A Revolução dos Paulistas em 1932: A Luta no Setor Sul
9 de julho de 2022, sábado. Há 2 anos
Figueiredo, com o general Isidoro Dias Lopes e seu Estado-Maior, dentro deum comitê revolucionário, onde faziam parte Ataliba Leonel, Júlio de MesquitaFilho, Francisco Mesquita, Cesário Coimbra e Coriolano de Góes, todos emoposição ao Partido Popular e ao governo federal, iniciando o confronto.Depois do episódio de 23 de maio, quando já pingavam os últimos diasde junho, São Paulo, entregue a si mesmo desde o dia 23, desgostoso pelosacontecimentos, preparava a sua revolução burocratizada e organizadíssima,é verdade, mas depois do rompimento, emissários iam e vinham. Minas, RioGrande, Mato Grosso, Distrito Federal. Bertoldo Klinger, de Campo Grande,seria o general-chefe. Tudo sairia bem. No momento em que São Paulo seerguesse pela Constituição, outros Estados adeririam e Getúlio se demitiria,sem um tiro. Nenhum irmão queria matar outro irmão. Pura revolução branca,no entender de Pedro de Toledo e do general Klinger. Um tanto anacrônico,mas verdadeiro. (Aluísio de Almeida. Campina do Monte Alegre).Da Igreja narra o futuro Bispo Dom Ernesto de Paula: A luta se iniciarano interior do Estado, sob o comando do general Bertoldo Klinger. Com ocorrer do dia, tornou-se bem patente, a todos, que São Paulo se rebelara contrao governo ditatorial, com o intuito de conseguir a volta do país à legalidade.O movimento de alastrou por todo o Estado. Na Capital, eram preparadosos batalhões que deviam partir para o Front, e organizavam-se os diversosdepartamentos, para prover as necessidades dos combatentes: armamento,alimentação, vestuário, etc. A revolução de 1932 sacudiu toda a população.O desejo da maioria era ir para o campo da luta. Mesmo entre os sacerdotesjovens, disputava-se um posto de capelão militar. Essa campanha eletrizou ospaulistas, que, num entusiasmo delirante, compareciam, em massa, na CúriaMetropolitana, para ofertarem os seus tesouros. O trabalho era chefiado peloMonsenhor Gastão Liberal Pinto, Vigário-Geral da Arquidiocese, auxiliadopor Ernesto de Paula nessa estafante missão: dia e noite desfilavam diante dospadres os generosos doadores. Foi grande o número de objetos de ouro doadosem prol da revolução. No final o ouro recolhido acabou sendo destinado àSanta Casa de Misericórdia de São Paulo e empregado no atendimento dospobres e doentes.
O ano de 1932 foi crucial para São Paulo, que em 23 de maio obteve governo civil e paulista, em 9 de julho deflagrou a Revolução Constitucionalista, que perdeu em setembro. De Sorocaba, Dom Aguirre não fugiu aos seus quatrocentos anos de paulista. Esteve ao lado de seu povo, vibrou e sofreu com ele, como se lê no seu diário. Não lhe competia, porém, entrar em atividades guerreiras e sim, rezar pela paz com honra. No sábado, dia 9 à meia-noite, rompeu em São Paulo um movimento revolucionário contra o governo da União, a fim de promover a constitucionalização do país. A população recebeu a nova do movimento com grandes demonstrações de júbilo. Dom Aguirre estava em São Paulo.
Nesse mesmo 9 de julho de 1932, o Padre Olegário da Silva Baratadescrevia no precioso Livro do Tombo da Matriz de São Miguel Arcanjo, SP,o momento histórico: Arrebentou no Estado de São Paulo, um movimentorevolucionário, afim de pôr termo aos desmandos do governo federal, tendo porbase a volta da constituição de 1891, organização de uma junta governativa oquanto necessário para a proclamação da constituinte. Nesta paróquia, grandefoi o entusiasmo realizando-se comícios.
Em Itapetininga, em 10 de julho, logo pela manhã cedo a populaçãosoube que estavam interrompidos os trens para a Capital e que não se obtinhampara lá ligações telegráficas. Esses fatos anormais levaram logo à convicçãode que em São Paulo havia iniciado qualquer movimento revolucionário. Maistarde soube-se que de fato, na noite de 9 para 10, forças do exército, da políciae o povo declararam-se contra a ditadura, pugnando pela Constituição.A notícia chegara à cidade de Itapetininga, onde seria estabelecidaa Sede do Quartel General do Exército Constitucionalista do Setor Sul e a“Tribuna Popular”, do diretor Antônio Galvão publica: “São Paulo tem vividoultimamente horas de intensa vibração. Já no domingo, 10, pela manhã, efoi uma linda amanhã de sol, a cidade despertou movimentada: os matutinosnoticiam, em títulos garrafais, que na véspera irrompeu nesta Capital ummovimento revolucionário pró Constituição; dirigiam-no o coronel EuclydesFigueiredo e o general Isidoro, apoiados unanimemente pelas forças federaise estaduais. Os jornaleiros apregoavam, aos brados, essas e outras notassensacionais e em pouco tempo se esgotavam todas as edições. Formavamse então grandes aglomerações nas proximidades do quartel-general da IIªRegião, e nas cercanias do da Força Pública, a Avenida Tiradentes. As trezeestações de rádio lançavam aos ares as primeiras notícias. Embora fossedesusado o movimento de veículos e de pedestres, o ambiente geral era decalma, e os clubes de regatas regurgitavam, como nos dias de descanso. Às14 horas, conforme havia sido anunciado, o interventor Pedro de Toledodirigia-se ao palácio do Governo e aí renunciava ao cargo, sendo a seguiraclamado “governador de São Paulo”. Compacta massa popular, tomada deentusiasmo indescritível comprimia-se a custo no largo do Palácio, enchendoo literalmente. Alguns aviões evolucionavam sobre a cidade. As estações derádio, alternadamente, emitiam comunicados, apelos, manifestos. Os jornaisafixavam nos “placards” os últimos telegramas e tiravam edições sobreedições, avidamente disputadas pelo público. Os edifícios dos correios etelégrafos, da telefônica, bem como das estações das estradas de ferro tinhamsido ocupados pelas forças revolucionárias. Confraternizadas, as tropas do exército e da milícia estadual antes de rumarem para o embarque desfilavampelo centro ao som de clarins e fanfarras e debaixo de flores e aplausos. Arebelião triunfara sem um protesto, sem um tiro, sem um empastelamento,antes na mais perfeita ordem. Abriu-se na Escola Normal da Praça e naAcademia de Direito a inscrição para o voluntariado civil. O Diário da Noitefazia circular a sua 4ªedição e as estações de rádio transmitiam, ora discursosde próceres da frente Única, ora apelos, telegramas, etc. Do Rio, porém, nadase sabia. À noite, posto que o triângulo central estivesse um tanto escuro, porse acharem cerrados todas as vitrinas, era intenso o movimento nas ruas, noscafés, nos teatros e cinemas”. No dia 11, informações pelo telefone, pelo rádioe jornais punham os itapetininganos a par do grande movimento em prol daconstitucionalização do País. Com São Paulo são solidários os Estados do RioGrande do Sul, Santa Catarina, Minas e Mato Grosso. Deste, sob o comandodo general Bertoldo Klinger, já se acham em território de São Paulo, as forçasmato-grossenses. Resignou o cargo de Interventor o sr. Dr. Pedro de Toledoque foi logo em seguida aclamado governador de São Paulo pelo povo. Esteassinou ato declarando continuarem em vigor todas as leis em que o Estadovem se regendo, ratificando e confirmando as nomeações de seus secretáriosde Estado, chefe de polícia, prefeito municipal de São Paulo, diretor doDepartamento Municipal, prefeitos municipais, ministros do Tribunal deJustiça, juízes, serventuários, delegados de polícia, oficiais e praças da forçapública e funcionários públicos em geral, nomeados na conformidade das leisanteriores”.O Comando geral das forças constitucionalistas foi entregue aogeneralíssimo Isidoro Dias Lopes, tendo sido investindo no cargo decomandante da 2ª Região Militar.Em manchete o “O Estado” informava: O movimento revolucionário decaráter constitucionalista, que ontem irrompeu em São Paulo, é consequênciade uma longa série de fatos anteriores, que começa a ser possível reconstituir,através do depoimento de seus líderes na Capital, insatisfeitos com as decisõesdo governo Vargas e que prejudicam sobremaneira São Paulo.Já na tarde do domingo, dia 10 de julho, o povo e a tropa reunidosem frente do Palácio do Governo, nos Campos Elísios aclamam o interventorfederal dr. Pedro de Toledo. Pedro de Toledo despede-se do título de interventore é aclamado governador de São Paulo, com mandato conferido pelo povo empraça pública. [Páginas 12, 13 e 14]
5º R.C.C., e o 2º B.E. e o 13º R.I., movimentam-se para a fronteira paulista; o4º e o 5º Esquadrão do R.C.D. seguiram para Ribeira.”Em Itapetininga, às 14 horas, de 11 de julho, no 8º B.C.P., aquiaquartelado realizou-se a entrega a este, de uma bandeira de São Paulo,oferecida pelo dr. Nestor Seabra, distinto médico de Botucatu. O ato foisolene, formando o Batalhão com sua banda e oficialidade, falou, fazendo aoferta, o Dr. Seabra, em candentes frases, que bem demonstram o seu grandepatriotismo e amor a São Paulo. Agradeceu a oferta o sr. Tenente CoronelMoraes Pinto. A mocidade itapetiningana está organizando um batalhãopatriótico. As inscrições se fazem à rua Quintino Bocayuva, nº 55-A. Deverátambém ser formado outro pela Frente Única Itapetiningana.São Miguel Arcanjo. Em 11 de julho foi nomeado o sr. EdwirgesMonteiro (PD), para o comando da cidade, substituindo o sr. Leontino ArantesGalvão (PP).Já em Sorocaba, a partir de 11 de julho, já estão se realizando diariamenteàs 15 horas preces Pró Paz na Catedral de Sorocaba.
Neste 12 de julho foi nomeado o sr. Ernesto de Campos (PD) para governar Sorocaba, substituindo o sr. Otácilio Malheiros (PRP), que conduzia os destinos de Sorocaba. Acabada a revolução e com pedido de exoneração de Ernesto de Campos, foi nomeado o sr. David Alves Athaíde (PSD), para substituí-lo, em 6 de outubro.
Chegou a São Paulo, nesta data de 12, tendo no mesmo dia,assumido o comando da 2ª Região, o General Bertoldo Klinger. S. Exa. foientusiasticamente recebido pela população paulista. O General Klinger chegana estação da Luz, quando foi recebido festivamente, pelo povo de São Paulo.Até esse momento a Revolução estava vitoriosa em todo o território paulista,que recebia adesões chegadas dos mais distantes recantos do Estado. Contavase nessa altura, com certeza, com a agregação e ajuda do Rio Grande do Sule de Minas Gerais, que não veio. Faltou, porém, a tropa de Mato Grosso, quedeveria chegar chefiada pelo general que comandaria a vitória dos paulistas.São Paulo contava com a ajuda e adesão de Mato Grosso, com 6.000 soldadosregulares, dezenas de canhões, milhões de cartuchos que era o que Klingergarantia mobilizar no estado. O coronel Klinger assume o comando da RegiãoMilitar e envia o coronel Euclides Figueiredo para chefiar a 2ª Divisão deInfantaria em Operações na principal frente de combate, o vale do Paraíba, nocaminho do Rio de Janeiro.“Os acontecimentos de maior relevo verificados na data de 12, foram,sem dúvida a chegada pela manhã do General Klinger, na estação da Luz, ea partida do Coronel Figueiredo, à noite para a sede das operações no setorNorte, na cidade de Cruzeiro”. (Tribuna Popular).O General Klinger chega a São Paulo com pouco mais de 100 soldados, [Página 17]