1° - O afluxo de gado a Sorocaba e a importância econômica do caminho do sul na década da independência. Maria Theresa Schorer Petrone (1973):
Assim, nos campos aparecem verdadeiras "estações-invernadas", onde o gado, quando tem que percorrer grandes distâncias até alcançar os centros consumidores, encontra pastos para descansar, engordar ou simplesmente esperar a época favorável à continuação da marcha. As invernadas nesses campos, principalmente na parte mais setentrional, também funcionam como reguladoras do fluxo de gado, obedecendo às necessidades dos mercados consumidores.
Dentro desse quadro Sorocaba ocupa, graças à sua posição privilegiada no limite setentrional da área de campos, lugar de destaque com relação à circulação de tropas e boiadas, servindo, inclusive, para "estação-invernada", já que ao Norte são mais raras as pastagens.
A parada obrigatória das tropas de muares e das boiadas no limite setentrional dos campos para descanso, sem dúvida pode explicar o aparecimento, em Sorocaba, da famosa feira e do Registro destinado a cobrar diversos impostos sobre os animais que por aí transitavam.
Nada mais natural que o aproveitamento das áreas de campos para ligar São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro ao Rio Grande do Sul, área de criação de bestas e de fronteira disputada por espanhóis e portugueses. O caminho do Sul, aberto por volta de 1733, basicamente se aproveitava deses campos, que facilitavam a marcha do gado e podiam funcionar como "estações-invernadas". Além disso, constituíam uma região favorável à criação de reses e de muares, para os quais se contava com um escoamento seguro.
Não se deve esquecer, entretanto, que o caminho do Sul não percorre somente áreas de campos. No Sul do país os campos alternam-se com matas bastante extensas e suficientemente densas, criando problemas à circulação do gado, já por se tornar difícil a construção e conservação do caminho, já pela inexistência de invernadas.
Bartolomeu Pais de Abreu, Francisco de Souza Faria e Cristóvão Pereira de Abreu são os principais nomes ligados à abertura do caminho para o sul. Após uma série de tentativas, Cristóvão Pereira de Abreu, conseguiu, por volta de 1732-1733, trazer a primeira tropa de gado vacum e cavalar. [28531]
2° - Sorocaba no Império: comércio de animais e desenvolvimento urbano, por Cássia Maria Baddini (2002):
Em 1738, o desbravador português Cristovão Pereira de Abreu, que concluiu a abertura da estrada entre São Paulo e Curitiba em 1733, relatou em duas "práticas" ao padre-mestre Diogo Soares, encarregado por D. João V de elaborar um mapa geral do Brasil, aquela expedição. Atingiu São Paulo tendo deixado aberto o caminho até os Campos de Curitiba. [23999]
3° - Sorocaba e sua identidade tropeira, Jornal Cruzeiro do Sul. 25.03.2013:
A feira de muares durou de 1733 a 1897. Os animais vinham do sul e os pousos para descanso deram origens a várias cidades, desde Viamão, no Rio Grande do Sul, até Lajes, em Santa Catarina, e Itararé, em São Paulo. Os negócios aconteciam em regiões de pastagens conhecidas como Araçoiabinha, Ipatinga, Jundiaquara, Campo do Meio e Rio Verde. Depois, as tropas se dirigiam a Sorocaba e atravessavam o rio que dá nome à cidade. E seguiam pelo caminho que atualmente recebe o nome de avenida São Paulo. [27724]
4° - Requalificação do matadouro municipal de Sorocaba. Trabalho de Graduação Final de Mônica Pinesso Cianfarini. Orientadora: Regina Andrade Tirello. Universidade Estadual de Campinas - Faculdade de Arquitetura (2014):
No ano de 1733, um marco histórico, um novo ciclo se iniciava na Vila de Nossa Senhora da Ponte de Sorocaba: o Tropeirismo, que inicia quando passa pela Vila a primeira Tropa de Muares, conduzida pelo Coronel Cristóvão Pereira de Abreu, bandeirante fundador do Rio Grande do Sul. Essa expedição utilizou a rota do Peabiru para chegar à Vila de Nossa Senhora da Ponte de Sorocaba. De acordo com Nanci Marti Chiovitti:
"Sorocaba teve seu maior desenvolvimento no século XIX devido ao tropeirismo, que é atualmente definido como uma economia de abastecimento e, conforme alguns autores, subsidiária do café. Além disso, esse movimento envolve a condução de tropas de animais (cavalos, muares, bovinos e suínos) por homens especializados na atividade tropeira."
A partir desse momento, com o aumento de número de tropas passando por Sorocaba, devido a sua posição estratégica, a Vila de Sorocaba tornou-se marco obrigatório para os Tropeiros, um eixo econômico entre o Norte, o Nordeste e o Sul. [28064]
5° - “A História Ambiental de Sorocaba”. Fábio Navarro Manfredini, Manuel Enrique Gamero Guandique e André Henrique Rosa:
A área originada pelos fundadores de Sorocaba permaneceu praticamente inalterada, pelo fato de que quase todos os homens sadios estavam empenhados nas expedições dos bandeirantes. A situação começou a mudar em 1733, com a abertura da estrada de Curitiba no Paraná e no Rio Grande do Sul que possibilitou o advento do ciclo do Tropeirismo. Coincidentemente, nesse ano ocorre o final do bandeirantismo. A partir das feiras de muares, a Vila se desenvolveu em sentido dos bairros Cerrado e do Além da Ponte. Na segunda metade do século XVIII, o vasto território da vila já era ocupado por diversos bairros. [24471]
Carta do Ouvidor Geral de São Paulo Raphael Pires Pardinho ao Rei D. João V:
"Esta povoação se principiou haverá 80 annos por alguns moradores, que subirão desta Villa, e levarão pela Serra acima algumas cabeças de gado vacum, e algumas éguas, que multiplicaram em forma, que tem hoje suficientes curraes, e he, o de que comummente vivem aqueles moradores, que ainda estão situados nos redores da Villa em distancias até sete Legoas:
e só pela estrada que vai para a cidade de São Paulo do ano de 1704 a esta parte se tem fabricado alguns curraes , que tem_ multiplicado muito, e se vão fazendo outros pelos largos campos, que ha por este caminho, em que comummente gastão os homens escoteiros 20 dias até chegarem á vila de Sorocaba, que he hua das circunvizinhas aquela Cidade; para a qual, e para as Minas dos cathauguazes se levarão uns anos por outros 800 até 1000 cabeças de bois, e cavalos."
Desta Vila se faz caminho pelo sertão para a vila de Coritiba, e dai para a costa do mar de Paranaguá, de que já em outro título falamos. E desta vila de Sorocaba, e da de Itú se sertaniza, para Vila Rica, e para as terras do Paraguay, que são terras dos Castelhanos, e este caminho se faz por matas, e por rios mui caudalosos, e ainda nos tempos presentes, em que ha o divertimento cobiçoso de juntar o ouro, para que aqueles paulistas le pudessem remediar: ainda assim vão todos os anos, e três frotas, ou esquadrões, a conquistar os pobres nativos gentios, pelas praias deste rio abaixo, para se servirem deles, custando-lhes dois anos de viagem, e muitas vezes lá perdem as vidas, e o gentio, que trazem, posto em povoado, é de bem má feição, e de pouca (ilegível), porque pasmão, depois que os tiram das suas brenhas, em que viviam. Fazem os moradores daquela vila todos os anos a festa da Senhora com fervorosa devoção, para obrigarem mais a sua grande piedade, os guie, e encaminhe ao Céu, e lhe despache as petições, que lhe fazem, e a Senhora como quem é Mãe piedosa daquela Paróquia. [27556]
A capela da Penha em 1724 foi reconstruída e pertencia aos Domingues. Por aí deve ter vindo João Antunes Maciel, o Velho. Cerca de 1680 já tinha feito a viagem de Paranaguá a Curitiba e aos campos vizinhos procurando ouro. Sua sesmaria foi justamento na estrada de Curitiba antes do rio Sarapuí. Em 1693 o convento de São Bento tirou a sesmaria junto a essa, além do Sarapuí, "no caminho de Curitiba". Esse caminho, pois, é de antes de 1693 e foi sendo ladeado por sesmarias até mesmo Curitiba. [25029]
3° - Dagoberto Mebius - A História de Sorocaba para crianças e alunos do Ensino Fundamental I (2003):
Em 1733, o povo vila de Sorocaba vê passar pelas suas ruas poeirentas e estacionar próximo a velha ponte de madeira do rio, um bando de homens tropeando uma infinidade de animais com grande alvoroço. Correrias, um misto de espanto e medo se apossou das pessoas.
Uma coisa como nunca se vira antes. Tantos homens e animais juntos. Foi à passagem da primeira tropa de muares com destino as Minas Gerais. Seu patrão é Cristóvão Pereira de Abreu, que trazendo esses animais do sul do país, inaugura inconscientemente um dos mais ricos e duradouro ciclo econômico de Sorocaba, o tropeirismo.
Foi a partir desse fato que a Vila cresceu, ficou rica e famosa. Por quase duzentos anos o movimento de dinheiro e a fartura que corriam durante as feiras de muares, fez de Sorocaba uma mistura de pólo capital de fortunas e cultura. Para cá vieram grandes companhias de teatro lírico, passaram grandes personagens da nossa História, floresceram o comércio e pequenas indústrias, até uma siderúrgica foi criada pelo regente D. João, tamanha era a importância estratégica e econômica da Vila de Sorocaba.
Sorocaba passou a cobrar impostos sobre os muares. O que tornou a vila um dos melhores negócios para o governo da época. Grandes fortunas sorocabanas tiveram inicio com o arrendamento das cobranças dos impostos de “barreiras” como eram chamados.
Estrangeiros conheciam Sorocaba e não ligavam a mínima para a Vila de São Paulo. Grandes casarões e sobrados foram construídos pelos ricos comerciantes de muares e outros bens. Sorocaba construiu um belo teatro, chegou a ter 5 escolas de primeiras letras e um grande “Collegio”, era procurada pelos seus artigos de couro e ferragens produzidos nessa época. Enfim, Sorocaba era uma estrela de primeira grandeza no cenário brasileiro.
Os habitantes só tinham olhos e ouvidos para o tilintar dos “patacões ou doblones” dinheiro que corria solto das bodegas aos armazéns, das “quitandeiras” as casas de pousos. Durante um período até as pequenas lavouras desapareceram, tornando muito caro a rala alimentação da vila.
Muitas famílias colocavam os filhos mais fortes para “tropear”. Curioso é que poucos sorocabanos de origem foram “patrões” ou comerciantes de tropas. A maioria deles eram fazendeiros ou “haciendeiros” de São Pedro do Rio Grande.
Por volta de 1897 um surto de febre amarela interrompe de vez o ciclo tropeiro e tudo acaba como por encanto. Até hoje muitas pessoas pensam que Sorocaba nasceu do ciclo tropeiro. Isso é um erro, pois Sorocaba já existia, cresceu por ele e se firmou com a ferrovia até meados da década de 60 no século XX. [27876]
1° de fonte(s) [21147] Carta do Ouvidor Geral de São Paulo Raphael Pires Pardinho ao Rei D. João V Data: 30 de agosto de 1721, ver ano (29 registros)
Senhor. Em 7 de Junho de 1720 dey conta á Vossa Magestade de ter passado em Correyção ás vilas do Rio de São Francisco, Ilha de Santa Catherina, e a de Santo António da Laguna penúltimas povoações de todo este Estado; do que nellas tinha achado, e me paredão. Depões subi á Vila de Curithiba a fazer correyção, e voltei a faze-la também nesta de Paranagua, em que tenho consumido este ano.
Fica a Villa de Curithiba nos campos por detrás da Serra de Pernampiacaba 1 , e desta dista 15 léguas (72,4km), as primeiras 6 navegadas por uma destas bahias, e por hum rio 2, que vai quase ao pé da Serra, e em que ha varias itaipavas, ou cachoeiras, que se passam com risco, as outras 5 em se subir a Serra, e de matos, que nella ha, e as ultimas 4 de Campos até chegar á Villa, que fica em bastante assento ao pé de hum ribeiro 3 , com cazas todas de pao a pique cubertas de telha, e a Igreja só he pedra, e barro, que os freguezes ratificarão ha poucos anos.
Esta povoação se principiou haverá 80 annos por alguns moradores, que subirão desta Villa, e levarão pela Serra acima algumas cabeças de gado vacum, e algumas éguas, que multiplicaram em forma, que tem hoje suficientes curraes, e he, o de que comummente vivem aqueles moradores, que ainda estão situados nos redores da Villa em distancias até sete Legoas:
e só pela estrada que vai para a cidade de São Paulo do ano de 1704 a esta parte se tem fabricado alguns curraes , que tem_ multiplicado muito, e se vão fazendo outros pelos largos campos, que ha por este caminho, em que comummente gastão os homens escoteiros 20 dias até chegarem á vila de Sorocaba, que he hua das circunvizinhas aquela Cidade; para a qual, e para as Minas dos cathauguazes* se levarão uns anos por outros 800 até 1000 cabeças de bois, e cavalos.
2° de fonte(s) [27556] “Santuário Mariano, e história das imagens milagrosas de Nossa Senhora”, Agostinho de Santa Maria Data: 1723, ver ano (27 registros)
Desta Vila se faz caminho pelo sertão para a vila de Coritiba, e dai para a costa do mar de Paranaguá, de que já em outro título falamos. E desta vila de Sorocaba, e da de Itú se sertaniza, para Vila Rica, e para as terras do Paraguay, que são terras dos Castelhanos, e este caminho se faz por matas, e por rios mui caudalosos, e ainda nos tempos presentes, em que ha o divertimento cobiçoso de juntar o ouro, para que aqueles paulistas le pudessem remediar: ainda assim vão todos os anos, e três frotas, ou esquadrões, a conquistar os pobres nativos gentios, pelas praias deste rio abaixo, para se servirem deles, custando-lhes dois anos de viagem, e muitas vezes lá perdem as vidas, e o gentio, que trazem, posto em povoado, é de bem má feição, e de pouca (ilegível), porque pasmão, depois que os tiram das suas brenhas, em que viviam. Fazem os moradores daquela vila todos os anos a festa da Senhora com fervorosa devoção, para obrigarem mais a sua grande piedade, os guie, e encaminhe ao Céu, e lhe despache as petições, que lhe fazem, e a Senhora como quem é Mãe piedosa daquela Paróquia. [Páginas 177 e 178]