filho do fundador, José Pires Monteiro, e parece ter sido oúnico descendente do bandeirante que ficou em SantaCatarina.”(pag. 42)Depois, quando O Novidades faz referência à ocorrência de ouro noRio Itajaí-Mirim, apresenta relato datado de 1727 que fez o sargento-morFrancisco de Souza Faria: “... pelo pé da Serra Negra corre um ribeirãoque vai buscar as cabeceiras do dito morro Tayó, o qual morro é baixo,redondo e agudo com sua capina ... que não poderão deixar de acharouro.”A verdade é que o sul do continente estava sendo varrido porfaiscadores e aventureiros em busca do “eldorado perdido” há muito tempo.Do primeiro faiscador que temos notícias (João Dias de Arzão, em 1658),passando pelo filho do bandeirante Dias Velho (1681), chegando aVasconcellos de Drummond (1820) e encerrando nos desbravadores dasterras altas de Brusque (até 1940), muita gente teve o sonho de encontrar olendário Monte Tayó.O comerciante Agostinho Alves Ramos foi o homem que deu aoshabitantes do Vale uma outra alternativa, mudando sua mentalidade e [Página 67]

objetivo econômicos. Trocou a busca pelo eldorado por um comérciobaseado em trocas regulares com as demais cidades do litoral catarinense.Foi a partir das atividades comercial e política de Agostinho Alves Ramosque o Vale começou a pensar seriamente em colonização e produção,visando troca mercantil. Mas isso é assunto para um outro livro, a serconfeccionado em futuro próximo, visando responder a um outroquestionamento que ficou aberto na história de Itajaí: Quem fundou Itajaí?Portanto, é defensável a tese de que o nome Itajaí possa estardiretamente vinculado à atividade dos faiscadores em busca do eldorado.Assim sendo, de alguma forma, pelos vários descaminhos e corrupção dotermo, o RIO DO MONTE TAYÓ, acabou sendo grafado como O RIODOS TAIÁS.Foi Arzão e seus descendentes diretos que abriram o caminho doVale para os demais colonizadores. E Arzão falava uma mistura deportuguês com tupi-guarani, como a maioria da população do litoral sulbrasileiro à época. Falava e não escrevia. Falava com gente que poucoentendia de português, tupi ou guarani.Acontece que usando a mesma lógica desses tradutores podemoschegar a uma outra conclusão, vindo ao encontro da mentalidade de Arzão,o faiscador de ouro do Rio das Voltas: TA (pedra) + I (está, tem) + Ó(desgarrar, arrancar, extrair) = TAIÓ = pedra para ser extraída, extraçãode pedra. Local de onde se está retirando pedra. O vicentista João Diasde Arzão, ou alguém antes dele, pode ter dado o nome TAIÓ ao lugar deonde estava extraindo pedra ... pepitas de ouro.Obviamente que nesta época para mais nada serviria a atividade deextração de pedras. Além do mais, pedra útil à construção civil seencontraria em qualquer lugar do vale. Também não podemos deixar deconsiderar o fato de que todos os dicionários de guarani/português traduzem o termo ITA como pedra, objeto duro e metal. Isso mesmo,qualquer metal, qualquer objeto duro, também recebe a denominação ITA. [Páginas 68 e 69]

O eldorado, procurado por muitos, pode ter sido utilizado comoreferência para todo o resto, até mesmo para o rio e a cidade. Assim, o rioque dava acesso ao Monte Tayó ficou designado como TAIÓ + Y (rio) =TAIOY = TAIAY = TAJAHY = ITAJAÍ ... ou qualquer outro caminho quea cultura oral se encaminhou de seguir. Caprichos da cultura oral que nãotemos ciência para desvendar nos tempos atuais. Por sua vez a cidadeganhou o nome do rio. A localidade de Itajaí é a localidade do Rio Itajaí.Assim como o Rio Itajaí é o rio do Monte Tayó e este é o morro de difícilacesso de onde os primeiros faiscadores extraíam pedras ... de ouro.Como temos no Vale vários rios menores com o nome ITAJAÍ éplausível supor que o nome original tenha sido derivado de atividadedesenvolvida no Rio Grande. Queremos crer ser completamente factível ahipótese do nome Itajaí estar vinculado à atividade de faiscadores eaventureiros que frequentaram os primórdios da civilização no Vale doItajaí em busca do ouro do Monte Tayó. Como o processo de procura peloeldorado iniciava próximo à foz, todo o Vale foi recebendo a mesmadenominação. O processo de denominação do Vale, portanto, pode tercomeçado de baixo para cima, da foz para a nascente. Porque era da fozque saíam os faiscadores.Temos de considerar também o fato de que todas as atividades deexploração promovidas por estrangeiros no Vale do Itajaí, a partir da barrado Rio Itajaí, foram durante séculos maquiadas nos relatórios oficiais, portratar de atividades clandestinas e também por tratar de assunto estratégicopara as nações envolvidas. Quando o assunto era ouro, tudo devia serdevidamente camuflado. Foi assim com Vasconcellos de Drummond edeve ter sido assim com todo mundo que tentou a sorte no Vale do Itajaí.Uns camuflaram suas atividades por terem conhecimento da tragédia ocorrida com João Dias de Arzão. Outros, por medo do fisco. O próprioVasconcellos de Drummond reconhece essa dificuldade:“O rio Itajaí é muito aurífero. Quando eu morei em Santa Catarina,eu soube por um pobre lavrador da província de São Paulo que todaa região era abundante em ouro. Eu o contratei para fazer algumastentativas. De princípio êle se negou com medo do governo, masafinal concordou com o meu pedido depois que eu lhe afirmei quenenhum mal lhe poderia acontecer e que eu assumiria aresponsabilidade pelo que viesse.”(ib.)Ninguém pode negar que aconteceu uma corrida do ouro no Vale doItajaí. Assim como também podemos credenciar a ideia de que essa corridafoi frustrada por causa da quantidade e qualidade do metal daqui retirado.Mas, independente da quantidade e da qualidade do ouro encontrado, suareferência tem importância suficiente para dar nome a tudo. Estimulou acobiça de muitos a informação de que aqui no Vale existia ouro. Contudo,não dá de manter a tradução de ITAJAÍ como sendo “Rio do ouro” portudo que até aqui já foi mencionado, inclusive por Hermes JustinoPatrianova e Lucas Arthur Boiteux.Vejam que a ideia central é de que Arzão tinha sua atividadecentrada na retirada de ouro de um determinado ponto subindo o Rio Itajaí.Esse ponto seria designado por ele como TAYÓ. O Rio das Voltas passou aser considerado como o Rio do Tayó, ou o rio que dava acesso ao localonde Arzão retirava pedras de ouro. A cultura da época era uma culturaoral. Um belga, alemão ou russo que ouvia um nativo falar Rio do Tayó,poderia ouvir a expressão com dificuldade e depois, do seu jeito, escrever oque bem entendesse, inclusive mudando Tayó para Taiá.Quantas vezes, ainda hoje, escutamos descendentes de alemãestrocando o gênero de palavras no seu arrastado falar da língua portuguesa.Quem leu o romance de Lausimar Laus intitulado O guarda-roupa alemão consegue perceber como os colonos falam com naturalidademudando o gênero. Veja exemplos das falas de um personagem: “Umamosquita foando no cabeça da gente?” ou “O mulher tem tudo que ahomem tem, mas o alma do mulher ser diferente. É o alma do criançon.”(ps. 92-3) [Páginas 69, 70 e 71]

Selmo Braz Galm, em entrevista concedida no dia 31 de maio de2012, nos forneceu um bom exemplo dessa mistura entre culturas oral eescrita. Segundo seu testemunho, ele tinha uma tia que residia na localidaderural de “Paciência” que, ao anunciar sua visita à zona urbana da cidade,dizia: “Vô no Tejaí” ou “Vô lá em Tejaí”.Quando os pioneiros letrados começaram a se fixar na foz do RioItajaí temos a escolha da grafia e sua normatização e regularização viadocumentos oficiais do Estado. Diante de muitas opções de como escrevero nome RIO DO TAYÓ Vasconcellos de Drummond, Agostinho AlvesRamos entre tantos outros, optaram por grafar Itajahy e corrupçõespróximas. Já adentramos o século XIX mas, a busca do eldorado ainda nãohavia cessado na sua totalidade. O texto de Ayres Gevaerd (ver anexo)demonstra que muitos dos americanos que vieram para as colônias àsmargens do Itajai-Mirim após 1800, vieram motivados pela perspectiva degarimpar. Detalhe importante: Vasconcellos de Drummond e Charles VanLede também tinham formação científica em mineralogia.Também devemos considerar que, quando da entrevista do professorde guarani-português da tribo M´Biguaçu, Wanderley Caraí Yvydju,percebemos que a palavra Itajaí não tem qualquer importância na culturaindígena. Nada do que nos falou sobre sua cultura e o Vale nos fezreferência a algo que fosse próximo a um destaque. Itajahy é umamontagem a mais na vida cultural desse povo. Uma montagem aleatória esem significado cultural para seu povo. Esse, pelo menos, foi o sentimentoque experimentamos ao ouvir o professor carijó. [Página 71]

Assim sendo, para os defensores dessa tese, Itajaí não é tupi puro,não é guarani legítimo, é uma corrupção da Língua Geral utilizada pelospioneiros a partir da ideia central de que aqui os primeiros faiscadoresencontraram ouro em um local que designaram Tayó. Mas, a discussão nãose encerra aqui. Muitas outras considerações podem e devem ser destacadasnesse cipoal de informações desencontradas ao longo de séculos.Uma interessante variante da tese de que o nome Itajaí estádiretamente relacionada ao garimpo envolve Drummond e o mapa datadode 1776 assinado por Juan de La Cruz Cano Y Olmedilla, um dos únicosque assinala a localização do misterioso Monte Tayó. Este mapasurpreende a muitos pesquisadores porque localiza o Monte Tayó àmargem direita do Rio Itajaí-Mirim, para cima da localidade de Brilhante eas terras altas, justamente onde muita mineração ocorreu durante séculos.Então, vale pesquisar essa relação entre o Monte Tayó e a localidade deBrilhante.Algumas evidências encontramos subindo o Itajaí-Mirim até alocalidade de Brilhante. Devemos destacar o fato de Vasconcellos deDrummond atestar por escrito que veio tentar localizar o lendário MonteTayó e para isso montou sua colônia justamente na Foz do Rio Conceição,um afluente do Rio Itajai-Mirim, muito perto do Monte Tayó assinalado nomapa de 1776 por Juan de La Cruz Cano Y Olmedilla. E também que opróprio Vasconcellos garantiu que uma pessoa a seu mando conseguiuperto dali garimpar ouro em apenas três dias.Como se escreve BRILHANTE em variante do guarani? Se escreveJAJÁI. No Dicionário guarani-português / português-guarani de autoriade Cecy Fernandes de Assis, encontramos a seguinte frase: “Morenagraciosa de pestanas brilhantes” que é traduzida da seguinte maneira:“Morena juky ropea Jajái.” Como se escreve DIAMANTE em guarani? Seescreve ITA JAJÁI. O termo JAJÁI pode ser traduzido para “brilhante” “diamante” e “resplandecente”. Então o termo ancestral, que dá origem aITAJAÍ pode muito bem ser o termo composto ITA JAJÁI. Que depoispassou para a linguagem oral e escrita como ITAJÁI. [Páginas 72 e 73]

Essa tese estabelece novamente a ideia central de que o nome Itajaí éderivado direto da língua guarani. Ganha consistência racional por suagrafia e sonoridade muito próximas do termo Itajaí.Se pesquisarmos as versões oficiais atualmente divulgadas pelasinstituições de Itajaí sobre a origem do nome “Brilhante” para a localidaderural vamos perceber facilmente que é uma estória sem qualquerconsistência e até, colocando o termo completamente fora de época.“Recebeu este nome depois de Nato Gastaldi avistar uma luzmuito forte e brilhante nesta localidade ao mergulhar no Rio ItajaíMirim, passando depois a chamar o local de Brilhante, que devido asua grandiosidade foi dividido em duas comunidades: Brilhante I eBrilhante II...” (www.itajai.sc.gov.br acessado em 05 de agosto de2012)Estivemos na comunidade rural de Brilhante no dia 13 de junho de2012 onde tivemos oportunidade de entrevistar diversos membros defamílias tradicionais da região, entre os quais destacamos Luiz Forbeci (63anos), Noemi Rodrigues Evangelista (74 anos) e Pedro Evangelista (87anos).Todos os moradores do local garantem que nunca ouviram falar nolendário Monte Tayó ou de alguém que andou por aquela morraria tentandoencontrar ouro. Acontece que Noemi Rodrigues Evangelista nos deu umaboa pista sobre os motivos que podem ter levado aquela localidade areceber o nome de Brilhante. Segundo Dona Noemi quando ela era criançacostumava brincar nos inúmeros riachos da região com pedrinhas brilhantesde malacacheta (mica). “Tinha muita pedra brilhante nos riachos. Muita mesmo. Agora não tem mais nada, porque o pessoal foi retirando para levarcomo lembrança e decoração.” [Páginas 73 e 74]

Então, estamos diante da seguinte situação:1 - Temos o nome ITAJAÍ que deve ser um termo composto oriundodo tupi-guarani.2 - Temos uma localidade com o nome em português de “Brilhante”.3 - A tradução do português para o guarani do termo “Brilhante” é“Jajái”.4 – A tradução do português para o guarani da expressão “pedrabrilhante” é “Ita jajái”.5 – O mapa de Juan de La Cruz Cano Y Olmedilla, datado de 1776,estabelece a localização do Monte Tayó à margem direita do Rio ItajaíMirim, muito próximo de onde está localizada a comunidade do Brilhante.6 – João Dias de Arzão estabeleceu moradia em terras próximas àbarra do Rio Itajaí-Mirim e dali saiu para faiscar ouro. O mesmo fazendoseu aparentado Matias Dias de Arzão.7 – Antonio de Menezes Vasconcellos de Drummond vem para oVale em 1820 para tentar encontrar o Monte Tayó e se estabelece àsmargens do Rio Itajaí-Mirim, muito próximo ao local indicado por La CruzCano Y Olmedilla e ali encontra ouro.8 – Muitas das grandes descobertas de ouro no Vale do Itajaí foramefetuadas nas terras altas de Brusque.9 – Os primeiros exploradores que chegaram ao Vale do Itajaíusavam a Língua Geral para se comunicar.10 - A descoberta de ouro pode ser um fato de significanteimportância para os primeiros exploradores a ponto de os motivar a batizaro local com o nome de ITA JAJÁI ou ITAJAJÁI, depois abreviado paraITAJÁI. 11 – sendo assim o nome ITAJAÍ teria o significado expresso dePEDRA BRILHANTE, fazendo referência direta à mineração. [Páginas 74 e 75]

8 – vale destacar que todos os dicionários de tupi-guarani queconsultamos promovem a tradução da expressão ITA não apenas comopedra, mas como “pedra, objeto duro e metal”. Os autores dos artigoscompilados nesse trabalho é que concentraram esforços na tradução dotermo ITA apenas e tão-somente como pedra, descartando a possibilidadedesse ITA estar fazendo referência direta a metal.8 – Até Vasconcellos de Drummond (1820) prevaleceexclusivamente a ótica do Monte Tayó – a mineração em busca doeldorado. Ele é o marco definitivo entre a mineração e a colonização,porque tentou as duas coisas e fracassou nas duas simultaneamente. Temosaté aí nada menos do que três séculos de história que não podemos deixarde considerar em todas as nossas análises.9 – Depois de Vasconcellos de Drummond o enfoque que prevaleceufoi o enfoque da colonização. O ouro deixa de ser a principal referência,passando a ser atividade marginal. Agostinho Alves Ramos e JoséHenrique Flores lideram o processo colonial e a possibilidade de trocascomerciais regulares.10 – Todos os mapas e documentos que estudamos têm a visãocivilizatória branca. Portanto, todos os nomes encontrados guardam em sicorrupções promovidas por estrangeiros.11 – O elo perdido de nosso estudo pode estar adormecido nomomento histórico da troca da denominação Rio das Voltas (Rio de lasBueltas) para Tajahug.12 – Ocorreu uma possível inversão no processo de denominação doRio. Ou seja, primeiro apareceu o nome em português e espanhol, paradepois aparecer o nome em linguagem nativa. Essa inversão pode ser umaarmadilha interposta aos estudiosos pelo choque entre as culturas oral eescrita. Portanto, pode estar falseando a realidade dos fatos e nublando averdadeira origem do termo Itajaí. [Página 79]

13 – Isso pode sinalizar para o fato de que os primeiros mapas edocumentos foram confeccionados por gente de fora do Brasil, viajantesrussos, belgas, holandeses, alemães e portugueses. Gente que não tinhaconhecimento da Língua Geral. Os mapas que iniciaram com Tajahugpodem ter sido confeccionados por gente que contou com informantes dedentro do Brasil, vicentistas, que tinham conhecimento da Língua Geral. Osprimeiros evidenciam uma visão externa; os segundos, uma visão interna.Mas, fundamentalmente, todos, uma visão civilizatória colonizadora.14 – João Dias de Arzão é o primeiro que tenta oficializar suapresença na região. Mas, isso não o torna obrigatoriamente o primeiro afaiscar na região. Ele já pode ter assimilado os termos Tayó e Itajaí deoutros que por aqui ficaram perdidos anonimamente entre o rio e a matadessa imensa região.15 – Temos de separar o nome do rio do nome da vila. O povoado deItajaí nasceu com o nome oficial de ITAJAHY. Diferentemente do rio quetem um histórico consagrando inúmeros nomes e corrupções linguísticas.16 – Temos evidências de que não foram os carijós quedenominaram o rio e o Vale de Itajaí, mas gente branca que dominava aLíngua Geral.17 –Devemos supor que a inspiração do nome está fundamentada emalgum fenômeno próximo à foz do Rio Itajaí e não muito distante dela.18 – Vasconcellos de Drummond normatizou na burocracia estatal agrafia do nome Itajahy, seguido por Agostinho Alves Ramos e outrosinterlocutores do estado brasileiro.19 – nenhum estudo sobre o termo ITAJAÍ deve ser consideradoconclusivo enquanto não for encontrado o “elo perdido” entre as diversascivilizações que habitaram a Região do Vale do Itajaí até mesmo antes dospovos dos sambaquis. [Página 80]

itá: pedra; pocú: comprida; rô: muito e i: agua. ROI poderia significar frio, mas essa interpretação não se adapta ao caso. Próximo a povoação da Penha, sede do distrito, se lança ao mar o rio iririm ou iriri. Iriri ou riri é a ostra (Teodoro Sampaio). Ao sul da praia de Piçarras entre os morros que avançam para a Ponta da Casa, ha um a que St. Hilaire, em seu livro citado, aponta com a designação de Cambri; este nome é de todo desconhecido na região, nem os mais velhos habitantes dele se lembram.

Em frente à mesma praia, dentro do mar, se levantam dois penhascos isolados, um grande e outro menor, batizados: com Itacolomi, este vocábulo, frequente no Brasil, significa a pedra e o menino, o pai ou a mãe com o filho, na expressão do povo. O termo colomi, coromin ainda hoje é usado no Norte para indicar criança, menino.

Ao norte de Piçarras, nos limites com o município de Araquari, ha duas localidades quase desabitadas, denominadas Chororó Grande e Chororó Pequeno. Manoel Niotti afirma que Choró significa impetuoso, no que é acompanhado por Cristovão da Mauricéa. Teodoro Sampaio traduz: rio correntoso ou ruidoso.

Martins relaciona o vocábulo com çororog: murmurar e Paulino Nogueira com Chororon, com o mesmo significado ou com a ave choro-chorô. Tomaz Pompeu Sobrinho liga com soro, sorog: romper-se, rompido ou com chororon de toronon: manar, borborinhar e admite ainda que possa ser de origem tairairiu (sopuia).

Inclino-me para a tradução murmurar, murmurejar. Conheço as localidades e sei que o nome é dado por filetes de agua que produzem um leve ruído. (...) é homofonia com a expressão portuguesa chorar, agua, fonte que chora.

Com este topônimo acabam-se as que conheço, no município de Itajaí.

Deve haver mais. Peço encarecidamente a todos que conheçam outras denominações indígenas tenham a bondade de me escrever, citando-as. Sou grato também a toda e qualquer correcção. Estou planejando uma grande obra e aceitarei prazeiroso o auzilio de quem queira colaborar na sua realisação. [Página 121]

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