' Os povos ceramistas que ocuparam a planície aluvial antes da conquista européia, Pantanal* - 01/11/2004 de ( registros) Wildcard SSL Certificates
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Os povos ceramistas que ocuparam a planície aluvial antes da conquista européia, Pantanal
novembro de 2004. Há 20 anos
José Luis S. Peixoto¹; Maria Angélica de O. Bezerra¹¹UFMS/CPCO. E-mail: peixotoj@ceuc.ufms.brResumoOs estudos sobre os povos indígenas ceramistas levam em consideração os aspectosespaço-temporais na produção e função dos artefatos. Os estudos arqueológicossugerem que esses povos pertencem a Tradição Pantanal e são representados pelas fasesPantanal, Jacadigo, Castelo e Taiamã.Termos de Indexação: arqueologia, povos indígenas, Pantanal, tradição Pantanal.AbstractThe studies about pre-colonial Indian peoples` ceramics take into consideration thespacial-temporal aspects in the production and the function of the artefacts. Thearchaeological studies suggest that these peoples belong the Pantanal Tradition andthem they are represented by the phases Pantanal, Jacadigo, Castelo and Taiamã.Index Terms: archaeology, indian people, Pantanal, Pantanal tradition.

Introdução

Os povos indígenas praticamente desapareceram do Pantanal ao longo do processo decolonização. Num primeiro momento, sofreram com a ocupação espanhola, na tentativade atingir as minas de prata no Peru e manter o monopólio da mão-de-obra indígena,durante o século XVI. Posteriormente, com o avanço da colonização portuguesa emdireção ao extremo oeste, com a descoberta das minas de ouro de Cuiabá e aimplantação das fazendas de gado no século XIX e início do XX. Nesse processo deocupação territorial, econômico e político, a história indígena dos últimos 500 anospode ser recuperada através de inúmeros documentos escritos, nos quais é possível obterinformações sobre os povos indígenas que habitaram o Pantanal, conhecidoshistoricamente como Payaguá, Guaicurú, Guató, Xaray e Chané, entre outros.No período pré-colonial a história indígena no Pantanal está depositada em sítiosa céu aberto, implantados em morros e planaltos residuais e sítios denominados pelaarqueologia de Aterros, implantados dentro da planície de inundação. Entretanto, até omomento não foi possível determinar nenhuma ligação entre os grupos étnicosconhecidos lingüistica e etnograficamente como responsáveis pelos Aterros. Em razãoda necessidade de identificar os últimos, a arqueologia utiliza-se do termo tradição paradefinir elementos técnicos que evoluem separadamente num determinado espaço eatravés do tempo formam uma continuidade cronológica. Quando, numa tradição,alguns elementos técnicos, sobretudo cerâmicos, tornam-se ausentes ou diminuem numadeterminada área geográfica e num determinado espaço de tempo, deve-se dividir emdois ou mais complexos cerâmicos que, juntamente com as diversas representações dacultura material, elementos sócio-políticos e religiosos, formam um complexo culturaldenominado de fase arqueológica. É importante salientar que tanto a tradição quanto a fase são entidades arqueológicas que não implicam um significado tribal ou lingüístico.No caso do Pantanal, dentre os vários vestígios da cultura material, encontrada nosAterros, destaca-se o material cerâmico, pela durabilidade diante da ação dosfenômenos ambientais e por possuir uma forte identidade cultural entre os povosamericanos.

No extremo norte do Pantanal, os primeiros registros relativos ao materialcerâmico são provenientes dos estudos realizados por Max Schmidt, durante asexpedições dos anos de 1910, 1926 e 1928. Em SCHMIDT (1914:256-266) há umabreve descrição do material cerâmico coletado nos sítios Aterros na região do morro doCara-cará (próximo à foz do rio São Lorenço), na Fazenda Descalvado e emAterradinho, no alto curso do rio Paraguai (SCHMIDT, 1914:256-266, 1940).Entretanto, pouca informação tecnotipológica do material cerâmico é possível obter dosresultados publicados dessas expedições. Recentemente, MARTINS & KASHIMOTO(2000) realizaram escavações arqueológicas no sítio denominado de Rio Jauru e RiachoSão Sebastião, a norte da bacia do alto Paraguai (região drenada pelos rios Jauru e PadreInácio). Nesses locais os vestígios são predominantemente de cerâmica da tradiçãoDescalvado e estão associados a objetos cerâmicos, carimbos, estatuetas cerâmicasantropomórfica e zoomórfica pertencentes a populações que ocuparam o local trezentosanos antes do início da colonização ibérica (MARTINS & KASHIMOTO, 2000:133-139).No extremo Sul do Pantanal, SUSNIK (1959) realizou estudos numa cerâmicadenominada de Caduveo – Mbayá de Punta Valinotti, proveniente de um sítiolocalizado entre Bahia Negra e Porto 14 de Mayo. Susnik faz uma breve descrição dasformas e manufaturas das vasilhas, tipos de decoração plástica e pintada, tipos de pasta,que são associados ao grupo étnico Caduveo (SUSNIK, 1959:81). Conforme SUSNIK(1959:90), esse conjunto cerâmico manifesta elementos culturais de populações doAlto-Paraguai, Arawak-andinos e Guaicurú-chaqueño. Também foi desenvolvido umestudo referente a um Aterro, na margem do rio Paraguai, num local com grandequantidade de conchas de moluscos. Esse local é conhecido como Puerto 14 de Mayo,onde há um grande acúmulo de conchas pertencentes à espécie Pomacea canaliculata,que se fazem presente no sítio de forma inteiras e quebradas. Nesse sítio foramrealizadas coletas de superfície e pequenas escavações (sem controle estratigráfico) nosanos de 1956 e 1990 (apud OLIVEIRA, 2000:181), tendo sido encontrado materialcerâmico (367 fragmentos, ano de 1956), instrumentos líticos, remanescentes de ossosde animais e humanos. Esse material foi descrito por SUSNIK (1959:91-101), queposteriormente realizou trabalhos de campo no mesmo sítio em 1990. Parte dessematerial cerâmico (422 fragmentos), da coleção depositada no Museu EtnográficoAndrés Barbero (Assunção, Paraguai), foi descrita por OLIVEIRA (2002:181-184) eclassificada como possivelmente pertencente à tradição Pantanal.No Pantanal, os estudos sistemáticos envolvendo grandes volumes defragmentos cerâmicos somente foram desenvolvidos por ROGGE (1996) e SCHMITZet al. (1998), que estabeleceram uma nova tradição para a cerâmica pertencente aosAterros, denominada de tradição Pantanal, incluindo a fase Pantanal e Jacadigo.Também Migliacio (2000), durante estudos no Pantanal de Cáceres e PEIXOTO (2003),nas lagoas do Castelo e Vermelha (MS), estabeleceram duas novas fases ceramistasvinculadas à tradição Pantanal, denominada de fase Taiamã e Castelo, respectivamente(Figura 1). [Páginas 1, 2 e 3]

Mapa do Pantanal com a área de influência da tradição Pantanal com suas respectivas fases
01/11/2004
Créditos/Fonte: Os povos ceramistas que ocuparam a planície aluvial antes da conquista européia

Pantanal: tradição e fases ceramistas

Os primeiros estudos tecnotipológicos sobre o material cerâmico do Pantanalforam realizados por ROGGE & SCHMITZ (1992, 1994/1995), que apresentaram osprimeiros resultados sobre a cerâmica coletada em Aterros na região das lagoas doJacadigo e Negra, encostas de morros próximos à cidade de Corumbá e Pantanal doAbobral. Através de análises sistemáticas a partir da cultura material proveniente dascoletas de superfície e escavações (29.854 fragmentos cerâmicos e algumas peçasinteiras) e associado ao padrão de assentamento, indústria lítica, remanescentesfaunísticos e datações absolutas, ROGGE (1996) propôs para o Pantanal Sul-matogrossense uma nova tradição, denominada de tradição Pantanal, dividida entre as fasesPantanal e Jacadigo e um sítio isolado não incluído em nenhuma fase. De acordo comROGGE (1996:197-200) e SCHMITZ et al. (1998:221-229) a tradição Pantanal nãodispõe de período cronológico definitivo.

Entretanto, com base em idadesradiocarbônicas, supõe-se que essa tradição se observa no Pantanal entre 2.200 anosantes do presente (A.P.) até alguns séculos que antecedem a chegada dos colonizadoreseuropeus, embora haja possibilidades de pertencerem a grupos étnicos coloniais.A fase Pantanal está relacionada aos Aterros, que parecem indicar ocupaçõesmais contínuas e estáveis, implantados a céu aberto, dentro da planície de inundação,sobre diques fluviais e lacustres. As escavações arqueológicas nesses Aterros revelaram

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