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Jornal A Phenix
6 de fevereiro de 1839, quarta-feira. Há 185 anos
Caipira, como vulgarmente se diz, metido no meu sítio no bairro do Corumbá, município de Sorocaba, sem forças para fazer florescer a lavoura e apenas vivendo á custa de meus próprios braços, que com dificuldade produzem para a sustentação de minha família, pouco ou nada me importa o que se passa por esse mundo político; a ainda que me quisesse importar, seria baldado meu esforço, porque só sei ler, e escrever mal, e da política, que entendo, é d´aquela doméstica, que meu pai (sabe Deus o como) que ensinou, ordenando-me, que lhe devia tomar a benção todas as manhãs, dar louvado a meu padrinho, &c. &c.

Com tudo, indo eu a Villa para tirar um atestado do Facultativo, com que pudesse requerer ao Conselho de Qualificação, para me por na reserva, encontrei um meu companheiro lendo uma sua folha, de cujo número não me lembro, e nem posso citar, porque não sendo assinante de Periódico algum, não os tenho em minha casa, e penoso seria voltar a Villa só para ver uma coisa para meu assunto indiferente.

O certo é que em dita folha se falava sobre engajamento de estrangeiros pelo Major Bloem, apontava-se diversos erros, inconvenientes, e abusos em tal ato, já em relação ao ex-Presidente Gavião, já relativamente ao Major Bloem, já finalmente encarando pelo lado financeiro. Nada porém me chocou, talvez por ser ignorante, e o meu tino não alcançar aquelas questões, para as quais demandam conhecimentos e estudos. O que só feriu o meu bestunto foi Vmcs. ponderarem o perigo, em que se achava a barreira do Cubatão, seu cofre, e empregados, dando a recear dos estrangeiros aplicados á fatura das estradas, e isto com argumentos, que me pareceram bem fundados.

E deixando de parte as mais questões, virei-me para meu compadre, e lhe disse: e que tal? Com bem medo me recolho para o sítio, pois que moro muito vizinho da Fábrica, onde também existe um grande número dos tais estrangeiros, que o Major Bloem engajou; e se a muito já andava com receio d´eles, agora redobra meu temor com o que acabo de ouvir ler.

- O meu bom compadre vileiro respondeu-me com uma gargalhada; e acrescentou dizendo, que eu não fizesse caso do que dizia a folha, e que as folhas muitas vezes falavam linguagem apaixonada segundo o credo político, á que pertenciam, e queriam defender, e que eu me recolhesse descansado, que nada havia de suceder.

Eis-me pois embaraçado, não com a linguagem da Folha, que bem entendi quando, se estava lendo, sim com a linguagem do meu compadre, quando me falou em - credo político. - Eu que só entendo do creio em Deus Padre - fiquei em jejum a respeito do que me disse o meu compadre; e para não entrar em novos embaraços, tratei de recolher-me para meu sítio, não descansado, como recomendava o meu compadre, porém ainda com as ideias, que me imprimiu a leitra da folha, e a lembrança do credo político, em que falou o meu compadre, e que eu não entendi, e o receio em que fiquei me fez renovar a minha antiga devoção de rezar todas as noites o creio em Deus Padre, único credo, a que pertenço.

Já eu não me lembrava mais do que se tinha passado na Villa; nem da Folha; nem da conversa do meu compadre, e até mesmo do creio em Deus Padre me esquecia algumas noites, quando me recolhia da roça muito cansado do trabalho, procurando a cama para dormir; quando um dia ouço falar, que o Major Bloem viu-se apertado na Fábrica com os seus escolhidos estrangeiros, para se livrar de cujas fúrias correu, e meteu se fechado em sua casa, ficando os estrangeiros para fora, dando salvas como em desafio, e armados e não sei o que seria do Major Bloem, se n´aquela ocasião saísse.

Dizem, que este fato fôra em um Domingo, ou dia Santo, consta que o Major proibiu e ida d´eles para a villa, e que eles se achavam de sucia, porém que o motivo da desordem tivera princípio por causa de um menino que o Major quisera castigar, ou coisa que o valha. O grande caso é, que, seja pelo que for, os tais estrangeiros começam a dar - o pano da amostra -. Concluindo eu por isto, que a Phenix com justos fundamentos falou, e sem me importar com credo político de alguém, e nem de meu compadre, deliberei, Srs. Redatores, enviar-lhes estas linhas, e pedir-lhes, para que continuem a chamar a atenção das Autoridades, e particularmente da Assembléia Provincial sobre este negócio de engajamento de estrangeiros, afim de que tomem medidas, examinem, e dêem providências sobre tal objeto; e curando de outros assuntos principais lembrados por Vmcs em sua Folha, não se esqueçam do que ora me ocupa, isto é do perigo, em que estão os pobres roceiros vizinhos da Fábrica; entre os quais me conto eu que só querendo descanso, e alma tranquila, não me pouparei em relatar o que for sabendo novamente a tal respeito; e rogo a Vmcs., Srs. Redatores, queiram perdoar algumas faltas, e mesmo corrigil-as, certos de que este meu escrito é feito por quem não teve estudos alguns, e nem educação em forma, por ter nascido no bairro do Itavovú, criado no de Bacaetava, e ser - Morador do Corumbá. [Páginas 5 e 6]

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