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Homenagem à família de Antônio Marques Flores e seus descendentes. Celso Marvadão, em acso.com.br
25 de julho de 2024, quinta-feira.
Um florido sobrado de 1929, na rua Miranda Azevedo, 167, esquina da rua Sete de Setembro, uma jabuticabeira centenária no quintal e um antigo posto de combustíveis guardam a memória afetiva das famílias de Antônio Marques Flores, Belarmino Moraes Arruda, Jorge Moysés Betti, Jorge Bittar, Rogério Pinto Coelho, Mário Amato e Octávio Marques Flores.

Famílias que se entrelaçaram, formaram gerações e, com sua capacidade empreendedora, deixaram raízes profundas na memória do comércio de Sorocaba e em trabalhos voltados para a comunidade.

O iniciador desta história foi o português Antônio Marques Flores. Ainda no século 19, ele veio para o Brasil com sua esposa Carolina Proença da cidade do Porto. Adquiriu terrenos no centro de Sorocaba, na rua Miranda Azevedo e adjacências. Sua chácara, com entrada pela rua Sete de Setembro, já próximo da Rua do Tecelão (hoje Padre Luiz), ocupava uma quadra, ia até a rua Manoel José da Fonseca, tinha plantação de uva e um campinho de futebol, de gratas lembranças.

Era o tempo das feiras de muares. Marques Flores não comercializava mulas, mas se valia delas para mandar produtos daqui para o sul do país, especialmente tecidos e roupas simples feitas de algodão, como também recebia pelas bruacas dos muares artigos aqui consumidos. Fazia esse intercâmbio comercial junto a um bebedouro que havia próximo da Igreja de Santo Antônio, hoje Largo do Mercado, e embaixo da ponte da atual Rua XV de Novembro, passagem obrigatória das tropas.

A Sete de Setembro hoje é conhecida como “a rua dos consertos e das revendas de automóveis”. Mas já foi “Rua das Tropas” e depois segmento da rodovia São Paulo-Curitiba (Raposo Tavares a partir de 1954), que passava por dentro de Sorocaba. Antônio Marques Flores viveu a sequência dessas fases. O posto de combustíveis da família, na esquina com a Miranda Azevedo, com bombas movidas à manivela, praticamente deu início a essa vocação do corredor comercial. Na oficina anexa ao posto passavam para manutenção os caminhões Fargo e os carros de passeio Plymouth da revendedora Abrão Reze e também os veículos Ford dos Irmãos Notari (Mário e Humberto), empresas que iniciaram suas atividades comerciais na rua Sete, junto ao posto.

A família de Marques Flores viveu o tempo (anos 40 e 50) em que a região do Mercado Municipal era marcada pela presença de armazéns e atacadistas (João Cabral, Diogo Tudela, Irmãos Steffan, Manoel Parra, Ema Chebel, Armazém dos Rosas, Oliveira e Ramos). Quando os ônibus tipo “jardineira” passaram a fazer ponto por ali, vindos dos bairros e também de cidades da região, a atividade comercial ganhou ainda mais força.

Além do tino comercial, o patriarca familiar teve consciência social. Quando o governo não conseguiu manter em dia o salário dos professores, lá estava Antônio Marques Flores, junto com outro patrício, o empresário Antônio Pereira Inácio, iniciador do Grupo Votorantim, garantindo por três meses o pagamento.

Foi um dos fundadores da Sociedade Beneficente e Recreativa Vasco da Gama, que é de 1898, tendo participado da elaboração do estatuto e como membro da primeira diretoria dessa entidade de apoio à colônia portuguesa. Em 1922, Sorocaba sentia a necessidade de ter uma instituição que defendesse o comércio e os comerciantes. Lá estava Marques Flores como um dos entusiastas fundadores da Associação Comercial de Sorocaba, instalada inicialmente no Gabinete de Leitura Sorocabano.

Tratado afetivamente por “Dindinho” e sempre trajando terno, colete e relógio de bolso, o dinâmico português faleceu em 1938, deixando um lastro de trabalho e uma liderança que se refletiram nos filhos, netos, bisnetos e tataranetos, numa descendência que envolveu muitas ligações familiares.

Antônio Marques Flores e Carolina Proença Flores tiveram 6 filhos: João, Octávio, Bibiana, Rita Proença, Maria Proença e Guiomar.

João Marques Flores casou com Inês Azimonte e teve uma segunda esposa, Dóris. Octávio Marques Flores foi casado com Marina Rodrigues, e o casal teve os filhos Octávio Marques Flores Filho (Otavinho, ex-diretor superintendente e vice-presidente-executivo da Melalac Sorocaba, hoje com 80 anos) e Antônio Marcos Flores.

João e Octávio participaram da Revolução Constitucionalista de 1932 e seguiram as passadas do pai, contando também com o cunhado Belarmino Moraes Arruda.

Estoura a Revolução Constitucionalista
9 de julho de 1932, sábado (Há 92 anos)
 Fontes (3)

Tiveram casa de comércio de tecidos e torrefação de café próximo ao Mercado Municipal, nos anos 30, bem como empresa de extração de óleo de casca de laranja exportado para a Inglaterra com aproveitamento da casca como ração e combustível na torrefação. Tocaram ainda beneficiadora de algodão, com descaroçadora e prensa, cujos fardos eram exportados. Foi deles um depósito de tecidos (Flores & Arruda), na região central, além de padaria, açougue e farmácia em Santa Rosália. Belarmino Moraes Arruda Filho, comenta que se for somar todas as iniciativas comerciais das famílias “daria para montar um shopping center”. Ele conta que, ainda menino, viu adaptarem um Chevrolet 33, convertido em furgão para levar café pela região.

Bibiana Marques Flores casou com o empresário Inácio Pereira da Rocha e teve um segundo esposo, Roberto Viera de Toledo. Do primeiro enlace, nasceram os filhos Inácio Pereira da Rocha Filho, Antônio Pereira da Rocha, Lucita Pereira da Rocha e José Guilherme Pereira da Rocha.

Belarmino Moraes Arruda foi contador de Antônio Marques Flores e entrou para a família ao casar-se com Rita Proença. Da união vieram 8 filhos: José Flores Arruda, Maria Conceição Flores Arruda, Mariana Flores Arruda, Belarmino Moraes Arruda Filho (nosso “Belar”, que foi bancário, administrador e ainda está entre nós, ativo nos seus 87 anos, ao lado de sua esposa Martha Marisa Silva Arruda), Antônio Benedito Flores Arruda, Maria Alice Flores Arruda e Maria Carolina Flores Arruda.

Belarmino Moraes Arruda foi proprietário da Borel- Representações Kaiser Freeze e Henry Jr, junto com o genro Elias Abussamra e o filho José Flores Arruda. Este também teve comércio de material de construção, na rua Sete de Setembro.

A vida empresarial e comunitária de Belarmino cobriu várias frentes. Por mais de 30 anos foi provedor da Santa Casa de Misericórdia; participou do Aero Clube de Sorocaba; organizou para a Legião Brasileira de Assistência o envio de mantimentos para os “pracinhas” brasileiros na Itália, durante a Segunda Guerra, cujas embalagens eram produzidas pela Serraria Pacheco; teve presença marcante na Casa das Mães e das Crianças; foi um dos fundadores do Rotary Clube de Sorocaba, em 1939; criador do Sindicato do Comércio Varejista de Sorocaba e, entre muitas outras atividades, por sete anos consecutivos presidiu a Associação Comercial de Sorocaba, de 1937 a 1945. Como presidente, liderou a montagem da Feira Industrial, Agrícola e Comercial de Sorocaba, em 1938, ano da inauguração do novo Mercado Municipal. Por todo esse trabalho, Belarmino Moraes Arruda dá nome à unidade do Senac de Sorocaba, instalada na avenida Cel. Nogueira Padilha, inaugurada em 1980, durante a gestão de José Papa Júnior na presidência do SESC/SENAC.

Um outro nome ilustre entrou para a família Flores Arruda: o dos Betti. Maria Proença (a Mariquinha) casou com Jorge Moysés Betti, professor que foi prefeito de Sorocaba, na época “intendente”, de 1927 a 1929. Da união nasceram os filhos Jorge Moysés Betti Filho (advogado e vereador de nossa Câmara Municipal), Maria Aparecida Flores Bittar (casada com Jorge Bittar, com marcante atividade no ramo de seguros), José Carlos Moysés Betti (que acaba de completar 91 anos, casado com Rute Leonor Palma Betti, também viva), Felipe Antônio Moysés Betti e Luiz Fernando Flores Betti. A família Betti marcou e marca presença na cidade pelas suas atividades no ramo imobiliário, da advocacia, entre outros, e também pela participação em instituições e trabalhos sociais.

Guiomar, a outra filha do português Marques Flores e Carolina Proença, casou-se com o empresário Rogério Pinto Coelho, cujos negócios com rolhas e cortiças levaram a família à origem da empresa Drury’s em Sorocaba, depois Heublein.

Guiomar e Rogério tiveram duas filhas – Rogéria Pinto Coelho e Maria Carolina Pinto Coelho (ambas vivas). Foi então que um jovem chamado Mário Amato casou com Rogéria e entrou para os negócios da família. No começo ainda no ramo de rolhas e cortiças, mas logo em seguida para algo mais promissor – a produção de bebidas, especialmente a linha Drury’s, na unidade industrial instalada em Sorocaba. Mário Amato virou dono da empresa Drury’s, depois Campari, em seguida associada à Heublein, entre inúmeras outras iniciativas empreendedoras no mundo dos negócios. Foi destacada também a sua participação como presidente da Fiesp – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. Outra ligação dele com Sorocaba está no bairro de Aparecidinha, onde fica a Vila Amato, implantada em propriedade da família.

Mário Amato faleceu em 2016, aos 97 anos. Sua viúva Rogéria, neta de Antônio Marques Flores, está com 92 anos, e é mãe de Laura Amato Urbano, Olga Maria Amato e Rogério Amato. Rogério seguiu o caminho do pai Mário, do avô Rogério Pinto Coelho e do bisavô Antônio Marques Flores. Com sua visão administrativa e empresarial, participou ativamente da Heublein, é sócio majoritário da holding Springer, já foi secretário estadual de Assistência e Desenvolvimento Social e presidente da Associação Comercial de São Paulo.

Na partilha dos bens quando da morte de Antônio Marques Arruda, em 1938, o antigo e simbólico posto, da esquina da Miranda Azevedo com a Sete de Setembro, ficou para a filha Guiomar Flores Pinto Coelho e depois para Rogéria Pinto Amato. O sobradinho florido ainda está lá, não mais com a família de Antônio Marques Flores. Mas as lembranças continuam vivas, especialmente a centenária jabuticabeira que produz frutos com sabor de saudade.

A família de Antônio Marques Flores e seus muitos descendentes fez de Sorocaba a sua morada. Aqui plantou muitos negócios, criou raízes e nunca deixou de investir na cidade, integrando-se completamente à vida local. E foi assim que conquistou reconhecimento, respeito e carinho junto à comunidade.

E por fazer parte efetiva da Memória Viva do nosso comércio, é merecedora desta homenagem da Associação Comercial de Sorocaba.

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