Caminho do Peabiru: Um resgate cultural para o Turismo, Valdir Corrêa, Mestrado em Patrimônio Cultural e Sociedade, Universidade da região de Joinville - Univille - 01/01/2010 de ( registros)
Caminho do Peabiru: Um resgate cultural para o Turismo, Valdir Corrêa, Mestrado em Patrimônio Cultural e Sociedade, Universidade da região de Joinville - Univille
2010. Há 14 anos
um artigo Divagações Lingüísticas, afirma que os Guaranis chamavam a trilha de Peabeyú,“Caminho Antigo de Ida e Volta”, acreditando também que Peabeyú pudesse ser umadeformação de Peabiru, que significaria “Caminho Ralo”.
Outra cogitação de Guérios é que o nome fosse Piapyrú, significando “Pegada do Caminho”, “Sinal do Caminho” ou “Marca di Caminho”. Já para Ramón Cardoso, Peabiru seria “Caminho batido”, “Caminho Pisado” ou “Caminho Amassado” e para GuimarãesCosta, em artigo no jornal O Estado do Paraná, Tape Avirú significaria “Caminho Terraplenado”, “Caminho estofado” ou Caminho Fofo”. Já para Luis Galdino (2002) em seu livro O melhor do Planeta, Peabiru é interpretado como “Caminho para a montanha do Sol” e também conhecido como caminho de São Tomé, segundo a Revista Nossa História, (2005, p.22). No livro Visão do Paraíso (1969), o historiador Sérgio Buarque de Holanda mostrou como o conquistador europeu, em sua meta de dominar as terras sul-americanas durante o século XVI, trouxe consigo uma série de mitos medievais. Um dos mais úteis foi o de que um dos apóstolos teria visitado o continente muito tempo antes dos portugueses.
Conhecida no Oriente, esta lenda pode ter sido antecipada por mitos indígenas – asdescrições de heróis civilizadores, comuns em toda a América Latina – propositalmenteremodelados pelos missionários para converter rapidamente os “pagãos”. Um dos vestígiosmais conhecidos da “passagem” de São Tomé, chamado de Sumé pelos indígenas e Pay Toméno Paraguai, seriam marcas de pés gravadas nas rochas.Outras seriam formações de pedra, báculos e cruzes, além do caminho do Peabiru.Este último teria sido aberto quando Tumé fugia de indígenas selvagens, contrários à nova fé.Até os dias atuais existem folclores populares pelo interior do Brasil creditando a Tumé curasmilagrosas e a gravuras pré-históricas em forma de pés, um erro que acaba danificando opatrimônio cultural, pois, como nos tempos coloniais, as inscrições são raspadas pelos devotostentando obter relíquias sagradas.Um dos mais conhecidos conjuntos de arte rupestre do país, até hoje guarda essaassociação no imaginário: a cidade de São Tomé das Letras, em Minas Gerais.1.4 A Descoberta do Caminho do Peabiru em Santa Catarina: A Imprecisão do Local O Caminho do Peabiru tem chamado a atenção de exploradores e pesquisadores desde1524, quando o náufrago português Aleixo Garcia, numa expedição integrada por dois milindígenas Carijós, partindo da ilha de Santa Catarina ("Meiembipe"), percorreu essa via para [Página 17]
O caminho unia, segundo estudos, os Andes ao Oceano Atlântico, servindo comoligação entre os guaranis e os demais povos sul-americanos. Fascinante, misterioso, polêmico,tido como sagrado, um ramal do caminho ligava o litoral de Santa Catarina e São Paulo aogrande império inca no Peru.Porém, conforme registra o arqueólogo Igor Chmyz da Universidade Federal doParaná, em entrevista à revista Cadernos da Ilha (2004), o caminho do Peabiru não foiconstruído pelos povos Incas, mas pelos índios Jê3.Para Chmyz (apud GABARDO, 2004), a prática indígena de caminhar comunicandoaldeias e centros de atividades que eles desenvolviam em torno de aldeias era sempre porcaminhos de um determinado grupo indígena, os Jê. Não tem nada a ver com os TupiGuarani, comenta Chmyz, pois os Itararé são anteriores aos Tupi-Guarani no Paraná. Chmyz(2004) ainda afirma que várias pesquisas constataram índios Tupi-Guaranis se movimentandoda costa do Atlântico em direção ao noroeste, passando por São Paulo e por Minas Gerais. Ofato de eles terem guiado Aleixo Garcia e Cabeza de Vaca, por exemplo, não significa queeles foram os autores do caminho. Apenas os conheciam e os utilizavam, assim como oseuropeus passaram a utilizá-los.Chmyz (apud GABARDO, 2004) questiona ainda sobre o motivo de Cabeza de Vaca,ter abandonado o chamado tronco do Peabiru, quando se dirigia para Assunção na altura dafoz do rio Piquiri, antes do encontro com o rio Paraná. Descendo provavelmente por um dosramais que atingem o rio Iguaçu. Chmyz (2004) aponta que naquela área já estavam os Jê, naatual cidade de Guairá. Cabeza de Vaca e os Tupis-Guarani como guias, não podiam entrar noterritório dominado pelos Jê e pelos Itararé, estes, inimigos dos Tupis-Guarani. A evidênciaarqueológica explica porque ele mudou de rota. Houve também o aproveitamento parcial destas vias pelos tropeiros para o transportede gado entre o Rio Grande do Sul e São Paulo e Chmyz (apud GABARDO, 2004) apontaregistros de coincidência sobre a forma e material encontrados na construção de algunstrechos utilizados por estes tropeiros, principalmente os trechos do Peabiru que levavam emdireção a São Paulo e a Sorocaba para onde as tropas eram conduzidas Chmyz (apud GABARDO, 2004) cita ainda em Santa Catarina, a existência docaminho dos Ambrósios, atual Caminho do Monte Crista na região norte de Santa Catarina, [Página 19]