Publicado no jornal O Espirito-Santense do Espirito Santo em 1884:
Os moradores de Sorocaba conservam ainda hoje (1884), por tradição que se transmite de pais a filhos, a notícia desse vulto histórico, ascendente de mais de uma família importante da província de São Paulo.
Uma lenda popular, que ainda perdura, pinta-nos o Saru-taiá atravessando a cidade, descalço, vestindo grossa camisa e calças de algodão, com um largo chapéu de junco na cabeça e puxando o seu burrinho carregado de taiá, que apregoava e vendia de porta em porta, enquanto jaziam enterradas na parede ou no quintal as suas grandes riqueza: dobras e barras de ouro.
Apareceu depois o elemento maravilhoso (o ouro) e até bem poucos anos dizia-se que na chaçará que lhe pertencera, pouco adiante do cemitério de Sorocaba, ao meio dia em ponto rangia a cancela e batia com força, sem que se visse pessoa alguma movendo-a: era o Saru-taiá, que vinha contar os seus tesouros.
O Saru-taiá era de raça indígena: seu nome Sarú é a tradução do nome Salvador; ainda hoje os índios usam dessa palavra, cujo significado é incontestável. Taiá, é uma espécie de cará, e figura aqui como uma alcunha vulgar por ser um dos gêneros do seu comércio. O verdadeiro nome era Salvador de Oliveira Leme.
Descendente muito próximo dos aborígenes, criado entre eles, Salvador, apesar de sua riqueza, não pudera, talvez, renunciar a vida simples e trabalhosa e dali viria a crença de sua pretendida avareza.
O que é certo é que gozou de grande influencia e chegou a ser Capitão-Mór de Sorocaba. Vivendo por meados do século passado, apossou-se de seu espirito o entusiasmo que levava os bandeirantes a internarem-se pelas matas, e uma grande bandeira por ele organizada e dirigida , tomou o caminho do Oeste e foi até as missões paraguaias, onde atacou diversas aldeias dirigidas por Jesuítas, capturando muitos índios.
O resto de sua vida, passada em Sorocaba, foi simples e só a lenda popular.