As famílias de povoadores em áreas de fronteira da Capitania de São Paulo na segunda metade do século XVIII (data da consulta) - 08/11/2024 de ( registros)
As famílias de povoadores em áreas de fronteira da Capitania de São Paulo na segunda metade do século XVIII (data da consulta)
8 de novembro de 2024, sexta-feira.
portugueses, inclusive o próprio Manuel Antonio de Carvalho, recenseado em 1774 comosargento mor e juiz ordinário da jovem vila.O segundo foco de nossa observação será a vila de Piracicaba, às margensdo rio de mesmo nome, algumas dezenas de quilômetros distante do rio Tietê, do qual éafluente10. Embora haja indícios de que a região tenha sido desbravada e ralamenteocupada desde finais do século XVII, é somente com o governo do Morgado que, com acriação do povoado, a consolidação viria a ocorrer. A ideia primeira do Morgado era criarvários entrepostos ao longo do Tietê para apoio às expedições que deveriam rumar parasua mais audaciosa empreitada, a fundação e manutenção do famoso Presídio doIguatemi, no extremo sul do atual Estado do Mato Grosso do Sul, pensado como parte deuma estratégia diversionista para com os castelhanos, com vistas a diminuir as exitosaspressões militares que estes vinham exercendo no rio da Prata.Para tanto, o Morgado nomeia, em 24 de julho de 1766, Antonio CorreaBarbosa como “Diretor e Povoador de Piracicaba” (NEME, 1974, p. 56). Barbosa crioua povoação a 1º de agosto do ano seguinte, levando em sua companhia “administrados,vadios, dispersos e vagabundos” (NEME, 1974, p, 57). Em carta de janeiro de 1768dirigida pelo Morgado a Barbosa, este é informado que lhe seriam encaminhados “ospresos vagabundos que constam da relação por mim rubricada” (NEME, 1974, p. 59).Esta prática de reunir os indivíduos problemáticos e enviá-los para as novas povoaçõesse mantém pelos anos seguintes, e não somente para Piracicaba. As listas nominativas dehabitantes e a reorganização das milícias foram parte central desse projeto, pois permitiamlocalizar e identificar quem eram e onde viviam esses indivíduos, possibilitando seurecrutamento forçado para integrar as experiências povoadoras.
Em carta enviada ao “Povoador de Piracicaba”, o Morgado informa, em setembro de 1771, que
com esta serão entregues a Vossa Mercê os presos seguintes:Mathias Pinheiro do Pillar por andar mal encaminhado com umamulher, deixando a sua a quem maltratava; Marta Maria de Oliveira, mulher do dito Mathias, porque andava malencaminhada com um sujeito, e por isso se ausentou de seumarido, e Luiz da Costa de Madureira por revoltoso, levantado,mal procedido, e vagabundo; este é de Sorocaba, e de lá podeVossa Mercê fazer conduzir a sua família, para que vão vivernessa Povoação (DI, vol. 92, 1978, p. 179).
Tratava-se, portanto, de uma política absolutamente explícita de limpezadas vilas de seus moradores tidos como problemáticos, que por uma razão ou outra nãose enquadravam nos padrões do bom-viver e caiam nas malhas do governador, sedentode mão-de-obra a ser enquadrada e tornada útil nessas aventuras no sertão.Com esta população descrita como desclassificada Barbosa deveria nãoapenas fortalecer o novo povoado, mas igualmente garantir a criação de dois outros,Avanhandava e Itapura, Tietê abaixo, também visando garantir as comunicações com oIguatemi (NEME, 1974, p. 59). Essa pretensão de garantir o acesso fluvial ao Iguatemirapidamente cederia lugar à ideia de um caminho por terra, mais direto e simples, aindano governo do Morgado. Desde então, Piracicaba permaneceria relativamente estagnada,pois não mais atendia aos interesses estratégicos oficiais. Os povoados propostos deAvanhandava e Itapura não saem do papel.A primeira lista de habitantes de Itu que abrange a nova povoação data doano de 1773. Ali, sob a denominação “Moradores de Piracicaba”, foram recenseadossomente nove domicílios, com um total de 183 pessoas. Apenas um destes domicílios nãoé descrito como possuidor de terras. Mas o mais interessante é o primeiro domicílio, ochefiado justamente por Antonio Correa Barbosa: é imenso, e abrange um total deimpressionantes 126 indivíduos, a maioria descritos como agregados, sendo 45 naqualidade de forros e sete como escravos. Obviamente que este grande fogo não pode serentendido como um domicílio único, mas sim como uma forma de o recenseador apontartodos aqueles que estavam sob o mando do “Diretor e Povoador”, inclusive aqueles“vagabundos” encaminhados pelo governador. Barbosa era o líder do empreendimento eeste grande contingente provavelmente era mantido sob seu controle direto.Ao que tudo indica, estes forros eram, em sua quase totalidade, índios.Cotejando-se a lista de 1773 com a de 1775, vemos que muitos destes agregados de [Páginas 8 e 9]