' Por que se deixou de cultivar trigo em São Paulo. História & Outras Histórias - História, preservação do patrimônio histórico e debate de questões atuais (martaiansen.blogspot.com) - 16/10/2012 de ( registros) Wildcard SSL Certificates
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Por que se deixou de cultivar trigo em São Paulo. História & Outras Histórias - História, preservação do patrimônio histórico e debate de questões atuais (martaiansen.blogspot.com)
16 de outubro de 2012, terça-feira. Há 12 anos
No século XVII, para fazer frente à tentativa holandesa de ocupação do Nordeste brasileiro, solicitou o representante português Antônio Telles da Silva que a Câmara Municipal de São Paulo contribuísse com homens e suprimentos para a guerra; isso se fez, mediante o envio de soldados, índios das "administrações" (¹) e provisões para sustento das tropas, conforme relata Pedro Taques de Almeida Paes Leme em sua Nobiliarchia Paulistana:

"Este grande socorro de duzentos paulistas soldados e dois mil índios flecheiros, não das aldeias do real padroado e sim da administração de paulistas particulares, que neste tempo abundavam, de sorte que muitos havia que possuíam debaixo de sua administração quinhentos, seiscentos e setecentos índios, que se ocupavam no trabalho da agricultura em copiosas searas de trigo, plantas de milho, feijão, legumes e nos algodoais, saiu debaixo do comando do capitão de infantaria e cabo-maior Antônio Pereira de Azevedo em julho de 1647."

Portanto, nesse tempo, o cultivo de trigo, além de outros gêneros, era ainda muito importante em São Paulo (²), como já se mostrou na postagem anterior. O que teria, porém, sucedido, para que a triticultura fosse quase completamente abandonada na Capitania?Antes de mais nada, deve-se saber que os fazendeiros que cultivavam trigo viviam em confronto com os donos de moinhos, querendo esses últimos, para si, uma parte exagerada do trigo que se produzia. Embora a Câmara Municipal buscasse disciplinar a coisa, estipulando maquias que não deviam ultrapassar a oitava ou, quando muito, a sétima parte do trigo moído, a realidade é que muitas vezes os senhores moleiros se apropriavam de até 25% da produção, vindo a ser um severo desestímulo aos fazendeiros que, por outro lado, não tinham remédio senão submeter-se às exigências dos donos de moinhos.Além disso, o trigo produzido não era todo consumido pelos moradores de São Paulo, sendo o excedente vendido a comerciantes de Santos que tornavam-se, assim, intermediários na distribuição do produto para outras regiões da Colônia. Pode-se, pois, facilmente imaginar o que sucedia: os comerciantes de Santos combinavam pagar pelo trigo um preço muito baixo, a fim de maximizar seus próprios lucros. O resultado disso foi que muitos fazendeiros entenderam ser um mal negócio plantar trigo, diante da exploração a que se julgavam submetidos.Alega-se, também, que o desmatamento acelerado da Capitania provocou, já na época, importante mudança climática, de modo que a temperatura média anual veio a ter significativa elevação, tornando São Paulo menos favorável à triticultura. É difícil mensurar o significado econômico dessa suposta mudança climática, mas deve-se observar que já no início do século XIX vários autores referiam-se a ela. Não é, pois, coisa do século XXI...O golpe de morte nas lavouras de trigo que ainda restavam viria, porém, com os descobrimentos auríferos nas Gerais. Na corrida pelo ouro, muita gente abandonou a então pequena São Paulo, para nunca mais voltar. Multidões fixaram-se nas áreas mineradoras. Abandonaram-se as roças, chegou a faltar comida, houve uma absurda elevação nos preços dos gêneros alimentícios. Homens válidos, livres ou escravos, eram empregados na busca febril pelo ouro. Quem é que ia ocupar-se de plantar trigo, com todos os seus inconvenientes, quando o ouro aflorava e quem tinha sorte podia enriquecer do dia para a noite?Restaram, de um modo geral, apenas lavouras de subsistência, cultivando-se gêneros nativos da América, de mais fácil produção, em lugar do trigo, que demandava sérios cuidados e, no final das contas, dava um lucro muito limitado.(1) Sem meias-palavras, as "administrações" eram pouco melhores que campos de trabalhos forçados onde viviam índios "convertidos", voluntariamente ou não.(2) Deve-se considerar que a produção era considerada grande para os padrões da época. Apenas para exemplificar, considerava-se, em São Paulo, que um sujeito que fosse dono de umas duzentas cabeças de gado era um pecuarista de muito sucesso.

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