“Pluto Brasiliensis”, Wilhelm Ludwig von Eschwege (1777-1855)
1833. Há 191 anos
Fontes (3)
Não obstante todas as suas habilidades de autodidata, o projeto de obter ferro não surtiu efeito. Eschwege, em seu "Pluto Brasiliensis", publicado em 1833, descreve com ironia o ocorrido:
"em 1801, um certo João Manso, mulado de nascimento, tendo extraído dos livros alguns conhecimentos químicos e, portanto, segundo modo de pensar dos portugueses e brasileiros, devia estar habilitado para fabricar ferro, obteve do governo a incumbência de construir um novo forno de fundição. Devia ser auxiliado pelo irmão do conhecido mineralogista Andrada, que fora nomeado inspetor das minas, em virtude de ter traduzido a mineralogia de Bergmann, em Portugal".
Construíram eles um alto forno de tijolos, nas terras do capitão-mor de Sorocaba e assentaram um fole manual, certos de terem feito o necessário para dar início à fundição. Várias das mais importantes pessoas das vizinhanças foram convidadas como para uma grande festa. Como é fácil de prever, apesar de acionarem o fole e descarregarem carvão e minério no forno, nenhum ferro apareceu no cadinho. João Manso e o inspetor fugiram às escondidas dali, e os convidados, indignados, tiveram de voltar para suas casas. Foram feitos todos os esforços para se chegar a um resultado, porém inutilmente. João Manso, homem de muito tino, que mais tarde vim a conhecer, ria-se gostosamente de que, para fabricar ferro em grande escala, não bastavam conhecimentos de química. [João Manso Pereira, químico empírico do Brasil colonial, 1992. Carlos A. L. Filgueiras. Departamento de Química, UFMG. Página 3 do pdf]
Depois de muitos meses, teve ele finalmente a alegria de reveros mensageiros, que voltaram com tudo que ele solicitara. Cousa algumalhe servindo de estorvo, pôs-se de novo a caminho, balizando-se poruma grande cadeia de montanhas, até a atual Tucambira, que significa peito de tucano, e dali até o rio Itamarandiba, rio dos seixos arredondados, queera muito piscoso.Nesse lugar demorou-se algum tempo, a fim de descansar dasfadigas da marcha, vivendo, porém, em continuo sobressalto pelos repetidos assaltos dos selvagens, que atacaram o acampamento de todos oslados.Desse lugar, fletiu mais para o norte, através do sertão habitado pelos antropófagos, e chegou às águas do Vupabuçu.274Tendo acampado, Fernão Dias despachou logo 100 bastardos –assim se denominava outrora uma espécie de tropa ligeira, composta demoços descalços e rápidos, quase nus – com a incumbência de examinarem a região em todos os sentidos e de aprisionarem, de qualquer modo,um selvagem, de quem, possivelmente, obteriam as informações necessárias.Esta precaução não foi completamente inútil, pois, logo noalto de um morro, os bastardos lobrigaram um bando de índios, que osesperavam ameaçadoramente. Eles atacaram-no bravamenteeovenceram, mas só com muito trabalho conseguiram apoderar-se de um jovemvigoroso, que se batia violentamente e se separara dos seus por causa dacoragem de que era dotado. Preso, foi então conduzido imediatamente aFernão Dias e tratado por todos do melhor modo, pois esse era o únicomeio de fazê-lo falar e ganhar a amizade da sua tribo.O jovem sabia realmente das escavações feitas por Marcos deAzeredo, mas não pôde dar nenhuma notícia precisa das mesmas, a não [Página 411]
Assim, temos uma altitude total, acima do nível do mar, de2.910 pés.A maior dimensão da base do morro, que descreve uma elipse, mede cerca de 3 léguas na direção N-S, enquanto a menor possui somente légua e meia. O Ipanema corre no flanco leste, e, a oeste, o Sarapuí. Os dois se lançam no Sorocaba, a uma légua de distância do sopédo morro. Ambos apenas são navegáveis por canoas.As encostas são geralmente íngremes, e apenas há alguns lugares de declive mais suave e cortados de pequenos vales, através dosquais se pode comodamente subir, a cavalo, até o cume.Na ponta do morro, há partes onduladas e partes planas, emuma das quais se encontra uma lagoa, chamada Lagoa Dourada, afamada pelos tesouros que ali jazem enterrados, segundo dizem as lendas. Numerosos cursos d’água têm suas nascentes nos flancos do morro, serpenteando pelos vales em fora, até se transformarem em grandes caudais.Um dos vales mais importantes é o de Furnas, onde nasce ochamado córrego da Fábrica Velha, que corre para norte e deságua noSorocaba.Uma parte do morro, a maior, está coberta de mata virgem,porém a outra se apresenta despida de suas belas árvores, sacrificadas àsnecessidades da cultura do solo. Apenas existe, ainda, algumas capoeiras.Mesmo assim, a riqueza em boa madeira é ainda considerável, distinguindo-se cento e vinte espécies diferentes de árvores.A formação principal do Araçoiaba é constituída de granito,de granulação grosseira, e minério de ferro. Este, ora se apresenta associado em grande quantidade ao granito, ora em menor. Às vezes, se distribui em tamanha quantidade, que domina mesmo as rochas graníticas,apresentando massas de minério magnético puro.Esse tipo de minério ocorre principalmente no já mencionado vale das Furnas, em forma de caldeirão, cujas paredes, na parte superior, descrevem uma circunferência de uma légua de diâmetro. Ali se encontram enormes quantidades de minério rolado. Muitas vezes, essasmassas se apresentam com um diâmetro de 20 pés. [Página 621]
1° de fonte(s) [24530] Revista trimensal do Instituto Histórico, Geográfico e Etmográfico do Brasil Data: 1861, ver ano (49 registros)
Nào se sabe se efectivamente vieram os mestres biscainhos pedidos por D. Luiz. Ha indicios de que assim nào tenha acontecido ; pois pelo que se conhece do funcionamento desta fabrica.
As informações colhidas pelo Barão de Eschwege em 1811 de um antigo fundidor desta usina, e pela presença nela de um negro, hábil em metalurgia, desde 1769, pode se inferir que ali se estabeleceu uma forja segundo os processos usados na Costa africana, importados pelos escravos dessa procedência, e que maÍ6 tarde se estabeleceram em Minas Geraes de modo pre- dominante: Foi em Ypanema, com todos os vizos de probalidade, que se fundou a primeira fabrica de ferro pelo methodo dos cadinhos, de que mais tarde faltaremos.
Quando, em 1810 ou 1811, u illuatre scienti&ta allemào vizitou a região, encontrou em Sorocaba em Fevereiro que tinha trabalhado como fundidor na antiga forja, e que lhe fez desta a descrição seguinte:
O forno era único e tinha cinco palmos de altura; sendo construído de tijolos, exigia uma refecção hebdomadaria. Ao lado encontrava-se um grande foles, movido a braço, e a lupa metálica extraia-se pela parte superior do forno. Na parte inferior deste, havia um orifício, fechado normalmente com c tornos de madeira, pelo qual se fazia a corrida das escorias.
Dias havia em que se obtinha uma lupa de uma arroba de peso ; em outros, ao contrario, após um dia inteiro de esforços, não se obtinha nem uma libra de metal. O minério antes de ser fundido, era calcinado em um forno semelhante aos de cal, e, depois, fragmentado a martelo em pequenos pedaços.
O ferro obtido era quebradiço atribuíam, os curiosos da época, á falta de combustivel especial, proveniente da carbonização da madeira chamada Yperá o malogro dessas tentativas.
Diz, entretanto, Vergueiro que a fabrica chegou a produzir quatro arrobas por dia, o que está em contradição com a narrativa de Eschrwege ; esta, com tudo, merece mais credito por se basear no testemunho de um operário da antiga usina, emquanto a da Memoria histórica se funda apenas na tradição.
2° de fonte(s) [k-1368] Revista da Sociedade scientifica de São Paulo Data: 1908, ver ano (48 registros)
A historia antiga da fabricação de ferro neste districto já mencionei na introducção da historia do ferro e passo agora a tratar da historia mais recente.
Esta fabrica acha-se situada ao pé da serra de Arrasoyaba ou Guarasoyaba, á margem do ribeirão Ypanema. A montanha que fornece o minério ferrífero, eleva-se, em forma de ilhota, até a altura máxima de 1.088 pés acima d´uma vasta planície, interceptada por morros e pináculos, cuja elevação média, conforme as minhas medições barométricas, é de 1.822 pés ingleses acima do nível do mar; portanto a altitude total acima d´este nível é de 291 o pés.
A serra apresenta na sua base uma figura oval com o diâmetro maior, na orientação de N. para S., de cerca de 3 léguas e com o diâmetro menor de 1 légua e 1/2 só. No lado de leste corre o rio Ypanema e no de oeste o Sarapuy, desaguando ambos no rio Sorocaba á distancia de uma légua do sopé setentrional da serra e sendo ambos navegáveis para pequenas embarcações (canoas).
A ascensão da serra é, em grande parte, brusca, e só em poucos logares mais suave com alguns pequenos vales entrantes que permitem a cavaleiros subir até o cume com toda comodidade. Na altura máxima encontram-se em parte montículos, em parte taboleiros, achando-se num destes uma lagoa de águas estagnadas, a "lagoa dourada", a respeito da qual contam diversas legendas de tesouros escondidos. Alguns pequenos riachos nascem das costas da serra correndo pelos vales em demanda dos rios maiores.
O valle principal chama-se "Vale das Furnas", do qual sahe o ribeiro denominado "Fabrica velha" para desaguar, em direcção Norte, no rio Sorocaba. A maior parte da serra está coberta de matta virgem, grande parte, porém, já ficou privada das suas bonitas arvores pelo preparo do solo para culturas. A riqueza em madeiras de lei é, aliás, tão grande que podem contar-se umas 120 espécies differentes.
(...) O granito que encontrei, tinha feldspatho, mica escura e quartzo branquiçado, muito puro; consta, entretanto, que encontra-se também com feldspatho branco-cinzento. Possui grande densidade, prestando muito bem para pedras de moinho. No lado de Leste e Norte da montanha acha-se encostada ao granito uma rocha que não sei como denominar, se xistos argilosos, xistos silicosos ou xistos-grauwacke com xistos welz, ou diabase, da mesma forma que se encontra tal rocha em grandes extensões nos sertões de Minas e que, sem contestação, deve ser classificada nas rochas intermediarias (de transição), isto é, nos terrenos que abrangem o calcário escuro; visto que encontramos um xisto calcário cinzento e bem firme, com muitas veias de spatho calcário, sobreposto aos xistos argilosos em ambas as margens do rio Sorocaba e bem assim uma grande caverna, chamada "Palácio" pelos sertanistas, no calcário com muitas estalactites.
(...) Em certo logar encontramol-o como enorme rocha maciça encima de xistos argilosos e de grauwacke com grande numero de fósseis e sem reparar destacamentos e estratificação alguma. Confesso que não visitei tal logar pessoalmente, devendo referir-me, a respeito, ás observações do senhor Varnhagen, não apresentando este detalhes quanto aos fósseis encontrados. (Desconfio, que haja até engano do Sr. V. a respeito destes, tomando certas configurações na rocha por fósseis).
(...) Também, não faltam ao pé da montanha sedimentos auríferos, aonde antigamente ocuparam-se com a extração do ouro. Segundo velhas tradições, o povo julgava esta montanha bastante rica em minérios auríferos, e alguns acreditavam-n´a idêntica ao "Uvutucavarú" (montanha de ouro em forma de cavalo), do qual falia o jesuíta Anchieta nos seus arranzeis, mencionando que deve estar situado justamente no oeste de São Paulo.
Como se dá este caso com a serra de Arrasoyaba, presume-se, que Anchieta não ignorava a riqueza da serra em minério ferrífero e bem assim, na sua qualidade de homem versado em ciências, que o ferro constituía maior e mais importante tesouro do que o próprio ouro, e que usava ele somente de "simbolismo" nos seus escritos no intuito de incitar o povo á procura do "Uvutucavarú" e a subsequentes grandes descobertas no sertão.
3° de fonte(s) [25331] Histórias ilustradas de Ypanema e do Araçoiaba, 2011. Gilson Sanches Data: 2011, ver ano (130 registros)
O engenheiro de Minas, Barão de Eschwege, conterrâneo e amigo de Frederico Varnhagen, escreve em 1833 que "na ponta do morro, há partes onduladas e partes planas, em uma das quais há lagoa, chamada Lagoa Dourada, afamada pelos tesouros que ali jazem enterrados, segundo dizem as lendas. Em virtude disso, esse morro era considerado riquíssimo em ouro".