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Peixoto Gomide assassinou sua filha Sofia, de 22 anos, com um tiro no peito e suicidou-se a seguir
21 de janeiro de 1906, domingo. Há 118 anos
Ver São Paulo/SP em 1906
4 registros
Não é difícil acharmos em nossas cidades, ruas, escolas, praças e monumentos com o nome Peixoto Gomide. O nome do então presidente do Senado do Estado de São Paulo, além de ilustre político e pessoa influente, foi o autor de um dos crimes mais sangrentos da história da cidade de São Paulo, uma verdadeira cena de horror como descreveria do Estado de São Paulo em sua edição de 21 de Janeiro de 1906.

Tal cenário ocorreria num casarão em estilo neoclássico no número 25 da rua Benjamin Constant, no centro de São Paulo, próximo a Praça da Sé e a uns 200 metros do Largo São Francisco, que era um dos endereços mais sofisticados da Capital.

Festas dignas da nobreza europeia, com muito champanhe francês, caviar e valsas vienenses, encantavam a vizinhança, que se reunia na calçada para acompanhar a chegada dos convidados.

Em 20 de janeiro de 1906, uma pequena multidão voltou a se formar na frente da casa, mas por uma razão nada festiva.

Na tarde daquele dia, o dono do casarão, o senador Francisco de As­sis Peixoto Gomide, então com 56 anos, assassinou a filha Sophia, de 22, e se suicidou. A notícia se espalhou como rastilho de pólvora e, rapidamente, chegaram à residência políticos, secretários de Estado, juízes, promotores públicos, empresários e parentes de Peixoto Gomide, que à época era presidente do Senado paulista.

A atitude do velho político causou perplexidade, pois Peixoto Gomide era considerado um homem equilibrado.

Segundo depoimentos de empregados, pai e filha conversavam na sala de jantar, tendo sido interrompidos duas vezes por uma cozinheira,- na primeira para levar o chá com torradas e, na outra, para apanhar a louça.

Sentada à mesa, a garota bordava um lençol, enquanto o senador andava de um lado para outro, quando então ele parou e encostou um revólver Smith & Wesson na testa de Sophia.

Que é isso meu pai? — espantou-se a garota.

Não é nada, respondeu o senador, apertando o gatilho em seguida.

O impacto fez com que a moça fosse jogada para trás, rolando pelo chão. Sua morte foi instantânea. Com o barulho, apareceram na sala a mulher de Peixoto Gomide, Ambrosina, dois de seus filhos, Gnesa e Alceu, e uma criada.

Mudo, o senador mantinha o braço estendido, como se estivesse escolhendo uma nova vítima. Chegou a apontar a arma para Gnesa, mas a empregada, aos gritos, o convenceu a abaixar o revólver. Em seguida, caminhou tranquilamente até a sala de visitas, encostou o Smith & Wesson no ouvido esquerdo e puxou o gatilho. A arma falhou. Ele então rodou o tambor e disparou de novo, caindo junto ao piano, mortalmente ferido.

Poesia – O pivô da tragédia, ao que tudo indica, foi o promotor público e poeta Ma­nuel Baptista Cepellos. Ele se apaixonou por Sophia e pediu a um político do Interior que intercedesse junto a Peixoto Gomide para namorar a garota. O senador não só permitiu como, em 1905, reuniu os amigos para comunicar o casamento de Sophia com o promotor. A cerimônia seria em 27 de janeiro de 1906, mas os comentários maldosos o fizeram mudar de ideia.

“E não é que o Gomide vai casar a filha com um ex-soldado, um boêmio um poeta.” Esta era a frase mais ouvida na cidade, segundo René Thiollier, autor do livro Episódios de Minha Vida. A fama do futuro genro infernizava o senador, que passou a ser alvo de chacotas.

Colegas do Senado e pessoas que o encontravam na rua maldiziam o ofício de fazer poesia. Peixoto Gomide era do tempo em que a palavra empenhada valia mais do que documento assinado. Por isso, preferiu matar Sophia e se suicidar, a ter de recuar de sua decisão.

A tragédia do poeta

Natural de Cotia, na Grande São Paulo, onde nasceu a 10 de de­zembro de 1872, Manuel Baptista Cepellos teve uma infância humilde. Filho do professor pri­mário João Baptista Ce­pellos, ele trabalhou em serviços rudes, foi um autodidata e sempre aca­lentou o sonho de ser um poeta famoso.Ao mesmo tempo em que cumpria as suas obrigações como soldado do Corpo Municipal Permanente, transformado depois em em Força Pública, exercitava a arte de escrever poesias. Dedicado, galgou rapidamente o posto de capitão.

Mas não era o suficiente para ele, um homem ambicioso. Matriculou-se no Anexo da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em 1895, onde estudou, entre outros, com Bruno Peixoto Gomide, irmão de Sophia. Teve também seus estudos de Direito financiados pelo senador Peixoto Gomide.

Formou-se e, como não conseguiu fazer carreira como advogado na Capital, ingressou no Ministério Público. Foi promotor em Ipiaí, Sarapuí e, no início de 1906, transferido para a comarca de Itapetininga, na época uma das mais importantes do Estado. Não pôde comparecer ao enterro da namorada e do pai dela por estar em meio a um julgamento, no Interior.

Enquanto analisava processos, Baptista Cepellos construía sua obra literária. Ele era o poeta preferido de Ola­vo Bilac. Publicou as poesias e os romances “A Derrubada”, “O Cisne Encantado”, “Os Bandeirantes”, “Vaidades” e “O Vil Metal”.

Desgostoso com a morte de Sophia, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde nunca conseguiu se firmar profissionalmente. Teve até de vender os seus livros, de porta em porta, para pagar casa e comi­da. Em 7 de maio de 1915, Cepelos foi encontrado morto junto às pedras da praia que existia na rua Pedro Américo, no Catete. Não se sabe, até hoje, se teria sido suicídio ou uma queda acidental, pois sofria de miopia.

O dr. Francisco de Assis Peixoto Gomide nasceu na capital em 1848. Formou-se em 1873 e, logo depois de formado, foi advogar no Amparo, onde casou com d. Ambrosina Pinto Nunes, filha de um velho capitalista e honrado português que ali residida. De Amparo, mudou-se para a capital, onde estabeleceu residência definitiva.

Era um republicano dedicadíssimo desde os primeiros dias da propaganda. Foi vice-presidente do Estado e, no exercício do governo, revelou-se um administrador inteligente e criterioso. Era presidente do Senado e muito querido naquela casa do Congresso paulista por seu caráter de elevada qualidade tinha muitos amigos, era chefe exemplar de família, até o dia trágico do crime.

Sabendo do trágico acontecimento, o presidente do Estado instruiu a todas as repartições públicas estaduais para hastearem as bandeiras em posição de funeral e cancelou seus compromissos em respeito ao ocorrido. Além das repartições estaduais, também as repartições federais e municipais (Câmera Municipal), além do jornal Correio Paulista, hastearam a bandeira a meio mastro.

Recebeu várias honras, e seu cortejo fúnebre foi acompanhado pela força pública, inclusive da cavalaria inicialmente estacionada no largo São Francisco. Peixoto Gomide era um personagem tão ilustre que compareceram em seu funeral, o presidente do Estado, Secretários Municipais, Chefe de Polícia, senadores e deputados estaduais e federais, ministros do Chile, Paraguai e da Guatemala, secretarias do Senado e da Câmara, corpo consular sediado em SP, comandantes da Força Pública, comandante e oficiais da Guarda Nacional, Presidente da Câmara Municipal, prefeitos e vereadores, ministros do Tribunal de Justiça, membros do Ministério público, juízes federais, além claro de seus familiares, a grande quantidade de amigos e admiradores, e o alto funcionalismo da época.

Por Luis Nassif

Propaganda da arma utilizada por Peixoto Gomide
Data: 01/01/1906 1906
(@)(.271.

Manuel Baptista Cepellos
Data: 01/01/1906 1906
(@)

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