A fundação de Itajaí: historiografia anotada e comentada. 1° edição, 2018. Magru Floriano
2018. Há 6 anos
Outra incógnita que precisa ser elucidada quanto à Família Arzão diz respeito àLenda do Monte Tayó. Como foram muitos os membros dessa família que faiscaram nolitoral entre São Francisco e Desterro e, isso, ao longo de séculos, nunca ficou bem claroqual dos Arzão descobriu ouro no Monte Tayó e onde, comprovadamente, ficava essamina. Sabemos que uma mina de ouro muito explorada pelos Arzão ficava naproximidade de Barra Velha às margens do Rio Itapocu. Essas minas foramabandonadas em meados do século XVIII [1.750] por se encontrarem esgotadas.
(...) O ancião Antônio da Costa Flores, ao ser entrevistado por Pedro Ferreira, em 1907, sobre suas memórias da Itajaí do século XIX garantiu que Mathias Dias de Arzão levou garrafinhas de ouro ao governador João Vieira Tovar e Albuquerque [governador de Santa Catarina entre 14 de julho de 1817 e 20 de julho de 1821]. Antônio da Costa Flores está falando da Itajaí em que viveu a partir de 1840, portanto, estava muito próximo do tempo em que toda essa trama da Lenda do Monte Tayó se desenrola. [A fundação de Itajaí: historiografia anotada e comentada. 1° edição, 2018. Magru Floriano. Página 34]
O Historiador Luiz Gualberto em correspondência ao historiador Carlos daCosta Pereira, em 1927, garante que "Matheus de Arzão (....) havia extrahido ouro do morro Tayó e ainda em 1829 a Camara Municipal da villa do Desterro, informava aoGoverno da provincia que no Sertão do Itajahy Matheus de Arzão tirara ouro de muitoboa qualidade, segundo o que se sabia tradicionalmente (...) A fama do ouro do morroTayó e as riquezas do valle do rio Itajahy, pela fertilidade de seu territorio, eramgeralmente admittidas." (35).
O problema é que temos um Matias Dias de Arzão e um Matheus Dias de Arzãono mesmo cenário, no mesmo tempo, explorando ouro e comunicando esse fato aDesterro. Seriam a mesma pessoa? Na comunicação da Câmara de Desterro aogovernador o verbo está no passado "tirara". Isso pode remeter Matheus ao mesmocenário do Matias de quem fala o sexagenário Antônio da Costa Flores [1817 a 1821].Já não se trata mais dos dois João Dias de Arzão, mas de Matias e Matheus. Também já,há muito, deixamos o século XVII de João Dias de Arzão transferindo a trama da Lendado Monte Tayó para o século XIX. Mudam-se os nomes, mudam-se as datas .... mas aLenda continua intacta.
De qualquer forma isso já foge à nossa questão principal que é estabelecer seJoão Dias de Arzão foi o primeiro homem branco a possuir terras às margens do RioItajaí e, portanto, estar capacitado a pleitear o título de fundador de Itajaí. Tudo indica,mas faltam provas consistentes, que efetivamente o primeiro João Dias de Arzão ficouno Icaray, em terras próximas da Vila de São Francisco, e, seus descendentes foramgradativamente faiscando no litoral entre Paranaguá e Desterro. Encontraram umaprimeira mina às margens do Rio Itapocú, onde permaneceram por longos anos atéexaurir por completo sua riqueza mineral, partindo, então, em direção ao Vale do Itajaí.
A chegada dos Arzão ao Vale do Itajaí, portanto, pode estar datada já no séculoseguinte à fundação de São Francisco do Sul. O mapa que indica a localização do MonteTayó é datado de 1776, e consiste no primeiro documento sobre a mina de ouro dosArzão no Vale do Itajaí. Nunca apareceu, por exemplo, a requisição de sesmaria queJoão Dias de Arzão supostamente esboçou em 1658. O que temos de concreto entãosobre os Arzão? Temos um mapa datado de 1796 delineando a sesmaria do segundoJoão Dias de Arzão na Barra do Rio pelo lado esquerdo; temos o pedido de concessãode sesmarias de Mathias Dias de Arzão na Barra do Rio pelo lado direito, em 1794. [Página 35]
OUTRA TESEPodemos também seguir a trilha aberta em 1711 pelo sargento-mor da Praça deSantos – Manoel Gonçalves de Aguiar - quando de sua excursão pelo litoral de SantaCatarina. Ele declarou em seu relatório que teve informações de que Maria Pedrosa, viúva de João Dias de Arzão [primeiro], havia se transferido, tempos atrás, com osfilhos (capitão Miguel Dias de Arzão, Antônio Dias de Arzão, João Dias de Arzão[segundo]), para as margens do Rio Itajaí. Também afirma que em 1711 já encontrara afamília novamente radicada em São Francisco do Sul.Mas, pesquisando no mapa genealógico da Família vamos encontrarinformações que evidenciam a permanência de alguns membros no Vale do Itajaí. Istoporque Antônio Dias de Arzão morreu em Itajaí em 1796 aos 90 anos de idade; JoãoDias de Arzão [O Moço] morreu em Itajaí em 1797; a filha de Miguel Dias de Arzão –Anna Rosa – morreu na Armação do Itapocoróia em 1807. Provas mais do quesuficientes para confirmar a presença da Família Arzão no Vale do Itajaí de 1700 emdiante.A questão a ser resolvida diz respeito à propriedade da terra e o ano que ela foiadquirida. A família veio explorar a sesmaria que suspostamente João Dias de Arzão[primeiro] teria requerido em 1658? É certo que ao longo do século a Família Arzão foicontemplada com concessões de diversas sesmarias no Vale do Itajaí, porqueencontramos relatórios e mapas de sesmarias contendo os nomes de João Dias de Arzão,Mathias Dias de Arzão, Antônio Dias de Arzão etc. Um Antônio Dias de Arzão,inclusive, é signatário do requerimento dos moradores locais solicitando ao bispo doRio de Janeiro criar o curato de Itajaí em 1824. Sabemos que todos os signatários eramproprietários de terras entre os rios Camboriú e Itapocú. [Páginas 35 e 36]
Informação 1: "Eu era, em 1820, governador das colônias da província de Santa Catarina, sob o título de inspetor geral, quando recebi do ministro Vila Nova, ordem de fazer tôdas as tentativas necessárias para redescobrir o maravilhoso monte Taió. Essa ordem vinha acompanhada de uma cópia da correspondência que havia sido trocada outrora a êsse respeito e que não oferecia nenhuma pista a seguir.
Convencido da importância dessa missão, desenvolvi todos os esforços para saber se ainda existia algum descendente do desgraçado Aragão e cheguei a descobrir os netos dessa vítima, os quais sabiam, por tê-lo ouvido dizer de seus pais, qual fôra a sorte de seu avô e que, presumívelmente êle havia levado consigo para Lisboa, o roteiro, o mapa do traçado que êle fizera para chegar ao monte Taió, plano êsse que depois de sua morte se disse fôraachado entre seus despojos, na prisão de Lisboa (...) Em seguida, eu procurei colherinformações entre os velhos dos logares os mais distantes das povoações brasileiras e asmais próximas das hordas de selvagens. Não consegui nada mais do que eu já conhecia.Sómente nas margens do rio Itajaí eu encontrei um homem de 120 anos, que tinhaconhecido Aragão e ao qual êle falara depois da descoberta das lâminas de prata. Êle meassegurou que tôdas as vêzes que Aragão partia para as suas excursões passava por suacasa e que, por essa razão, o monte Taió não podia estar muito distante do rio Itajaí e eramesmo, segundo supunha, banhado por suas águas (...) Eu continuei as minhasindagações sem, entretanto, alimentar grandes esperanças de encontrar o Taió, porquenuma enorme extensão de florestas virgens e de montanhas mais ou menos iguais à queAragão descobrira, isso era dificílimo; e depois, em virtude da revolução portuguêsa queteve lugar no Rio de Janeiro, a 26 de fevereiro de 1821, eu julguei de meu dever voltaráquela capital." [A fundação de Itajaí: historiografia anotada e comentada. 1° edição, 2018. Magru Floriano. Página 154]