José Theodoro de Souza - "Tributo ao último bandeirante". celsoprado-razias.blogspot.com
20 de dezembro de 2009, domingo. Há 15 anos
Até 2006 tradições ainda lembravam o conquistador do sertão centro sudoeste e oeste paulista, um homem franzino, de pequena estatura e fala mansa, tipo caboclo com fronte larga, olhos miúdos e queixo fino, pele clara com sardas, quase imberbe senão uma barba rala a cobrir-lhe o rosto e fios esparsos de cavanhaque no queixo (Leoni, 1979:2).Vestia roupas simples e rudes, pés quase sempre descalços.Tal homem, lavrador residente em Pouso Alegre - MG, à frente de um bando de mineiros "teve ideia de se aventurar até a região do Paranapanema, á procura de terras de culturas a fim de tomal-as por occupação originaria" (Nogueira Cobra, 1923: 7-8), de forma branda e pacífica.Inteligente embora analfabeto, religioso, bom chefe de família, cidadão probo e estimado, que atendia a todos que a ele socorriam-se, e em sua entrada desbravadora não quis maltratar os índios, mas sim, com amor cristão, atraí-los à civilização, de modo reconhecido que os próprios nativos o tratavam, respeitosamente, por ´Pae´. Abriu estradas, fundou povoados e fez progredir o sertão.
Todos o diziam intrépido, alegre, folgazão, festeiro e perdulário tanto, e que chegou a trocar enorme fazenda por um negro escravo, violeiro e cantador de cateretê.Um quartel de século após sua entrada triunfal em terras no centro sudoeste e oeste paulista, este homem morreu pobre e imêmore por todos, exceto talvez por alguns indígenas renegados que o mataram, a golpes de borduna ou a flechadas, em abril de 1875, desmembrando seu corpo e deixando os restos no local para sepultura no antigo cemitério de São Pedro do Turvo, numa cova que de tão simples, pouco tempo depois, ninguém mais sabia onde encontrá-la.Esta única descrição daquele homem lendário, típico herói sertanejo, figura frágil, que diante de uma necessidade se transformava num poderoso e destemido guerreiro, defensor dos brancos contra as atrocidades indígenas.Seu nome, José Theodoro de Souza, o último bandeirante.-o-Desfazendo tradições e pressupostos, documentos comprovam que a personagem das lendas, em verdade, tratava-se de figura mítica formada por associações de acontecimentos a Francisco de Souza Ramos, irmão de José Theodoro de Souza, morto a flechadas e golpes de bordunas por índios, em São Pedro do Turvo, e a José Theodoro de Souza Junior, filho do pioneiro, chacinado por índios em atual Paraguaçu Paulista - no local que se tornou conhecido como Água das Mortes, sendo o seu corpo despedaçado assim como aos demais vitimados no evento.
2. O grupo familiar
Levantamento firmado pelos autores [SatoPrado], com as colaborações de Joaquim dos Santos Neto e o reverendo padre dr. Hiansen Vieira Franco, respaldado nos estudos genealógicos de Barthiyra Sette e Paola Dias (Projeto Compartilhar, 2º - Bernarda Maria de Almeida: 3.9), e, harmônicos com os registros eclesiais da Igreja Católica Apostólica Romana (SGU: https://www.familysearch.org/pt/), revelam José Theodoro de Souza, nascido mineiro em Aiuruoca, filho de João de Souza Barboza e de Maria Theodora do Espírito Santo, batizado na Capela do Senhor do Porto do Turvo, aos 27 de maio de 1804.
O pesquisado José Theodoro de Souza casou-se aos dezenove anos de idade com Francisca Leite da Silva, aos 07 de fevereiro de 1823, em Camanducaia - MG, sendo ela nascida em Campanha - MG, em 1801, filha de João Tavares da Cunha e Anna Maria do Nascimento.
O casal teve os seguintes filhos e filhas relacionados no inventário do pioneiro, contados:
-Francisco Sabino de Souza, casado com Maria Francisca do Carmo;
-Flausina Maria de Souza, casada com Jesues Antonio Diniz;
-Maria Theodora de Souza ou do Espirito Santo, casada com Francisco de Paula Moraes;-José Theodoro de Souza Junior, casado com Marianna, prima em primeiro grau;
-Agostinha Theodora de Souza, casada com José Ignácio Pinto.
—Theodoro e Dona Francisca tiveram, ainda as filhas, Leopoldina, nascida aos 09 e batizada aos 20 de novembro de 1831 (Batismos, Capivari/Camanducaia, MG, 1823/1831: 190); Balbina, nascida aos 25 de março e batizada em 08 de abril de 1833 (Batismos, Consolação, MG, Livro 1833/1866: 9); e Anna nascida aos 21 de maio e batizada aos 29 de maio de 1835 (Eclesial, Batismos, Consolação, MG, Livro 1833/1866: 26). Nenhuma delas teve história registrada no sertão e nem descendentes citados no inventário do pioneiro. Com o falecimento da esposa, Francisca Leite da Silva, aos 16 de dezembro de 1868, o sertanista,
16 de dezembro de 1868, quarta-feira (Há 156 anos)
Fontes (1)
casou-se em 1871 com Anna Luiza de Jesus, nascida em Botucatu em 20 de janeiro de 1857 filha de Manoel José de Jesus e Maria Luiza da Conceição (Livro de Batismos, 1856/1859: 21), e do casal nasceu José Luiz de Souza, aos 23 de junho de 1875. — José Theodoro de Souza era cinquenta e três anos mais velho que sua segunda mulher.São conhecidos no sertão os irmãos e irmãs de José Theodoro de Souza:
-Justina Maria de Souza, casada com Jeronymo José de Pontes;
-João Vicente de Souza, casado com Emerenciana Maria de Jesus, irmã de Francisca Leite da Silva, depois enviuvado, casou-se com Marianna Felisbina de Jesus;
-Maria Silveria [...], casada com José da Silva;
-Francisco de Souza Ramos, casado com Maria Thereza de Jesus, irmã de Francisca Leite da Silva;
-Manoel Silverio ou Theodoro de Souza, casado com Anna Jacinta de Jesus;
-Joaquim Theodoro de Souza, casado com Maria Esmeria de Jesus;
-Antonio Theodoro de Souza, casado com Anna Francisca da Silva;-Anacleta Maria de Souza, casada com Joaquim Antonio Miranda;
-Bernardino José de Souza, casado com Theodora Maria de Jesus [Souza e ou Nascimento], falecida em 1848, e depois, em segunda núpcias, se casou com Marianna Ferreira;
-Dionizia Maria de Souza, casada com José Estevão de Pontes.
3. A chegada ao sertão
Até 2005 não havia consenso desde quando Theodoro chegara ao rincão paulista, para a conquista sertaneja, se em 1847 conforme informado em seus apossamentos, ou já próximo a 1856, o ano dos registros das posses; alguns o colocam na província paulista, ainda que de passagem, no ano de 1842.Para o engenheiro e memorialista Bruno Giovannetti, o pioneiro Theodoro chegou à região em 1855, com plano já traçado em assenhorear-se de terras livres de ocupações, e para o registro se viu obrigado a declarar posse desde 1847 para tê-las livres do patrimônio devoluto da província (1943: 125).O advogado e historiador Amador Nogueira Cobra informou a chegada de Theodoro após 1850, no espaço da promulgação da Lei 601, de 18 de setembro de 1850, e seu regulamento em 30 de janeiro de 1854, pelo Decreto 1318, aproveitando-se do prazo maior concedido para legalização de posses que ia até maio de 1856, para o registro de suas terras, sendo a retroação a 1847 mero artifício para que o ato não se tornasse nulo de pleno direito, nem viesse o declarante incorrer em penalidade legal (1923: 6-8).
J.C. Pedro Grande, do Conselho Nacional de Geografia, em 1953, atestou que "José Theodoro de Souza e José Vieira Martins, fundaram em 1848 o então modesto arraial de São Pedro dos Campos Novos do Turvo" (Diário de Notícias, RJ, 20/09/1953: 27), sem informar como localizado o Vieira Martins na fundação do mencionado lugar.
O assisense Leoni Ferreira da Silva assegurou que Theodoro fez sua posse no ano de 1847, conforme objetivo, e a registrou obedecendo a legislação em vigor (Leoni, 1979: 3 e 341). Bartholomeu Giannasi, descendente de italianos residentes em Conceição de Monte Alegre, atual distrito de Paraguaçu Paulista, descreveu que Theodoro contratou com o Imperador Pedro II, em 1847, para apossar terras adiante da Serra Botucatu e, pelos espigões dos rios Feio/Feio até as barrancas do Rio Paraná.O repórter Cristiano Machado informou, pela entrevistada Tereza da Silva Gonçalves - suposta herdeira de Theodoro, que chegou ao sertão em 1847, a mando do Imperador, para saber das ocupações de terras (Machado, 2005: 20/01 - A Folha de São Paulo, ´Supostos herdeiros de pioneiro invadem fazenda em SP´), e as tomou por posse primária.José Joaquim Gonçalves Melo entende que Theodoro chegou ao sertão em 1842, com "autorização expressa e escrita por ordem do Imperador D. Pedro II, para fazer o levantamento das terras e registros das mesmas" (Gonçalves Melo, 1999: 3). Para credibilidade Melo esclareceu que a fonte das informações, José Antonio Pereira de Lima, "era cunhado de José Theodoro de Souza" (op.cit), sem revelar de qual maneira o cunhadio, que hoje se sabe infundado.O professor Carlos Frederico Santos Silva igualmente indicou a presença de Theodoro no sertão em 1842, quando este teria fundado São Pedro do Turvo (Santos Silva, 1954: 5).A professora Maria José Corrêa de Oliveira Zanoni, firmada em Santos Silva, quase vinte anos depois declararia: "O pioneiro nos avanços por estes lados foi José Teodoro de Souza, que fundou São Pedro do Turvo em 1842", prosseguindo a autora: "foi uma ocupação lenta tanto que a cidade de São Pedro do Turvo (...) foi fundada 30 anos antes da fundação de Santa Cruz do Rio Pardo" (Oliveira Zanoni, 1976: 55-56).Respeitadas as divergências, nenhum dos citados autores apresentaram justificativas ou referências para suas conclusões, voltadas para a conquista sertaneja e não, necessariamente, para o tempo da chegada de Theodoro na província paulista, situações obviamente distintas.Outrossim, antigos relatos, da primeira geração de desbravadores, mencionam Theodoro viageiro e espia de tropeirada, cabecilha requisitado por conhecer os desvios dos condutos do sertão, para evitar pagamentos de taxas e pedágios nas estradas oficiais, além de entender as astúcias dos índios e as manobras dos ladrões, sempre às espreitas nos apreensivos caminhos do contrabando tropeiro. Mais brandamente descrito, "dedicava-se ao comércio de muares e gêneros diversos que se fazia entre o Sul de Minas através da feira de Sorocaba" (Abreu - Dióres Santos, 1978: 1 - primeira coluna).Os serviços prestados por Theodoro interessavam a muitos, e, certamente, ao mineiro Joaquim da Costa e Abreu, por anos trabalhando sob as ordens de Domingos Soares de Barros, agora afazendado no alto da Serra Botucatu, contratador de tropeirada e mandador em Botucatu, quando ainda Nossa Senhora das Dores do Cimo da Serra. Embora não localizado qualquer indício que Theodoro tenha trabalhado para o Costa e Abreu, a morte deste, em 1840, fez ressaltar o forte relacionamento entre pioneiro e Euzebio da Costa Luz, filho e sucessor do líder falecido, destacado durante as realizações da ´Feira Anual de Animais´ em Sorocaba, entre festas religiosas do divino e eventos desportivos como as montarias, provas de laços e touradas, eventos que atraiam gentes das diversas regiões do Brasil, quando, no azo dos acontecimentos, a deflagração da Revolução Liberal e os revoltosos, senhores da situação num primeiro momento, prenderam Euzébio da Costa Luz, ou intentaram o ato, com pronta reação de Theodoro para o tornar livre (Aluisio de Almeida, Notas para a História de Botucatu, pelo Jornal O Estado de São Paulo, 11/11/1951).—O historiador Hernani Donato não deixa dúvidas tratar-se de José Theodoro de Souza, o desbravador-mor do sertão paulista, assim ajustado em dois textos de sua obra (1985: 72 e 110 – Notas 1). Inimaginável ação solitária de Theodoro a favor de Costa Luz, ou solidária, que não lhe fosse retribuída com algum vínculo.A dar crédito ao Donato, e, se historicamente correto o incidente sorocabano, Theodoro teria então presença ou passagem pela província paulista, pelo menos, no ano de 1842, sem qualquer impeditivo que o desautorizasse a qualquer incursão, pelas regiões entre o Pardo/Turvo, fosse num processo prévio ou não de reconhecimento da região a ser conquistada, a partir de 1850/1851.Independente das colocações acima, os autores SatoPrado destacaram, num primeiro levantamento, que no ano de 1949 Theodoro estava registrado como morador em Botucatu, assim atestado num assento eclesial de batismo na família Nolasco (Botucatu, Livro 1849/1856, 02/07/1849: 26).3.1. Documentos comprovam o pioneiro na província paulista desde 1837Em 2020, pelos autores SatoPrado, concluiu-se, documentalmente, que o primeiro registro da presença de José Theodoro de Souza, na província paulista, aponta-o freguês - morador, em São João da Boa Vista, a contar de 1837, no batismo de Rita, filha de Domiciano José dos Reis, ocorrido aos 06 de outubro daquele ano (Records Preservation, 1833/1858: 33). Na mesma localidade de São João da Boa Vista, alguns anos depois, nasceu e foi batizada sua filha Agostinha, aos 07 de dezembro de 1842 (Records Preservation, Batismos, 1833/1858: 81).Considerando o registro entre Theodorinho, filho do pioneiro-mor, nascido e batizado em Consolação - MG, aos 30 de abril de 1836 (Livro de Batismos, 1836/1855: 9), e aquele primeiro, de 06 de outubro de 1837, do batismo de Rita em São João da Boa Vista-SP, chega-se a obviedade que, em algum tempo entre maio/junho de 1836 a outubro/dezembro de 1837, José Theodoro de Souza estava residente, com a família, em São João da Boa Vista, ou seja, cinco anos antes do incidente político de 1842 em Sorocaba, e doze anos anteriores ao seu primeiro registro em Botucatu no ano de 1849.Certa a presença de José Theodoro de Souza na província de São Paulo desde 1837, também se pode garantir, documentalmente, sua fixação em Botucatu no ano 1849, com a família, alguns de seus parentes e outros a ele vinculados por compadrio.Exemplos, a filha Flauzina, casada com Josues Antonio Diniz, também residia em Botucatu no ano de 1849, conforme registro de batismo da filha, de nome Maria, nascida em 20 de fevereiro de 1849 (Botucatu, Livro 1849/1856, 09/07/1849: 28); João Vicente de Souza, irmão de Theodoro, e sua esposa Marianna Felisbina de Jesus, aos 02 de setembro de 1849 estão documentados residentes em Botucatu, quando dos batismos dos filhos, dois deles com a idade de três anos e um com doze meses (Livro de 1849/1856: 34), destarte, possível, remontar a estadia da família, pelo menos, três anos no lugar, ou seja, 1846/1847.—Os assentos eclesiásticos botucatuenses eram realizados pelos padres visitadores, de quando em quando, e os atos religiosos de registros praticados até 1849, eram levados para Itapetinga, sede paroquial (Donato: 1985: 62), muitos deles extraviados ou, ainda não localizados. À mesma maneira, os expedientes judiciais e camarários referentes a Botucatu, ou que outro nome tivesse, eram realizados também em Itapetinga, então, sede de comarca e município, mas, nenhuma referência nominal encontrada, pelos autores, que possa identificar todos os seus moradores ou eleitores entre 1842/1849.Demais parentes diretos e indiretos de Theodoro, se fixaram no sertão, na mesma época, alguns mencionados em Pupo e Ciaccia (2005, Índice Onomástico: 310-325). Todos eles, juntamente com os compadres e amigos vinculados ao pioneiro-mor, somaram-se ao grupo conquistador do sertão paulista de 1850/1851, conforme atestam documentos cartoriais, camarários e eclesiais.Indiscutível, no entanto, a fixação de José Theodoro de Souza e sua gente no sertão botucatuense somente ocorreria a partir de 1850/1871, sem prejuízos de incursões anteriores pelas regiões entre os rios Tietê e Paranapanema, desde a descida da Serra Botucatu, num processo prévio ou não de reconhecimento da região a ser ocupada pelos bugreiros e desbravadores.4. O ´cabeça de bandeira´José Theodoro de Souza não entrou no sertão por ordem do capitão Tito Corrêa de Mello, como antes se imaginava, e sim numa combinação de Costa Luz, fazendeiros e capitalistas financiadores da empreitada ou os disponibilizadores de homens engajados diretamente na luta armada, portanto, missão considerada bandeira e não entrada. Não existem provas documentais, porém, não se pode imaginar o empreendimento de tal envergadura sem o dinheiro para compras de armas, munições, alimentações e coberturas outras, inclusive das necessidades familiares. Segundo adágio, ´não se faz uma guerra sem homens, e estes custam dinheiro como formas de retribuições, para si e família´.Houve custeadores que, em caso de campanha exitosa, receberiam suas pagas em terras conforme o montante investido, e, dito, as evidências de investimentos de alguns fazendeiros botucatuenses e outros, por si, seus herdeiros e/ou sucessores, que ocuparam posses tão logo livres as terras da presença indígena, destacados o Raymundo de Godoy Moreira e o genro major José Inocencio da Rocha, pelos lados de Borebi; Francisco Antonio Ramos e Eliseo Antunes de Oliveira Cardia - descendente do sesmeiro Antonio Antunes Cardia, em Lençóis Paulista; Faustino Ribeiro da Silva, na região de Agudos; Sebastião Pereira, Pedro Francisco Pinto, também chamado Pedro Francisco Franco e os irmãos, Antonio e Francisco Rodrigues de Campos, associados a José Theodoro de Souza em Bauru e adjacências; Francisco de Assis Nogueira e José Machado de Lima - este sócio de Theodoro, nos termos de Platina e Assis; e o José da Costa Allemão Coimbra em Santa Cruz do Rio Pardo e Ibirarema; entre outros.Da mesma maneira, os envolvidos diretamente nas operações contra os indígenas seriam retribuídos com frações de terras, uma aguada menor, e, em caso de morte do partícipe nos confrontos, sua cota seria entregue à viúva e herdeiros, com ou sem o artifício de posses articuladas, consoante observado em alguns registros paroquiais de terras requeridos diretamente pelas viúvas.Os acordos, a despeito de não escritos - pelo menos estes não chegaram aos dias atuais, foram cumpridos à risca, e os antigos acreditavam na palavra empenhada por José Theodoro de Souza, louvavam-no, e ele, às vezes se sacrificava para atender assuntos não bem firmados, por exemplo, ´terras desviadas´ por algum seu procurador. Para si o pioneiro teve respeitado o quinhão limitado pelo rio Paranapanema e divisor Paranapanema/Peixe, iniciado nas cabeceiras do Turvo, mais propriamente no ´Correguinho da Porteira´, à margem esquerda ao espigão e por este seguir a procurar e despassar o Pardo, rumo ao Paranapanema, pelo qual abaixo até o tributário paranaense Tibagi - dimensão estendida até o paulista ´Ribeirão da Figueira´ (Nogueira Cobra, 1923: 30), pouco abaixo da barra do Tibagi, ou, adiante, até a margem esquerda do ´Ribeirão das Anhumas´ (Giovannetti 1943: 27-28), ou, talvez, o ´Ribeirão Água Boa´, situado entre aqueles dois ribeirões, todos no Paranapanema; um latifúndio, com o compromisso em amanhar o sertão, abrir estradas e fundar povoados.A grande posse de José Theodoro de Souza abrangeu terras registradas por outros posseiros, em partes dos territórios de Forquilha, São Domingos [São João de São Domingos], Óleo e Ipaussu [Ilha Grande], entre outras citações, porém sem contestações, num tempo em que já se negociavam títulos de propriedades - compras, vendas e permutas, entre os anos 1850/1851 e 1856.5. O ´senhor das terras´ - registros paroquiaisO pioneiro-mor se estabeleceu no sertão em junho de 1851, imediatamente após a ´Guerra ao Índio´ (1850/1851). Ardilosamente promovera quatro registros paroquiais de suas terras, sob os números 516, 518, 519 e 520, sendo o primeiro conhecido como ´a grande posse´.Com a propositada divisão o declarante indicava outros posseiros na região, como artifício para adequações à ´Lei das Terras - nº 601, de 18 de setembro de 1850, e o Decreto regulamentador nº 1.318, de 18 de 30 de janeiro de 1854´, demonstrando o sertão já habitado, e cada confrontante, no respectivo assento, declararia as mesmas e outras vizinhanças como provas de moradia habitual.5.1. Registro Paroquial de Terras nº 516 - Rio do Turvo:—"Terras que possue José Theodoro de Souza no districto desta Villa de Botucatu. Digo eu abaixo assignado que sou senhor de umas terras de cultura no lugar denominado Rio do Turvo: districto desta Villa de Botucatu e suas divizas são as seguintes. Principiando esta divisa no barranco do rio turvo, barra do correguinho da porteira divisando com os herdeiros e meeira de José Alves de Lima, e sercando as vertentes com quem direito for até encontrar terras de José da Cunha de tal até travessar o Rio pardo; por outro lado até o espigão que divide as vertentes do Paranapanema, pelo espigão fora com quem direito for té cair no mesmo barranco do Paranapanema por este abaixo té frontear a barra do rio Tabagy [Tibagy], e d’aqui cercando as vertentes desta agua que se achão dentro deste circullo até encontrar com terras de Francisco de Souza Ramos d’aqui decendo até o barranco do Sam João por elle abaixo até sua barra no Turvo, por este acima até encontrar com a barra do Correguinho da porteira d’onde foi principio e finda esta diviza. Cujas terras assim divizadas e confrontadas as possuo por posse manças e pacificas que fiz no anno de mil oito centos e quarenta e sete, nella tenho morada abitual até o prezente. Botucatu trinta de Maio de mil oito centos e cincoenta e seis. Por José Theodoro de Souza = Francisco da Chaga Malta = Apresentado aos trinta e um de Maio de mil oito centos e cincoenta e seis. O Vigario Modesto Marques Teixeira=" (RPT/BTCT nº 516: 169-v e 170-a).Levantamentos em 2019, por SatoPrado, consolidam que o Correguinho da Porteira ou Córrego da Porteira, no ano de 1946 trazia o nome Santo Antonio/Saltinho (AESP: Folha [Mapa] para Santa Bárbara do Rio Pardo), e, em documento posterior, Córrego do Salto (IBGE, 1973: Turvinho, Mapa SF-22-Z-B-IV-2).5.2. Registro Paroquial de Terras nº 518 - Rio do Alambary:—"Terras que possue José Theodoro de Souza nesta Villa de Botucatu. Eu abaixo assignado sou senhor e possuidor das terras seguintes nesta Villa de Botucatu. Um citio de terras de cultura no lugar denominado = Rio do Alambary = districto desta Villa de Botucatu, e suas divizas são as seguintes - Principiando no lado de cima divisando com Messias José de Andrade, e pelo alto, com quem direito for até encontrar com terras de Manoel Alves dos Reis, e pelo espigão abaixo com o mesmo Alves até o rio, e pelo veio do rio acima até encontrar o princípio desta divisa. Cujas terras forão por mim possuidas por posse que fiz no anno de mil oito centos e quarenta e sete, e por não saber ler nem escrever pedi a quem por mim fizesse, a meo rogo assigna-se. Hoje trinta de Maio de mil oito centos e cincoenta e seis. A rogo de José Theodoro de Souza = Antonio Galvão Severino = Apresentado aos trinta e um de Maio de mil oito centos e cincoenta e seis. O Vigario Modesto Marques Teixeira." (RPT/BTCT nº 518: 170-v).5.3. Registro Paroquial de Terras nº 519: São João—"Terras que possue José Theodoro de Souza no districto desta Villa de Botucatu. Digo eu abaixo assignado que sou senhor de umas terras de cultura no lugar denominado São João deste districto desta Villa de Botucatu. Suas divizas são as seguinte. Principiando na barranca do rio São João e seguindo por um espigão divisando com Mathias Leite de Moraes e rodeando as vertentes de um braço do São João até encontrar com terras de Francisco de Souza Ramos, até o veio do rio São João e por este acima até onde principia e finda esta divisa. Cujas terras assim divizadas e confrontadas as possuo por posses pacificas que fiz no anno de mil oito centos e quarenta e sete = nellas tenho morada abitual até o presente. Botucatu trinta de Maio de mil oito centos e cincoenta e seis = Por José Theodoro de Souza = Antonio Galvão Severino = Apresentado aos trinta e um de Maio de mil oito centos e cincoenta e seis. O Vigario Modesto Marques Teixeira." (RPT/BTCT nº 519: 170-v).´Guerra ao Índio´ - recontro civilizatórioOs índios da região no século XIXOcupação sertaneja sob inspiração dos liberais e m...Frentes de conquistas e expansões territoriaisAssentamentos pioneirosDas frentes de ocupaçãoMigrações e frentes sertanejasRompendo as barreiras do sertãoFalsas escrituras e os grandes grilos - alguns exe...Brancos avançam, índios defendem-seVida SertanejaEscravidão Indígena e os aldeamentosEscravidão NegraProdução CafeeiraAs primeiras grandes fazendas produtorasImigrantes e imigraçõesVias terrestres - integração sertanejaVias férreas - sinônimo do progressoAs primeiras povoações sertanejas - introdução- Botucatu - histórico oficioso- São João de São Domingos: ´comarca imperial e ec...- Avaré- Lençóis Paulista- Santa Bárbara do Rio Pardo- Agudos- Timburi-SP- Santa Cruz do Rio Pardo- Piraju- São Pedro do Turvo- ´Campos Novos Paulista´- Conceição de Monte Alegre- Bauru- Espírito Santo do Turvo- Ipaussu- Salto GrandePequeno histórico dos principais nomes e feitos- Capitão Tito Correa de Mello - o iniciativoJoaquim da Costa e Abreu - o povoador botucatuense...- "Maria Ferreira", a história perdida- Maneco Dionísio - o maestro político de Avaré