Estopim da questão religiosa propriamente dita, um discurso proferido
3 de março de 1872, domingo. Há 152 anos
A bibliografia considera, pois, como estopim da questão religiosa propriamente dita, um discurso proferido em 3 de março de 1872 na loja maçônica Grande Oriente do Vale do Lavradio, no Rio de Janeiro, quando José Luís de Almeida Martins, padre, festejou o visconde do Rio Branco, na época grão-mestre maçom e presidente do gabinete de Dom Pedro II, pela sua vitória política que resultara na promulgação da Lei do Ventre Livre. O bispo da cidade, Dom Lacerda, diante do fato, insistiu que o padre se afastasse da maçonaria, como exigiam as normas da Igreja, mas normas que não haviam recebido o beneplácito imperial. Indiferente ao apelo, o padre publicou seu discurso em jornais de larga circulação. Em represália, o bispo suspendeu o padre do exercício das ordens sacras. Ultrajada, a maçonaria, unindo os dois Grandes Orientes, um sob a égide de Rio Branco e outro dirigido por Saldanha Marinho, fez valer sua forte presença no Senado e na Câmara para desencadear uma guerra na imprensa contra o episcopado. Jornais foram fundados em várias regiões do país com o fim expresso de combater o "jesuitismo" e o ultramontanismo, usando amiúde de um jargão derrisório e ofensivo.[8][28]
No seu livro História da Questão Religiosa no Brasil, o historiador Antônio Carlos Villaça faz uma observação que me parece profundamente verdadeira: “A questão religiosa” não começa em Olinda ou no Recife. Nem no Pará. Começa no Rio. No Rio de 1872, que festeja a Lei do Ventre Livre. O Visconde do Rio Branco preside ao gabinete e preside, como Grão-Mestre, ao Grande Oriente do Vale do Lavradio. O outro Grande Oriente rival, o do Vale dos Beneditinos, era presidido pelo Grão-Mestre Saldanha Marinho. O Grande Oriente da Rua do Lavradio estava ligado à maçonaria italiana; o Grande Oriente do Vale dos Beneditinos estava ligado à maçonaria francesa.