Amador Bueno ponderou mas rejeitou a proposta, mais por temor das consequências sobre seus negócios do que por fidelidade aos portugueses e seu rei. Dizem que foi até ameaçado de morte caso não quisesse empunhar o cetro tendo que sair de casa fugido para esconder-se no Mosteiro de São Bento. Porém, depois de intensas negociações os castelhanos e apoiadores da proposta tiveram garantias de que seus negócios não seriam afetados por Portugal e assim declararam e prestaram juramento ao rei D. João IV. [bb]
1641 — Amador Bueno da Ribeira, aclamado rei pelos habitantes da então vila de São Paulo, resiste aos amigos e partidários e promove a aclamação de dom João IV, já reconhecido na Bahia, no Rio de Janeiro e em Santos. No dia 3, foi dom João IV aclamado em São Paulo.
A aclamação de Amador Bueno ou Revolta de Amador Bueno, foi, supostamente, uma revolta nativista arquitetada por colonos espanhóis ["O rei de São Paulo" Revista de História da Biblioteca Nacional] ocorrida em São Paulo. em 1641 logo após a aclamação de João IV, foi considerada uma manifestação de fidelidade de São Paulo a Portugal.
Escolheram para rei Amador Bueno da Ribeira (que provavelmente viveu entre 1584 e 1649), filho de um espanhol de Sevilha com uma brasileira descendente de indígenas, rico habitante do lugar, proprietário de terras, capitão-mor e ouvidor ["Aclamação de Amador Bueno: como São Paulo quase teve um rei em 1641"]
Há poucas fontes relativas ao episódio. O principal relato conhecido é o de Gaspar da Madre de Deus (1715-1800), "Memórias para a História da Capitania de São Vicente". Para Monteiro, a questão indígena foi o motivo básico das ações do movimento. Entretanto, outros historiadores têm interpretação distinta. Afonso d´Escragnolle Taunay, nos Ensaios Paulistas, diz à página 631:
“Quando D. João IV de Bragança assumiu o trono de Portugal em 1640, no ano seguinte Amador foi aclamado rei em São Paulo pelo poderoso partido de influentes e ricos castelhanos, liderados pelos irmãos Rendon de Quevedo, Juan e Francisco Rendón de Quevedo y Luna naturais de Coria, partido ao qual ainda pertenciam D. Francisco de Lemos, da cidade de Orens; D. Gabriel Ponce de León, de Guaira; D. Bartolomeu de Torales, de Vila Rica do Paraguai, D. André de Zúñega e seu irmão D. Bartolomeu de Contreras y Torales, D. João de Espíndola e Gusmão, da província do Paraguai, e outros que subscreveram o termo de aclamação, a 1º de abril de 1641.
Como os espanhóis não queriam ser súditos de D. João IV, que reputavam vassalo rebelde a seu soberano, resolveram provocar a secessão da região paulista do resto do Brasil, esperando talvez anexá-la às colônias espanholas limítrofes. (…) Oferecem o trono ao sogro, ele próprio filho de espanhol e homem do maior prol em sua república pela inteligência, a fortuna, o passado de bandeirante, o casamento, os cargos ocupados.”
Amador Bueno ponderou mas rejeitou a proposta, mais por temor das consequências sobre seus negócios do que por fidelidade aos portugueses e seu rei. Dizem que foi até ameaçado de morte caso não quisesse empunhar o cetro tendo que sair de casa fugido para esconder-se no Mosteiro de São Bento. Porém, depois de intensas negociações os castelhanos e apoiadores da proposta tiveram garantias de que seus negócios não seriam afetados por Portugal e assim declararam e prestaram juramento ao rei D. João IV.[x]
Sobre o mito imutável de sua aclamação deve-se ler o que escreveu Alfredo Ellis Júnior (1896-1974) em "O ouro e a Paulistania" no Boletim n° 8 da Cadeira de História da Civilização Brasileira da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo-USP:
"Prudente, quando o partido espanhol o quis ver rei, se refugiou no mosteiro de São Bento e mandou chamar Lourenço Castanho Taques para serenar e despersuadir o povo. Castanho Taques sustentava o partido dos jesuítas e os dois, Castanho Taques e Amador Bueno, apoiavam Salvador Correia de Sá e Benevides, almirante e governador do sul do Brasil."
Este movimento pode ser entendido como uma reação de um grupo de espanhóis fixados em Piratininga diante da restauração de Portugal após sessenta anos de submissão à Espanha (1580-1640):
A notícia da ascensão de Dom João IV ao trono lusitano chegou à vila de São Paulo provavelmente, de acordo com os relatos de alguns historiadores, entre a segunda quinzena de março e 3 de abril de 1641.
Provocou ela grande repercussão, sobretudo entre os espanhóis que se encontravam estabelecidos na dita vila. A partir de então, trataram de articular um plano que pudesse recolocá-los na situação de subordinação em que se achavam em relação à Coroa espanhola, durante a vigência da União Ibérica.
Dessa forma, como bem relatou o ilustre cronista frei Gaspar da Madre de Deus:
[...] tinham por certo que a capitania de São Vicente e quase todo o sertão brasílico antes de muitos anos tornariam a unir-se às Índias da Espanha ou pela força das armas, ou pela indústria, se os paulistas caíssem em desacordo de se desmembrarem de Portugal, erigindo um governo separado, qualquer que ele fosse, suposta a comunicação que havia por diversos rios entre as vilas de serra acima e as províncias da Prata e Paraguai. (SOUZA, 2004, p. 50).
Diante dos fatos, os moradores da vila aclamam Amador Bueno “rei dos paulistas”, por se tratar de um membro da elite e ter ocupado altos cargos, títulos que o qualificavam como nobre. Além disso, era filho de Bartholomeu Bueno da Ribeira, sevilhano que em 1571 emigrara para São Paulo e de Maria Pires, filha de um dos mais respeitáveis povoadores paulistanos, Salvador Pires, posição que o tornaria naturalmente descendente de família espanhola e vassalo de Castela:
Segundo consta, os planos espanhóis repercutiram em muitos dos moradores da vila de São Paulo, que, persuadidos, passaram a reverenciar Amador Bueno como rei. Atônito diante dessa situação, ele tentou convencê-los da insensatez. Seus esforços, todavia, foram em vão, como demonstram as seguintes considerações: “Vendo-se nessa consternação, o fiel vassalo saiu de sua casa furtivamente [...], caminhou apressado para o Mosteiro de São Bento, onde intentava refugiar-se”.
A intervenção dos beneditinos nesse fato curioso da história colonial de São Paulo foi assim narrada por frei Gaspar da Madre de Deus: Desceu à portaria dom abade acompanhado da sua comunidade e com atenções entreteve a multidão, enquanto Amador Bueno de Ribeira mandou chamar com pressa os eclesiásticos mais respeitáveis. [...] Vieram logo uns e outros, e todos unidos ao dito Bueno fizeram compreender aos circunstantes que o reino pertencia à sereníssima casa de Bragança. (MADRE DE DEUS e SOUZA, 2004, p. 50 e 51). [Frei Agostinho de Jesus e as tradições da imaginária
.txt Valcram-se os hespanhóes de todos os argumentos possíveis para persuadirem aos paulistas, e europeus pouco instruídos, que, sem encargo de suas consciências, nem faltarem á obrigação de honrados e fieis vassallos, podiam não reconhecer por Soberano a um Príncipe, a quem não haviam jurado obediência. Fomentavam ao mesmo tempo a vaidade dos ouvintes, exagerando o merecimento dos paulistas (*), e europeus principaes, e dizendo que as suas qualidades pessoaes e nobreza hereditária os habilitavam para outros maiores impérios. Para os livrarem de temores, lembraram os milhares de índios, seus administrados, e escravos, com que podiam levantar exércitos formidáveis de muitos mil combatentes ; c a situação de S. Paulo summa- mente defensável, e tão vantajosa nesse tempo, que por haver para os portos de mar tão somente a estrada de Paranapiacaba, de qualidade muito má, bastaria lançarem-se pedras pela serra abaixo, para se retirarem derrotados os expugnadores. € • . . . Além disso, a plebe em toda a parte é fácil de mover-se, e de arrojar-se a excessos. Os hespanhóes conseguiram seduzil-a, e ajuntar um grande numero de pessoas de todas as classes, que, acclamando unanimemente por seu Rei a Amador Bueno de Ribeira, concorreram, cheios de alvoroço e enthusiasmo, à sua easa a congratular-se com elle. « Pasmou Amador Bueno de Ribeira quando ouvio semelhante proposição: elle detestou o insulto dos qíie a proferiram, e com razões efíicazes procurou dar-lhes a conhecer sua culpa, e cega indiscrição. Lembrou-lhes a obrigação que tinham de se conformarem com os votos de todo o Reino, c a ignominia de sua pátria se se não reparasse a tempo, com voluntária e prompta obediência, o desacerto de tão criminoso attentado. « Mas, a repugnância do eleito augmenta a obstÍDação do povo ignorante : chegam a ameaçal-o com a morte, se não quizer empunhar o sceptro. Vendo-se nesta consternação, o fiel vassallo sahio de sua casa furtivamente, e com a espada nua nã mão para se defender, se necessário fosse, caminhou apressado para o mosteiro de S. Bento, onde intentara refugíar-se. Advertem os do concurso, que havia sabido pela porta do quintal, e todos correm após elle, gritando : Viva Amador BnenOy nosso Rei ! ao que elle respondeu muitas vezes em voz alta: Viva o Senhr D. João IV^ nosso Rei e Senhor^ pelo qual darei a vida! « Chegando Amador Bueno de Ribeira ao mosteiro, entrou, e fechou rapidamente as portas. Como os paulistas antigos veneravam summamcnte aos sacerdotes, principalmente os regulares, nenhum insultou ao convento, e todos pararam da parte de fora, insistindo porém na sua indiscreta pertensão. Desceu á portaria ò D. Abbade, acompanhado da sua com- munidade, e com attenções entreteve a multidão, emquanto Amador Bueno de Ribeira mandou chamar com pressa os ccclesiasticos mais respeitáveis, e alguns sujeitos dos principaes, que se não achavam no concurso. Vieram logo uns e outros, e todos unidos ao dito Bueno fizeram comprehender aos circumstantes que o Reino pertencia â Serenissima Casa de Bragança, e que delle se acharia esta em posse pacifica — 371 — desde o dia da morte do Cardeal Rei D. Henrique, se a violência dos monarchas hespanhóes não houvera suffocado o seu direito. . « Nada mais foi necessário para se conduzirem aquelles fieis portuguezes como deviam: todos, arrependidos do seu desaccordo, foram cheios de gosto acclamar solemne- jnente (*) o senhor D. João IV, com magoa dos hespanhóes, os quaes, para não perderem as commodidades que tinham vindo procurar em S. Paulo, prestaram também o juramento de fidelidade ao mesmo Senhor. » O auto dessa solemne acclamação na camará esta assignado, entre outros, por Lourenço Castanho Taques (**), sendo capitão-mór João Luiz Mafra. [Algumas notas genealo´gicas]
*Historia geral das bandeiras paulistas: escripta á vista de avultada documentação inédita dos archivos brasileiros, hespanhoes e portuguezes
1° de fonte(s) [22667] “Memórias Para a História da Capitania de São Vicente”, Frei Gaspar da Madre de Deus (1715-1800) Data: 1797, ver ano (24 registros)
2° de fonte(s) [22681] “História Geral das Bandeiras Paulistas, escrita á vista de avultada documentação inédita dos arquivos brasileiros, hespanhois e portugueses”, Tomo I. Afonso d´Escragnolle Taunay (1876-1958) Data: 1924, ver ano (55 registros)
Tornou-se personagem importante do Brasil Colonial ao ser aclamado rei de São Paulo em 1641 pela população pró-castelhana como reação ao fim da união dinástica entre Portugal e Espanha. Amador Bueno prontamente recusou a aclamação dando vivas ao rei D. João IV de Portugal.
6° de fonte(s) [24327] Imaginária Retabular Colonial em São Paulo. Estudos Iconográficos (2015) Maria José Spiteri Tavolaro Passos Data: 2015, ver ano (121 registros)