' ANTÔNIO ROLIM DE MOURA E AS REPRESENTAÇÕES DA PAISAGEM NO INTERIOR DA COLÔNIA PORTUGUESA NA AMÉRICA (1751-1764) - 01/01/2011 de ( registros) Wildcard SSL Certificates
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ANTÔNIO ROLIM DE MOURA E AS REPRESENTAÇÕES DA PAISAGEM NO INTERIOR DA COLÔNIA PORTUGUESA NA AMÉRICA (1751-1764)
2011. Há 13 anos
rio Paraguai, com intuito de apresar índios Coxiponés. Ali se estabeleceu devido àsignificativa descoberta de ouro no Rio Coxipó, onde se formou o primeiro núcleopopulacional, o Arraial da Forquilha.Após esse acontecido, muitas pessoas se dirigiram às novas minas e nelasexploraram minério nas margens dos córregos, dos quais o mais famoso era o daPrainha, afluente da margem esquerda do Rio Cuiabá. Nesse local, o bandeirantesorocabano Miguel Sutil descobriu “riquíssimas aluviões de ouro”, as minascuiabanas.64De acordo com a historiadora Maria do Carmo Brazil,

a partir da descoberta de Pascoal Moreira Cabral nasceu, a 8 de abril de 1719, o arraial de Miguel Sutil, onde se verificou a extração de grande quantidade de ouro. Cuiabá, além de transformar-se num expressivo polo de atração da gente de Piratininga, converteu-se também numa sólida baliza de posse lusitana. 65

Virgílio Correa Filho menciona ter sido no córrego da Prainha, lugar ondeMiguel Sutil descobriu ouro, que se iniciou o povoamento do que seria a futura Vilado Cuiabá. O autor afirma:Assim, principiou o povoamento ao flanco do córrego, que tomaria o nomede Prainha, cavado na peneplanície algonquiana, de cascalhos refertos deouro, em pepitas e granetes de vários tamanhos. A fama da sua opulênciaespalhou-se rapidamente entre os povoadores das imediações, e tambémdas localidades litorâneas, contaminados pelo entusiasmo aventureiro,comparável ao que depertara Sabaraçu.66Segundo a historiadora Elizabeth Madureira Siqueira, só na monção de1726, em que viajou Rodrigo César de Menezes, Governador de São Paulo,chegaram ao porto do Rio Cuiabá cerca de 3 mil pessoas, entre índios, negros ebrancos, num comboio com mais de 300 canoas. “A viagem demorouaproximadamente 5 meses, desembarcando no porto do Cuiabá, em novembrodaquele ano”. Em primeiro de janeiro de 1727, o Governador de São Paulo, RodrigoCesar de Meneses, elevou Cuiabá à categoria de vila, intitulando-a Vila Real doSenhor Bom Jesus do Cuiabá’’. Afirma Elizabeth Madureira Siqueira que, há muito [p. 36]

Todavia, as buscas por minério e índios para escravizar resultaram naexploração de outras áreas, além do Cuiabá, por sertanistas, essas mais ao oestedas terras da colônia, em direção ao Guaporé. “Na verdade, o ouro se esgotara naprincipal lavra, aquela situada dentro da Vila, mas em seus arredores, desde 1724,havia outras em atividade”, e mais aquelas descobertas na raia oeste. “Para os quese encontravam em Cuiabá em fins da década de 1720, porém, a situação eradesanimadora. Havia carências fundamentais: faltava água para as lavras, oabastecimento era difícil e cara a mão de obra”.77 Otávio Canavarros explica quepelos idos de trinta do setecentos, houve escassez do minério, situação que fezmuitos buscarem novas possibilidades em outras paragens, no extremo oeste dasterras do Mato Grosso.É o que está relatado nos Anais de Vila Bela:Saiu da Vila do Cuiabá Fernando Pais de Barros, com seu irmão Artur Pais,naturais de Sorocaba e, sendo o gentio Pareci naquele tempo o maisprocurado e já quase extinto, depois de conquistarem alguns nas suasvastas campanhas, cursaram mais ao poente delas, com o mesmo instinto;e arrancharam-se em um ribeirão que deságua no Rio Galera - o qual corredas nascente buscar o Rio Guaporé -, e aquele nasce das fraldas da serrachamada hoje a chapada de São Francisco Xavier do Mato Grosso, da parteoriental. Fazendo experiência de ouro, tiraram nela três quartos de umaoitava, na era de 1734. [...] Mandando ao dito brigadeiro [Antônio deAlmeida Lara], notícias do descoberto do dito ouro lhe enviou por amostrasos três quartos, pedindo-lhe ferramenta, pólvora e chumbo para podermelhor examinar e penetrar mais o sertão.78Frequentado desde o século XVII pelos bandeirantes, só com a descobertado ouro nesse rio foi efetuada a ocupação lusa da margem direita do Rio Guaporé. Onovo descobrimento deu início à segunda fase de exploração aurífera na região eestimulou a avidez dos sorocabanos que acabaram encontrando as minas dosribeirões de Santana e Brumado, onde mais tarde foi erguida Vila Bela daSantíssima Trindade. Ao longo do percurso entre a Vila do Cuiabá e a região de [p. 40]

Os monçoeiros descreviam as dificuldades pelas quais passavam naaventura de chegar às minas do Cuiabá, incluindo nesse panorama as adversidadesvividas nas águas, em corredeiras que balançavam as canoas, para desespero dosnavegantes.166 Esses caminhos se faziam por meio de mapas falados, relatos queindicavam os roteiros, as aventuras, as dificuldades e também ensinavam comotornar a viagem menos perigosa.Sendo 5 de agosto em que demos princípio a nossa derrota, hindo suaExcelência embarcar estava a Companhia embaixo no porto formada, e deram suas descargas, e depois se embarcaram em duas canoas, hindoSua Exclencia embarcar estava a Companhia embaixo no porto formada, ederam suas descargas, e depois se embarcaram em duas canoas, hindoprimeiro a canôa de Sua Excellencia com o Guia do Caminho todo muitobem vestido com farda azul, e chapeo de plumas tudo agaloado, esse hiapilteando, levava seis remereiros com vestia, e calção encarnada, ecarapuça, ou barrete, com as armas de Sua Excellência abertas em prata,logo se seguia a canôa da Missão, que hião dois Padres da Companhia, elogo a Canôa dos Officiaes da Salla, e atraz desta a Canôa de guerracapitania, em que comandava o Capitão de Dragões, e logo a dos criados, eatraz destas as demais de carga, nas quaes se embarcarão 1130 sacos demantimentos, fora o fato, e barrilame, e outras cargas mais, e atraz de todasessa a Canôa Almitanta em que comendava o Tenente da Companhia, nãodeixando ficar canôa para traz, e essa ordem sempre se executou.167Para o conforto e mobilidade da viagem monçoeira, os oficiais da Coroatambém contavam com o serviço dos remos executado pela mão de obra escrava deíndios e africanos.168 A respeito da mão de obra escrava usada por Rolim de Mourana viagem monçoeira, Zilda Alves de Moura afirma, baseando-se na mesma fonte,que Rolim de Moura e sua comitiva contaram com muita mão de obra cativa.169 Suaafirmativa está assentada na lógica, pois considerou que o Governador e os 190homens necessitassem levar na jornada fluvial, que posteriormente fariam, muitosmantimentos que haveriam de gastar em cinco meses. Contudo, com base na“Relação”, não é possível afirmar o percentual de cativos entre os remeiros, e muitomenos o percentual de pretos entre os cativos. Algumas canoaschegaram a levar noventa sacos de mantimentos, e trinta e tantas cargas debarris, e frasqueiras, e tendo eu deixado para vir de aluguel em outrastropas a maior parte das cargas tanto de El-Rei como minhas, e dos oficiais,sempre vos há de fazer de dificuldade, que em tão pouco se acomodasse omantimento, que haviam de gastar os cento e noventa homens em cincomeses, o que procede constar este de feijão, farinha e toucinho, e algumasgalinhas só para os doentes de maior perigo. A as da (sic) para a minhamesa este era o fundamento; porque o mais, que levava de paios, presuntos, biscoitos, e carnes de vinha-d’alhos era a proporção do que ascanoas podiam, e não do que era preciso.170A narrativa de viagem é a posição específica do colonizador: curioso sobre ooutro e seguro de sua superioridade. Nesse sentido, a superioridade dele servecomo ponto de discussão daquilo que lhe presenteia a visão, mostrando, por vezes,assuntos que apontam ou detalham os lugares a serem conhecidos. Essas palavrastambém são adequadas ao texto da “Relação da chegada que teve a gente de MatoGroço, e agora se acha em companhia do Senhor D. Antônio Rolim desde o Porto deAraritaguaba, até a esta Villa Real do Senhor Bom Jesus do Cuyabá”.171 Nela há umrigor de dados que impressionam aos olhos do leitor contemporâneo, na medida emque detalha a localização, descreve os lugares, precisa a origem dos nomes,notadamente das cachoeiras.

De acordo com esclarecimentos encontrados em Robert Lenoble, há que entender que quando o mundo é menos rígido e solicitante, há do homem um maior aproveitamento da intimidade com a natureza.172 É o contexto no qual se encontrava o militar Rolim de Moura, via-se tudo porque interessava tudo, cada pormenor das terras da América foi-lhe motivo de contemplação e descrição.

Algumas fontes, como a citada anteriormente, e a “Relação de Viagem” serviram às informações cartográficas, ciência que auxiliou no domínio e conhecimento das terras americanas. Distingue-se neste documento também o tempo, marcado pelas horas, em percurso feito entre as cachoeiras:

Partimos sendo tres horas do referido porto, e se deram muito salvas, as pessoas principais da Vila de Itéc, logo demandamos a Cachoeira Canguira Ufú, que ficava duas voltas do Rio abaixo, e tem vocábulo sua significação Caveira Grande, e logo Canguiramerim Caveira pequena sendo meyo diachegamos a pedra Itanhé egnh, pedra que falla, pela huma hora a pedra C’obauna cara suja, pelas duas horas Itaguaçaba pedra que passa o rio, e he Cachoeira Grande fizemos parada a passar todas as canôas de duas horas, e logo fizemos pouzo na Tapera do Alcaide mór 6 de agosto sahidado pouso 30 minutos par as sete, fomos a Pirapora Cachoeira Grandepeixe que esta faltando, de que se sirgue por cima das pedras por ser mais seguro, porque o canal estava muito furioso, saimos pelo meio dia passamos Muiguicara, buraco de rã, e a Cachoeira pequena, e no mesmo dia passamos os Pilóca, cachoeira onde se afogou hum clérigo, e tem muitas pedras, embucarnos em terra a passa a Trop, sahimos pelas 3 horas, e sendo 4 horas pouzo mato embaraçado, sete de agosto sahido dopouzo oito horas e um quarto, sendo três horas passamos a Cachoeira chamada a do Giacia, por se afogar hú homem desse nome, e he Cacheira pequena, tambem se afogou sendo meio dia Capibari Rio à direita, huma hora Serocaba Rio à esquerda fizemos parada a ajuntar as canôas, passamos a Pedreneira Cachoeira Grande, e paramos [...]. 173

O trecho a seguir faz perceber que na aventura pela paisagem monçoeirahavia a riqueza da fauna, depositária de muitas curiosidades. Representa umapaisagem múltipla, com espaços marcados por singulares sentidos, em que as avesocupam o seu principal enquadramento no episódio. O oficial português leva o leitora uma viagem aos habitats das espécies, informando, comparando e identificandoas de acordo com seus referenciais.A dois de janeiro, se matou um tamanduá, o bicho mais raro, que encontreidesde que ando pela América. O tamanho era de um porco grande ao qualse parece nas sedas, ainda que muito mais crescidas, e com suas malhas.O rabo é do feitio de uma pluma tão comprido e largo, que se cobre todocom ele. O focinho comprido e agudo. A língua em extremo delgada, e docomprimento de um côvado, ou mais. O seu sustento são formigas, queapanham metendo a língua pelo oco dos paus, em que elas estão, e emsentindo bastantes pegadas nelas, a recolhem. Com usarem de tão fracosustento são animais muito forçosos, de sorte, que matam as onças. Assimcomo as vêm se deitam de costas, e quando a onça lhe dá o salto, aapertam nos braços em que têm muita força, e com duas unhas, que têmem cada mão muito rijas, as atravessam até o coração. Foi morto de umacanoinha, vindo nadando pelo rio, o que se fez com grande facilidade,dando-lhe com um pau no focinho.174As caças podiam ser mais ou menos saborosas que as conhecidas noReino, enquanto outras foram identificadas a partir do seu tamanho. A paisagemmostrava-se agradável quando generosa e pródiga, ao ofertar quantidades evariedades para o paladar:De onze de agosto por diante comecei a ter caça, e depois poucos foram osdias, em que me faltou. Patos bravos maiores, e mais gostosos, do que osdo Reino; e outra casta de pássaros a que chamam jaós do tamanho deperdizes, e com algumas semelhanças no gosto; em certas paragens muitaquantidade de papagaios, os quais não são maus com arroz. Há emalgumas partes uma casta de barro que os pássaros comem; mas nemtodos gostam do mesmo, e lhe chamam barreiros daquela espécie de [p. 81, 82, 83, 84]

distâncias são elementos fundantes da imagem da capitania de Mato Grosso comoum grande, “incivilizado e longínquo espaço”. Essas imagens, recorrentes em todo odiscurso do Governador, foram projetadas em discursos que mediaram a política namais nova capitania, em imagens que começam a ser criadas quando chegou à VilaReal do Senhor Bom Jesus do Cuiabá.Essas são algumas representações na visão do Governador Antônio Rolimde Moura do lugar das minas do Cuiabá, da sua localização e da sua condiçãoeconômica. Das observações escritas pelo Governador, as representações apropósito da Vila do Cuiabá e o seu Termo não estão isentas de neutralidade. Todasas percepções passaram pelo seu filtro cultural, resultando em imagens. De formaque a imagem é uma representação do que viu, a qual, ao passar pelo seuimaginário, constrói novas projeções socioimaginárias.3053.2 MISSÃO DE SANTANAA região escolhida para a fundação da missão de Santana, conhecida comoSerra Acima, atual Chapada dos Guimarães, foi ocupada nos anos vinte dosetecentos, quando o Capitão-General de capitania de São Paulo, Rodrigo César deMenezes, doou a Carta de Sesmaria ao Tenente Coronel Antônio de Almeida Lara,paulista de Sorocaba, em 1726.Maria Amélia A. Alves Crivelente explica que o lugar da Serra Acima ouChapada dos Guimarães, distanciava da Vila do Cuiabá 9 léguas. Lugar deagradável temperatura, de solo rico e onde a prosperidade com a produção deengenhos de cana-de-açúcar e o número da escravaria negra africana melhor sedestacou em toda a capitania. Nas sesmarias produziu-se gado, cana-de-açúcar eaves. “A ocupação da região, portanto, dá-se quase que simultaneamente àsdescobertas auríferas em Cuiabá no início do século XVIII”.306 [p. 143]

competentes na invasão e destruição de aldeias, especializavam-se em determinadaárea geográfica habitada por certos povos indígenas. Acumulavam dados einformações que lhes permitiam classificar os povos indígenas de acordo com suascondições de resistência, avaliar os efetivos populacionais para cálculo de lucros,traçar planos eficientes de assalto e captura.495Eram especialistas que trabalharam em busca das riquezas do sertão,deixando rastros de sangue por onde passavam, dada a ação violenta quepraticavam contra os índios, os quais escravizavam e vendiam em praças públicas,a exemplo de Cuiabá e de São Paulo, onde posteriormente trabalhariam naprodução agrícola.Continuandose neste anno do Gentio Paresi de onde eraó trazidos muitosindivíduos desta nascam que como escravos se vendiaó: chegaraó a estavila vindos do dito sertaó o Licenciado Pais de Barros seo Irmaó Artur Pais,seus sobrinhos João Martins Claro e José Pinheiro todos naturais da vila deSorocaba e apresentaraó hum cruzado de ouro e amostra das minas deMato groso Lavado com hum prato de estanho no lugar adonde se acha acapela de Santa Anna.496Contudo as ordens da rainha não foram devidamente obedecidas. Os índiosParesi foram considerados os mais mansos e dóceis entre os demais índioshabitantes das terras de Portugal e também foram, entre outros, um dos grupos maisatingidos pelas ações de apresamento e posterior escravização, levadas a cabopelos colonos, em especial pelos sertanistas da Vila de São Paulo. Referências arespeito da escravidão indígena são muito frequentes na documentação levantada eé conteúdo tratado no documento que segue. Além dos Paresi, que não foram osúnicos escolhidos para tal comércio, há mais nações mencionadas:E como chegamos a este ponto, e me consta o zelo com que VossaExcelência protege estes miseráveis tão perseguidos de todos, me épreciso dizer a Vossa Excelência que em várias ocasiões têm sido vendidoem praça pública. E ainda que pouco tempo há examinando essa matéria,declarei a maior parte por livres, sempre me ficou a respeito de algunsbastante dúvida por me apresentarem uns papelinhos a que chamamregistros, e que eu verdadeiramente ignoro a fé que têm, e ascircunstâncias em que a merecem principalmente ouvindo agora a JoãoMoura, que somente o Gentio Mura é nessa capitania reputado por cativo.Pelo que desejo que Vossa Excelência me diga os que hei de ter nestacomboeira poder resolver-me sempre com segurança nesta matéria. Daquitambém farão a mesma diligência de introduzir nesta capitania por cativosos que puderem. Porém é certo que nestas só o estão declarados por Sua Majestade o Caiapó, e Paiaguá, mas destes em todo o meu Distrito sãoraríssimos, e nessas minas me não consta haja alguns, nem que para baixotenham rodado.497Ainda a respeito do assunto da escravidão praticada por sertanistas, Rolimde Moura diz fazer-se respeitado pelos homens, que deveriam declarar suas posses:escravos e índios que tinham em seu poder.E para evitar do modo possível os diferentes caminhos, que buscam paracontraírem as repetidas ordens, que há a este respeito, não deixo de cá sairpessoa alguma sem que me declare assim os escravos, como os índios,que leva em sua companhia, para que pelo mesmo despacho se conheça oque lhe permito, e assim todo aquele que for achado sem o dito despacho,ou com mais, ou menos índios do que dele consta, me fará VossaExcelência grande favor se proceder contra ele. E lá se acha um BentoOliveira com bastantes que daqui levou, enganando-se para isso, que nãosei se a esta hora terá traçado a maior parte por fazenda, sendo eles dosque estavam determinados para uma aldeia, que já tem o seu princípio. Arespeito dos que lá vierem sem a permissão de Vossa Excelência me dirácomo quer que eu me haja.498Na política de configuração da expansão territorial portuguesa, o sertão, navisão de Antônio Rolim de Moura, deveria ser desinfetado. Em defesa do projeto deexpansão, o Governador assume a importância da redução dos índios mansos,incluindo nesse enredo os índios Paresi, por entender que isto afirmaria a conquistados lusos das terras próximas aos vizinhos espanhóis. Ao contrário de outrosgentios, tidos como bravios, infiéis, quase impossíveis de se tornarem cristãos, osíndios da nação Paresi foram vistos por Rolim de Moura como os mais predispostosà inclusão nos fundamentos dos valores conceituados como “civilizados”, inclusivepor serem os de maior inclinação aos ensinamentos da fé católica.As nações indígenas representavam também a própria continuidade doprojeto colonial na fronteira oeste da colônia portuguesa. Para a região de MatoGrosso, se não fossem os índios, certamente a população que vinha de outroslugares não teria sobrevivido devido às inúmeras dificuldades advindas do processode expansão por território inóspito e dificultoso. Tal dependência se manifestava dediversas formas, dentre as quais se destacavam aquelas pertencentes ao universodo trabalho. Compunha a força de trabalho empregada em atividades vitais para osucesso da colonização: os índios remavam, pegavam em armas, serviam comoguardiões na fronteira e de guias para o reconhecimento do território. Produziam [p. 233, 234]

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