Antes mesmo dos europeus terem tomado posse da ilha de São Vicente, o local em que Itú se eleva agora era ocupado por uma tribo de nativos guaianazes. Foram esses nativos do número dos que ocorreram em defesa do país em 1530, quando souberam que Martim Afonso de Sousa quis da mesma se apoderar; mas, vendo que o chefe de todas as tribos guaianazes, o grande Tebireça, tinha feito aliança com o capitão português, retiraram-se para a selva. Atraídos, um pouco mais tarde, pelo amor que Anchieta e seus companheiros demonstravam pelos homens de sua raça, os nativos de Itú, conduzidos pelo seu cacique reuniram-se à colônia que os jesuítas acabavam de fundar sob o nome de São Paulo de Piratininga.
Foi possivelmente nessa ocasião que alguns portugueses ou mamalucos começaram a fixar-se em Itú; os primeiros habitantes da localidade foram aniquilados ou dispersados, e, desde 1654, a antiga aldeia tornou-se uma vila portuguesa. Essa data foi indicada a um tempo por José de Sousa Azevedo Pizarro e Araújo (1753 - 1830), Spix e Martius e D.P. Muller. [Viagem á Província de São Paulo, 1819. Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853). Página 227]
A importância da capela na época da fundação de Sorocaba é relatada por SaintHilaire (1945, p. 248):
“Esta cidade, de acordo com as tradições colhidas dos seus habitantes mais cultos, deve sua origem a um pequeno mosteiro de beneditinos, que ainda existe. Um agricultor que se tinha estabelecido na região, chamou dois religiosos dessa ordem, dando-lhes uma considerável gleba de terras. O convento foi construído e vários particulares fixaram-se nas imediações, para poderem preencher mais facilmente seus deveres de cristãos. Pouco tempo depois, os habitantes de certa vila chamada Itapebussú, descontentes de sua situação, abandonaram-na completamente; transportaram-se a Sorocaba, que estava a pouca distância, e o pelourinho, marco da dignidade das vilas foi também transferido de Itapebussú para Sorocaba, que foi elevada a sede de paróquia e de termo. Em 1838, Sorocaba era simplesmente vila.”Justificando ele diz:
D. P. MÚLLER faz remontar a fundação do pequeno mosteiro dos beneditinos de Sorocaba ao ano de 1667. Esse escritor e Pizarro indicam o ano de 1670 para a fundação da própria vila; mas não nos informam em que época a mesma obteve o título de vila; Múller, Ens. Estatis., 50 e quadro XIX. — Piz., Mem Hist. (VIII, 297).
Lê-se no útil Dicionário Geográfico do Brasil (II, 64) que Sorocaba fundada em 1670, começou a se desenvolver sensivelmente, quando Afonso Sardinha descobriu a mina de ferro de Araçoiaba. É evidente que tal asserção resulta de uma dessas inadvertências quasi impossíveis de evitar num trabalho tão extenso como o Dicionário. Como muito sensatamente ponderam os próprios autores dessa obra (l, 159), foi em 1590 que Sardinha fez sua descoberta. Devo acrescentar que não encontrei, em nenhuma das obras que pude consultar, a denominação Itapebussú; mas, é evidente, que foi a pequena vila fonuada nos arredores de Araçoiaba pouco tempo ap-ós a descoberta da mina de ferro da montanha desse nome, e de onde os habitantes se retiraram para Sorocaba antes do ano de 1626 (Varnh. in EsHW., Jour., II, 261).
Entretanto, é necessário admitir a ocorrência de erro relativamente a alguma das datas indicadas, porque o convento de Sorocaba não pode ter sido fundado em 1667, a vila em 1670 e os habitantes de Itapebussú à mesma se terem transportado em 1626. Itapebussú é, provavelmente, o local indicado por Van Laet {Orh. Nov., 580) sob o nome de São Filipe.[(1945, p. 248]
“Entre Sorocaba e Pedro Antunes, a região, semeada de capões de mato e de campos, é quasi inteiramente acidentada. Além de Pedro Antunes, torna-se montanhosa, assim continuando por cerca de três léguas, até o rio Sarapuhú. Daí para diante predominam as matas; essas, entretanto, são raramente entremeadas de alguns campos, e durante a derradeira légua que se percorre antes do Sarapuhú, atravessa-se, ininterruptamente, uma floresta, por péssimo caminho. Chegando-se à extremidade dessa pequena floresta, transpõe-se, por uma ponte de madeiraestreita e sem parapeito, o rio Sarapuhú, que tem pouca largura. É esse rio que separa o termo de Sorocaba do de Itapetininga”. [Saint Hilaire (1945, p. 271)]
A fama das fabulosas riquezas minerais, que a cada passo eram assinaladas, ultrapassava, havia séculos, todas as fronteiras da colonia portuguesa, indo ecoar nos mais longínquos países de além mar, despertando a curiosidade dos sábios, a cobiça dos comerciantes e a ganância dos aventureiros.
Levas de homens de todas as castas e condições, aportavam nos desembarcadouros das nossas povoações marítimas, a procura do El-Dorado brasílico. Entre os sábios que visitaram São Paulo, destaca-se pela "arguela" das observações, delicadeza e segurança da exposição, o viajante frandes Engenheiro de Saint Hilaire, que atingiu as nossas piagas em 1819, em viagem de estudos.
Demorou-se ele pouco tempo em São Paulo, internando-se depois pelo interior da província. Regressando á pauliceia, após haver percorrido várias cidades e vilas e visitado as suas minas de ouro mais importantes, esteve no Jaraguá, onde se demorou muitos dias, estudando e examinando os resíduos deixados pelos lavradores de ouro.
Assim, vejamos como o grande observador gaulês se expressou sobre as minas do Jaraguá e sobre o que vira durante sua permanência em São Paula e nas lavras do famoso morro.
"É triste ver-se uma região", dizia ele, "que pela fertilidade e beleza de seu clima, merecia ser chamada um paraíso, tão deserta e abandonada pelos insensatos proprietários, devorados, unicamente pela sede do ouro".
Descrevendo o itinerário percorrido, noticia o visitante: "Depois de feitas quatro léguas, chegamos ás minas do Jaraguá, famosas pelos imensos tesouros que elas produziam ha duzentos anos. Era o ouro embarcado para a Europa nos portos de Santos e de São Vicente e esse local era tido como o Peru do Brasil. O aspecto do local é irregular e mesmo montanhoso. [Jornal Correio Paulistano, 22.06.1929, página 5 “As mina de ouro do Jaraguá”, tema da conferência realizada em 21 de junho de 1929, no Instituto Histórico e Geográfico, pelo coronel Pedro Dias de Campos.]
“avistar meu excelente hospedeiro, e dentro em pouco soube o motivo pelo qual o mesmo não me admitia em sua mesa — tinha êle por costume tomar as refeições em companhia de sua mãe e suas irmãs, e, como estas senhoras não queriam aparecer a extranhos, não podia receber-me Rafael Tobias de Aguiar, cujo conhecimento eu devia ao nosso amigo comum João Rodrigues Pereira de Almeida, barão de Ubá, era, na ocasião, se bem que muito jovem ainda, major da guarda nacional, tendo exercido, mais tarde, em sua província, um posto mais importante, pois foi presidente da mesma, desde o mês de novembro de 1831 a novembro de 1835.” (“Viagem à provincia de São Paulo e Resumo das viagens ao Brasil, provincia Cisplatina e missões do Paraguai”. Páginas 255 e 256. Auguste de Saint-Hilaire em 1819) [0]
Em cada extremidade da ponte existe uma venda, tendo ao lado um pequeno rancho, e um pouco mais abaixo, à direita do rio, vê0se a capela de Nossa Senhora da Ponte, com a casa do vigário. [Viagem a provincia de São Paulo e resumo das viagens ao Brasil, Provincia Cisplatina e Missões do Paraguai, 1819. Auguste de Saint-Hilaire. Página 237]
A seguir não se encontra mais referência à vinha senão no trecho da viagem de Saint-Hilaire que comeu uvas de Sorocaba em dezembro-janeiro de 1819-1820, da parreira do capitão- mor Manuel Fabiano de Madureira, o qual, a êsse tempo, mo- rava no sobradão da rua Padre Luís frente ao atual Mercado, e o quintal avançava muitos quarteirões (então inexistentes).
NEM TODAS AS DIFICULDADES, ENTRETANTO, PROVÊM DA HOSTILIDADE DA CÂMARA, DA POPULAÇÃO OU DOS MILICIANOS. ASSIM, POR EXEMPLO, A POSSIBILIDADE DE EVITAR A PASSAGEM POR SOROCABA TAMBÉM FACILITAVA O EXTRAVIO. PODIA-SE TOMAR O CAMINHO DE PORTO FELIZ E AÍ PAGAR O IMPOSTO SEM PASSAR POR SOROCABA. SAINT-HILAIRE, REFERINDO-SE À SUA VIAGEM DE PORTO FELIZ A SOROCABA, FALA NA LOCALIDADE GUARDA DE SOROCABA, ONDE EXISTIA UMA PEQUENA CASA COM VARANDA, NA QUAL SE PAGAVAM OS IMPOSTOS DOS MUARES VINDOS DO SUL. TODAVIA, PASSAVAM EM PEQUENO NÚMERO, RAZÃO POR QUE HAVIA AÍ APENAS DOIS SOLDADOS, SUBSTITUÍDOS DE SEIS EM SEIS MESES. AINDA ERA POSSÍVEL PASSAR PELA GUARDA DE SÃO FRANCISCO, ONDE TAMBÉM OCORRIAM EXTRAVIOS. AS TROPAS PODIAM AINDA PASSAR E PAGAR OS IMPOSTOS NA GUARDA DE SANTA RITA E DE INDAIATUBA. PARA EVITAR CERTOS EXTRAVIOS, PRADO PROCURA OBSTAR A CONSTRUÇÃO DE UMA PONTE, QUE UM MORADOR DE INDAIATUBA ESTÁ INICIANDO (39) NOTA DO AUTOR. ESSAS VARIANTES DECORRIAM DA ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA VIÁRIO DE ENTÃO E ERAM USADAS PARA ENCURTAR O CAMINHO ATÉ AS ÁREAS CONSUMIDORAS.Pelo fim de 1819, a população permanente de Sorocaba elevava-se, aproximadamente, ao número indicado, em 1817, pelo abade Manuel Aires de Cazal, a saber, a 1 . 777 almas. Em toda a paróquia, que media 14 léguas de comprimento por largura um pouco menor e que, muito provavelmente, compreendia, então, a paróquia de Campo Largo, contavam-se 9.000 a 10.000 almas, o que representava, aproximadamente, 62 pessoas por légua quadrada.
A cidade de Sorocaba está situada em região acidentada, cortada por matas e campos; estende-se pela encosta de uma colina, em cujo sopé corre um rio com o mesmo nome — rio Sorocaba —, mas que os habitantes da região denominam comumente rio Grande, pelo motivo, certamente, de não conhecerem outro maior.
Sorocaba empresta à paisagem uma perspectiva encantadora; mas a cidade é de má aparência, em seu conjunto.As ruas não são calçadas, e, como são em declive, as chuvas cavaram nas mesmas, de todos os lados, profundos buracosAs casas são, deordinário, pequenas, e poucas há que não constem apenas do andar térreo; são cobertas de telhas, construídas com terra socada (taipa), e todas possuem um quintal plantado de bananeiras e laranjeiras. Existemna cidade duas praças públicas — uma muito extensa e muito irregular,situada na parte mais baixa da cidade; a outra, quasi quadrada, dianteda igreja paroquial, igreja consagrada a Nossa Senhora da Ponte, edificada em ponto que domina considerável parte da cidade.[1].
Tem-se escrito Itú, Hyttú, Hitú, Ytú e Ig-Til. Devia-se grafar Itú, em conformidade com a pronúncia atual, pronuncia que tal ortografia retrata perfeitamente; mas procurou-se aproximação da etimologia indígena e alguns embaraços surgiram, porque a pronúncia da palavra primitiva não tem equivalente na língua portuguesa. No termo yg (água) e em todos os vocábulos em que há um som pouco mais ou menos semelhante a se fazer sentir perfeitamente, "esse som, diz o padre Araujo, forma-se na gargante, dobrando a língua, inclinando a ponta da mesma e expelindo o ar para diante, fim de forma uma espécie de intermediário entre as vogais "i" e "u", que não é nem uma nem outra e parece compreender ambas (Advertências in Die. Port, e Bras, in)".
Esta pronúncia, que se aproxima de certo modo da sílaba ig dos alemães, tinha sido assinalada, a princípio, por um i compreendido entre dois pontos colocados um acima e outro abaixo da letra; por sua vez, o padre Ruiz de Montoya empregou, para exprimi-la, um i coroado pelo sinal que. em latim, indica os ii; mas, de acordo com as regras, bem fundamentadas do padre Araújo, dever-se-ia escrever y como correspondente de água, e, assim, ytú por cascata, se desde dilatado tempo os lusos-brasileiros não houvessem, geralmente, consagrado a sílaba hy para representar, nos nomes composto?, o vocábulo que, entre os indígenas, significava — água, rio; ex.:
Jundiahy, Jacarehy, Apiahy, etc. Já que nessas palavras admitimos hy, é claro que, para ser coerentes, devemos es- crever Hytú, porque ninguém, certamente, pretenderá que a ortografia de uma palavra deva variar, nas suas compostas, segundo se encontre ao princípio ou ao fim das mesmas; o vocábulo alemão "milch" (leite), por exemplo, é escrito de idêntica forma em milch-brau (leiteira), e butte-milch (manteiga de leite).
Não é possível crer, de certo, que, em todos os nom-es próprios atuais terminados por i, tal deter- minação indique sempre as palavras água ou rio, e que esse som deva constantemente ser tomado por hy. Sem falar dos verbos, a letra "i", ao fim dos substantivos, modifica-lhes o sentido e parece ser um diminutivo, como o provam os exemplos apresentados pelo padre Luiz Figueira (Arte da Gramática da Língua, Geral, 4." edic, 97);comanda, fava; comandai, fava pequena; pitanga, menino; pitangaí, menino pequeno.
Não teríamos nenhuma dúvida sobre as etimologias desse género, se os portugueses, adotando as palavras indígenas, tivessem cuidado de acentuá-las de acordo com as regras adotadas pelos jesuítas; mas, como assim não ocorreu, é impossível que alguns erros não escapem aos atuais etimólogos, por mais atentos que sejam. Daí creio que se deve concluir que a palavra "Pitanguí", designativa de uma cidade de Minas, não quer dizer o rio dos meninos, mas o meníno pequeno. [2]
Viagem a provincia de São Paulo e resumo das viagens ao Brasil, Provincia Cisplatina e Missões do Paraguai
3° de fonte(s) [25030] Tropas e Tropeiros na Formação do Brasil. José Alípio Goulart Data: 1961, ver ano (82 registros)
Quem primeiro registrou notícia a respeito do grande mercado muar e cavalar sorocabano foi o botânico francês Augusto de Saint-Hilaire, que, saindo de Porto Feliz em fins de dezembro de 1819, foi ter a Sorocaba onde passou o Natal.
É suposição dos estudiosos que as feiras devem ter começado aí por volta de 1750; infelizmente, por se terem perdidos os livros da Câmara sorocabana e inexistido qualquer outra fonte documentária, não se pode fazer referências ao período dos setecentos. Sabe-se, porém, que elas se conservaram além da metade do século XIX.