“Portugal e Brasil: Antigo sistema colonial”; Fernando Novais; Curso de pós-graduação Geografia; youtube.com/watch?v=JsAXNoumgS8 - 01/01/2016 de ( registros)
“Portugal e Brasil: Antigo sistema colonial”; Fernando Novais; Curso de pós-graduação Geografia; youtube.com/watch?v=JsAXNoumgS8
2016. Há 8 anos
Os europeus não tinham a intenção de formar uma nação, apesar de gostarem de dizer isso. (...) A colonização coincide com os principais acontecimentos na Europa, que são a formação dos estados, lutando entre si, do capitalismo expandindo o comércio, e a laicização da cultura.
A colonização está ligada a três processos. Ela se dá na América, no Novo Mundo. As características da colonização envolviam: ocupação de território, criação de uma outra sociedade, formação social e um sistema econômico de produção. Não apenas entrepostos para comércio, como houveram na África. Nesse momento histórica, somente na América e nela se dá colonização e não na África.
Os portugueses foram os pioneiros na expansão marítima e também na colonização, seguidos por espanhóis, franceses, ingleses, holandeses, até dinamarqueses.
Como explicar a colonização ter iniciado-se na América e não na África? A África era mais próxima e a conheciam melhor. O périplo africano inicia por volta de 1412, com a tomada de Ceuta. A viagem de Vasco da Gama foi 1497 e a de Bartholomeu Dias em 1499. Ou seja, temos quase 1 século de conhecimento da África. Mas a colonização deu-se na África, mas sim na América.
Não apenas Portugal. O fato de que tenha sido na América é muito curioso. A descoberta da América é fruto de uma série de circunstâncias causadas pelo acaso.
Cristovão Colombo era um visionário, meio doido, muito teimoso, que foi o que acabou resultando em sua viagem. Uma figura interessantíssima. Pois, ele fez 4 viagens a América, tocando nas Antilhas. Procurava um caminho para as Índias. Sempre achou estar no Japão ou China, o que demonstra o seu raciocínio não muito apurado, pois, onde haveriam chineses nús?
Ao contrário disso, em 1498/99, outro italiano, este florentino, América Vespúcio, vindo com Diego, um marinheiro espanhol. Tocaram rapidamente as Antilhas depois a América do Sul. Comparou a embocadura do Orinoco com do Adriático em Veneza, diga-se de passagem, pura imaginação deste florentino, pois em nada assemelham-se as embocaduras, sendo a do primeiro bem maior.
Américo imediatamente enviou uma carta, em mal latim, chamada "Mundos Novos", em que informava não se tratar de nenhum ponto na Ásia, como Japão, China ou as Índias, não somente ilhas, mas sim um imenso continente. Depois, um sujeito chamado wesmuller (moleiro do mar selvagem), produz um mapa contendo esse continente, nomeando-o "América", o continente descoberto por Colombo. Muito depois, na época da independência, para que fosse homenageado, Cristovão Colombo nomeou um simpático país, a Colômbia. Um grande prêmio de consolação.
Entende-se a colonização sabendo que ela não é igual, contém mecanismos de conjuntos que diferenciam regiões.
(...) Há variações entre América espanhola a portuguesa. Sergio Buarque de Holanda mostra isso de forma admirável, a diferença entre o ladrilhador e o semeador. Portugal tende a se inserir na paisagem, enquanto a Espanha tende a marcar a paisagem, o que aparece nas cidades das Américas espanholas e portuguesas. Em comparação, as cidades espanholas tinham mais planejamento que as portuguesas, estas geralmente são mais rurais que urbanas.
(...) Mariana, em 1746, é a primeira povoação predominantemente portuguesa, isso por causa da mineração (...)
Há diferenças, mas basicamente são dois blocos: as de povoamento, que não dependem da metrópole, e as colônias de exploração. O que há de comum entre todas é a contradição que se desenvolve entre o ponto de partida, centro do sistema, a Europa, o centro da cultura, e a colônia. A contradição está em verem a América como a europeização do mundo (...) mas, o desenvolvimento da América é exatamente o contrário, porque enquanto na Europa se forma o Capitalismo, aqui se forma a escravização.
Veja bem, o que caracteriza a relação social de produção mais importante é o regime de trabalho. Enquanto na Europa há o processo de liberalização do trabalho, aqui é compulsório e cada vez mais compulsório, servidor total. Não é apenas diferente, mas o oposto.
A questão do trabalho na formação da colonização depende da escravização, pois este, tem que ser forçado, para acumular riquezas na metrópole. O que não quer dizer que todo o excedente econômico vá para ela, pois algo tem que permanecer na colônia, senão não teria reposição. Mas o acumulo está na metrópole.
Para isso é preciso que a força de trabalho na colonia seja compulsória, podendo produzir produtos que sejam vendidos por um preço que, comprados aqui e possam ser vendidos na metrópole por um preço mais elevado.
A camada do "meio", os colonos, compram escravizados, ou escravizam os nativos. O tráfico de escravizados também acumula na metrópole, a preação de nativos não. Por isso a preferência por escravizar africanos.
No cotidiano, a igreja sempre teve um problema com a catequese dos nativos, era a justificativa para a colonização. Quando o Papa Alexandre VI dividiu o mundo a ser descoberto, entre Portugal e Espanha, a justificativa era descobrir o "gentio", catequiza-los e expandir a cristandade. Não tratava-se apenas da expansão do capitalismo.
A descoberta do gentio foi a coisa mais notável na Europa da época. Na realidade do mundo, levado em conta, estava dividido em três: os cristãos, os infiéis (muçulmanos) e os judeus. De forma geral, aos infiéis, é a guerra, os judeus são aqueles que que não aceitaram o último de seus Messias, de seus profetas. Estes assumiam tarefas que eram proibidas aos cristãos,como cobras juros, o comércio do dinheiro. O que causava ainda mais preconceito.
Quando há a descoberta da América, foi uma loucura, pois os nativos não eram judeus, cristãos ou muçulmanos. E estavam nus, portanto só poderiam estar descobrindo o "gentio" no Paraíso, por isso andavam nus. Este é o tema de um dos mais belos livros de história do Brasil: “Visão do Paraíso - Os motivos edênicos no descobrimento e colonização do Brasil”. Sérgio Buarque de Holanda. Enquanto todos procuravam os motivos econômicos...
Isso pode ser visto na carta de Pero Vaz de Caminha. São doze páginas, fantásticas, nas quais ele volta sete vezes a palavra nudez: "Estavam nus! Não cobriam as suas vergonhas!"