Por que se associa a palavra macumba com maldade? Por Sérgio Rodrigues, veja.abril.com.br
31 de julho de 2020, sexta-feira. Há 4 anos
A palavra macumba não designa propriamente “uma religião afro-brasileira”, como diz Rafael, e sim, de forma genérica e pejorativa, um conjunto amplo de “cultos afro-brasileiros originários do nagô e que receberam influências de outras religiões africanas (por exemplo, de Angola e do Congo), e também ameríndias, católicas, espíritas e ocultistas” – nas palavras do Houaiss.Macumba se refere em especial, segundo observa o mesmo dicionário, a cultos e rituais em que se pratica a chamada magia negra, ou seja, aquela em que “supostos malefícios” são “endereçados a pessoas, animais etc.”. Pode-se encontrar aí a origem da associação que o leitor aponta entre macumba e maldade – reforçada pelo caráter pejorativo que a palavra carrega desde o início, assinalado por Nei Lopes em seu “Dicionário Banto do Brasil”.Quanto à sua origem, reina certa confusão. Lopes afirma que ela é “de origem banta, mas de étimo controverso”, e cita os estudiosos Antenor Nascentes e Jacques Raymundo entre os que foram buscar sua raiz no quimbundo makumba, plural de dikumba, ou seja, “cadeado, fechadura”. A explicação para isso estaria nas “cerimônias de fechamento de corpos presentes nesses rituais”.O próprio Lopes aposta no étimo cumba, “feiticeiro”, acrescido do prefixo plural ma. Registra ainda, como possibilidade, o quicongo makumba, plural de kumba, “prodígios, fatos miraculosos”.O sentido de “antigo instrumento de percussão de origem africana”, espécie de reco-reco, é o primeiro que o Houaiss apresenta no verbete macumba. A riqueza semântica da palavra estaria ligada ao fato de ser tal instrumento “outrora usado em terreiros de cultos afro-brasileiros”.Para Lopes, porém, trata-se de duas palavras distintas. Macumba, o reco-reco, teria vindo provavelmente do quimbundo mukumbu, “som”.