Nas primeiras horas da manhã da quarta-feira de 19 de abril de 1972, um garoto se deparou com uma cena aterradora, quando caminhava a pé, pela estrada Itu-Jundiaí, a Rodovia Marechal Rondon.
Próximo da fazenda Pedra Azul, cerca de vinte metros do asfalto, o garoto viu um cadáver de aspecto assustador estirado no chão. Era uma mulher branca de cabelos loiros. Estava nua, com o corpo crivado de balas.
Muito assustado, o garoto procurou um orelhão e tratou de comunicar o fato imediatamente à polícia. Não demorou muito para que os investigadores Dimas, Cruz, e os escrivães Avelino e Akira chegassem ao local, junto com o delegado doutor Mário leite Barros e outros policiais.
Vistoriando a cena do crime, os policiais encontraram algumas cápsulas deflagradas, de cartuchos de um revólver calibre 32.
Apesar dos ferimentos de bala, o corpo estava limpo, como tivesse sido lavado. Apresentava várias escoriações e muitos hematomas, deixando claro que havia sido arrastada até o local onde fora encontrada.
O corpo foi removido para o Necrotério Municipal, na época localizado no próprio Cemitério de Itu, onde o legista procedeu autópsia. O médico responsável expediu o seguinte laudo quando terminou:“ANEMIA PROFUNDA, CAUSADA POR HEMORRAGIA. HOMICIDIO PROVOCADO POR SEIS PERFURAÇÕES DE ARMA DE FOGO”.
Ainda de acordo com o médico, foi constatado várias queimaduras de cigarros, nos braços da mulher , além dos hematomas no corpo, o que indicava que vítima teria sido torturada antes de morrer.
Fato intrigante, é que embora a vítima fosse uma mulher muito bonita e tivesse sido encontrado nua, não havia indício algum de que sofrera qualquer tipo de violência sexual, o que de imediato descartava a hipótese de estupro seguido de homicídio.
O delegado da época, Mário Leite de Barros concluiu que a mulher havia sido morta em outro lugar e posteriormente “desovada” naquele local. As cápsulas de balas no local, estariam lá apenas para disfarçar, uma tentativa do assassino, de querer confundir a polícia.
Ainda de acordo com o delegado, aquele assassinato tinha todas as características de crime passional, ou seja, cometido sobre forte emoção.
Naquele momento, o maior problema da polícia não era apenas descobrir o autor do crime. Era identificar a vítima. A loira não era só linda. Era perfeita.
Tinha as mãos, os pés e os cabelos muito bem tratados. Alta e dona de um corpo escultural, aparentava 32 anos de idade, mas poderia ter menos. Mesmo morta, era difícil não notar que a loira era uma mulher muito sexy.
A primeira impressão que tiveram sobre ela, é que fosse uma modelo ou atriz de São Paulo. Talvez até de outra cidade da região, ou de alguma distante. Mas não de Itu, pois ninguém a conhecia. Centenas de pessoas compareceram no funeral, quando a notícia do bárbaro crime se espalhou. Centenas de pessoas a viram no caixão.
Ninguém a reconheceu ou se lembrou de já tê-la visto alguma vez. A polícia estava totalmente no escuro em relação ao caso da loira desconhecida. Não havia uma única pista, prova, ou qualquer evidência que ajudasse na elucidação do caso. A única certeza, é que não havia certeza de absolutamente nada. Ninguém sabia quem era o assassino e muito menos a vítima.
SEPULTURA SEM NOME
As notícias sobre o brutal assassinato da loira transformaram-se nas principais manchetes dos jornais da região, nos dias seguintes ao crime, e acabou repercutindo até na Capital, tamanho mistério e brutalidade envolvendo o caso.
A população ituana estava aterrorizada com o crime macabro que havia abalado Itu, até então tido como pacata cidade do interior paulista. Não que outros crimes brutais não houvessem ocorrido antes na cidade, mas não era comum algo tão hediondo ocorrer daquela maneira e ficar sem uma explicação.
Em crimes ocorridos no passado, tanto a vítima quanto o assassino eram conhecidos. Mesmo que não justificasse, sempre havia um motivo, algo que explicasse o porque do crime.Mas no caso da loira era diferente. Ninguém sabia o motivo. Ninguém sabia quem era o autor. E o fato de que nem mesmo a vítima fora identificada, estava aterrorizando a população. Um perigoso assassino de mulheres, com todas as características de um serial killer poderia estar a solto na região. E ninguém sequer imaginava quem ele era.
Não havia suspeitos, ele poderia ser qualquer um.Talvez, naquele momento, já poderia estar muito longe, ou pior, muito mais próximo do que qualquer um poderia imaginar. Não havia como saber. Só restava esperar que a polícia o prendesse para finalmente esclarecer o mistério.
Mas a polícia, tinha seus próprios problemas. Apesar do intenso trabalho de investigação que estavam fazendo para solucionar o caso, os policiais ituanos não conseguiam sair do escuro. Não tinham absolutamente nada. Sabiam tanto quanto qualquer um que tivesse lido os jornais.
A morta não portava nenhum documento que pudesse fornecer uma pista de sua identidade. Se soubessem quem era a vítima, a chance de encontrar o assassino se multiplicaria. Mas não sabiam.
O fato de nenhum parente ou conhecido aparecer para uma possível identificação da vítima, também causava estranheza, já que o caso já era notícia em todo o Estado. Quatro dias depois de ser encontrada naquela situação tenebrosa, a mulher acabou sendo enterrada na sepultura de número 328, da quadra Paz Celestial, do Cemitério Municipal de Itu, onde na ausência de seu nome verdadeiro, tempos depois colocaram uma placa de bronze com o epitáfio: “AQUI JAZ NA PAZ DO SENHOR LOIRA DESCONHECIDA”.
LOIRA DESCONHECIDA VIRA SANTA
Com o passar dos anos, a loira ganhou fama de santa, pois de acordo com muitas pessoas ela passou a realizar milagres para quem pedisse preces em sua sepultura.
Muitas dessas pessoas, entre elas uma bondosa senhora chamada Dona Malvina, que inclusive foi a pessoa que doou um lindo vestido de noiva, com o qual a loira foi enterrada, passaram a cuidar da sepultura da loira, gratos pelas preces que ela teria atendido.
LENDA URBANA
A loira misteriosa não ganhou apenas fama de santa. Ganhou fama de se transformar em um fantasma sinistro e aterrador.
Um ano após sua morte, surgiram diversos rumores de que ela estava aparecendo nos banheiros das escolas locais, vestida de noiva, do jeito que foi enterrada, e apavorando as crianças dos colégios.
O caso acabou se transformando em histeria coletiva, já que todas as crianças se recusavam a ir para as escolas, morrendo de medo de se deparar com a loira fantasma.
Pelo menos em Itu, a lenda urbana da LOIRA DO BANHEIRO (inventada na década de 1960 por um repórter do extinto jornal Notícias Populares) começou após o brutal assassinato da loira desconhecida.Também surgiram relatos que durante a madrugada ela aparecia sentada em cima de uma pedra, no local onde seu corpo foi encontrado.
Este local, que era uma parada de caminhoneiros, acabou ganhando fama de mal assombrado, e nunca mais um caminhoneiro ousou parar ali. Por nunca ser identificada e o caso não ser esclarecido, os policiais da época passaram a chamar o crime de O CASO DA LOIRA SINISTRA.