História e curiosidades da agricultura brasileira. Por Juliana Royo, diadecampo.com.br
4 de novembro de 2010, quinta-feira. Há 14 anos
Das tecnologias indígenas ao atual debate sobre Código Florestal, livro conta fatos inéditos e desmistifica temasPesquisar o passado, contar histórias e analisar o presente é um dos passos mais importantes para construir o futuro. É com esse pensamento que alguns pesquisadores brasileiros se reuniram para publicar o livro Novos Ângulos da História da Agricultura no Brasil, lançado pela Embrapa no início de outubro. A publicação aborda os principais acontecimentos da atividade desde a tecnologia utilizada pelos índios, antes da chegada dos portugueses ao país, passa pelos principais ciclos econômicos como a borracha, café, cana-de-açúcar e pau-brasil, conta curiosidades e chega ao atual debate sobre o Código Florestal Brasileiro.— A gente acredita que existe a necessidade de se conhecer a história para sabermos onde nós estávamos e onde estamos para sabermos melhor para onde nós iremos. Existe uma série de mitos e coisas desconhecidas que vale à pena a gente compartilhar. Nós ressaltamos a grande contribuição pré-cabralina em que, seja através de sítios arqueológicos ou de tecnologias usadas pelos índios como a terra-preta, já se mostrava que existia um conhecimento importante que era compartido. Destacaria a quantidade de informação que existia já gerada, por volta de 1.550 a 1.580, por aquele que consideramos o primeiro brasilianista que é o Gabriel Suarez de Souza, com uma quantidade de detalhes impressionante. Mas a dificuldade de acesso também impressiona. Ainda hoje, apesar do mundo informatizado, nós não temos muitas informações digitalizadas. A gente tentou fazer uma linha de tempo que mostra alguns dos principais acontecimentos relacionados a esta história. Apesar do ciclo do pau-brasil, cana, mineração, café, borracha que obviamente foram extremamente muito importantes, a riqueza da agricultura brasileira é muito maior do que estes ciclos — explica o pesquisador da Embrapa Hortaliças, Francisco Reifschneider, um dos autores do livro.Um dos mitos que o pesquisador Reifschneider diz que descobriu é em relação às hortaliças. Segundo ele, há uma crença de que foi a imigração japonesa, no início do XX, que influenciou o consumo e produção de hortaliças no Brasil, com o incremento de novas variedades. No entanto, durante as pesquisas para o livro, os autores descobriram que durante o Brasil-Império já havia uma grande diversidade de hortaliças. Reifschneider conta que em 1.850 já existiam cerca de 250 variedades de alface que eram plantadas no país e diz que, atualmente, talvez não tenhamos nem 10 variedades. Outra informação relevante que os pesquisadores descobriram foi o primeiro registro sobre degradação ambiental no Brasil, há cerca de 400 anos. O registro é sobre o assoreamento do porto de São Vicente, em São Paulo, devido à dificuldade que as naus portuguesas tinham para aportar para a produção de cana-de-açúcar.— Acho que o grande fator interessante é o fato do livro desmistificar que a agricultura brasileira sempre esteve sempre muito atrelada aos grandes ciclos econômicos e sempre teve muita coisa paralela importante acontecendo com tudo isso. Desde o próprio Maurício de Nassau, a criação do pró-álcool e pesquisas sobre eucalipto que ajudaram a construir a nossa agricultura nos moldes que ela está hoje. Um dos pontos-chave da história da agricultura brasileira, na minha opinião, é a Expedição Cruz. Ela possibilitou o avanço para a Região Central do país, que hoje é responsável por grande parte da nossa agricultura — diz Rodrigo Ferraz, aluno da Universidade de Brasília e co-autor do livro. CuriosidadesO livro também brinca com o leitor, com o objetivo de se aproximar dos universitários e jovens que se interessam pela a agricultura brasileira. A linguagem é bem simples e direta e os textos são ilustrativos. O marcador de texto que vem com o livro é a imagem de uma pimenta, onde há uma explicação sobre a brincadeira proposta na publicação. Todos os autores do livro trabalham ou já trabalharam com pimenta, então, decidiram incluir ao longo do livro diversas pimentinhas pelas páginas. Quem conseguir encontrar o número correto de pimentinhas vai receber um prêmio surpresa da equipe. Basta o leitor dizer o número exato de pimentas enviando um email para a equipe (o endereço do email está no marcador de texto). A publicação já está disponível para compra. Os interessados não precisam ir até a Embrapa. O livro será revendido em outras livrarias do Brasil, através de parceria. Para saber as informações completas sobre o livro é necessário ligar para a sede geral da Embrapa em Brasília ou se informar pelo site www.embrapa.br . — Um dos fatos interessantes identificados no livro é a origem histórica da extensão rural e apoio ao conhecimento dado aos produtores. Normalmente, a gente atribui isso a uma coisa muito recente da década de 40 que é a criação de organismos específicos em Minas Gerais, mas os estatutos dos imperiais institutos de agricultura, em particular o Imperial Instituto Fluminense de Agricultura, de 1860, já claramente demonstrava a preocupação do governo brasileiro em fazer com que a informação chegasse a todos os produtores e dizia que era indispensável os princípios gerais e as noções para que o trabalho se tornasse mais suave, mais útil e mais vantajoso. A introdução de materiais no Brasil, como o famoso coco da Bahia, teve participação dos jesuítas, que criaram uma rede pré-Jardim Botânico do Rio de Janeiro. As pessoas acham que está rede só começou a acontecer a partir de 1808 com a vinda da família real e com a implantação do Jardim Botânico, mas não é verdade — esclarece Reifschneider.