“O Sistema Produtor do Alto Tietê: Um Estudo Toponímico”. Edelsvitha Partel Murillo
2008. Há 16 anos
Biritiba Mirim é nome de rio, temos, então, que o termo específico é aplicado a outrosacidentes, processo denominado por Dick (2001) de translação toponímica: “há translaçãotoponímica sempre que ocorrer o deslocamento do designativo de um acidente para outro.Esse esquema pode ser circular, seja do rio para o aglomerado nascente em suas margens, oudeste para aquele, o que é mais raro. Em toponímia, os nomes dos cursos d’água, dasmontanhas, das serras, são os mais primitivos, por isso, os mais comumente usados noprocesso de translação”.5.4. SUZANOA formação da cidade de Suzano está intimamente ligada à construção da estrada deferro que liga São Paulo ao Rio de Janeiro, passando por Mogi das Cruzes. O próprio nome‘Suzano’, adotado em 1907, ainda não de forma oficial, foi uma homenagem ao engenheiro daferrovia que, a pedido da população local, havia construído uma nova estação toda emalvenaria. O nome deste engenheiro, Joaquim Augusto Suzano Brandão, foi primeiramenteadotado como nome da estação ferroviária e, depois, passou a ser o denominativo da vila.Também a história da cidade de Suzano está inserida à macro-região de Mogi dasCruzes como hipônimo historiográfico deste município.
A intersecção de fatos históricos entre os dois municípios, nos primórdios da ocupação da região, é facilmente explicitada ao descrevermos o primeiro documento referente ao território onde hoje está situada a cidade de Suzano, esta localização é marcada pelo rio ‘Cuayao’ (Guaió) e o ‘rio grande Anhemby’ (Tietê). É uma concessão de sesmaria a um certo “Rodrigues”, em 10 de dezembro de 1609:
“Campos do Itacurutiba no caminho que fez Gaspar Vaz que vae para Boigi Mirim asaber partindo da barra dum rio que se chama Cuayao por elle arriba até da em outrono que se chama..... dali dará volta a demarcação pelas faldas do outeiro da banda dosudoeste e correrá avante até dar no rio grande Anhemby e por o rio grande até dar digo até tornar aonde começou a partir assim mas meia ...com dois capões que estãode fronte da dita dada a saber um capão que se chama de Yytucurubitiba e outro .... assupeva.”43
Em documentos referentes à vila de Mogi das Cruzes, no século XVII, encontram-secitações de uma “Estrada Real do Guaió”, localizada, muito provavelmente, entre os riosGuaió e Taiassupeba Mirim, por onde passariam todos que voltassem do litoral ou de SãoPaulo de Piratininga para Mogi. Nessa região, foram encontrados os primeiros veios de ouro da Capitania. Sabemos que a cidade de Suzano está localizada entre os rios Guaió eTaiaçupeba Mirim. Já no final do século XVII, próximo à cabeceira do rio Taiassupeba Mirim, foi seformando um pequeno aglomerado de moradias em volta de uma paragem de tropeiros ebandeirantes, esse pequeno povoado era conhecido por Taiassupeba. Ali, em 1720, o padreAntonio de Souza e Oliveira ergue a primeira capela em louvor a Nossa Senhora da Piedade.Na segunda metade do século XVIII, o denominativo do lugarejo muda de Taiassupebapara Baruel, sobrenome do mais importante morador do local, Antonio Francisco Baruel.Cerca de um século depois, a família desse antropônimo terá desaparecido completamente daregião, mas o denominativo de lugar permanece até hoje como designativo de bairro domunicípio.A chegada da estrada ferroviária muda completamente o perfil da localidade, antes umsimples vilarejo, apenas local de passagem, passa, a partir da implantação da ferrovia, a terum crescimento bastante significativo.O trecho da ferrovia entre São Paulo e Mogi das Cruzes é inaugurado em 6 denovembro de 1837, com uma primeira parada em Guaianases. Uma segunda parada para o [Páginas 98 e 99]
avançaram em direção ao vale do Paraíba, não necessariamente pelo rio, mas apenas seguindoseu rumo. Este curso coincide com um trecho da antiga Estrada de Ferro Central do Brasilque, na época de seu apogeu, trouxe tanto progresso para a região. Mogi das Cruzes,localizada às margens do rio Tietê, fundada pouco depois de São Paulo de Piratininga, abriucaminho para o interior na busca das riquezas minerais. Os rios do Tietê muito contribuírampara este desbravamento.A documentação do século XVI e XVII, referente à nossa área de pesquisa, se apóia nosnomes de acidentes físicos, principalmente no nome de rios para demarcar territórios. Ascartas de concessão de sesmarias, as cartas de datas de chão, as atas de câmara, as doações, aspartilhas, as heranças, em toda esta documentação, o referente de lugar normalmente é um rioou uma serra. O contato com essa documentação nos permite refazer o percurso dos primeirospovoadores, graças a esses denominativos de lugar ‘imutáveis’:“(......) para que elles declarasem (....) o que pasava aserqua do gentio do bongy quehos havia salteado e desbaratado na viagem que trazião desta entrada de Antonio deMasedo e de Domingos Luiz Grou, em cuja companhia elles todos vinhão para estacapitania (...) diserão que hé verdade que o gentio de mongi, pelo rio abaixo doAnhambi, junto de outro rio de Jaguari, esperarão a toda a gente que vinha, branca eíndios cristãos nossos amigos, e topinães (...) no dito rio forão dando nelles, matando edesbaratando a huns e outros ....”46
Historiadores como Campos e Silveira, através deste excerto de ata de câmara de05.12.1593, afirmam, baseados na descrição dos rios, que a localização real do massacre da bandeira de Domingos Luiz Grou e Antonio de Macedo, em 1590, não foi a região de Mogi das Cruzes, contrariando alguns estudos, mas, afirmam que o rio Jaguaribe é afluente do Paraíba, portanto, o massacre desta bandeira só poderia ter acontecido na região do Paraíba, onde viviam os tupiniquins, inimigos dos portugueses.
“Campos do Itacurubitiba no caminho que fez Gaspar Vaz que vae para Boigi Mirim asaber partindo da barra dum rio que se chama Guayao por elle arriba até da-em outro noque se chama.....dali dará volta a demarcação pelas faldas do outeiro banda sudoeste ecorrerá avante até dar no rio grande Anhemby e por o rio grande até dar digo até tornaraonde começou a partir e assim mas meia ... com dois capões que estão de fronte da ditadada a saber um capão que se chama de Yytucurubitiba e outro...Assupeva...”
Apresentamos parte do texto de uma concessão de sesmaria a um certo “Rodrigues” em 10 de dezembro de 1609. Esse documento descreve área compreendida no atual território de Suzano, é o rio Guaió que nos orienta nesta localização. “... e começará a partir pelo caminho... para o dito rio da Paraíba...”
Esse pequeno texto é parte da documentação de uma doação de sesmaria de 6 de março de 1610. A interpretação historiográfica fica mais clara graças ao denominativo de rio. “... outra banda do rio Anhambi, por caminho de Par(aiba). Também parte de um documento de doação de sesmaria no ano de 1611”. “... uns chãos que estão na rua nova de Nossa Senhora da Conseisão do caminho que vai pera a outra banda do rio Ajembi”.
Carta de datas de 25 de abril de 1626. “... capõens que estão entre dois rios a saber Gerebatiba e Bohy.” Trecho encontrado nos autos do inventário do espólio de Martim Rodrigues, do início do século XVII. Poderíamos continuar esse inventário descrevendo, até com detalhes, a região no início da colonização. O caminho que podemos percorrer através dos nomes de rios, ao longo da [Páginas 107 e 108]