Luís Castanho de Almeida (1904-1981) menciona que:
O caminho de São Paulo à paragem de Sorocaba por onde vieram os Sardinha (entre 1578 e 1597) que o abriram, apenas roçando nos matos, era por Pinheiros, Barueri, Araçariguama, Apotribu, Mato-Dentro, Piragíbu, continuando a Araçoiaba e ao Sarapuí pela Terra vermelha, mas quem se dirigia só às minas ou vinha de Itu atravessava o Sorocaba no Itavuvu e no Corumbá, respectivamente. Ladeando-se o morro por qualquer dos lados atingiam-se o Sarapuí e o Tatuí, logo os campos de Guareí e Botucatu, rumos de bandeirantes do Guairá transformados em caminhos á pata de gado. [24385]
Outros relacionam o Itavuvu ao Caminho do Peabiru, existente antes da chegadas dos Europeus:
A trilha principal passava pela Aparecidinha, em direção a Sorocaba, seguindo a margem do rio Sorocaba até a rua Padre Madureira; desembocava na Avenida São Paulo e, depois de cruzá-lo, seguia pelas atuais ruas 15 de Novembro e de São Bento, praça Carlos de Campos, ruas 13 de Maio, da Penha e Moreira César, praça 9 de Julho, avenidas General Carneiro e Dr. Luiz Mendes de Almeida e daí em diante pela Estrada do Ipatinga. Ainda no traçado urbano atual, ocorriam trilhas secundárias em direção a diferentes pontos de Sorocaba e região: a estrada da Caputera (rua Pedro José Senger), Salto do Votorantim (início da rua Coronel Nogueira Padilha, ruas Newton Prado e Campos Sales) e Vossoroca (rua Artur Gomes, avenidas barão de Tatuí e Antonio Carlos Comitre) Havia dois caminhos, quase paralelos, em direção ao morro do Araçoiaba: um pelas ruas Souza Pereira, Hermelino Matarazzo e avenida Ipanema, bifurcando-se em direção ao morro e ao Itavuvu; outro pela praça Coronel Fernando Prestes, ruas Cel. Benedito Pires e Francisco Scarpa, praça da Bandeira e avenida General Osório. [27711]
Para outros autores, como Alfredo Ellis Júnior (1896-1974) em “O bandeirismo paulista e o recuo do meridiano”, quando o Bandeirismo declina:
Quando o nascer de século dos setecentos presenciava as múltiplas descobertas auríferas, por entre as fragas das serranias centro-minerais, coroando os esforços tenazes da gente paulista, lavrou o cruento destino o decreto irremovível do declínio do bandeirismo.
E, então, foi Ararytaguaba (Porto Feliz) a dolorosa sangria, dilatadamente aberta nas veias paulistas, de onde jorrara, para as bandas de além, o sangue aos borbotões das forças sertanistas, despovoando o berço piratiningano, para povoar os extensos territórios goyano e cuyabano, com a imensa aluvião de exploradores do ouro.Eis os últimos degraus que descemos, no ingrato setecentismo, onde nos demoramos, por longissimas décadas, até que a cruzada nobilitante do trabalho inicia a sem dúvida pela gente campineira sorocabana, ituana e paulistana em que germinaria finalmente, a semente hereditária do bandeirismo, veio a nos trazer a segunda e definitiva fase da grandeza da nossa pátria paulista que tem como pedestal o maior monumento agrícola, jamais existido na superfície do planeta (...) [26043]
Revista do Arquivo Municipal, Volumes 85-87: (...) pelo Apotribú, isto é, esgalhando-se da estrada de Itú, procurava a serra do Piragibú e daí a Parnaíba, vale do Tietê até São Paulo. Mas é de notar que em época tão remota já o fundador de Sorocaba tivesse construído a maior ponte que existiu em todo o sul do Brasil até o Senhor D. Pedro I.
Segundo o Sérgio Coelho de Oliveira, em “Baltazar Fernandes: Culpado ou Inocente?”:
"Afinal, uma ponte era uma marca única e fantástica, naquele tempo, naquele sertão. Não era qualquer rio que tinha ponte. Registra a história que esta foi a primeira ponte do interior do Estado de São Paulo e remonta ao final do século XVI, por ocasião da descoberta das Minas do Morro Araçoiaba.
Essa ponte a que se refere o documento não foi construída por Balthazar, mas já existia desde o final do século XVI, mandada construir por D. Francisco de Souza, governador geral do Brasil, quando em visita às minas do Morro Araçoiaba. Era uma ponte pequena, estreita, porém no mesmo local da atual, na rua XV de novembro."
“Memória Histórica de Sorocaba: Parte I”, 1964. Luís Castanho de Almeida (1904-1981)
"Damos a hipótese arrojada de ser esta ponte já de 1599. Em 1654 já havia uma ponte no rio Sorocaba, no lugar da atual. Somente um Governador tinha gente e dinheiro para construir uma, neste sertão. Ainda que estreitinha. É que o passo do rio, desde talvez os nativos, só podia ser abaixo das cachoeiras em local meio raso, antes de espraiarem-se as várzeas." [9049]
Revista do Instituto Histórico e Geográfico de S. Paulo: “Nossos Bandeirantes - Baltazar Fernandes” (1967) Luiz Castanho de Almeida:
É um título notável e único no Brasil e em Portugal. Por ser de cor evidentemente local, trata-se uma ponte do rio Sorocaba, onde se fez a igreja a que trouxeram uma imagem de Nossa Senhora. Esta imagem podia ser a Nossa Senhora de Montesserrate, orago do Ipanema, ou outra do próprio Balthazar e é provável que já se chamasse Nossa Senhora da Ponte antes da mudança do pelourinho para o atual lugar, pois o Itavuvu é à beira-rio e tinha provavelmente a primeira ponte.
Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo*:
Os povoadores, estes, dividiram-se: a maior parte deve ter voltado para São Paulo; poucos se deixaram ficar junto ao engenho de ferro, nas Furnas, e outros se aglomeraram no Itapebuçú (pedra chata grande), que se corrompeu em Itavovú, arraial, ainda hoje existente à beira do Sorocaba.
b) Itavovú
Um dos dois povoados, o de Ipanema e o de Itavovú, ou então ambos, se chamaram São Filipe. Sempre lemos nos historiadores, aliás sem documento escrito, mas baseado na tradição, que o Itavovú atual é o São Filipe, fundado de 1600 a 1611. A conclusão muito simples é que o próprio governador mudou o local de sua gente e o chamou de São Filipe em honra do seu real senhor. Esta mudança, em vida do nosso fundador, ou mesmo depois, só tem uma explicação: ele ou os seus companheiros, ou todos eles, desistiram de uma riqueza imediata das minas, para cuidarem da agricultura, porquanto é impossível, ainda hoje, morar no Itavovú e ir a pé trabalhar no Ipanema, mais de uma légua. [20136]
Parece haver engano dos historiadores, que se repetem .É um fato ter-se erguido junto às minas de Araçoiaba um aglomerado de moradias; contudo a informação de Manuel Eufrásio de Azevedo Marques (1825-1878) a respeito da denominação de Itapeboçú, dada à referida povoação, não é acompanhada de comprovantes.
Afonso d´Escragnolle Taunay (1876-1958) indica o mesmo nome Itapebussú apenas com pequena diferença de grafia dado ao arraial fundado por D. Francisco de Souza em Araçoiaba, em começos do século XVII. Infelizmente, também não fornece a fonte de tal informação.
Pandiá Calógeras (1870-1934) que se baseia quase exclusivamente no autor setecentista e "em documentos desconhecidos em 1772" apesar de não citar a origem de tal documentação, também não aborda êsse problema. [16]
RIO SOROCABA ERA "CANOADO"
Considero que maior parte das hipóteses aceitas pela "História de Sorocaba seriam rasgadas" se o rio Sorocaba fosse "canoado", excetuando os poucos que, no mínimo, consideram-o dito rio. Como Dagoberto Mebius, em "A História de Sorocaba para crianças e alunos do Ensino Fundamental I" (2003):
Em 1589, Afonso Sardinha, um português aventureiro, rico e vereador em São Paulo era dono de uma mina de “faiscar” ouro perto do morro do Jaraguá, veio juntamente com seu filho mameluco (filho de branco com índia), conhecido como “o mameluco do Afonso Sardinha” (mais tarde é que ele assume verdadeiramente o nome do pai).
Ambos vieram procurar riquezas nestas terras, porque alguns índios-escravos diziam: “além do Voturuna, depois do Araçaryguama, bem perto do rio que vem do Vuturaty, que passa pelo Itavuvu e chega ao Biraçoiava, há uma imensa “lagoa de ouro” guardada por “nhangá” e aquele que a ela chegar ficará muito rico.” [27987]
Ligeiras notas de viagem do Rio de Janeiro á Capitania de São Paulo,no Brasil, no verão de 1813, com algumas notícias sobre a cidade da Bahia e a ilha Tristão da Cunha, entre o Cabo e o Brasil e que há pouco foi ocupada:
Um pouco além de Porto Feliz deixamos o Tietê para nos dirigirmos diretamente ao rio Sorocaba, que passamos em canoas. Os animais passaram a nado, amarrados uns aos outros pela cauda. Aqui começa a verdadeira exploração mineira e por toda a parte ha ouro e ferro,porém não em tal abundância como em São João de Ipanema a algumas léguas distante onde, numa extensão de 10 léguas suecas, se encontra um minério de 80 a 85% de ferro, é flor da terra e com matas numa extensão dupla. [24878]
Em 1819 o Barão de Iguape arrematou os direitos sobre o importante Registro de Animais (os atuais pedágios em auto-estradas). A biografia deste Empresário da época da independência (1976) menciona Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853):
Nem todas as dificuldades, entretanto, provêm da hostilidade da Câmara, da população ou dos milicianos. Assim, por exemplo, a possibilidade de evitar a passagem por Sorocaba também facilitava o extravio. Podia-se tomar o caminho de Porto Feliz, e aí pagar o imposto sem passar por Sorocaba. Saint-Hilaire, referindo-se à sua viagem de Porto Feliz a Sorocaba, fala na localidade Guarda de Sorocaba, onde existia uma pequena casa com varanda, na qual se pagavam os impostos dos muares vindos do Sul. Todavia, passavam em pequeno número, razão por que havia aí apenas dois soldados, substituídos de seis em seis meses. Ainda era possível passar pela Guarda de São Francisco, onde também ocorriam extravios. As tropas podiam ainda passar e pagar os impostos na Guarda de Santa Rita e de Indaiatuba. Para evitar certos extravios, Prado procura obstar a construção de uma ponte, que um morador de Indaiatuba está iniciado. [27766]
A "questão do Itavuvu" é uma das mais embaraçadas da História primitiva de Sorocaba. Ainda ninguém conseguiu provar não ser o Itapebussú invenção de Pedro Taques de Almeida Pais Leme (1714-1777), que desta vez, silencia esse dado histórico assim como as Atas, o Registro da Câmara, Documentos Interessantes, Sesmarias, Testamentos e Inventários e Cartas de Datas de Terra.
E Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853), que em 1819 esteve em Sorocaba:
“Devo acrescentar que não encontrei, em nenhuma das obras que pude consultar, a denominação Itapebussú; mas, é evidente, que foi a pequena vila fundada nos arredores de Araçoiaba pouco tempo após a descoberta da mina de ferro da montanha desse nome, e de onde os habitantes se retiraram para Sorocaba (...) Entretanto, é necessário admitir a ocorrência de erro relativamente a alguma das datas indicadas.”
Não querendo deixar Itu sem ver o salto à qual a cidade deve o nome, pus-me a caminho para visitá-lo, acompanhado do meu arrieiro José Mariano. Num círculo de cerca de uma légua até a margem do Tietê, que atravessa a estrada de Itú a Campinas, percorri uma região coberta de matas virgens antigamente, mas onde hoje só se vêem capoeiras. Vi no campo alguns engenhos de açúcar. Chegando ao Tietê, encontra-se uma ponte estreita, muito mal conservada e desprovida de parapeito.
A referida ponte é seccionada por uma linha em duas partes desiguais; a parte mais vizinha da margem direita do rio tem cerca de 48 passos de extensão, a ilha tem 47 e a outra parte da ponte, 120. Nesse local o rio, divide-se, formando várias ilhas eriçadas, como o seu próprio leito, de rochas de pedras negras, que parecem sobrepostas com regularidades, formando uma espécie de muro de apoio.
Maciços de árvores e de arbustos, de um efeito pitoresco, cobrem as ilhas e tufos de orquídeas, que crescem sobre as pedras, formam soberbos ramos de flores purpurinas. Em cada extremidade da ponte existe uma venda, tendo ao lado um pequeno rancho, e um pouco mais abaixo, à direita do rio, vê-se a capela de Nossa Senhora da Ponte, com a casa do vigário. Todo esse conjunto forma uma lindíssima paisagem. [“Viagem à província de São Paulo e Resumo das viagens ao Brasil, província Cisplatina e missões do Paraguai”. Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853). Páginas 236 e 237]
Em Itu, tinha-se grande confiança na imagem de Nossa Senhora da Ponte; no tempo das secas, era a mesma carregada em procissão e transportada para a igreja paroquial da cidade, onde permanecia em exposição até que chovesse. Quando de minha visita, essa imagem alí se encontrava, porque havia grande necessidade de água, e todas as vezes tardes a multidão lhe dirigia preces. Era o segundo ano que a seca se fazia sentir. [“Viagem à provincia de São Paulo e Resumo das viagens ao Brasil, provincia Cisplatina e missões do Paraguai”. Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853). Página 238]
Parti de Porto Feliz dirigindo-me à cidade de Sorocaba, distante apenas cinco léguas e meia, empregando nessa viagem dois dias. Durante cerca de um quarto de légua acompanhou-me o capitão-mór de Porto Feliz, o qual me cumulara de gentilezas e me forçara a fazer uma refeição em sua companhia.
Era um bom homem de campo, franco, alegre, um pouco orgulhoso de sua dignidade de capitão-mór, na qual fora recentemente investido, e que me pareceu desejar que eu comunicasse ao capitão-general a boa acolhida a mim feita.A região que percorri no primeiro dia de viagem, numa extensão de quatro léguas, é antes ondulada do que montanhosa. Percorri, a princípio, três léguas por dentro de matas não muito vigorosas, e durante a última légua atravessei campos, além dos quais existem ainda matas. Existem alguns sítios esparsos pelos campos.
Às seis horas da manhã, o termômetro de Réamur marcava 14°. Durante o dia foi insuportável o calor. Nenhuma planta encontrei em estado de florescência nas matas; só encontrei, nesse estado, três ou quatro nos campos.
Fiz alto na localidade denominada Guarda de Sorocaba, onde existia uma pequena casa com uma varanda, e onde eram pagos os impostos devidos, como direi mais adiante, sobre os muares precedentes do sul. Um diminuto número desses animais passava por esse caminho, pelo que a guarda compunha-se apenas de dois soldados da milícia (guarda nacional), os quais eram substituídos de seis em seis meses e recebiam dez patacas (20 francos) como pagamento.
A casa da Câmara de Sorocaba é um edifício pequeno e de mal aspecto, elevado no canto de uma rua estreita e imunda. Uma ponte estabelece comunicações entre a margem direita do rio Sorocaba e esquerda, sobre a qual foi construída a cidade. É uma ponte de madeira, medindo, pouco mais ou menos.
“Entre Sorocaba e Pedro Antunes, a região, semeada de capões de mato e de campos, é quasi inteiramente acidentada. Além de Pedro Antunes, torna-se montanhosa, assim continuando por cerca de três léguas, até o rio Sarapuhú. Daí para diante predominam as matas; essas, entretanto, são raramente entremeadas de alguns campos, e durante a derradeira légua que se percorre antes do Sarapuhú, atravessa-se, ininterruptamente, uma floresta, por péssimo caminho. Chegando-se à extremidade dessa pequena floresta, transpõe-se, por uma ponte de madeira estreita e sem parapeito, o rio Sarapuhú, que tem pouca largura. É esse rio que separa o termo de Sorocaba do de Itapetininga”. [24510]
Após a correição geral de 1825, em que foram abertas três novas ruas - a da Margem, do Conselho e 7 de Setembro -, o caminho das tropas foi ligeiramente alterado, na entrada da vila pelo caminho do sul. A rua da Penha, embora ainda utilizada para passagem dos animais, foi pouco a pouco sendo substituída pela 7 de Setembro. A estrada de Santo Antônio manteve-se como importante via de acesso ao Registro para as tropas invernadas nos campos Além-Supiriri. A estrada e rua do Piques serviu, com exclusividade até 1838, para conduzir as tropas invernadas no Itavuvu e Terra Vermelha. Nesse ano, foi aberta a estrada de Porto Feliz, aliviando o tráfego do gado nessa direção.