“Batalha de Venda Grande”, a derrota do exército de Sorocaba em Campinas
7 de junho de 1842, terça-feira. Há 182 anos
A Batalha da Venda Grande, mais conhecida como O Combate da Venda Grande, foi uma batalha ocorrida no município brasileiro de Campinas, estado de São Paulo, em 7 de junho de 1842. A batalha foi travada entre revoltosos liberais e forças imperiais durante a Revolução Liberal de 1842, contra o governo do Partido Conservador no Império do Brasil. A vitória conservadora ajudou o governo a vencer os revoltosos em geral e a manter a ordem vigente no país. [Curiosidades: 1842 – Combate de Venda Grande. EPTV. Consultado em 6 de janeiro de 20112]
Há 7 de junho de 1842, aconteceu em Campinas um momento agudo, e por isso mesmo emblemático, da evolução política do Brasil: um combate armado dos insurgentes da Província de São Paulo contra as forças da capital Rio de Janeiro, que para cá foram enviadas. Morreram no episódio 17 insurgentes e 2 soldados imperiais. Os 19 corpos foram transferidos à cidade, esta que, justamente naqueles meses, fora elevada de Vila de São Carlos para Cidade de Campinas.Junto à Capela próxima ao local onde repousa o monumento, existe uma placa com os dizeres: Vós que aqui estais rezando, lembrai-vos de nós, dezessete bravos revoltosos que, numa tarde de junho, neste local do Engenho da Lagoa, morremos por um ideal. Combate da Venda Grande, Revolução Liberal de 1842.A Fazenda da Lagoa pertencera a Teodoro Ferraz Leite, então já falecido, e inventariante do patrimônio era seu genro Luciano Teixeira Nogueira, deputado pela província de São Paulo. O então muito jovem imperador D. Pedro II alcançara formalmente a maioridade em 1840, aos quatorze anos e sete meses de idade. Dois partidos políticos haviam se formado: o Conservador e o Liberal, e disputavam as posições de governo.Em 1841 governava o Conservador. Nas eleições gerais venceram os liberais, mas estas foram impugnadas e anuladas sob demonstrações de fraude. O Partido Liberal viu-se alijado do poder em todo o país. São Paulo e Minas se insurgiram contra o Império. Em São Paulo o movimento foi estruturado pelo Padre Diogo Feijó, paulistano que exercera docência e sacerdócio em Guaratinguetá e em Campinas, fundador do Partido Liberal, e que fora regente do Império; por Nicolau Vergueiro, ex-regente, deputado e senador por São Paulo e Minas, ex-ministro do Império (e voltaria a sê-lo); Antônio Manoel Teixeira, fazendeiro em Campinas, ex-prefeito da então Vila de São Carlos; Luciano Teixeira Nogueira, deputado pela província, proprietário da Fazenda Chapadão; o Brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar, deputado e ex-presidente da Província de São Paulo, fundador da nossa Polícia Militar; major Francisco Galvão de Barros França no comando militar dos rebeldes; Capitão Boaventura do Amaral, de Itú, a quem coube estruturar a incipiente organização militar em Campinas, morreu no Combate da Venda Grande; os trabalhos de imprensa foram feitos por Hércules Florence, francês radicado em Campinas, inventor da fotografia.Em Minas Gerais o movimento foi liderado por Teófilo Otoni, homem de grande disposição e iniciativa. A cidade de Sorocaba, em São Paulo, foi aclamada como capital provisória da província. Então, no Rio de Janeiro, sob deliberação do Ministro da Guerra José Clemente Pereira, foi atribuída ao Brigadeiro Luís Alves de Lima e Silva, Barão de Caxias, a chefia de novecentos homens que adentraram à província, a partir dos portos de São Sebastião, para o vale do Paraíba, e de Santos, até a capital São Paulo.No caminho de São Paulo a Campinas aqui abordaram, em surpresa, os liberais aquartelados no armazém ou paiol da Fazenda da Lagoa, conhecido como Venda Grande.Ordem de prisão! Responderam com fogo. 19 mortos. Na liderança da resistência morreu Boaventura do Amaral.Este evento insere-se no conjunto de insurreições provinciais no Brasil. Comecemos a partir da independência do Brasil. A primeira iniciativa política contrária ao regime político após a Independência, em 1822, foi a Confederação do Equador (1824), em Pernambuco, ainda no Primeiro Reinado, com adesão das províncias do Ceará, do Rio Grande do Norte e da Paraíba. Esta foi, por outro lado, a única sublevação declaradamente separatista; todas as demais almejaram de fato uma influência forte sobre o governo. A insurreição em Pernambuco foi dominada por 1.200 homens do poder central, sob o comando do Brigadeiro Francisco de Lima e Silva, futuro regente do Império, pai de Luís Alves, futuro Duque de Caxias.Naquele episódio, um dos líderes foi o religioso Frei Caneca, jornalista inflamado, finalmente condenado à forca. Os carrascos se recusaram a executar. Com ordem de fuzilamento um militar do pelotão desfaleceu. O frade findou por ser executado, mas o evento teve repercussão nacional e comoveu o povo, negativamente para o prestígio do então imperador D. Pedro I.Em 1835, com uma mudança na Constituição, chamada de Ato Adicional, a Regência passou a ser única, com eleição vencida pelo Padre Feijó. Eclodem então, ao mesmo tempo, no Pará a Cabanagem, pelos cabanos, gente simples, liderados por Bernardo de Souza, que se apoderaram da capital da província; e no Rio Grande do Sul a Guerra dos Farrapos, ou Farroupilha, a revolução mais longa da História do Brasil, sangrenta, que durou dez anos. A Cabanagem foi vencida por grandes reforços provenientes do Rio de Janeiro, sob o comando do Brigadeiro Francisco de Andreia. Mas a Regência não teve, naquele momento, recursos para ao mesmo tempo dar conta do levante gaúcho, no extremo oposto da costa, e o conflito lá se prolongou.Eclode em 1837 a Sabinada na Bahia, com chefia do médico Francisco Sabino, que se apodera da cidade de Salvador. Conta-se que a cidade foi retomada com cerco por mar e terra pelas forças governamentais, em episódios violentos, e morte de mais de mil pessoas. A Balaiada no Maranhão aconteceu sob chefia de Raimundo Gomes, de Manuel Balaio e do negro Cosme Bento, na região da cidade de Caxias, junto à fronteira do atual Piauí; um levante desorganizado, conturbado por crimes de toda sorte, porém fortemente popular. Para combatê-lo foi enviado o Coronel Luís Alves de Lima e Silva, que habilmente controlou progressivamente a revolta, com propostas de acordo e anistia que se mostraram eficazes. Pelos serviços prestados Luís Alves recebeu do Imperador o título de Barão de Caxias. Em Caxias, Maranhão, existe hoje erigido o Memorial da Balaiada.São Paulo, em 1842. O Ministro da Guerra, José Clemente Pereira, encarrega o Barão de Caxias a dirigir-se à província com 900 homens e dar combate aos paulistas. Escaramuças aconteceram em Campinas, Venda Grande, 19 mortos, e no Vale do Paraíba, Vila de Silveiras, onde revoltosos despreparados avançam sobre a tropa. Resultado: 48 revoltosos e 8 soldados mortos.
Em Minas Gerais o movimento foi dominado em Santa Luzia, hoje região metropolitana de Belo Horizonte. Teófilo Otoni foi preso. O Padre Feijó foi preso em Sorocaba. Tobias de Aguiar foi preso no interior.
No Rio Grande do Sul a Farroupilha prosseguia, liderada por Bento Gonçalves; Os insurgentes haviam fundado a República Rio-Grandense. O movimento invadira ainda a Província de Santa Catarina, sob liderança do italiano Giuseppe Garibaldi, onde fundaram outra república, chamada Juliana, que durou quatro meses.Ainda em 1842, o Barão de Caxias foi encarregado de pacificar o Sul. As forças legais derrotam os Farrapos na batalha de Poncho Verde, em 1843. Em março de 1845 foi assinado o tratado que pôs fim à longa guerra. Diz-se que a atuação de Luís Alves de Lima e Silva foi tão nobre, e correta para com os oponentes, que a província, novamente unificada, o indicou para senador. O império, reconhecido, outorgou-lhe o título de Conde de Caxias (seria mais tarde Marquês e Duque).Nesse ínterim havia sucedido algo próprio da nossa cultura, e herdada da portuguesa: a tolerância, seguida de retomada com perseverança: Anistia Geral em 1844. Tobias de Aguiar, Teófilo Otoni e outros foram beneficiados.Em 1846 vem o imperador D. Pedro II a Campinas, pela primeira vez. Era um rapaz de 21 anos de idade. Porém rodeado de políticos experientes. A figura do Imperador foi fundamental para a unidade da Nação.Há que se se dar conta do propósito constante na mente daqueles homens que consolidaram regiões tão distantes e peculiares em um único país. Fatores propiciaram a unidade, tais como o acesso por mar, apesar de imensa costa, e o relevo relativamente acessível. Mas, o pensamento convergente de políticos na capital Rio de Janeiro, homens como Araújo Lima, Regente, José Clemente Pereira, Ministro da Guerra, Aureliano Coutinho, Ministro da Justiça, Paulo Barbosa, administrador da Casa Imperial, o próprio Luís Alves de Lima e Silva, e outros, colaboraram para estruturar o Brasil de hoje.D. Pedro II – órfão da mãe com 1 ano de idade, privado do pai aos 5 anos de idade – foi homem que desenvolveu por conta própria um espírito de amor à arte, à ciência e à justiça, que alcançou o respeito do mundo. Ele foi exemplo maior aos brasileiros e deve ser eternamente amado.Luciano Teixeira Nogueira, o inventariante da Fazenda da Lagoa, foi proprietário herdeiro da Fazenda Chapadão. A Fazenda foi vendida anos depois, passou por diferentes proprietários e herdeiros, inclusive o Barão de Itapura. Foi adquirida pelo Exército em 1942. A sede, construída pelo pai de Luciano, serve até hoje ao Comando da 11.ª Brigada de Infantaria Leve.Referência:O presente artigo foi editado do discurso original do autor, proferido no dia 7/6/2019, em frente ao Monumento localizado no atual Bairro dos Amarais, como atividade cívica promovida pelo Centro de Ciências, Letras e Artes de Campinas (CCLA).
Campinas, SP, Brasil [Reinaldo Camargo Rigitano – professor universitário. Secretário do Centro de Ciências, Letras e Artes, 30.07.2019. ihggcampinas.org]
Após ser proclamado pelos rebeldes presidente interino em Sorocaba, que foi declarada capital provisória da Província, o Brigadeiro Tobias se encarregou de reunir a chamada Coluna Libertadora, com 1.500 homens, com a qual tentou invadir São Paulo para depor o presidente da Província, o Barão de Monte Alegre.
Declarou Sorocaba capital provisória e pretendia marchar com seus homens rumo à “verdadeira” capital, São Paulo, para depor o “verdadeiro” presidente da província. Foi acuado no meio do caminho, em Campinas, pelas tropas imperiais do barão de Caxias, o futuro duque de Caxias. Derrotado, teve de fugir para o Rio Grande do Sul, onde foi preso.
Combate de Venda Grande
Hoje, poucos conhecem a história do monumento. Instalado no canteiro central da avenida e rodeado de flores e arbustos, ele é mantido diariamente pelos próprios moradores da área.
Num pedaço de Campinas que vai aos poucos ganhando urbanização, quase nas bandas do subdistrito de Barão Geraldo e antiga área da Fazenda Santa Genebra, logo após o Campo dos Amarais e o Colégio Técnico Industrial “Conselheiro Antonio Prado”, um marco pouco visível indica o local onde em 7 de junho de 1842 ocorreu o combate da Venda Grande.
Combate, em Campinas?
Sim, exatamente isso! Um combate no qual as tropas imperiais derrotaram forças rebeladas, num movimento deflagrado na Província de São Paulo, sob o comando do brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar.
Foi o ponto derradeiro da Revolução Liberal que também teve o Padre Diogo Antonio Feijó como um de seus líderes e eclodiu em Sorocaba, principal centro da revolta contra o Ministério.
O marco, erigido em 1956 por iniciativa do Departamento de História do Centro de Ciências Letras e Artes de Campinas, pretendeu assinalar com a data gravada e dizeres breves ("Combate de Venda Grande - 7-6-1842") tudo aquilo que teve um epílogo que estremeceu a gente do seu tempo e ceifou vidas em inúmeras famílias campineiras.
Pouco divulgado e bem pouco conhecido, o episódio de Venda Grande vai permitir, reproduzir o campo da operação bélica o quanto possível dentro do cenário existente nos dias em que Boaventura do Amaral tombou morto sob o assédio e o fogo dos comandados do coronel Amorim Bezerra, que o então Barão de Caxias mandou vir atacar os paulistas em armas.
Um quadro a óleo de um dos pintores "Dutra", conservou a imagem do prédio, construído provavelmente em 1.802. Seu proprietário e possível construtor, major Teodoro Ferraz Leite, já era falecido por ocasião do combate, quando o casarão estava abandonado e fazia parte do espólio em inventário.
No térreo situavam-se os serviços e no andar superior residia a família do riquíssimo Teodoro Ferraz Lelte, senhor de engenho casado em segundas núpcias com a mulher que, na época, era considerada a mais bonita e a mais gorda de Campinas (Dona Maria Luiza Teixeira). Era o local conhecido no tempo como o "Sítio do Teodoro" ou "Venda Grande".
O depoimento dos antigos davam conta de que o capitão Boaventura do Amaral e muitos dos seus companheiros feridos por ocasião do ataque do exército imperial, morreram naquele edifício.
Quem pretender conhecer onde fica o "cemitério da guerra" lamentavelmente não encontrará muita coisa; pois este passou a ser mera referência, porque, em verdade, houve mortos sepultados em torno da Venda Grande, depois removidos para locais não identificados. Mas o respeito popular ainda ocasiona manifestações que se traduzem no freqüente aparecimento de velas e imagem junto ao marco instalado pelo Centro de Ciências Letras e Artes.
O movimento liberal ergueu-se contra os conservadores, que estavam no poder, em 1842. Os motivos, segundo Washington Luis, que foi também notável historiador, resume-se no seguinte: "As leis da reforma judiciária, criadora do Conselho de Estado, atentavam contra a Constituição do País, violando o Ato Adicional.
O golpe de estado de "maio de 1842, que dissolveu a Câmara dos Deputados, em sua maioria contra o governo, amputara à oposição o recurso legal". Os conservadores estavam no poder desde março de 1841, sendo presidente da Província de São Paulo, o baiano Barão de Monte Alegre. Os liberais estavam exasperados, e em São Paulo projetaram depor o presidente, e aclamar o brigadeiro Rafael Tobias Barreto para o cargo. O movimento foi chefiado pelo senador Feijó, já muito idoso e doente.
O verdadeiro historiador da Venda Grande, Amador Bueno Machado Florence, publicou na Gazeta de Campinas, em 1882, uma série de 14 crônicas, entre os dias 7 junho e 16 de julho. O cronista era filho de Hércules Florence, que foi amigo íntimo e compadre do cabeça da revolução em Campinas, Antônio Manuel Teixeira. Ele relatou minuciosamente os episódios da ação revolucionária de 1842 em Campinas, ressaltando o heroísmo dos participantes.
Assim ele descreve o exato momento em que se deu o confronto entre as tropas governistas e os rebeldes, segundo o relato de um dos combatentes liberais (aqui é usado português da época):
"Fomos surpreendidos sem que tivessem ainda chegado Reginaldo (de Moraes Salles) com os da Limeira. Esperávamos descansados e dispersos, alguns mesmos em profundos sono no velho sobrado e dependências, quando assomou no alto do pasto, em nossa frente, a cavalaria inimiga, contra a qual logo que pudemos apontar duas pecinhas de difícil manobra nos tais carretões de arrastar madeira, bem ou mal, mandamos o nosso primeiro pelotinho de calibre 4, que nos pareceu dar com alguns em terra, pois estavam distantes.
Mal sabíamos, porém, que só chamavam para aquele ponto a nossa atenção, fingindo cair; o que queriam era que pelo flanco, todo em capoeira, nos viessem até quase a retaguarda os periquitos do Bezerra.
E, de facto, quando demos por eles, foi já pelo relampear das baionetas, e pelas cerradas descargas sobre o grupo dos nossos poucos que puderam tomar as armas em desordem e empunhar bravamente as duas pecinhas, cujos tiros não iam tão apressados como desejávamos, pela simples razão de não termos artilheiros, sendo o melhor que tínhamos o Chico de Barros,que o sr. Mateus conhece, o Camarada do Vicente Leite. O Boaventura (do Amaral) e o Vianna ainda assim faziam os impossíveis, secundados com denôdo por companheiros como Luiz Aranha, capitão Silva, (o nosso Chico Rato) parente de vosmeces, e outros bravos, cujos nomes agora me passam do sentido, mas que direi ainda.
Tinham já dado uns 8 tiros, pois iam acertando com a pontaria, quando o granizo das nutridas descargas dos negrinhos começou a dar sério, ora n’um ora n’outro dos nossos, que nenhum troco podiam dar de fuzilaria, pois só então verificariam nada valerem as suas espingardinhas de caça, em frente as reiunas de formidável adarme e alcance de 400 passos e mais, rapidamente manejadas, como estavam”.
Outro momento marcante do relato é o da nomeação dos mortos no combate:
“o bravo e generoso Boaventura, deixando numerosa família; o valente e atrevido Antonio Joaquim Vianna; o destemido Negueime, primo de Joaquim Bonifácio; o João Evangelista Monteiro, primo de Juca de Salles; o João Francisco, alfaiate, official do Cezarino e um camarada do Bittencourt, cujo nome não me ocorre”. [“O maior Sorocabano” (2021) Rodrigo Maldonado]
1° de fonte(s) [28421] Fatos estão eternizados em documentos e telas, Carlos Araujo, Jornal Cruzeiro do Sul Data: 17 de maio de 2012, ver ano (135 registros)
Em 7 de junho, foram cercados, atacados e vencidos pelo 12º Batalhão de Caçadores. Nos combates morreu o capitão Boaventura do Amaral. Os sobreviventes foram feitos prisioneiros e entregues aos cuidados de um padre conservador de Limeira. Foram degolados, e esse número, segundo Adilson Cezar, pode ter sido de 19 vítimas. A partir desse episódio o local da batalha passou a ser conhecido como Massacre de Venda Grande.