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Jornal Correio Mercantil
27 de janeiro de 1848, quinta-feira. Há 176 anos
São Paulo, 10 de março de 1820

Depois de ter visitado geológica e economicamente, quando me permitia o meu estado de saúde e as chuvas extraordinárias da estação, várias partes da ilhas de São Vicente e Santo Amaro, parti de Santos em canôa até o Cubatão, subi a serra, e cheguei a São Paulo ha 8 dias, onde me estou aprontando para visitar as antigas minas de ouro, que me podem ficar nas vizinhanças dos caminhos para Itú, Sorocaba e Piracicaba, segundo os desejos e recomendações de V. Ex.

Achei o caminho da grande serra em estado deplorável de ruína, como sempre terá com as grandes chuvas do clima e estações, e muito mais pelo plano primordial, com que quiseram concertar o caminho velho, que a ignorância bestial dos antigos abriu quase vertical à direção da serra, por um espinhaço tão agudo e estreito, como a ponte do Paraíso de Mafoma, que pelo íngreme e despenhadeiros profundíssimos e medonhos não consente estrada, que possa andar-se ainda em bestar sem evidente perigo de morte.

V. Ex. sabe que Santos fica 23 minutos de latitude mais ao sul que São Paulo, e 47 minutos de longitude de mais ao leste da mesma cidade: assim quando o caminho para subir a serra devia ser aberto mais ao Norte de Santos para encurtar a diagonal até São Paulo, pelo contrário andam-se para o Sul até o Cubatão boas 3 léguas, que se devem tornar a desandar para ir a São Paulo, além de se prolongar a diagonal. O pior é que escolheram o ponto mais alto da serra para corta-la quase verticalmente até o pico. Antes que se estabelecesse o contrato do Cubatão atual, pelo qual cada arroba paga um vintém e outro mais de novo imposto, e 6 vinténs por pessoa, sem que os contratadores tenham as canoas precisas para a passagem, havia os seguintes Cubatões, por onde se transitava até São Paulo:

1 - mais ao Sul, o Cubatão velho, chamado o Cubatão dos Padres, onde ha uma grande quebrada ou vale descendente, acompanhado de espinhaço comprido e pouco íngreme, que sobe obliquamente até acima da serra em parte, que alí é mais baixa que o atual pico.

2 - Mais ao norte do atual Cubatão, havia o chamado de Piassaguéra, onde a altura da serra é também mais baixa.

3 - Quase defronte a vila de Santos, entrando pelo rio de São José, se vai ter a outro Cubatão, que alguns chamam de Mogi e por onde em outro tempo passavam muitos viandantes, ou para Mogi das Cruzes ou para São Paulo; talvez seja nesta direção que se deva cortar a grande serra, por ser alí muito baixa, e se poder fazer uma boa estrada por terra até a fralda da serra e por ela acima, sem mais necessidade de embarque, do que a passagem do rio de Santos para a chamada ilha dos Padres, que lhe fica quase defronte.

4 - o Cubatão dos Pelaes no rio da Bertioga, mais ao norte, por onde há hoje uma picada que vai ter a Mogi das Cruzes em meio dia de jornada;

5 - Entre o de São José e dos Pelaes, no rio da Bertioga, a 3 léguas de Santos, na fazenda Caruara, que hoje pertence a meu primo o Padre Manoel Angelo Figueira de Aguiar, fez seu pai abrir uma picada através da serra, que lhe fica mui vizinha, por onde fez descer o gado de que precisava para a sua fazenda.

Estes são os Cubatões, que conheço; e talvez hajam outros pontos iguais e melhores, por onde se possa subir a serra com facilidade e se encurte o caminho para São Paulo, uma vez que os bons sertanistas, dirigidos por homens hábeis, os vão descobrir e examinar.

Demorei-me neste assunto, porque tendo informado a V. Ex. na minha carta antecedente do estado da estrada nova para o Cubatão, esta fica inútil, logo que se deva abrir outra passagem mais comoda, por onde possam passar carros através da serra.

Passemos agora a outro assunto: para desempenhar as vistas de V. Ex.ª acerca das minas da Capitania, revolvi o meu tesouro de observações manuscritas, que recolhera em Portugal, e tenho conversado com meu irmão Martim, que examinou muita parte delas, e com outros homens entendidos deses sítios, e tenho colhido como resultado que a capitania no seu litoral e para o sertão dentro, passando a grande cordilheira, é toda mais ou menos aurífera.

São as principais minas conhecidas as de Jaraguá, no ribeiro de Samambaia as antigas minas de Santa Sé, as dos Rochas na cadeia do Japi, as de Penunduba, as de Parnahíbe, as de Monserrate, Jacheri, Buturuna, as da fazenda do padre Godoi as margens do Tieté, as que ficam na Cutia para agrande serra de Vutucavarú, distrito muito rico em outro, segundo as tradições; e que talvez sejam as antigas minas de São Thiago e de Santa Cruz, de que fala o holandês Jean de Laet, as dos campos de Peratuva, que ficam de Sorocaba para o mar distantes três ou quatro léguas, as de Piracicaba, as de Araraquara, nas vertentes e fraldas desta serra, as das fraldas do morro de Araraçoava.

Itú, 9 de abril de 1820

Eis-nos chegados á famosa vila de Itú, aduar de árabes do mato com algumas poucas casas á Européia, depois de ter talado matas impérvias á cata de alguns grãos de ouro, sofrendo sol e chuvas contínuas mal comidos e dormidos. Meu irmão Martim continua para Piracicaba a visitar os engenhos que lá tem a nossa casa, e eu irei descansar alguns dias em Sorocaba, de onde conto ir visitar a fábrica de Ipanema, de dúbia nomeada.

Remeto a V. Ex. a copia do nosso Diário, desde São Paulo até Itú, por crer que a sua lição, deixada a parte geológica, pode ser útil ao estado, se quiser e souber aproveitar um dos os tesouros e dons espontâneos da natureza. Para satisfazer aos patrióticos desejos de V. Ex. já estou em ajustes acerca da compra de vários terrenos auríferos, e outros para estabelecimentos de gadaria. Quanto aos terrenos de Geraguá, que o general que foi desta província, o Horta de bestial memória, comprou por uma bagatela com toda a escravatura que tem, e depois soube vender no Rio de Janeiro e um bom homem de Parnaguá, dizem que

Santos, 10 de maio de 1820

Conclui a minha digressão pelos matos e serra do sertão da minha bela e barbora província e cheguei à 6 dias a Santos doente e cansado, e todavia prometi partir amanhã para São Paulo para ir assistir á festividade dos anos de S. M. Depois de chegado é que...

Folgo infinito que V. Ex. tenha vontade de anuir aos desejos das famílias alemãs, principalmente dos mineiros do Hartz, que querem estabelecer-se no Brasil. Dos que forem de beira-mar podem alguns casais estabelecer-se nas terras que ainda restam da fazenda da Cubatão que é de S.M.; e os da terra dentro e os mineiros, parte em Araçariguama perto de Parnayba, e parte em Curitiba., se ainda lá existem terras da coroa.

Os mineiros do Hartz se empregam em lavras minas de chumbo, prata, cobre e ferro, que não há descobertas na minha província, e só sim algumas de chumbo argentífero no Abaité e em Minas Gerais no Cuiabá, não se em que lugar. Algumas notícias ha, pouco seguras, de outros sítios do Brasil, em que ha chumbo, prata e cobre. Na minha capitania dizem haver prata nas fraldas da serra de São Francisco, no distrito ou bairro de Itapeva do termo da vila de Sorocaba, onde há dois socavões antigos chamados os "Buracos da Prata".

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