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27 de julho de 2024, sábado.
O Dicionário de Tupi Antigo: a língua indígena clássica do Brasil é um dicionário da língua tupi elaborado pelo lexicógrafo e filólogo Eduardo Navarro e publicado em 2013.[2][3] A obra foi concebida tendo como meta a difusão do tupi para um público mais amplo, não restrito aos meios acadêmicos.[4]
Dividido em três partes, tem no seu início um vocabulário português-tupi. A segunda parte é o dicionário tupi-português, isto é, o dicionário propriamente dito, que contém quase oito mil palavras-entradas (ou lexemas), sendo o dicionário mais completo já feito até o momento. A terceira parte contém uma relação de duas mil palavras do português brasileiro cuja origem é o tupi (em geral nomes de lugares e cidades).
Como o tupi é uma língua morta, o dicionário tem cunho filológico. Foi feito com base em textos antigos, e não com falantes da língua, sendo, por isso, um dicionário histórico. As palavras-entradas foram retiradas de textos dos séculos XVI e XVII. O objetivo dessa delimitação é não misturar o tupi com seus desenvolvimentos históricos, como as línguas gerais, entre elas o nheengatu.[5]Navarro conquistou sua livre-docência em 2006 com seu dicionário, que foi aperfeiçoado até ser publicado pela Global Editora de São Paulo, em 2013, mesmo ano em que Navarro tornou-se professor titular da USP.[6] O autor afirma que a criação de um dicionário foi necessária para que ele concluísse sua tradução das cartas dos índios Camarões.[7][8]ÍndiceConteúdo e confecção da obraeditarO dicionário é dividido em três partes. Além da introdução e do prefácio de Ariano Suassuna, são elas:Vocabulário português-tupiDicionário tupi-portuguêsEtimologias de topônimos e antropônimos de origem tupi, e outros tupinismosA primeira parte é um simples vocabulário português-tupi. Há apenas as palavras e suas traduções, sem explicações ou detalhes. A segunda parte é o dicionário propriamente dito. Nele, assim como no resto do livro, Navarro optou por atualizar a grafia usadas nas fontes primárias. Deste modo, qu foi substituído por k, e o ig foi grafado como y.[5] A terceira parte do livro não é exaustiva. Navarro afirmou que um trabalho futuro deverá dar conta de abordar um número bem maior de tupinismos e nomes de origem tupi no português atual.[6]Fontes primárias utilizadaseditarConforme Navarro, muitas informações sobre a língua tupi, que antes estavam dispersas e inacessíveis ao grande público, foram reunidas e analisadas. Foram usadas apenas obras escritas ou publicadas nos séculos XVI e XVII. Nesse último século, o tupi deixou de ser falado, e é onde se encontram seus últimos documentos. Apesar de sua antiguidade, o tupi é a língua indígena brasileira mais bem conhecida.[5]Algumas das obras mais importantes usadas como fonte foram, entre muitas outras:Catecismo na Língua Brasílica, de Antônio de AraújoCartas dos índios CamarõesDuas Viagens ao Brasil, de Hans StadenHistoria Naturalis Brasiliae, do Marcgrave — esta obra auxiliou a coletar os nomes de animais e plantas em tupi.
Histórico
Outros dicionários e vocabulários do tupi foram publicados antes. Navarro afirma que, até a publicação por Plínio Ayrosa, em 1938, do Vocabulário na Língua Brasílica, obra de um jesuíta do século XVI, era praticamente desconhecido o léxico do tupi. Portanto, qualquer dicionário feito antes desse pode ser considerado não confiável.[5]
Para Navarro, "são os únicos que se fundamentaram amplamente no Vocabulário na Língua Brasílica do século XVI e nos textos de autores quinhentistas e seiscentistas. São, portanto, os únicos trabalhos confiáveis que existem no gênero."[5]
Outro dicionário relevante, não citado por Navarro na introdução de sua obra, foi o Dicionário tupi (antigo)-Português (1987), de Moacyr Ribeiro de Carvalho.[9]
Reações
O antropólogo Benedito Prezia afirmou, na cerimônia de lançamento do dicionário, que Navarro está resgatando uma dívida histórica com o tupi. Lembrou que o último dicionário (que, na verdade, era um vocabulário) foi lançado foi em 1950 e que, até então, a grande referência em tupi ainda era o dicionário dos jesuítas do século XVI.[10]
Criticas
Como o próprio Navarro afirmou, nenhuma obra é imune a erros, especialmente uma grande obra.[4] O dicionário sucitou algumas controvérsias, algumas das quais foram corrigidas por Navarro. Uma delas é a grafia da palavra pyrang, que signfica vermelho. Ao contrário do que constava (antes de o dicionário ser publicado), a palavra é grafada com i: piranga, como na palavra ´ypiranga, que significa rio vermelho.[11][9]
O mesmo crítico afirma ainda que o trabalho de Eduardo Navarro por supostamente não mencionar outros importantes estudiosos da língua tupi. Também questionou alguams das etimologias apresentadas pelo autor.[11]Outra crítica envolve a atualização da grafia utilizada nas fontes primárias. Navarro adotou uma grafia nova nas palavras-entradas e atualizou a grafia das próprias citações das fontes primárias, usadas como exemplo.[5] O acadêmico responde que a meta por ele almejada é difundir o conhecimento da língua tupi, sendo esse o motivo da ortografia que ele escolheu. Conforme a orelha da capa, o dicionário "destina-se não a especialistas sem alma, mas ao grande público que deseja compreender melhor as raízes do seu próprio país".Se o fizera [em referência ao uso da grafia original dos documentos], tornaria o dicionário inútil a um público mais vasto. Como já salientei alhures, difundir o tupi antigo é a meta por mim colimada.[...] Ele [o crítico] quer, assim como acontece consigo próprio, que ninguém a leia, ninguém a escreva, ninguém a fale, ninguém, enfim, a saiba. Ele quer fidelidade total à ortografia dos originais para que o tupi antigo continue a ser fracamente conhecido ou somente que o seja em nível estrutural[...]— Eduardo Navarro[4]