Sorocaba é uma das poucas cidades do Brasil com um bairro denominado com nome de uma das "tribos" que aqui habitavam antes da chegada dos europeus. Em meados de 1975, o atual bairro conhecido por Jardim Tupinambá, ainda era conhecido por Lopes de Oliveira, família a qual pertence Helena Lopes de Oliveira (1850-1908), que denomina um bairro limítrofe.
Tribos
01/01/2018
Créditos/Fonte: Guerras no Brasil - Guerras de conquista
(mapa(.241.
Sobre este assunto, é importante observar o que escreveram três importantes autores. Iniciando por Luís Castanho de Almeida (1904-1981), em sua "História de Sorocaba" (1969):
"Provavelmente, passava por estar imediações o habitat da grande tribo dos carijós, que se estendia desde o Itanhaen até o Guairá e Rio Grande do Sul. Pobres criaturas, foram os primeiros escravos e em povoação tão grande que, até o século XVIII, se chamavam carijós os escravizados da raça vermelha de um modo geral. Esses escravizados é que foram os fundadores humildes de Sorocaba, ficando nas fazendas e sesmarias da redondeza, socando as primeiras taipas, aumentando a população entre si e, aqui também, servindo a sensualidade de brancos e mamelucos."[28282]
E também Washington Luís (1869-1957), 11° presidente do Brasil, que escreveu “Na capitania de São Vicente”, uma obra de pesquisa rigorosa, de análise criteriosa e de valor histórico indiscutível. Está ela repleta de citações que avalizam as opiniões emitidas, de observações que, estribadas na documentação autêntica e nos testemunhos de coevos fidedignos, retificam erros consagrados. Tudo com a indicação das fontes. Preocupado, aliás, que sempre tinha em mente. "Para documentar minhas opiniões - manisfestaria a Luiz Castanho de Almeida em 12 de março de 1957 - cito sempre o autor, o livro e as devidas páginas em que me apoiei".
Em um ponto de seu livro, Washington Luís Pereira de Sousa (1869-1957) "Nos campos de Piratininga, no vale do Tietê, entravam os Tupiniquins. Os tupinambás, a leste, sempre inimigos dos portugueses. Ao sul e sudoeste de São Paulo os Carijós - quase sempre também inimigos". E continua: "Depois das grandes lutas entre Tupiniquins e Carijós, os Tupiniquins povoaram a região de Sorocaba e seus sertões". [Página 14]
E José Monteiro Salazar (1927-2013), em Araçoiaba e Ipanema (1997):
De posse de todos esses dados e afirmativas, somos levados a crer o seguinte: Os nativos Tupiniquins tomaram posse da região de Sorocaba partindo do litoral para onde haviam vindo, desde a Bahia e, após a luta contra os Tupinambás, ali se fixaram. Muitos eram aliados dos portugueses nas lutas contra os carijós e Tupinambás. Outras tinham sido reduzidos à condição de escravos. Mas, às vezes, revoltavam-se contra os portugueses. [25788]
Quando
A possível ligação está na busca de Gabriel Soares de Sousa (1540-1592) pela Sabarabuçú, a nomeação e vinda de Francisco de Souza, 7° Governador-Geral do Brasil, já sincronizadas por Francisco Adolfo de Varnhagen (1816-1878).
Gabriel Soares de Sousa teria chegado ao Brasil por volta de 1557, era primo de Belchior Dias Moréia, conhecido como "Caçador do El Dorado", e com ele aprendeu a varar os sertões em busca de ouro e prata. Belchior, que veio se estabelecer na terra. Após dez anos de pesquisa, anunciou a descoberta das minas de prata. As supostas minas jamais foram encontradas. Se foram descobertas, como afirmava ele, o segredo ficou guardado. Belchior Dias Moréia foi preso e passou dois anos na cadeia.
No leito de morte, um irmão de Gabriel, Pero Coelho de Sousa, enviou-lhe um mapa contendo a localização desta montanha. Pero havia feito explorações no sertão, onde presumira haver descoberto minas preciosas. Quis Gabriel Soares prosseguir as suas explorações e descobrimentos e, de posse to roteiro do irmão, em março de 1587, estava em Madrid, convencendo o rei com "Notícia do Brasil", também conhecido como "Tratado Descritivo do Brasil", e enfim conseguira favores de homens e título para governá-los.
Assim, Gabriel é o primeiro cronista civil da terra. Alguns episódios da história só são conhecidos através de suas páginas. Capistrano de Abreu chamou a esta obra a enciclopédia viva do século XVI. Era extremamente observador e devia ser homem de boas leituras porque seu livro não é somente uma das mais valiosas fontes de informação sobre o Brasil de seu tempo, mas ainda um dos mais bem escritos, contendo algumas expressões que o leitor jamais esquecerá.
Assim narra Castanho de Almeida:
D. Francisco de Souza, encontrara-se em Madri com Gabriel Soares de Souza, negociante na Bahia, autor do Tratado Descritivo da Terra do Brasil, irmão de Pero Coelho de Souza que procurava prata e outro na lendária Sabarabuçú, tendo falecido na volta cem léguas da capital. [9049]
O primeiro branco era o português Afonso Sardinha. (...) Segundo Pedro Taques de Almeida Pais Leme (1714-1777), chegou em 1589.
,
Todos iam morrendo
Em 9 de junho de 1591 Dom Francisco de Souza tomou posse na cidade de Salvador se tornando o 7° Governador-Geral do Brasil e Gabriel veio a naufragar em algum lugar do Brasil. (...) em 1592 auxiliou Gabriel Soares a reconstituir a expedição, na qual Soares também morreu. Todos iam morrendo no sonho da Sabarabuçú, como repete em ritornello Paulo Setúbal. [9049] As primeiras minas de prata haviam sido descobertas por Gabriel Soares de Sousa, que morreu em 1592 [27074]. Seu testamento foi aberto em em 10 de julho de 1592.
vila helena - 14 de outubro de 1597
Castanho de Almeida
Descobertas as minas, pela legislação (Ordenações Filipinas confirmando, as Manoelinas) devia o "felizardo" comunicar à autoridade, que distribuiria os lotes. Parece que a Câmara de São Paulo demorou a enviar um portador à Bahia. Somente em 1597 recebeu a grata notícia o Governador Geral (...) mesmo ano que enviou Martim de Sá no rastro de Diogo Soares. [9049]
Em 14 de outubro de 1597 enviou Martim Correia de Sá (1575-1632) no rastro de Gabriel Soares de Sousa (1540-1591). Martim de Sá é pai Salvador Correia de Sá e Benevides (1594-1688), quem autoriza o povoado ao redor da capela de Sorocaba ser elevado à categoria de vila, em 3 de março de 1661.
Salvador Correia, a quem se deve a oficialização dos esforços anteriores, tem retrato verdadeiro, mas não se pode reduzir a um esquema único o motivo da fundação de Sorocaba.
Integrava essa expedição o pirata inglês Anthony Knivet (1560-1649), momentaneamente escravo de Martim de Sá. Knivet tinha como seus companheiros uns nativos tupinambás, que, curiosamente, pretendiam fazer o mesmo que os japoneses do navio de Cavendish, atravessar o continente até atingir as lendárias riquezas do Peru. Desgarraram-se, chegando a região de Sorocaba. [23864]
Teodoro Fernandes Sampaio (1855-1937), no Primeiro Congresso de História Nacional: Explorações Geográficas, Arqueológicas e Etnográficas (1915):
Nessa montanha, descrita então como muito alta e toda despida de arvores, é que Anthony Knivet encontrou a cruz ali assentada por Pedro Sarmento, com uma inscrição assinalando a posse do rei de Espanha e uma pequena capela com duas imagens, uma de Nossa Senhora e outra de Cristo Crucificado, fato que muito aterrou os tamoios, os quais julgaram ver nestes sinais, a vizinhança de alguma povoação portuguesa, e, portanto, o perigo iminente de caírem em poder dos seus inimigos tradicionais.
Castanho de Almeida concorda que o objetivo era Sabarabuçú:
Em outubro de 1598, sonhando em atingir Sabarabuçú como pela retaguarda, e avantajando em demasia a pequena mineração dos Sardinha, crendo fazer da capitania de São Vicente um novo Perú, embarcou para o sul, com uma comitiva de soldados portugueses e nativos mansos para o transporte de pessoas e cargas e os primeiros trabalhos, não sem enviar antes, como administrador das minas, Diogo Gonçalves Laço, que chegou à vila de São Paulo em 13 de maio daquele ano. No Espírito Santo deteve-se o Governador, enviando na direção da Sabarabuçú a Diogo Martim Cão. Parou pouco no Rio. De Santos a Cubatão, viajou em canoa. Subiu o péssimo caminho da Paranapiacaba em rêde. Nos arredores de São Paulo teria cavalgado.
Enfim, em 3 de junho de 1599, chegam à Sorocaba e um pelourinho é levantado. Dalí, em novembro, uma expedição de Salvador, Martim de Sá e o pirata Anthony Knivet, enviada por D. Francisco de Souza. [24848]. Em 14 de agosto de 1601, Martim de Sá partiu para Portugal com nove barris de prata que D. Francisco de Sousa lhe confiou, trazidos do Alto Peru.
D. Francisco elevou o novo local com o nome de vila de São Filipe: “Entre 1611 e 1654, tudo é silêncio, menos as sesmarias de André Fernandes, uma das quais êle doou antes de 1648, ano de sua morte, a Baltazar”21 de abril de 1611,
Diferenças
Apesar de terem raízes comuns, as diversas tribos que compunham a nação tupinambá lutavam constantemente entre si, movidas por um intenso desejo de vingança, que resultava sempre em guerras sangrentas em que os prisioneiros eram capturados para serem devorados em rituais antropofágicos. [28673]
Sobre seus hábitos alimentares, em 1628 o Padre Francisco Carneiro SJ teceu este comentário:
"... os carijós, em entremo comilões, por natureza e por uso tão habituados nesse exercício, que como animais do campo gastam o dia inteiro e parte da noite em comer, sem interpolação ou distinção de tempos que monte!" quarta-feira. Há 471 anos
O padre Manuel da Nóbrega (1517-1570), com espírito empreendedor, sonhava ir mais longe de São Paulo, para atuar junto a povos de cultura menos “bárbara”, isto é, mais próximos do modo de viver europeu, com ter um único chefe, adotar a agricultura e, sobretudo, não realizar rituais antropofágicos. Referindo-se aos Carijós, em 10 de junho de 1553 Nóbrega escreveu ao Padre Luís Gonzaga da Câmara:
“(...) dia alguns dias depois chegaram alguns homens que tinham ido ao continente para descobrir as novidades do ouro, onde passaram dois anos, e nos deram grandes notícias da bondade que encontraram (...) E entre outras coisas diz[ n ] que os gentios não comem carne humana, pelo contrário, que lhes fazem muito mal e os comem, se conseguem pegar alguma não os matam nem os comem, e os tratam muito bem (...). Eles têm grandes populações e têm um diretor a quem todos obedecem. (...) Eles são agricultores e fazem manutenção” (NÓBREGA, Carta ao Pe. Luís Gonzaga da Câmara, 10.06.1553, CPJ, v. 1, p. 493). [“Os Tupi de Piratininga: Acolhida, resistência e colaboração”, 2008. Benedito Antônio Genofre Prezia, PUC-SP. Página 159]
Tinham a pele mais clara que o restante dos nativos brasileiros. Por suas qualidades naturais, o carijó foi a maior vítima da sanha escravagista bandeirante, que nele viu o melhor braço para o serviço em suas fazendas.
Caciques
Ha na História silêncios inexplicáveis. Está neste caso a obscuridade que rodeou a pessoa e o nome do cacique dos Carijós, visto que a cronica não refere senão quatro caciques, Tebir-içá, Piqueroby, Cayubi e Konyan-Bébe após Martim Afonso de Souza aportar no Brasil em 1531.
Cunhambebe foi famoso, chefe tupinambá, tendo sido a autoridade máxima entre todos os líderes tamoios. Noticia-se que, em rituais canibais de sua tribo, tenha devorado mais de sessenta portugueses. É citado na obra do religioso francês André Thévet e na obra do aventureiro alemão Hans Staden (1525-1576).
O cacique Tayaoba tinha 28 filhos com diferentes mulheres e era senhor de 80 caciques, 60 dos quais aceitaram se reduzir. Para marcar o local da redução foi erguida uma cruz de sete braças de altura com acompanhamento de 300 índios. O padre Montoya observava que os tayaobas, antes inveterados antropófagos, haviam estabelecido fortes laços de amizade com seus antigos inimigos [Reduções jesuítico-guarani: espaço de diversidade étnica, 2011. André Luis Freitas da Silva. Páginas 104, 105, 106 e 107]
Carta do Padre Manoel da Nóbrega ao Padre Luís Gonzaga da Câmara 10 de junho de 1553, quarta-feira. Há 471 anos
Está conosco um principal dos nativos chamados Carijós (carijis), o qual é senhor de uma vasta terra, e veio com muitos dos seus servidores só á nossa procura, afim de que corramos ás suas terras, para ensinar, dizendo que vivem como bestas feras, sem conhecer as coisas de Nosso Senhor. Diogo-vos, caríssimos Irmãos, que é um mui bom cristão, homem mui discreto e nem parece ter coisa alguma de nativo. Com ele resolveu-se o nosso Padre Manuel ir ou mandar alguns, e só espera a chegada do Padre Luiz da Grã.