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Ensaios de Sciencia por Diversos Amadores
1876. Há 148 anos
hoje a faliam se bem que já muito deteriorada peloesquecimento da antiga construcção e pela introducçãonão só de vocábulos, mas de phrases á espanhola,que demudaram quási completamente a sua syntaxee lhe deram um torneio inteiramente avesso á suaindole.Que esta lingua foi a fallada em maior extensãoterritorial da America do sul, é c.oüsa já reconhecidapor diversos escriptores. É interessante e dispensamais longas citações o pequeno todo de transcripçõesfeitas pelo Sr. Júlio Platzmann na reimpressão quefez da grammatica do Padre Anchieta, onde vê sequanto era antiga esta opinião. Da extensão dessalingua já tinham faltado em tempos muitos antigos oPadre Antônio Ruiz de Montova e outros; foi reconhecido em tempos posteriores pelo autor do Saggio diStoria Americana e pelo erudito Hervás, e em temposmais modernos o confirmam Alcide d´Orbigny e outrosescriptores. Citam-se, em diversos auctores e se menão engano também no Lliomme Americain de AlcidecVOrbigny, palavras de John Luccok dizendo que estalingua era fallada na America do norte.Na mesma Revista do Instituto Histórico estão impressos trabalhos, nos quaes se reconhece o extensodomínio dessa lingua chamada geral no Brasil, e oseu parentesco com aquella que íaliavam os povos dasmissões do Paraguay e da Guayrá.

De um curioso escripto de 1581 dado á luz no 6.° tomo da Revista vê-se que "todo o gentio da costa que também se derrama mais de 200 léguas pelo sertão e os mesmos carijós que pelo sertão chegam até as serras do Peru tem uma mesma lingua que é grandíssimo bem para sua conversão".

Manuscrito
1581, quinta-feira (Há 443 anos)
 Fontes (2)

[Página 9]

Alcide d´Orbigny foi deparar com guarayos, sírio nos, e chiriguanós falknndo a língua geral no centroda Bolívia, circumdados de cliiquitos, moxos, kechuaso aymaras que fallavam línguas differentes. O omaguaé dialecto da língua geral e talvez nem simplesmentedialecto, talvez a mesma cousa que tupi e guarani, istoé, diíferenedhdo-se apenas um do outro como o fallarde uma província do de outra.Eis algumas palavras de Hervás que vem â proposito:"Da lingua omagua é necessário discorrer separadamente, porque nella se acha documento claro da tenacidade que as nações americanas tôm em conservar o seu idioma nativo. No cotejo que íizdas palavras dos idiomas guarani, omagua e tupi adverti claramente a sua afinidade, e que as nações que os faliam, tinham origemcommum ; sobre o que íiz algumas investigações. O abbade Velascojulga que seja omagua a estirpe destas nações e outras que se achamdispersas pelo novo reino de Granada e por outros paizes, cuja extensão é de mil c quinhentas léguas, e em que se faliam linguas declara alinidade com o guarani e omagua. Velasco escreve-me deFaenza em li de Fevereiro de 1787.« Os omagvas crêm-se superiores aos outros Índios americanos;tem-se por gente distineta e nobre e como nação deste caracter sereconhece entre as outras nações do Maranon. O seu idioma é dosmelhores da America meridional, na qual poucas nações se achamtão numerosas como a omagua. Sabe-se que esta nos seus costumes,e talvez também no idioma concorda com os guaranis muito á sul ; ella concorda também com a nação água do novo reino de Granada,dispersa pelas planuras do Orinoeo, e pela província de Venezuelada linha equinoccial para norte: concorda também com a tupi, numerosa na província do Pará e em vários paizes do Brazil, e princi- palmente concorda com a nação do rio Tocantins á 5o lat. S. e á355? long. NT,um dos paizes do Maranon pertencente ás missões que tinham os jesuítas e estão situados á 4° de lat. meridional e 3üã"de long. havia um formigueiro de Índios omaguas; pois o padre Gaspar Cuxia em 1615, quando com elles estabeleceu a paz, achouquinze mil omaguas nas ilhas do rio Maranon, sem contar os que havia no riu Yurum (chamado lambem Yurua) onde estão os índiosyurimagitas. O padre Samuel Fritz chegou á fundar trinta e três povoaçoes de omaguas e yurimagiias, tão numerosa era a nação OmaguaE onde se achará a sua origem ou estirpe ? Os omaguas do reinode Quito dizem, que se deve achar no Maranon, e que muitas tribusde sua nação ao verem as barcas dos primeiros espanhòes enviadaspor Gonzalo Pizarro, fugiram para as terras baixas do Maranon, paraos rios Negro o Tocantins, para o Orinoco e outros paizes do novoreino de Granada. Candaminc que observou attentamente a naçãoomagua na sua viajem pelo Maranon, conjectura que ella antigamente formava uma monárchia ou soberania por perto do Orinoco, eque ao entrarem os primeiros espanhòes, fugio e derramou-se por diversos paizes. Não me atrevo á approvar esta conjectura que me parecearbitraria ; o certo é que acha-se pelo menos a extensão cie 70 grãosentre o guaranis, os tocantinos, os omaguas do Pará, do Orinoco,de Venezuela, e do Maranon de Quito.»« Até aqui Veiasco que foi missionário no reino de Quito ; naItália, depois que alli chegou com os jesuítas espanhòes, elle imprimio um diecionario da America meridional em que suppõe a existencia de muitos dialectos do omagua.« Cama fio julga os omaguas descendentes dos guaranis-, porque ainda que entre os omaguas e os verdadeiros guaranis (que sãoos paraguayos, os do Pará, os tupis, os uruguayos, os guaranis, etc.)se interponha um chãos de nações de idiomas diversos, com tudopor acharem-se os verdadeiros guaranis estendidos desde o Brazilaté CayenaJ parece que dos guaranis do Brasil devem provir osomaguas que se achavam no Maranon entre os rios Napo e Yurum.Na historia do Maranon, illustrada pelo padre Manuel Rodrigues,acha-se uma excellente discripção da província dos omaguas quefallavam dialecto do guarani.« Parece pois probabilissimo que todas as nações, que faliamdialecto do guarani, descendam dos guaranis do Paraguay ou dostupis do Brasil (que também são guaranis). As linguas guarani doParaguay e tupi do Brasil não são menos semelhantes que a espanhola e a portugueza entre si. Estas duas linguas tem o caracter damaior antigüidade, porque uma mesma palavra com accentos diversospronunciado em guarany e em omagua tem differentes significaçõescomo suecede na lingua china e outras. Á omagua falta a grandeperfeição grammatical do guarani e isto parece indicar que destaseja dialecto a lingua omagua: assim o latim, dialecto do grego,tem menos perfeição grammatical que esta ; as linguas portugueza,espanhola, franceza, italiana e valaca são dialectos da latina e menos"perfeitas que estas no artificio grammatical; e o mesmo suecede aos [Páginas 10 e 11]

dialectos teutonicos com respeito ao allemão de que provém. As.naçõesque faliam o guarani, occupam grandíssima extensão nas costas deBrasil e nos paizes mediterrâneos ; e foram e são actualmente maisnumerosas que as que faliam o omagua; mas os omaguas tem-seachado nas ilhas do rio Maranon e nas suas margens; isto certamentefaz conhecer que são tribus provenientes e separadas dos guaranis eque por meio da navegação estabeleceram-se já em umas partes, jáem outras.« As nações insulares provém das do continente.... e os caribesdo golpho do México provém do continente da America. Os omaguassão os pbenicios da America porque, segundo as historias das missõesdos jesuítas, e a asserção dos missionários ainda vivos, elles tem sidosempre homens de. grande habilidade para a navegação.

"Com a lingua omagua tem aüiniclacle as linguas jurimagua, paijagua, yagua, cocaína (como os seus dialectos cocamiUo e Imebo) a lingua yete (fallada por uma nação barbara das ribas do Napono paiz dos encabellados) e talvez outras linguas de nações pouco conhecidas."

Á esta citação que nos mostra o abaneènga áestender-se para as bandas do noroeste com a denominacao de omagua, é bem cabido ajuntar outra deú Alcide d?Orbignv. Diz elle :"Se quizermos lançar uma vista d´olhos sobre a synonimia dosguaranis, sobre os nomes que tinham no tempo da conquista e temainda hoje as suas diversas tribus, pasmar-nos-ha o seu numero, eum volume de investigações mal bastaria para discutir todas ellasconvenientemente ; porque a mesma trib.u, mudando de lugar oude chefe, mudava ao mesmo tempo de denominação; dahi essaimmensa quantidade de nações que se pretendem extinetas; depois cada historiador conforme a maneira como tinha ouvido o nome,conforme a orthographia que lhe dava, creava também nomes novos,que os compiladores reproduziam copiando-os sem critica, até mesmoadulterando-os e abrindo assim nova fonte de erros. De outro ladoos hcspanhòes, os portuguezes, os francezes, os inglezes e os hollan,dezes, cada qual com seu modo de escrever conforme o gênio daprópria lingua, apresentavam as mesmas denominações sob fôrma differente, o que as mutiplicava gratuitamente. A melhor prova que dissopoderemos dar é a compilação, aliás boa, que fez Warden na arte deverificar as datas em que só para o Brasil indica 387 nações,..."Acreditamos não exagerar estabelecendo, depois de examinar aorigem desses nomes de nações, que mais de 400 devem pertencer águarani, mencionando apenas tribüs cujos nomes foram adulteradospela orthographia."

Dando em seguida uma breve synohimia elle menciona Arachanes, no Rio-Grande do Sul ; Mbeguas eTimbués, no Baradero ; Carácarás, abaixo de Santa-Fé ;Tapes, em Missiones; Cariós, no Paraguay; Guayanas,ao pé da grande cascata do Paraná; Guarayos, Sirionos e Chiriguanos na Bolívia.

Lorenzo Hervás
1800, quarta-feira (Há 224 anos)
 Fontes (29)

O mesmo abbacle Hervás, já citado, tractando dosíndios do Brasil e enumerando os que fallavam Turradstringe-se ás noticias dadas pelos escriptores portuguezes como Simão de Vasconcellos, etc, confirmadospor outros de nacionalidade diversa. Como pertencentesao ramo tupi ou tapi elle enumera tapes, garijos, tamoyos, tupinacos, temiminós, tobaiáres, tupinambás,tupinaès, amoypiras, ybyraiaras, caetés, potiguares,paraíbas, apantos, tupiguaes, araboyares, rarigoarese tocantinos. É uma lista de nomes que não tem maiorimportância, logo que pertencem á língua geral, sãosusceptíveis de explicação neila e que principalmenteninguém contesta serem denominações de diversas tribus tupis, isto é, que fallavam a mesma lingua. De passagem apenas note-se que por tupinambás costumam os auctores designar especialmente os da Bahia, entretanto que essa denominação parece ser geral, e cada tribu se apropriava delia no seu tracto com os europeus. Os tamoyos do Rio de Janeiro deram-se á Lery por tupinambás; o mesmo fizeram os do Espirito Santo, os do Maranhão, etc., e assim vê-se que é erro denominar-se de tupinamba unicamente a gente que habitava no recôncavo da Bahia. Os tupinambás do Amazonas, dizem, eram os restos dos tamoyos vencidos no Rio de Janeiro que se internaram e foragidos forara dar com sigo no Amazonas; e porque não seriam outros tupís, visto que tupis eram tantas tribus esparsas por todo o Brasil? e como é que só os restos dos tamoyos é que puderam atravessar tantas centenas de léguas, sem serem completamente exterminados por gentes contrarias? o caminho que seguiram era inteiramente despovoado? Os omaguas da Bolívia, Peru e Nova Granada não eram o mesmo que tupis e Guaranis? e não se davam também por tupinambás, donos da terra.

Isto induz á procurar a interpretação do nome tupinambá. Em outro opusculo tracta-se disto mais desenvolvidamente, e aqui cabe quando muito uma observação.

É possível traduzir tupinambá, ainda que com aiguma difficuldade, por gente da terra (finium gensy vel, locorum incolae), resposta natural á uma pergunta quinám estis, formulada pelos europeus no Rio de Janeiro, na Bahia, etc, e respondida por índios pertencentes á mesma família.

Deixando de parte estas tribus que ninguém contesta serem da mesma família, os auctores mencionamgrande numero de outras inteiramente diversas, e quefallavam idiomas sem parentesco algum com a línguageral e nem mesmo entre si. No Catalogo de Ias leuguas Hervás enumera não menos de 51 linguas ounações mencionadas pelos escriptores portuguezes comodifferentes.Alcide (1´Orbigny, depois de declarar que poucoconhece os brasis, pois na sua viagem apenas viraum botocudo, etc, referindo-se ás figuras e descripçõesque vira nas obras de Spix e Martins, de Neuwied,de Sugeridas e de Debret classifica-os todos no ramo [Página 14]

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