' “Havía corrido la voz: Circulação de rumores sobre a existência de minas de ouro na região do Rio da Prata e Paraguai (1647-1680)”, 2020. Fernando Victor Aguiar Ribeiro - 01/01/2020 de ( registros) Wildcard SSL Certificates
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“Havía corrido la voz: Circulação de rumores sobre a existência de minas de ouro na região do Rio da Prata e Paraguai (1647-1680)”, 2020. Fernando Victor Aguiar Ribeiro
2020. Há 4 anos
Aver oydo esa voz común

Em agosto de 1647 uma notícia chegaria à população da região da bacia do Rio da Prata. Era anunciada no porto de Buenos Aires a existência de minas de ouro no interior das províncias do Uruguai e Paraná. Imediatamente o governador de Buenos Aires, Jacinto de Laris, iniciou uma série de averiguações em busca das referidas jazidas. Paralelo a essas ações, os jesuítas seriam acusados de ocultar as minas em suas reduções, situação que levaria a uma sequência de investigações em torno do caso.

Na data de 30 de agosto de 1647, o governador partia da cidade de Buenos Aires e dirigia-se às reduções franciscanas e jesuítas das províncias doUruguai e Paraná. A motivação para essas ações foi, nas palavras de Jacintode Laris, “por notisia y vos común y general q a corrido y corre en estasprovinçias de aver minerales de oro en las de los ríos del Paraná y Uruguaydonde están beynte Reducciones d elos indios de nass.on guaraníes a cargode los Padres de la comp.a de Jesus” (AGI, CHARCAS, 120, 30/08/1647, fl. 163r).

No momento em que se inicia tais averiguações, é enviada uma sequência de cartas aos governadores das províncias de Tucumán e Paraguaie às autoridades eclesiásticas da região. Enquanto os inqueridos respondiamnão ter informações concretas da existência das minas de ouro, exceto asnotícias que corriam pela região, o bispo Bernardino de Cárdenas, da província do Paraguai, relatava ter informações complementares. Ele confirmaraa existência das minas de ouro em terras das reduções jesuíticas e indicaraos inacianos como responsáveis por ocultá-las das autoridades imperiais(AGI, CHARCAS, 120, 30/08/1647, fl. 165v).A colaboração do bispo Cárdenas, figura-chave no desenvolvimentodos rumores sobre o envolvimento dos padres da Companhia na exploraçãodas minas, será analisada adiante. No momento, este estudo concentra-senas investigações empreendidas pelo governador Jacinto de Laris na buscadas minas de ouro.

A 28 de outubro de 1647, Laris realizava uma visita à redução de Nuestra Señora de la Encarnación de Ytapúa, em que eram solicitadas as presenças de alguns indígenas que conheçam bem o território vizinho à redução,os quais seriam indicados pelos padres jesuítas. Foram designados Lorensoguapú, Francisco yngaí e Ygnacio abacante. Assim, o governador “les de horden y manda agan todas las diligencçias posibles en procurar con los indiosde esta y demás Reduçiones descubran las minas de oro que es voz comúnaveren los paraxes de dhas Reducciones en esta Provinçia del Parana y delUruguay” (AGI, CHARCAS, 120, 19/10/1647, fl. 169r). [Página 5]

Ao saber das investigações do governador, o padre Francisco Díaz Taño,superior das reduções jesuítas, redigiu uma petição na qual se defendia dasacusações de que os padres estariam explorando ocultamente as minas deouro. Em 19 de outubro de 1647, acusava seus oponentes de estarem motivados por inveja “del buen nombre que siempre an conservado los Religiososdesde que an entrado en estas provinçias y que de lo mucho q an hecho enellas en el servicio de Dios y de su mag.d” (AGI, CHARCAS, 120, 19/10/1647,fl. 170r). Diante da acusação, Díaz Taño possibilitou detalhes sobre os rumores que circulavam nas províncias. Afirmou que “predicándoles el sanctoevangelio por la cudicia del oro y minas riquissimas que de lo viren en lasdhas reducciones y aun an añadido sin Reselo la ofensa q a Dios hacen y lainjuria a los dhos Religiosos q sacan cada año a escondidas gran cantidadusurpando al Rey n.ro señor sus Reales quintos”. E continuou apontandoque, “no contentos con esta maldad añandiendo pecado e injuria an dhoque los dhos rreligiosos ambiam a Reynos extraños gran summa contra elRey n.ro señor Como se a publicado en una carta que ha corrido en diversostraslados en nombre del Señor ob.po del Paraguay don fray Ber.no de Cardenaspara el Ylustrissimo de Tucuman” (AGI, CHARCAS, 120, 19/10/1647, fl. 170v).

Diante das acusações proferidas pelo bispo Cárdenas, quem adicionouaos rumores da existência de minas a exploração oculta pelos padres e ocrime de envio do ouro para nações estrangeiras, Díaz Taño exigia que o governador realizasse uma minuciosa investigação e que culpasse severamente os responsáveis por tais acusações. Finalizou a petição requerendo “con elmismo respecto debido a V. SS se sirba mandar a qualquiera persona, yndioo español q dixesse a constare a ver dho q ha visto, os ave donde el dho oroy mina esta lo manifiesta y digo donde esta en que parte o lugar Río, arroyoo monte o otra qualquier parte obligándole a ello con graves penas pues esJustiçia” (AGI, CHARCAS, 120, 19/10/1647, fl. 171v-172r).

As solicitações do superior jesuíta foram atendidas e em 10 de novembro do corrente ano o governador Jacinto de Laris iniciava o processo contraos indígenas acusados de serem os responsáveis pela difusão dos rumoresda existência das minas de ouro na região. Foram acusados Ventura, indígena do grupo charrua e Felipe, guarani reduzido em missão de padres jesuítas. O auto iniciava-se com breve descrição das origens do referido rumor.Apontava, no processo, que

quando em la ciud.a de la trinidad puerto de buenos ayres abra tiempo de ocho mesespoco mas o menos que un indio llamado ventura de nass.on charrúa ladino en lenguaespañola le informo [ao governador] y certifico por cossa cierta avia minerales de oro en [Página 6]

tierras de las reducciones y tenían y tienen a su cargo los Padres de la Comp.a de Jhs enestas Provincias del Parana y Uruguay
(AGI, CHARCAS, 120, 10/11/1647, fl. 162v-173r).

Assim, iniciou a descrição de esse sítio, no qual era extraído ocultamente o ouro. Descrevia que

el dho yndio avia visto dho oro y el mismo ydo a sacarlo = Y que tenían un Castillocon piessas de artillería y mucha gente indios de la dha redussion los que le guardaban y q sacaban el oro de unas peñas q habían arrojos quando llovía y attrecho unospossos donde después con unas bateguelas sacaban el oro y que al tiempo que estabanpara irse al dho puerto de buenos ayres aviendo coxido el dho yndio un pedado deuna piedra q tenia piedrecitas de color de sangre y más coloradas q sangre mirándoley rreconociendole su atto y vestuario los dhos Padres de la Comp.a le avian hallado atoda la piedra a un mueslo y le avian asotado y tenido presso mas de quatro meses ydespués se avía huído y hidosse al dho puerto de buenos ayres y dio la noticia Referidaal dho señor gov.or (AGI, CHARCAS, 120, 10/11/1647, fl. 173r).

A acusação apontava que

el qual dho yndio Bentura notoriamente se sabe servido acostumbrado a pasar semejantes ynformes engañosamente como hizo los mismos al gov.or don Ger.mo Luis deCabrera siendo los destas provincias y otras personas conq a sido causador de la Vozpublica y gen.l q ha corrido de sacarse y aver mucho oro en tierra de las reduccionesdesta dha provincia del Uruguay y Parana (AGI, CHARCAS, 120, 10/11/1647, fl. 174r-174v).

É relevante assinalar que durante o processo Ventura era acusado deenganar de forma sistemática. Contudo, o governador Jacinto de Laris, queacolheu o rumor e iniciou a busca pelas minas de ouro, não é citado emnenhuma parte do processo por acusar os jesuítas de ocultar as minas.Na abertura do processo são realizadas algumas perguntas aos indígenas acusados. A Ventura lhe foi perguntado seu nome e sua origem, na qualrespondeu que “se llama Ventura y q nasio en el yguaré cerca del Puerto deBuenos Ayres y q desde muchacho pequeño esta criado entre españoles yassi es ladino en la lengua castellana q habla y entiende. Paresio por su aspeto de hedad asta treinta y seis años poco más, poco menos” (AGI, CHARCAS,120, 30/11/1647, fl. 176v).Em relação à atividade profissional, respondeu que “no tiene officio y sesustenta de su servicio q haze” e que “lo más hordinario suele estar y Residiren el dho Puerto de buenos ayres” (AGI, CHARCAS, 120, 30/11/1647, fl. 177r).Ao ser questionado mais uma vez sobre as notícias das minas, Venturarevelava novas informações, entrando em contradição com o declarado anteriormente. Afirmava que “solo lo q sabe este casso es aver dho el dho yndio ffelipe q avia tenido noticias se sacaba oro en tierras lejanas arriba de estosRíos del Uruguay y Parana asi san pablo” (AGI, CHARCAS, 120, 30/11/1647, fl.177v). Felipe, por sua vez, repetia as informações iniciais descritas por Ventura a respeito da existência de um castelo, com artilharia e explorado pelospadres jesuítas. Apontava também que Ventura fora a testemunha ocular eque contou a ele o que viu (AGI, CHARCAS, 120, 30/11/1647, fl. 179v-180r).Posteriormente a confissão de ambos envolvidos, após a tormenta, processo pelo qual o acusado era submetido a torturas físicas a fim de confessarsuas culpas, foi proferida sentença. Ao índio Ventura foi condenado a que“sea sacado de la prission en q esta y llevado a plassa publica desta reduss.on donde este puesto eyncado en la tierra un palo gruesso que sirba de árbolde justicia y arrimado y atado en el en concurso de gente y con voz de pregonero que manifieste su delito y le sean dados duscientos azotes y l e seaquitado y cortado el cabello” e, de forma complementar, foi condenado também “en destierro perpetuo y pressisso de todo este gobierno y provinciasdel Rio de la Plata y jurisdiss.in donde por todos los días de su vida no entreni buelba con pena de morte” (AGI, CHARCAS, 120, 30/11/1647, fl. 194r-194v).O índio Felipe foi absolvido de suas culpas por alegação de “su incapasidad de yndio bosal y aver sido persuadido y enganado por el dho yndiobentura effecto de q. se abonasse el falso informe y noticia q médio delos dhos minerales de oro” (AGI, CHARCAS, 120, 30/11/1647, fl. 194v). Assim,aplacou-se o descontentamento dos jesuítas diante das acusações que circulavam pela província e, com a absolvição de Felipe, garantiu-se de formamais evidente que Ventura fora o único responsável por enganar a todos,principalmente ao governador Laris.

Enquanto corria o processo de Ventura e Felipe, o governador de Buenos Aires nomearia Martín de Vaz, experimentado minerador de ouro eprata, para que, junto com mais cinco soldados explorasse o território apontado nos rumores que circulavam. A notícia do indígena Cristóbal Cuma deque havia minas de ouro nas missões jesuíticas do Paraguai foi a motivaçãopara essa empresa. Assim, no Auto de exploração do território é descrito que

parece aver dado noticia un yndio de la rreducion de la assump.on el día que el dho gov.or vicito los indios q están poblados y citeados en las tierras della llamado xptoval Cuma quien señaló un arroyo q haxa de a serranía nombrado ñeambuy q cae en las tierras y rreducciones q despoblaron los enemigos de san Pablo” (AGI, CHARCAS, 120, 30/11/1647, fl. 196v-197r).

Em 17 de novembro de 1647 o grupo retornava à cidade de Assunção e declarava não haver encontrado quaisquer indícios de ouro na região. Ao questionarem o índio Cristóbal sobre as informações por ele fornecidas, este indicou que o local de ouro “era donde avia ydo dizir a su padre ya defunto y a un tio suyo Alonso cabayu”. Seu tio fora questionado acerca da história e esse declarou que “mentía el dho su sobrino y a aquellas tierras eran de los indios de la dha rreduss.on y q vivía y se avia criado en ellas y las avia andado y hallado de hordinario y q nunca tal vio q ubiesse oro ni mineral a les del ni tal alan oydo” (AGI, CHARCAS, 120, 17/11/1747, fl. 198v-199r).

Indígenas de diversas localidades respondiam positivamente aos anseios do governador Jacinto de Laris. Parece que fora ele a pessoa que mais acreditou nesses rumores que circulavam. Contudo, uma declaração de um português, residente em Assunção, iria trazer luz à situação e explicar o processo de criação e circulação dessas notícias acerca das minas de ouro.

Na data de 17 de abril de 1657, na cidade de Assunção, foi relatado que havia um português, Domingo Farto, que declarava conhecer minas de ouro exploradas pelos padres jesuítas. Diante dessa acusação, o padre do colégio de Córdoba solicitou que ele declarasse o que sabia.

No dia seguinte, afirmou que “es de nación portugués que siendo muchacho lo trajeron al Brasil donde se crio y se caso en San Pablo Provincias todas de el Reyno de Portugal”.

E, no año de quarenta y siete o el quarenta y ocho se encarvo en el Brasil vn navio de Antonio franco madera en el qual aporto al puerto de Buenos ayres que allí se deservaco y paso a la Provinçia de tucuman desterrado del dicho puerto de Buenos Ayres por don Jacinto de laris que Governaba y mando salir de allí a todos los portugueses con lo qual este declarante paso a cordova ciudad de la Provinçia de Tucumán (AGI, CHARCAS, 120, 17 de abril de 1657, fl. 24r).

Afirmou que antes de sua viagem a Buenos Aires havia explorado o território próximo à capitania de São Vicente, na América portuguesa. Relatou que “a estado en las dichas provincias del uruguay y Parana y Reducciones de los Padres de la Compañía” (AGI, CHARCAS, 120, 17 de abril de 1657, fl. 24r).

E que em suas andanças, “llegou asta un lugar que llamavan santa therezade los Piñales y que aviendolo hallado desse volvió este delcarante con la demás gente otra ves a la dicha ciudad de San Pablo” (AGI, CHARCAS, 120, 17 de abril de 1657, fl. 24v).

Essa paragem, na qual encontraria as minas de ouro, denominada Santa Thereza, “es de la Provinçia de Uruguay o Paraná y si es los que están a cargo de los Padres de la compañía dixo que el dicho lugar de santa teresa es tiera firme continuada con a de san Pablo y de Aquel distrito que todas se tiene por tierra de los portugueses y que allí son las cabessadas de la Provincia del Uruguay” (AGI, CHARCAS, 120, 17 de abril de 1657, fl. 24v).

Foi-lhe questionado mais uma vez a respeito da existência das minasde ouro e do envolvimento dos jesuítas em sua exploração. A esse respeito,Domingo Farto relatou que “no a estado en las Reducciones de los dichosPadres con lo qual no puede saber nada lo que se pregunta mas que la deaver oydo esta voz común de que lo sacaba los dichos padres en la dichaprovincia” (AGI, CHARCAS, 120, 17 de abril de 1657, fl. 25v).

Assim, declarava que as minas de ouro estavam “en tierras de san Pablo siete leguas de la ciudad en yn cerro de minas llamado Ybiturun y en el puerto de Parnagua dose leguas de Canane para el sur que son los dos parages donde se labra y saca oro por todos los que quiseren ir sacando Porque son minas comunes a todos” (AGI, CHARCAS, 120, 17 de abril de 1657, fl. 26r).

Essa última declaração relaciona duas minas de ouro já conhecidas. A primeira, Ybiturun corresponde às minas de Voturuna, próximas à vila de Santana de Parnaíba na capitania de São Vicente. Já as minas próximas ao porto de Paranaguá e à vila de Cananéia correspondem às descobertas auríferas no planalto de Curitiba na década de 1640.

Domingo Farto, motivado pelas notícias dessa descoberta que circulavam na região de São Paulo, levaria esses rumores ao porto de Buenos Aires. Em 1647, ano de sua chegada ao porto platino, corresponde à data declaradapelo indígena Ventura na qual conhecera os relatos sobre as minas. Soma-se a isso a hostilidade que os portugueses de São Paulo manifestavam aos jesuítas envolvendo a disputa pela mão de obra indígena. Assim, o relatoda existência de minas de ouro e a exploração oculta dos jesuítas seriam plasmados em uma única notícia que seria introduzida na região platina no porto de Buenos Aires. Ressalta-se que Domingos Farto era marinheiroe Ventura trabalhava de forma esporádica no porto e que esse espaço teriasido um locus privilegiado para a circulação de notícias no período colonial.

Circulação de relatos e rumores

O processo de conquista da América teve como impulsionador relatosacerca da existência de territórios ricos em ouro e prata. Em associação aosmitos edênicos europeus, de raízes medievais, as notícias colhidas pelos conquistadores em relação à presença de metais preciosos reforçariam tais mitose encorajaria a penetração europeia ao interior da América (HOLANDA, 1958).Partindo desse cenário, observa-se que a circulação de relatos e notíciasencontrou papel de destaque e, portanto, sua compreensão seria uma das chaves para entender a dinâmica de formação das sociedades no Novo Mundo. [Páginas 7, 8, 9 e 10]

puede valer cada año a su mag.d y a su vasallos mas de dos millones q lequitan cruelissimamente como vera V. Ss.a en las partidas q le embio en essamemoria” (AGI, CHARCAS, 120, 31/10/1647, fl. 201v).Ao argumentar, Cárdenas compara o potencial de extração das presumidas minascom a fonte de riqueza mais importante das Américas, Potosí. Dessa forma conclui que orei estava perdendo o dobro das receitas supostamente ocultas pelos jesuítas, já que “puesde todas las minas de Potosí no llevan a Su Mag.d un millón cada año” (AGI,CHARCAS, 120, 31/10/1647, fl. 201v).Diante desses números, Cárdenas embasa sua argumentação no amploconhecimento da realidade aurífera do Paraguai. Aponta conhecer relatos,o território e, principalmente, o impacto negativo da evasão tributária empreendida pelos inacianos ao Real Erário. Relata, pois, que “así en todos misynformes no ago mucho Reparo en lo del oro aun q tengo por sertissimoque le ay porque ay muchas Rasones para entenderlo” (AGI, CHARCAS, 120,31/10/1647, fl. 204v).

A principal argumentação acerca da veracidade dos relatos é construídaa partir da lógica de proximidade geográfica. Como o território da capitaniade São Vicente, na América Portuguesa, encontra-se próximo às terras daprovíncia do Paraguai, seria razoável supor que, se fossem encontradas minas de ouro na primeira, encontrar-se-ia ouro também em terras paraguaias.A descoberta de minas na região de Sorocaba e, principalmente, em Paranaguá e Curitiba, levaria à suposição de que as terras meridionais da Américafossem auríferas, incluindo o território ocupado pelas missões inacianas.

Na descrição do território, o bispo Cárdenas aponta que “el ser esos çitiosdel mismo terreno y aguas de la ciu.d de san Pablo donde se sabe q ay muchooro La voz ge.l y el amor destos Pueblos y provincias el aver dho algunos indios en barrias ocaciones q ay oro” (AGI, CHARCAS, 120, 31/10/1647, fl. 205v).O segundo argumento na defesa da existência das minas em territóriosjesuíticos seriam os valores obtidos na suposta extração do minério pelospadres. Calcula-se que “menos q mas y en veinte años q an usurpado la dhasumma quitando diez antecedentes q el Rey nso. Señor dio despera a los rresien convertidos porque a mas de treynta que a questan alla los dhos Padresmonte la cantidad quarenta millones mire V. SS”. E, “totalmente usurpadaspor los dhos Padres doctrineros… quitadas al patronazgo R.l” (AGI, CHARCAS, 120, 10/10/1647, fl. 207r).O último argumento apresentado por Cárdenas contra os jesuítas seriaa participação de estrangeiros nas missões. A atuação de indivíduos quenão seriam súditos do rei de Espanha corroboraria a ideia central de queos padres estavam interessados em ocultar as riquezas e enviá-las para fora [Página 21]

“Panaguara”, sítio das minas de ouro, leva ao entendimento de que se trata das minas de Paranaguá, local de extração aurífera explorada pelos portugueses desde meados de 1640. Cabe mencionar que a distância de 80 léguas, partindo do referido cabo, que corresponderia aproximadamente a 445 km, não atinge as proximidades da localidade aurífera portuguesa.

No que tange às motivações do estabelecimento da Colônia, aponta que o principal seria o “deseo de Introduzir Comercio con buenos Ayres” (AGI, CHARCAS, 164, 6/3/1680, fl. 2v). No entanto a menção às minas de ouro aparece como interesse secundário, visto que os portugueses

tienen por fin segundario allenar el Camino referido desde el Cavo de S.ta María por tierra para San Pablo, a fin de poder sujetar a la devida obediencia por aquella parte sus moradores con la fuerza puesto que por el del Río Janeiro a San Pablo por la soras de aspereza de los Montes que se interponen, y en que esta situada aquella Villa, es casi inaccesible (AGI, CHARCAS, 164, 6/3/1680, fl. 2v).

Têm como finalidade secundária aterrar por via terrestre a referida Estrada do Cavo de S.ta María a São Paulo, a fim de poder sujeitar seus habitantes à devida obediência pela força desde através da do Rio de Janeiro a São Paulo pela aspereza das montanhas que se interpõem no caminho, e em que se situa aquela Villa, é quase inacessível

E, como o elemento que justifica esse caminho seria garantir a posse portuguesa “expecialmente la Poblaçión en el Sitio de la mina que se supone haverse descubierto nuevam.te” (AGI, CHARCAS, 164, 6/3/1680, fl. 3v).

A imprecisão em relação à localização das minas seria elemento importante que influenciaria as descrições relacionadas à fronteira meridional da América. Em 28 de novembro de 1679, o abade Masserati associa o esforçodos portugueses em conquistar a ilha de Maldonado, na foz do Rio da Prata, com a ideia de proteção de território que abrigaria as minas de ouro. Informa à Junta de Guerra que

enquanto al segundo punto de la noticia que daban algunos Capitanes, y marineros de que la Jornada que el nuevo Governador yba disponiendo para yr à s.n Pablo, era con disignio de yr â formar una nueva poblaçion la tierra à dentro y benefiçiar una mina de oro que estaba descubierta, y que asentaban algunos marineros se havía de fundar en una Ysla del Río de la plata (AGI, CHARCAS, 164, 28/11/1679, fl. 3r).

A associação da empreitada de Manuel Lobo rumo ao sul é evidenciadapor Masserati quando ele afirma que “se levantava heran para fortificar lapoblaçion que sea de haçer para benefiçiar la mina de oro” (AGI, CHARCAS, 164, 28/11/1680, fl. 3r). E, dessa forma, “fundar una poblaçion, y fortificarla,en una Ysla del Río de la plata (como queda referido) para la seguridad debenefiçiar una mina de plata (que antecedentemente dxo que era de oro)”(AGI, CHARCAS, 164, 28/11/1680, fl. 3v).Ao observar atentamente a alteração da natureza da mina, nota-se quepassou de ouro para de prata, evidenciando a imprecisão das informaçõescoletadas pelo abade. Na parte seguinte de seu relato, inclusive, aponta quese trata de suposições, mas como a questão da posse das minas são de extrema importância para a Coroa castelhana, decide dar ouvido aos rumoresque circulam pela região. Relata, pois, que “y que solo se save que los Portugueses fabircan una fortificaçion, y benefiçian una mina, pero que dondesuçede uno y otro, queda en términos de congetura”. E, portanto,según lo que supone pareçe que la línea de la demarcación que señalo los limites dePortugal, y Castela, vino a quedar en nro distrito la Provinçia del Paraná, y toda la tierraque ay entre la margen derecha del Río, hasta s.n Viçente, y que según la inteligençiaque supone quedara la mina en sus términos, pero la fortificaçion se leventara dentrode los nuestros sin genero de controversia. Pero que si esta mina (según se insignua)esta situada en la falda de los montes que desçienden al Río de Paraná (AGI, CHARCAS,164, 28/11/1680, fl. 4v).Por fim aponta que o estabelecimento da Colônia de Sacramento pelosportugueses ocorreu em território pertencente à Espanha e que caberia aomonarca hispânico pleitear o território ocupado por Portugal à margem doRio da Prata.O resultado dessa questão foi apresentado em 5 de abril de 1680, emcuja data o cronista Antonio de Solís e o jesuíta Juan de Andosilla finalmente informam seu parecer acerca da delimitação da fronteira na região:obedeciendo la orden de la Junta de Guerra de Indias, comunique su papel de V.md(cuya fha a dos del corriente) al P.e Juan de Andosilla Cathedratico de Mathematica enel Collegio Imperial de la Compañía de Jesús, y habiendo considerado y discurrido losdos, sobre las noticias, que hay de esta Mina, que los Portugueses tratan de benefiçiar,y fortificar, a la parte oriental del Río de la Platta (AGI, CHARCAS, 164, 5/4/1680, fl. 2r).Dessa forma, concluem que “según esta línea que es la Verdadera y laque viene señalada en las Cartas Geographicas no es dubitable que toda laProvinçia del Paraná y del Paraguay con el Río Paraná y toda la tierra quehay entre el Río de la Platta y el Río grande es de las Conquistas de Castilla con que Juzgamos el P.e Juan de Andosilla y yo” (AGI, CHARCAS, 164,5/4/1680, fl. 3r). [Páginas 25 e 26]

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