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Júlio Ribeiro: leitura sobre a trajetória de um intelectual maçom e protestante na cidade de Sorocaba na segunda metade do século XIX
2012. Há 12 anos
Ver Sorocaba/SP em 2012
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do algodão, descrevendo a importância do seu cultivo. Diziam tratar dos interesses damunicipalidade (O Americano, 3/8/1870), porém os artigos se relacionavam com seuspróprios interesses políticos e econômicos. O jornal de 11/3/1870 publicou os atos daCâmara dos Deputados que aprovaram o projeto de construção da estrada de ferro queligaria Itu a Sorocaba. Defendiam a necessidade de um cemitério protestante, bandeiratambém levantada por Júlio Ribeiro (O Sorocabano, 6/10/1870).Na edição de O Sorocabano de 23/4/1871 começaram a ser publicados alguns artigosde Júlio Ribeiro. Enquanto intelectual protestante e maçom, Júlio Ribeiro defendia tambémos interesses de Maylasky e de Ubaldino. Estes, por sua vez, defendiam os interesses deJúlio Ribeiro ligados ao campo religioso.Segundo Lessa (1938), Júlio Ribeiro foi recebido por profissão de fé e batismo peloRev. Chamberlain em 17 de abril de 1870, em São Paulo. No ano seguinte, casou-se emSorocaba com a filha do comerciante José Anthonio de Souza Bertholdo (4/2/1871). Foi osegundo registro de casamento não católico que ocorreu na cidade. Na certidão expedidapelo celebrante, o mesmo missionário americano Rev. G. W. Chamberlain:

Eu abaixo assinado certifico, que aos quatro do mês de Fevereiro do anode mil oitocentos e setenta e um pelas oito horas da tarde, na casa de JoséAntonio de Souza Bertholdo tendo corrido os proclamas de costume semse descobrir impedimento, e vendo presentes por testemunhas os senhoresJosé Leite Penteado, José Antonio Cardoso, Ubaldino do Amaral Fontura,José Pereira da Fonseca, e Manoel Lopes de Oliveira. Celebrei pelo Ritoreligioso da Igreja Evangélica, da qual sou pastor, o acto do casamentodo Senhor Julio Cesar Ribeiro, estando solteiro, da idade de vinte e seisanos, filho legitimo de George Washington Vaughan e Maria FranciscaRibeiro, natural de Sabará, Minas Gerais, profissão Mestre de línguas,como domicilio em Sorocaba e morador atualmente na mesma cidade ea Senhora Dona Sophia Aureliana de Souza, estado solteira, da idade dequatorze anos, filha legitima de José Antonio de Souza Bertholdo e AntoniaMaria de Souza com domicilio em Sorocaba, e moradora atualmente namesma cidade, do que tudo passo esta certidão que por ser verdade assino.Sorocaba quatro de fevereiro de mil oitocentos e setenta e um. Rev. Sr. G.W.Chamberlain (Livro de Registro de casamento de Nacionais e Estrangeiros,não-católicos, n. 85).

Todas as testemunhas do casamento estavam ligadas à Loja Perseverança III,frequentada por Júlio. A relação dele com os maçons e os protestantes era bem estreitana época: seu próprio sogro era maçom, e ao mesmo tempo a família de sua esposa foi oprimeiro grupo que ingressou no presbiterianismo em Sorocaba.Conforme o livro de matrículas da Loja Perseverança, Júlio Ribeiro entrou para oquadro da maçonaria sorocabana em 25 de fevereiro de 1871, logo após o seu casamento,certamente por influência do sogro. Nesse mesmo ano nasceu seu primeiro filho, conformeinformações do Livro de Registro de Nascimento de estrangeiros e nacionais acatólicos(1875, p. 4), que confirmam sua filiação ao presbiterianismo nesse momento.O campo intelectual era o palco de atuação de Júlio Ribeiro em Sorocaba. Além dearticulista do jornal, ele dava em sua casa aulas particulares de latim, inglês, francês,geografia, sistema métrico. Cobrava a quantia de 5$000 mensais para as aulas de línguas e3$000 para as primeiras letras, objetivando seu sustento na cidade (O Sorocaba, 10/11/1872,p. 4). Como jornalista, Júlio Ribeiro foi porta-voz de Matheus Maylasky e Ubaldino parapropagar pela imprensa os seus ideais. Ambos necessitavam dos recursos literários eintelectuais de um companheiro maçom, dotado de capital cultural valorizado pela elite sorocabana. Desprovido de capital econômico por não pertencer a uma família aristocrática,Júlio dispunha de capital intelectual, que o projetava no campo letrado sorocabano. Portanto,para tornar-se conhecido, materializou sua bagagem intelectual na imprensa jornalísticasorocabana, na produção de obras literárias e ações políticas. Mas ele não dependia somentedo seu capital cultural; utilizou-se também de forma estratégica das relações de poder quelhe garantiam ascensão social e política. Júlio Ribeiro foi transferido da Loja América, deSão Paulo, segundo Aleixo (1999, p. 103 ), e filiou-se à Perseverança III em 25 de fevereirode 1871. Bertholdo, Maylasky, Ubaldino, Júlio Ribeiro, Francisco de Abreu, Marciano daSilva e outros estavam ligados por relações de poder estabelecidas no campo maçônicosorocabano. Silveira (2005, p. 26) afirma:Deve-se levar em conta que, para a compreensão da trajetória “intelectual”de Júlio Ribeiro, é inconcebível separar do nome de autor o nome próprio, ouseja, o sujeito da obra dos dados biográficos. Isso porque, tanto no âmbito“estrito” de sua produção quanto no da esfera de seu reconhecimento poroutros, as intervenções e tomadas de posição do homem/escritor no cenáriosociocultural da época se enredaram na trama de sua experiência individuale social. Em síntese, o nome próprio e o nome de autor foram instânciasque se mesclaram; afinal, seus escritos, fossem os do jornalista, fossem osdo romancista – forma pela qual ele se expressou e se posicionou frente aodebate político –, constituíam os dados à disposição do universo letrado apartir dos quais se podia elaborar certa imagem de Júlio Ribeiro. Sobretudo,sua condição de homem de imprensa e professor dava-lhe o atributo de“homem público”, tornando ainda mais visadas suas atitudes. O nome deautor e o nome próprio, nesse aspecto, misturaram-se muitas vezes, emboranem sempre questões pessoais tenham sido, para Júlio Ribeiro, motivo parao desencadeamento de polêmicas.O trabalho de Silveira traz uma rica abordagem da figura polêmica de Júlio Ribeiro.Versa sobre sua vida e contribuição para o contexto sorocabano, mostrando-o como umintelectual que se posicionou diante do embate político na sociedade sorocabana no fimdo século XIX, o que é do nosso interesse destacar. A trajetória intelectual de Júlio Ribeiropoderia ser analisada por meio da imprensa sorocabana e de seus escritos literários, emborativesse uma atuação além das fronteiras da cidade de Sorocaba. Meu recorte a respeito dasua atividade intelectual em Sorocaba restringe-se ao enfoque que proponho neste trabalho:homem da imprensa sorocabana quando teve a oportunidade de ser redator de dois jornaisda cidade – O Sorocabano e Gazeta Comercial – e intelectual no campo literário.Nesse aspecto, a imprensa era o cenário de batalhas apaixonadas eenvolventes que muitas vezes se transformavam em verdadeiros “combatesbélicos” de idéias. Júlio Ribeiro e outros contestadores da época, alémde terem-se apropriado do repertório científico estrangeiro como suportepara a discussão de temas que consideravam essenciais em sua oposiçãoao regime imperial, incorporaram-no como valor ético e científico daspolêmicas (SILVEIRA, 2005, p. 16).A respeito da produção literária de Júlio Ribeiro, podemos destacar algumas obras:O Padre Belchior de Pontes (1876), Gramática portuguesa (1881), Cartas sertanejas (1885) eA carne (1888). Segundo Silveira (2008), as obras de Júlio Ribeiro eram bem recebidas nocampo letrado paulista, sobretudo o livro O Padre Belchior de Pontes e a Gramática portuguesa.O texto O Padre Belchior de Pontes foi publicado inicialmente na Gazeta Comercial entre1874-1875, jornal de propriedade de Júlio Ribeiro. Silveira faz o seguinte comentário sobreessa obra: [Páginas 37 e 38]

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