Desfecho digno de Shakespeare. Por Giuliano Bonamim, jornalcruzeiro.com.br
9 de novembro de 2013, sábado. Há 11 anos
A escrava Benedicta pertencia à família de João Pires de Almeida. Ela se apaixonou por um escravo da família de Raphael Aguiar de Barros. O romance foi descoberto e proibido pelos seus respectivos donos. O caso ocorreu na Vila de Campo Largo, atual município de Araçoiaba da Serra, em 1882, seis anos antes da abolição da escravatura no Brasil. Agora, essa história será contada pelo grupo Manto na peça O amor de Benedicta, com pré-estreia (aberta ao público) marcada para amanhã, às 19h, dentro do conjunto arquitetônico conhecido como barracões da Sorocabana, na Vila Santana.
O espetáculo, com direção de Eli André Corrêa, é baseado no livro Scenas da escravidão, do escritor sorocabano Carlos Carvalho Cavalheiro. A obra traz um estudo inédito sobre o tema em Sorocaba e revela, por meio de documentos, a violência inerente à escravatura.A história dos dois escravos foi relatada em duas publicações do antigo jornal Diário de Sorocaba, em 1882. As reportagens, datadas de 19 e 21 de março daquele ano, revelam a relação de amor entre o casal e um desfecho digno de William Shakespeare.O produtor da peça, Luciano Leite, foi quem leu o livro de Cavalheiro e resolveu desenvolver o tema com o grupo Manto. "O foco da história é o amor entre os dois negros, dentro de um sistema escravocrata", comenta.Segundo Leite, o espetáculo também aborda temas relacionados à escravidão no país. "Mostramos como era feito o comércio interno de escravos a partir de 1930, quando ficou proibido o tráfico negreiro da África para as Américas", relata. "É muito emocionante para o nosso grupo poder resgatar a história de duas vidas que foram ceifadas pelo preconceito, pela escravidão e pela humilhação. Além disso, levamos o público a refletir sobre aspectos relacionados ao preconceito de gênero e raça, que ainda existem em nosso meio" conclui Luciano.O amor de Benedicta será encenada dentro do conjunto arquitetônico conhecido como barracões da Sorocabana, atualmente administrado pela América Latina Logística (ALL). O local foi escolhido por ter marcado um dos períodos mais prósperos de Sorocaba, a era da ferrovia, e que a atual geração poderá conhecer graças ao projeto.Os barracões datam de 1930 e eram usados para a construção e reforma de vagões de trem. Com o tempo, serviram como uma das principais sedes para a manutenção da malha ferroviária do interior paulista.A temporada de O amor de Benedicta terá um total de 16 apresentações abertas ao público (os ingressos gratuitos devem ser retirados com meia hora de antecedência). Além de amanhã, elas ocorrerão nos dias 16, 17, 20, 21, 22, 23, 24 e 29 de novembro e 1, 6, 7, 8, 13, 14 e 15 de dezembro. Todas as sessões começarão às 19h e terão entrada gratuita para um público com idade mínima de 12 anos. O trabalho tem os apoios da Lei de Incentivo à Cultura (Linc) e da América Latina Logística (ALL), que cedeu os espaços físicos para as apresentações.O projeto é do grupo Manto, cujo núcleo central se conheceu durante a primeira montagem de Agamemnón, no Espaço Cultural dos Metalúrgicos, em 1996, sob a direção de Carlos Roberto Mantovani. A partir 2003, passou se chamar grupo Manto, com uma estrutura maior e com o elenco original de 1996.Para abrir a temporada de O amor de Benedicta, o escritor Carlos Carvalho Cavalheiro comandará uma palestra para debater o livro inspirador do espetáculo. O encontro será realizado hoje, às 20h, dentro de um vagão de trem revitalizado e preparado para receber até 40 pessoas. A entrada é franca. Ele fica situado na rua Paissandu, s/nº, na Vila Santana.De acordo com Leite, o grupo Manto sempre procura espaços não convencionais e que conversem com a proposta dos trabalhos. "A ideia é fazer com que o público tenha uma experiência diferente", conta.Serviço:O amor de BenedictaPré-estreia: Amanhã (dia 10)Horário: 19hLocal: Conjunto arquitetônico conhecido como barracões da Sorocabana, localizado na rua Paissandu, s/nº, Vila Santana