Era fevereiro de 1981 quando o juiz substituto Manuel Moralles assinou uma portaria proibindo o beijo em público. Ou, em suas palavras: "estão proibidos os beijos cinematográficos, em que as mucosas labiais se unem em expansão insofismável de sensualidade".
Também estavam proibidas "as apalpadelas, apertões, abraços indecorosos, beijos prolongados ou qualquer ato libidinoso, quando praticados em locais públicos". Contra a portaria, secundaristas organizaram uma manifestação, com teatro, poesias e, obviamente, muitos beijos cinematográficos.
Eram esperadas cerca de 300 pessoas para o protesto, mas a passeata reuniu cerca de 5 mil, que empunhando cartazes, cantavam "abaixo à ditadura" e "imoral é a fome".
Segundo narrado por Batistella, provocadores infiltrados cortaram os fios do microfone, dificultando a orientação pacífica do evento, e atos de vandalismo se alastraram pela praça. O sábado, que deveria ser de democracia e liberdade, virou tumulto.
Os líderes da "Noite do Beijo" foram enquadrados pela Lei de Segurança Nacional em dois artigos: desobediência coletiva às leis, o mesmo artigo pelo qual era acusado o sindicalista Lula nas manifestações operárias no ABC, e desacato à moral e aos bons costumes. Mas, ao final, a Justiça Militar considerou-se incompetente para julgar o caso e o inquérito foi arquivado.
Batistella conviveu com isso, o que o impedia de conseguir emprego em Sorocaba. O negócio foi mudar-se para São Paulo, onde está até hoje.