Julgamento do assassino de Heitor de Alencar Furtado
1984. Há 40 anos
completou 30 anosLeia como foi obtida a mensagem de Heitor Furtado psicografada por Chico Xavier24/11/12 00:00:00 - Paranavaí > LocalFilho de José Alencar Furtado e Miriã Cavalcanti Alencar Furtado, Heitor Cavalcanti Alencar Furtado era advogado com Bacharelado em Direito pela Associação de Ensino Universitário do Distrito Federal (UDF) em 1977, neste mesmo ano seu pai teve o mandato cassado pelo presidente Ernesto Geisel e assim coube a Heitor Furtado ingressar no MDB sendo eleito deputado federal em 1978, chegando ao posto de vice-líder da bancada. A partir de 1980 ingressou no PMDB e candidatou-se a deputado estadual em 1982, contudo foi assassinado no decorrer da campanha Heitor de Alencar Furtado nasceu em Paranavaí (PR) em 1º de maio de 1956 e faleceu em 22 de outubro de 1982, assassinado em Mandaguari (PR), quando buscava eleger-se deputado estadual, em dobradinha com seu pai, que tentava a volta à Câmara dos Deputados após ter tido seu mandato cassado em 1977, por ato do presidente Ernesto Geisel. Com a impossibilidade do pai de candidatar-se em 1978, a tarefa coube ao seu filho Heitor Furtado, que, aos 22 anos de idade, se elegeu deputado federal e chegou ao posto de vice-líder da bancada. Em 1982, em meio à agitação da campanha eleitoral, Heitor viajava na companhia de um assessor, quando resolveu acatar a sugestão do companheiro e descansar alguns minutos no próprio carro, que tinham acabado de abastecer num posto de gasolina na cidade de Mandaguari (PR). Em função da atitude, considerada suspeita pela polícia, eles foram abordados por policiais que faziam a ronda naquela região. Sobressaltado ao ser despertado, ao ouvir a voz de um dos policiais, o jovem político foi atingido por um tiro disparado por um deles, o policial Aparecido Andrade Branco, o “Branquinho”. O ferimento foi fatal, tendo Heitor Furtado morrido no próprio local. O fato ocorreu no dia 22 de outubro de 1982. Sua morte despertou grande reação em todo o país e a repercussão do fato na imprensa foi enorme, inclusive no exterior. Na época, várias autoridades como Ulysses Guimarães e Tancredo Neves falaram sobre o lamentável episódio e exigiram justiça. O policial foi preso e levado a júri dois anos depois, em 1984. Depois de mais de 30 horas de julgamento, o Tribunal do Júri de Mandaguari acolheu a tese de que o tiro havia sido acidental e o magistrado classificou o crime como homicídio simples, decorrente de negligência, condenando o réu a 8 anos e 20 dias. Para tal desfecho foi decisiva uma mensagem que o próprio Heitor, valendo-se da mediunidade de Chico Xavier, enviou a seus pais. A mensagem psicografada por Chico e assinada pelo deputado morto relatou como se desenrolou a morte e disse que tudo tinha sido um acidente. A letra, a assinatura e as informações trazidas nas mensagens foram reconhecidas pelo pai de Heitor e anexadas aos autos do processo. O promotor de justiça que atuou no caso disse que a legislação brasileira não admite provas consideradas subjetivas, não-materiais, a exemplo das psicografias, que “nada mais são do que uma nova versão dos fatos, narrada pelo espírito de alguém que já morreu”, como ele definiu. Contudo, lembrou que, em casos como os que Chico Xavier esteve envolvido, as psicografias foram adicionadas a outras provas e testemunhos. Como foi obtida a mensagem de Heitor Furtado Foi a mãe do deputado, Miriã Furtado, que pediu a José Alencar providenciar uma viagem a Uberaba, visto que estava inconformada com a morte trágica do filho. Freitas Nobre, jornalista e deputado federal, espírita e amigo pessoal de Chico Xavier e de Alencar Furtado, levou-os ao Grupo Espírita da Prece, na conhecida cidade mineira. Foram eles num grupo de cinco pessoas: Miriã e Alencar Furtado, Marlene Nobre e Freitas Nobre, além de Evelyn, jovem viúva de Heitor. A fila era enorme e eles, apesar do prestígio de Freitas Nobre, resolveram - democraticamente - aguardar a vez de serem chamados. Quando entraram na pequena sala, antes de qualquer conversa, Chico perguntou-lhes: “Quem na família de vocês chama-se Heitor e Maria?” Alencar respondeu que Heitor era seu avô, mas ninguém se lembrava de Maria. Chico então disse: “Vocês devem ter antepassados chamados Heitor e Maria, pois o irmão Heitor (o jovem Heitor desencarnado) está na companhia dos dois”. Apenas no outro dia, consultando membros da família, foi que Alencar ficou sabendo que Miriã tivera uma bisavó chamada Maria. À meia-noite (era dia 4 de dezembro de 1982), Chico acabou de atender a última pessoa da fila e passou para o salão do Centro onde começou a psicografar. Alencar Furtado espantou-se com a rapidez do fenômeno. Às duas horas da madrugada, Freitas Nobre, que estava sentado entre Alencar e Miriã, começou a chorar. “Não era bem um choro. As lágrimas saíam de seus olhos, mas ele sorria, enquanto os pelos dos braços se eriçavam”, disse Alencar Furtado. E Freitas então lhe disse: “Alencar, ele está aqui. Eu sinto que Heitorzinho está presente. Ele está entre nós, Alencar”. Miriã permanecia calada. Seu rosto abatido era a própria imagem da dor. Às quatro horas, Chico ainda escrevia. O silêncio era completo, embora o salão estivesse lotado. De repente, Chico parou e anunciou que tinha ali algumas mensagens de nossos irmãos desencarnados. Eram 6 horas da manhã quando Chico disse: “Agora eu vou ler a mensagem do nosso irmão Heitor Furtado”. Revelou o deputado Alencar Furtado: “Eu quase saltei da cadeira, tal foi o impacto da informação. Meu corpo foi todo tomado por uma estranha e profunda emoção. Eu nem sequer olhei para Miriã ou Freitas. Tudo em mim era ouvidos, e antes que Chico Xavier terminasse a leitura, eu estava absolutamente convencido de que era de meu filho a mensagem. Não havia dúvida. A estrutura de pensamento era dele. As revelações minuciosas também. Inclusive coisas que eu lhe ensinara, ali estavam reunidas”. O que disse aos pais o jovem Heitor Furtado “Meu pai e querida mamãe Miriã: Estamos na situação que em verdade não prevíamos. No plano físico, a inteligência não se entrega a qualquer cuidado diante das ideias da morte. E é pena que não se tenha por aí alguma ponta de esclarecimento sobre assunto tão grave, quão inevitável. As religiões nos deixaram quase sozinhos. Não fomos nós que as largamos desprevenidos e é muito difícil para o homem integrado nos seus próprios ideais refletir nos problemas da morte. Não posso queixar-me quando a complicação é de tantos. Aprendi com meu pai que ninguém nasce no mundo com o privilégio de uma estrela na testa. Deixemos as divagações e vamos ao que nos interessa objetivamente. A sexta-feira fora de muita atividade (1) e a estafa provisória nos apanhou em caminho. Tão fatigado me via nosso Fábio (2) que me aconselhou o repouso, muito rápido. Não resisti ao apelo. Desligamos o motor e, com naturalidade, como se estivéssemos em nossa própria casa, curtimos a pausa, que nos pareceu necessária e oportuna. Acredito que o amigo velava enquanto o sono me anestesiava a mente e os nervos cansados. Sinceramente, não conseguiria imaginar que alguém nos tomasse por malfeitores potenciais. Entretanto, de lado, conterrâneos ou amigos nossos espreitavam o carro parado com dois homens que não conhecíamos de imediato. O que se seguiu sabem todos: os homens armados chegaram com vozes altas. Acordei surpreendido e notei, mais com a intuição do que com a lógica, que os recém-chegados eram pessoas inofensivas, tão inofensivas que um deles tocou a arma sem saber manejá-la. O projétil me alcançou sem meios termos e, embora o tumulto que se estabeleceu, guardei a convicção de que o tiro não fora intencional. (3) O olhar ansioso daquele companheiro a desejar socorrer-me sem qualquer possibilidade para isso não me enganava. Ouço aqui muitas preleções sobre princípios de causas remotas com efeito presente, mas por enquanto penso que ali estávamos sob uma força inexorável do destino. Refletimos, pais dedicados e amigos, em nossa querida Evelyn (4), mas isso foi por um instante rápido. A cabeça pendeu sem força para equilibrar-se nos ombros e os raciocínios se misturaram numa estranha gama de sofrimento e esperança, até que o sono me envolveu de todo. Pai, é preciso muita força para que a gente se veja assim sem ideias para o controle próprio. Escutava os gritos e as exclamações em derredor, mas tudo se distanciou de mim e fiquei só com minha sonolência a mergulhar na inconsciência total. Sonhei que me carregavam para um sítio diferente da paisagem de Paranavaí, no entanto estava inabilitado a formular perguntas. Seria aquilo a morte? - indagava a mim mesmo. Entretanto, o tempo não me proporcionou qualquer ensejo a novas inquirições e dormi profundamente, até que despertei sob as atenções de um amigo que me seguia os movimentos. Depois do assombro natural, vim a saber que estava diante do vovô Heitor, nada menos que isto.(5) E isso era o bastante para que me certificasse quanto ao transplante real de que fora vítima, e não alimentei qualquer dúvida. Era eu um morto vivo naquele ambiente novo e devia ser um vivo morto no conceito da família e dos amigos. Não fomos habituados ao choro ou fraqueza e muito menos ao temor; busquei entrar em nível de entendimento com meu avô e a realidade se me fixou na cabeça; havia perdido a viagem, não colhera os votos que imaginara semear. Recebera o veto do destino e isto não devia me arrefecer o ânimo. Estou aqui sem muitas possibilidades de crédito, porque até hoje nunca escrevi por mãos alheias, mas sou eu mesmo. Compreendo que o fenômeno é complexo, se um considerado ausente, com certidão de óbito, não tem facilidade de se identificar à frente dos vivos que ficaram num mundo de que este homem procede. Peço-lhe, porém, reabilitar o ânimo de mamãe, cuja palidez me assusta. Precisamos vê-la corajosa e imbatível. O mesmo peço aconteça a Evelyn, que não tem por que chorar ou lamentar-se. Se um pobre amigo, inseguro na própria função, foi vítima da própria dúvida e se fui eu o escolhido para perder o corpo, não há razão para que ninguém se lastime. Formulo votos aos poderes divinos para que o acontecimento seja assinalado sem qualquer conotação política, de vez que o Fábio e eu repousávamos por alguns momentos ao lado de gente pacífica, mas naturalmente receosos de contato com aventureiros que enxameiam por aí. Espero que o seu ânimo, pai amigo, prossiga com firmeza para diante. Vejo-o em companhia do nosso amigo Freitas. Caminhem para frente, contornando as pedras da marcha sem dinamitá-las, enquanto prossigo aqui na direção da frente, rodeando os obstáculos sem a ideia de eliminá-los de vez. O tempo não falha e o espírito de serviço nunca se engana. Avancemos agora nessas bases de lealdade a nós mesmos, sem desconhecer o espírito de sequência que rege todas as realizações. Estimaria continuar, mas não posso; o avô Heitor e a vovó Maria (6), amigos do coração, recomendam o estacato, fim de assunto e mudança de negócio. Estou na fase de adaptação, como é compreensível, no entanto sei que melhorarei mais depressa do que espero. Perdi o meu mandato provável na Câmara, mas não deixo de estar numa instituição nova, na qual os oradores ou representantes das “ideias renovadoras” que os animam, falam o que querem e como querem. Isso aqui nos cheira também à libertação e, pela mostra, já sei que disporei brevemente de muito pano para colaborar na renovação da vestimenta de nossa vida comunitária. Muitas lembranças para Evelyn, e para os pais queridos fica o respeitoso carinho do filho e amigo que lhes deve tanto. (Heitor) Observações: Os números anotados na mensagem significam: (1) A sexta-feira referida é 22/10/1982, momentos antes da desencarnação de Heitor. (2) Fábio Alencar, primo de Heitor, com 16 anos na época. (3) A informação de que o tiro foi acidental foi decisiva no julgamento do policial Branquinho. (4) Evelyn é a viúva de Heitor. (5) Vovô Heitor é na verdade bisavô do comunicante e avô de seu pai Alencar Furtado. (6) Vovó Maria foi bisavó de Miriã. Nota do Redator: O depoimento de Alencar Furtado e a descrição da reunião em Uberaba foram extraídos do jornal Folha de Londrina de 13/2/1983, pág. 10. (Fonte: O Consolador, Revista de Divulgação Espírita