Arqueologias, em Busca dos Primeiros Brasileiros. T1:E4 "Engenharia". Direção: Ricardo Azoury
1 de janeiro de 2017, domingo. Há 7 anos
Dizem os livros que os povos pré-históricos não conseguiam a lingua escritaPoucas obras provocaram tanto a imaginação coletiva como os geoglifos. Muralhas defensivas, salão de festas ou, quem sabe, palcos religiosos. Mesmo décadas após sua descoberta, o esforço coletivo continua para decifrar
Geoglifo
01/01/2017
Créditos/Fonte: Arqueologias, em Busca dos Primeiros Brasileiros. T1:E4
Denise Schaan programa de pós graduação em antropologia. Universidade federal Pará, Belém
"o momento em que eles abandonaram os geoglifos, em torno de 1300, a floresta começou a crescer novamente em cima. Na verdade "outra" floresta começou a crescer em cima."
Cassiano Marques, comandante de balão, Rio BrancoEra uma sociedade bastante próspera, porque até agora foram identificados centenas geoglifos
Denise Schaan programa de pós graduação em antropologia. Universidade federal Pará, Belém
(...) Nós tiramos a conclusão que eram locais de encontros. Locais de festas, locais de feiras, de celebrações religiosas. Uma das primeiras hipóteses que a gente teve é que os geoglifos representavam uma sociedade regional, porque você, a mesma forma de modificação do espaço numa região muito grande. Por isso imaginamos que eles tinham alguma forma de organização regional, algum tipo de "cacicado" ou alguma coisa desse tipo. Mas depois a gente foi ver que não. Não tem um centro mais importante. É coisa muito espalhada. É muito semelhante ao que a gente vê no (ilegível) no sentido que você várias comunidades vivendo de maneira mais ou menos independente. Não que eles não tivessem relação entre eles, mas não tem um poder centralizado.
Tem alguns que fizeram a utilização não-contínua por 800 anos. Eles fizeram vários reformas nessas estruturas (...) Eu imagino que eram povos que se movimentavam muito.
Temos também indícios de que eles plantavam milho, batata-doce, mandioca. O problema tem sido encontrar os vestígios dessa população. Eu acredito que essa área dos geoglifos eram locais mais de passagem do que permanência para estes povos. E também ainda eles não produzissem tanta cerâmica, porque o barro lá era ruim para produzir cerâmica.
Eduardo Neves, Professor Titular de Arqueologia Brasileira do Museu de Arqueologia e Etnologia, USP"Uma coisa legal que se descobriu, por exemplo, que eu acho que é nova, é que esses sítios e montículos foram construídos em episódios sucessivos, não foi um evento só. Então parece que eles estavam construindo estruturas permanentes, mas eram populações com mais mobilidade.".
(...) Do ponto de vista teórico isto é muito legal. Foge do livrinho
Denise Schaan programa de pós graduação em antropologia. Universidade federal Pará, Belém:
"Eu acho que continua sendo um mistério, porque é uma coisa muito diferente do que a gente tem encontrado em outros lugares. Na Amazônia a gente está muito acostumado a encontrar terra preta, a encontrar grande quantidade de cerâmica. Porque, existe um paradoxo, você precisa de bastante gente para fazer aquelas obras de terra, mas isso significaria que você teria os registros dessas pessoas em termos de modificações no solo, na química do solo e na quantidade de artefatos. Isso não acontece. Como é que você tem tanta gente modificando a paisagem e onde é que estão os vestígios dessas pessoas. Parece que existe uma contradição entre essas duas coisas."
Manuel Calado, pesquisador do Instituto de Pesquisas Científicas e tecnológicas do Estado do Amapá: Construção com grandes pedras, finalidade funerária, orientação por alguns fenômenos astronômicos básicos, (ilegível) como o solstício, isto é perfeitamente igual ao que encontramos na maior parte do mundo (...)
Alí para Calçoene/AP nós temos uma data muito próxima de 500 anos atrás. Essas datas até 2.000 mil anos não datas de megalítos, mas estão associados com essa cerâmica que a gente encontra nos sítios megalitos. Então a gente imagina que pode estar relacionado, enfim, com essas populações que acabaram construindo os megalitos. Mas para os megalitos a gente tem datas de 500 a 1000, 1200 anos atrás mais ou menos.
(...) E somado a isso , essas observações ao alinhamento no sítio (...) com o fenômeno do solstício, no período de dezembro, que é quando a gente tem muito claro alguns desses povos alinhados com o nascer e o por do sol, a gente começou achar que era coincidência demais isso tudo estar acontecendo. Então a gente começou a construir a hipótese (...)
(...) foi aqui, nessas terras altas, que os povos Jê migraram terra acima e construíram suas moradias. Carimbados mestres de obras projetaram verdadeiros condomínios no subsolo, protegidos do frio e da chuva. Os arquitetos já se foram, mas suas casas subterrâneas ainda resistem e se revelam aos poucos nas escavações.
Padre Pedro Ignácio Schmitz, Diretor do Instituto Anchietano de Pesquisa, Professor da Universidade Vale do Rio dos Sinos/RS:
"com o nosso trabalho de escavação, nós queremos mostras que esse era um povo mais desenvolvido, mais forte, com boa tecnologia para construir casas para sobreviver neste ambiente. Então a forma de viver nesse ambiente que é frio, que é chuvoso, é de construir casas e essa população resolveu construir casas sólidas, não simplesmente uma choupana em cima do solo, onde o vento entra e a chuva também passa. Em vez de construir uma casa com paredes para cima, como as outras populações constroem, simplesmente em vez de fazer a parede para cima, fizeram a parede para baixo, e construir um telhado sólido em cima, onde não chovesse para dentro, onde a água não escorresse para dentro desse buraco e que mantivesse esse lugar esse lugar quente. Isso exige uma tecnologia, um conhecimento tradicional de tecnologia."
Casa
01/01/2017
Créditos/Fonte:
Rafael Corteletti, arqueologista: Eles usam os recursos naturais da floresta de araucária na época mais fria do ano, e a caça que é decorrente disso, tem muitos animais que se alimentam da araucária, do pinhão. E na época de primavera e de verão fazem a produção de alimentos. Então eles conseguem ter uma estabilidade alimentícia durante o ano inteiro, sem precisar recorrer a outros ambientes, a outros biomas para sobreviver.
E o planalto todo, no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e no Paraná, e parte de São Paulo, foi ocupado por um grupo que falava uma língua Jê, antigamente falavam Tapuia. Ele tem uma língua, que era o Kayngang. Os caygangue atualmente são 25.000 aqui no sul do Brasil, um dos grupos mais fortes que existem. E existe outro grupo que se chama hoje em dia Xokleng, antigamente chamava Botocudo, porque usavam um botoque bem grande.
Professor de Antropolofia e Arqueologia da Universidade Federal de Pelotas/RS:
"Esses povos migraram da borda sul da Amazônia para o que o sul do Brasil hoje, saíram de lá por volta de 5.000 anos atrás, chegaram aqui a 2.000 anos. Era uma língua só. Por volta do ano 800 da nossa era, essa língua se separa em dois grandes ramos. Então esses construtores e todas essas super estruturas, estruturas monumentais, são um antepassado comum desses povos. Os povos Jê do sul são conhecidos pelos trabalhos de engenharia de terra. As casas subterrâneas aparecem a 1800 anos, eles movimentam grandes volumes de terras para a construção dessas casas."
"A araucária é uma árvore bastante importante para essas populações por uma série de motivos. Pensando do ponto de vista econômico ela é muito importante, porque ela produz o pinhão, que é extremante rico em carboidrato. Eles estocam pinhão. As diversas variedades de pinhão podem ser colhidas durante onze meses do ano. Existe uma grande safra de pinhão, que é no outono" (...)
"Os estudos de paleontologia, que já são clássicos (...) eles atestam uma rápida expansão da araucária entre o ano 900 e o ano 1000. Em questão de cem anos, ou três gerações, a floresta praticamente toma conta de todas as áreas de campo. Ao redor do ano 1000 também, nos sítios, se alastra por esta região, o que da a entender que a população está aumentando, e que esta população aumenta também de maneira bastante rápida.
Esse momento, em torno do ano 1000, está nos mostrando que passam a existir lideranças que são mais fortes que as anteriores. Não que a hierarquia não existisse antes, talvez antes existissem diferentes tipos de líderes. A nossa hipótese começa a ser construída antes do ano 1000 e ela tem a ver com povos que vem de fora. Os povos Jê já estão aqui a pelo menos 1.300 anos quando os os guarani chegam, eles são os senhores desse local, e os guaranis são os invasores, e essa ameaça externa pode ter feito internamente que os Jês se reorganizassem e a partir daí essas lideranças começassem a surgir. E a expressão de poder dessas lideranças está marcada nessas grandes construções."