Mistério ocorrido em Sorocaba no final de 1927 foi divulgado por vários jornais, inclusive pela Tribuna do Norte. Dos acontecimentos sensacionalistas da primeira metade do século XX que não tiveram como palco o município de Pindamonhangaba, porém divulgados pelo jornal Tribuna do Norte, este ainda hoje chama a atenção dos leitores.
Era a edição de 2 de outubro de 1927 da Tribuna, o título “Chuva de sangue”:
“Uma chuva de sangue em Sorocaba é noticiada pelo nosso colega ‘Cruzeiro do Sul’, daquela cidade: – ‘Os moradores da rua Caputera, nas imediações da Santa Casa, foram surpreendidos ante ontem por um fato curioso que os atemorizou e suscitou os mais desencontrados comentários. Ao meio dia de ante ontem, quando o sol dardejava com intenso vigor, aquela rua, de súbito, foi coberta inteiramente, numa extensão de cem metros, por uma tênue camada de sangue, caída como chuva, de um só jato’”.
Conforme o artigo republicado pela Tribuna, ao perceber a ocorrência do fenômeno, além dos receosos e assustados moradores da rua, grande número de curiosos foram atraídos para a rua Caputera para constatar e comentar o ocorrido. Anoiteceu e muita gente ainda para lá se dirigia.
Presente ao local para cobrir o fato, o enviado pelo jornal Cruzeiro do Sul lembrava que a referida rua ficava nas proximidades de um matadouro. A explicação àquilo seria a mesma dada a um fato idêntico que havia acontecido no Rio Grande do Sul, em local próximo de charqueadas (áreas onde se produz o charque, normalmente galpões cobertos onde a carne é salgada e exposta para o processo de desidratação) onde:
“O sangue animal infiltrado no solo e depois evaporado e retido pelas nuvens, retornou novamente liquefeito, em forma de chuva, produzindo-se ali, esse fenômeno mais de uma vez”.
Segundo o jornal Cruzeiro do Sul, a rua Caputera ou qualquer outra via próxima de um matadouro estaria sujeita à chuva vermelha.
Outra explicação
Sobre o assunto a edição de 16 de outubro de 1927 da Tribuna trouxe um artigo de autoria de seu cronista colaborador (que assinava seus escritos sob o pseudônimo “Phebo”), tentando explicar a tal “chuva de sangue”.
Para o cronista, terem na atribuído ao fato da tal rua se localizar próxima ao matadouro, lugar onde o solo recebe constantemente o sangue dos animais abatidos, embora tenha sido uma atribuição racional não parecia de toda verdadeira, e explicava o porquê:
“Se costumam atirar constantemente o sangue desses animais sobre esse solo é porque, naturalmente ele é poroso, e se poroso, graças ao poder seletivo do solo, esse sangue infiltra-se pela terra abandonando de passagem toda partícula sólida existente, atingindo somente o lençol subterrâneo a água pura e completamente límpida, que se captada convenientemente serve para a nossa alimentação”.
E prosseguia: “A parte evaporada do solo vai constituir a umidade atmosférica (vapor d’água) e a albumina pela dessecação (raios solares), reduzir-se-ia a pequenos fragmentos que depois impulsionados pelo vento, iriam constituir a poeira atmosférica”.
Ao articulista Phebo, esta era a explicação que parecia mais razoável. Ele, lembrando que Sorocaba era cidade industrial por excelência, então conhecida como a “Manchester Brasileira”, contava com várias fábricas de tecidos. Por conta disso:
“Naturalmente algum produto corante, ganhou sob a forma de vapor, altura na atmosfera (produto indiscutivelmente químico) e depois de contato com a água, ou melhor, umidade atmosférica, caiu sob a forma de chuva com coloração semelhante a do sangue”.
Finalizando sua “croniqueta”, título de sua coluna semanal na Tribuna, reforçava que, apesar de sua opinião não passar de simples curiosidade de quem escrevia por “amor à arte”, ela parecia ser mais razoável, e concluía: “Em todo caso ‘na terra tudo vem dela e tudo volta pra ela’”…