“Senhores, ha perto de três mil anos que o rio Amazonas é navegado e que de seus seios transborda o ouro nos cofres dos reis da terra! Onffroy de Thoron, depois de largos e demorados estudos, rasgou a nossas vistas o véu do grande mistério: os navios de Salomão traziam rumo da América Meridional; vinham buscar as grandes riquezas que levavam ao rei de Tyro, na terra do El-Dorado, da legendaria Manôa, sonhada á margem ocidental da lagoa Parima, á boca de um grande rio, que a ela levava suas águas cauldalosas roladas sobre o leito esmeraldino, coberto de areias de ouro...” [Sociedade de Geographia do Rio de Janeiro. TOMO V. 4.° Boletim, 1889. Redator Engenheiro Dr. A. de Paula Freita. Página 222]
Não pode ser posto em dúvida que D. Francisco de Sousa transportou-se da para Sorocaba o intuito de encontrar a Sabarabuçú e a Lagoa Dourada. No dia 3 de junho de 1599, entrava ele no povoado, fazendo reboar as montanhas com o éco de suas músicas marciais, trombetas e tambores. E foi recebido regiamente por Afonso Sardinha. [25788]
É incontestável que a primeira Real Fábrica de Ferro nasceu dessa lenda, no Morro de Ferro, descoberto por Afonso Sardinha, quando em expedição a procura da Lagoa Dourada, “que num ponto qualquer da serra existia, nadando em suas águas peixes e patos de ouro”. Ainda hoje (1960), a quem quer que se pergunte em São João do Ipanema, sobre a tal Lagoa, não se houve resposta. Ninguém a viu, mas ninguém a contesta.” [24437]
Os documentos mais antigos que fazem referência ao Morro de Araçoiaba e à Lagoa Dourada são as cartas do padre jesuíta José de Anchieta, em 1560. A lenda vivia na imaginação dos bandeirantes, ávidos em encontrar ouro e pedras preciosas. Segundo diversos relatos, ela foi localizada nos sertões de São Paulo. [23348]
Em 1809 Friedrich Ludwig Wilhelm Varnhagen (1783-1842) chegou a Sagrada Montanha do Araçoyaba. Escreveu ele:
“O Araçoyaba (...) forma uma figura oval, cujo diâmetro maior mede 3 léguas do norte ao sul, medindo o menor uma légua e meia. Os cumes são separados entre si por várias superfícies planas, numa das quais há um pequeno lago pantanoso, denominado Lagoa Dourada, onde, segundo a lenda popular, há tesouros ocultos.” [6032]
Em 1822 escreveu o Senador Vergueiro (1778-1859), em "Memória Histórica Sobre a Fundação da Fábrica de Ferro de S. João de Ipanema":
Em Montanha, a que manuscritos antigos denominam Biraçoiaba, está situada debaixo do trópico, isolada dentro de uma grande planício que se estende para todos os lados pelo menos 5 léguas; tem a periferia inferior oval com o diâmetro maior de 3 léguas, e o menor de égua e meia, sua altura é de dois mil pés acima do Ypanema, e a deste mil e cinquenta sobre o nível do mar. É tão fortemente inclinada que em muitos lugares não se pode subir, em outros só a pé, e pelo vale das Furnas também a cavalo. O cume é variado em outeiros, e planícios, em uma das quais está a Lagoa Dourada, de que os vizinhos contam fabulosas visões como indício de muito ouro. [25019]
Wilhelm Ludwig von Eschwege (1777-1855), em “Pluto Brasiliensis”:
O Ipanema corre no flanco leste, e, a oeste, o Sarapuí. Os dois se lançam no Sorocaba, a uma légua de distância do sopé do morro. Ambos apenas são navegáveis por canoas.As encostas são geralmente íngremes, e apenas há alguns lugares de declive mais suave e cortados de pequenos vales, através dos quais se pode comodamente subir, a cavalo, até o cume.Na ponta do morro, há partes onduladas e partes planas, em uma das quais se encontra uma lagoa, chamada Lagoa Dourada, afamada pelos tesouros que ali jazem enterrados, segundo dizem as lendas. Numerosos cursos d’água têm suas nascentes nos flancos do morro, serpenteando pelos vales em fora, até se transformarem em grandes caudais. [27639]
Em dia 10 de março de 1853 mais de 70 homens se apoderarem, esbulharem terras nativas e se recusarem a dar satisfações às autoridades municipais. O diretor do aldeamento negou tal acusação (...) explicou que Sorocaba organizou uma Sociedade para buscar ouro na Lagoa Dourada e em outros possíveis terrenos auríferos. [27910]
O filho de Friedrich Ludwig, Francisco Adolfo de Varnhagen (1816-1878) nascido no Araçoyaba, considerado "Pai da História geral do Brazil", assim escreveu:
"Dos altos morros manam alguns ribeirões, porém o mais notável é o chamado da Fábrica Velha, ou do Valle das Furnas, por seguir por uma espécie de caldeira, ou algar que ás vezes, parece cratera de um vulcão. Sobre a cima do principal cabeço ha uma lagoa que chamam aqui Dourada, na qual o povo diz aparecerem fantasmas, que, guardam os tesouros nela escondidos. O mineral solto á superfície do morro é tanto e tão rico que creio só dele se poderia, por mais de cem anos, alimentar a maior fábrica do mundo, sem recorrer a trabalho algum mineiro." [22355]
Em 1886, falando sobre a visita do Imperador Dom Pedro II (1825-1891) à Sorocaba, publicou o Jornal Correio Paulistano:(...) Há, porém, aos lados e por cima, bancos de xistos de várias grés de pedra calcarea escura, de mármore, de azul da Prússia, de pederneira, de grunstein e até de formações auríferas. O estudo geognóstico deste distrito é digno de ocupar por muitos meses a atenção dos sábios geólogos. Do alto dos morros manam alguns ribeirões, porém, o mais notável é o chamado da Fábrica-Velha ou Valle das Furnas, por seguir por uma espécie de caldeira ou algas, que as vezes parece cratera de vulcão. Sobre o cume do principal cabeço ha uma lagoa quem chamam aqui de Dourada, no qual o povo diz aparecem fantasmas que guardam os tesouros nela escondidos. [24847]
1896, o Padre Raphael M. Galanti, em sua “Historia do Brazil”:
Fábrica do Ipanema em São Paulo - A uns treze quilômetros pelo oeste da cidade de Sorocaba levanta-se um grupo de montanhas de formação metálica, que tem uns dezesseis quilômetros de comprido e proporcionada largura. Consta a montanha de três cabelos; um dos quais se denomina propriamente Araçoiaba; outro, Morro do Ferro; o terceiro, Morro Vermelho. Em cima da cabeça principal existe uma lagoa que chama Dourada. Emanam dessa montanha diversas correntes de água, sendo as mais importantes o Ipanema que verte na face oriental, e o Sarapuy do lado oposto. Ambos são tributários do Sorocaba, que por sua vez o é o Tietê. [23817]
Em 1923 a Revista "América Brasileiro" comentou "Em Varnhagen: O Homem e a Obra":
(...) Consumindo as horas na minúcia dessas escavações, a sua inteligência desconheceu a poesia da História, não atingiu o cabeço da montanha, em que a Lagoa Dourada, toda ela de ouro fluido e borbulhante, ao sol meridiano, ou de ouro estagnado e fosco, ao entardecer, no velário crepuscular da lenda, recatava espectros e tesouros.
Varnhagen é o homem da investigação oposto ao homem da imaginação, como poderíamos opor um beneditino medieval, entre os painéis sagrados e sombrios do claustro, a um colorista veneziano do Renascimento, ébrio de luz no seu arco-iris. Explorador incansável do poço lendário, em cujas trevas se esconde a Verdade aos que a desejam, ele persegue também um fantasma e procura um tesouro, mais difíceis de achar, no silêncio das épocas mortas, que esse tropel de assombros e esse fulgor de riquezas vans da Lagoa Dourada. [27903]
A Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, volume XXVII, comenta "Sorocaba dos tempos idos":
De nada, entretanto, valera a avidez do senhor D. Francisco para o progresso dos trabalhos, e, já em 1629, estava extinta a exploração das minas, cujos preciosos minérios eram guardados, segundo a crendice nativa, por fabulosos duendes que povoavam a Lagoa Dourada, assente no cume do Araçoyaba. [26706]
Em 1929, numa Conferência realizada pelo sr. dr. A. de Freitas Jr., no Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo:
(...) as minas, cujos preciosos minérios eram guardados, segundo a crendice dos nativos, por fabulosos, duendes que povoaram a “lagoa dourada”, assente no cume do Araçoyaba. [24346]
CARTGOGRAFIA
- Um dos rios nascentes cruza o trópico de capricórnio
Como atribuir tanta importância a este nome Gaibug, quando Coronelli faz nascer o São Francisco ou Parapitinga (?) na serra da Gualembaga, atravessar o grande lago de Parapitinga, recebendo como afluentes o Guabiole cujo tributário principal é o Inaya, o Lacarchug, o Parachai e o Gretacaig! Eis uns nomes bárbaros, dificílimos de identificação com qualquer dos topônimos da bacia de São Francisco. E quanta coisa mais fantasiosa existe neste de Coronelli! No centro do Estado do Paraná coloca um grande lago de onde sabe o rio Latibagiha (provavelmente o nosso Tibagy) afluente do Paranápanema. Não se menciona a existência de São Paulo, o perfil do nosso litoral está erradíssimo e assim por diante. [Páginas 723 e 724 do pdf]