A História da América Portuguesa é uma obra de Sebastião da Rocha Pita, publicada em Lisboa no ano de 1730. Foi a primeira história do Brasil a ser publicada, uma vez que, apesar de ser a segunda a ser escrita, a primeira, de autoria de Frei Vicente do Salvador, um século antes, permaneceu manuscrita, apenas vindo a ser publicada no século XIX.
A obra relata os acontecimentos ocorridos no Brasil desde o seu descobrimento até ao ano de 1724. Encontra-se dividida em dez partes, constituindo-se numa crônica administrativa do Brasil. Trata-se de uma obra de referência para a pesquisa que se faz sobre os séculos iniciais da colonização portuguesa.
O autor, membro da Academia Real da História Portuguesa, desenvolve a História do Brasil numa perspectiva setecentista, enquadrando-se nos moldes da época. O primeiro e o segundo livro tratam do enquadramento geográfico e histórico, isto é, da história natural (da fauna e da flora) à descrição de cada província do Brasil, do descobrimento do território ao seu povoamento inicial. Do terceiro ao décimo livro encontramos a história do Brasil, organizada cronologicamente, e seguindo quase sempre a administração dos Governadores-Gerais ou dos Vice-Reis.
Enquanto narra fatos da vida política, o autor não esquece as questões religiosas, intercalando a chegada, presença e expansão de diversas ordens religiosas com o governo do clero secular. Da guerra contra os holandeses até à sua época, são narradas as lutas da Restauração, contra os gentios, contra os espanhóis no Rio da Prata, a descoberta e respectiva corrida ao ouro apresentando uma visão consciente dos seus efeitos sociais), a resistência dos escravos no quilombo dos Palmares, entre tantas outras questões.
Rocha Pitta foi um advogado, poeta e historiador baiano, fidalgo da Casa Real, Cavaleiro da Ordem de Cristo, acadêmico da Academia Real da História Portugueza e patrono da cadeira 8 da Academia Brasileira de Letras.
Sebastião da Rocha Pitta nasceu em Salvador, em 3 de maio de 1660, filho do capitão João Velho Gondim, natural de Ponte de Lima, Portugal, e da pernambucana Brites da Rocha Pitta. Rocha Pitta recebeu o grau de Mestre em Artes, no Colégio dos Jesuítas da Bahia, e depois o grau de bacharel em direito canônico pela Universidade de Coimbra, em 1682.
Retornando ao Brasil, Pitta recebeu o posto de coronel do regimento de infanteria das ordenanças da Bahia, casou-se com Brites de Almeida e seguia para sua fazenda, nas margens do Rio Paraguaçu, perto de Cachoeira, onde dedicou-se à lavoura. Além do português, Pitta dominava o francês, o holandês, o latim, o italiano e o espanhol. Entre suas obras mais importantes, estão:
- Breve Compendio e Narraçam do fúnebre espectaculo que na insigne Cidade da Bahia, cabeça da America portugueza, se viu na morte de El Rey D. Pedro II. de gloriosa memoria, S. N.. Publicado em Lisboa, em 1709.
- Summario da vida e morte da ex.ma sr.ª D. Leonor Josepha de Vilhena, e das exequias que se celebraram á sua memoria na cidade da Bahia. Lisboa, 1721.
- Historia da America Portugueza, desde o anno de mil e quinhentos de seu descobrimento, até o de mil setecentos e vinte e quatro. Lisboa, 1730. Esta foi sua mais importante obra e a mais completa sobre a História do Brasil publicada até a época. O manuscrito original chegou em Lisboa em 1725.
Rocha Pitta recebeu o hábito da Ordem de Cristo, em 1679, foi vereador do Senado e foi nomeado acadêmico supranumerário (por exceder o número original de acadêmicos) da antiga Academia Real da História, em 28 de Agosto de 1721. Foi também presidente da Academia Brasilica dos Esquecidos, fundada em 7 de março de 1724, a primeira academia de letras do Brasil.
Rocha Pitta faleceu na Bahia, em sua fazenda, em 2 de novembro de 1738.Sendo Rocha Pita brasileiro de nascimento (da Baía), encontramos claramente um tributo à sua terra natal nas páginas da Historia da America Portugueza – ele próprio o afirma no prólogo:
“[...] se entenderes, que o compuz em applausos e reverencia do Clima em que nasci, podes crer, que são seguras, e fieis as noticias que escrevo, porque os obséquios não fizerão divorcio com as verdades”.
E na senda do paraíso caracteriza o Brasil: “em nenhuma outra região se mostra o Céu mais sereno, nem madruga mais bella a Aurora: o Sol em nenhum outro Hemisfério tem os rayos tão dourados, nem os reflexos noturnos tão brilhantes: as Estrellas são as mais benignas, e se mestrão sempre alegres: os horizontes, ou nasça o Sol, ou se sepulte, estão sempre claros: as águas, ou se tomem nas fontes pelos campos, ou dentro das Povoações nos aqueductos, são as mais puras. Encontramos explicitamente a referência quando assegura que «é enfim o Brasil Terreal Paraíso descoberto”.
Sobre o Descobrimento do Brasil em 1500, Rocha Pita vem reforçar a corrente que defendia o descobrimento não intencional. Nas suas palavras, uma tempestade terá desviado a frota,
“[...] perdidos os rumos da navegação, e conduzidos da altíssima Providencia, mais que dos porfiados ventos, na altura do Polo Antartico, dezaseis grãos, e meyo da parte do Sul, aos vinte e quatro de Abril, avistou ignorada terra, e já mais surcada costa”.
Para o reconhecimento do espaço como no aumento da própria fé cristã, Rocha Pita indica-nos que D. João III “[...] empenhou o seu Católico zelo na empreza, assim das terras, como das almas do Brasil”, e quanto à introdução da Companhia de Jesus, em 1549 (entrando na visão estratégica que este rei tinha perante o Império), o autor chega a afirmar, sugestivamente que, “[...] ao tempo em que os soldados conquista vão terras, ganhavão estes novos guerreiros almas”.