da invasão holandesa caira despedaçado por um pelouro - lê-se: "Castrioto"- quando com os capitães Rebelinho e Lu (s Barbalho participava dum assalto às fortificações do inimigo na ilha de António Vaz. Morte que por ficarsem prêmio nem lembrança dei Rei "escandalizou o Brasil", exclamaria anosdepois Francisco de Brito Freire. Desamparada também era D. Mécia deMoura, viúva de Cosme Dias da Fonseca, Cavaleiro da Ordem de Cristo, Fidalgo Cavaleiro da Casa Real e meio irmão do concunhado Antônio. Exceçãodesses casamentos endogámicos cita-se apenas entre as emigrantes D. Catarina Barreto, filha de João Pais Barreto - o João Pais do Cabo - a qual tiverapor marido o fidalgo D. Luis de Sousa Henriques.A O. Catarina Barreto temos de nos referir de vez em quando no decurso desta exposição, mas vamos prometer desde logo que para isso não nosvaleremos nem do arco-(ris, nem de mariposas poéticas de Hugo, ou de Musset.João Pais não fez parte daquela "gente nobre e luzida" que veio paraPernambuco com Duarte Coelho, mas já em 1557 estava ele em Olinda,quando não mais vivia, aliás, o primeiro donatário, que morrera em Lisboa.A administração da Nova Lusitânia era então exercida por D. Brites e só em1560 o olindense Duarte Coelho de Albuquerque, primogênito de DuarteCoelho, viria de Portugal para assumir o governo da Capitania hereditária.Por ordem expressa, aliás, da rainha D. Catarina, assustada com as notíciasque chegavam a Portugal sobre as intermináveis tropelias e carnificinas praticadas aqui pelos selvagens.Tinha pouco mais ou menos 13 anos João Pais quando chegou a Olinda. Consigna a "Nobiliarquia Pernambucana" que ele era natural e da melhornobreza de Viana, descendente dos morgados da Bilheira, senhores da torrede Constantino Barreto, 18v. 2 p. 26- filho de Antônio Velho Barreto, morgado da Ribeira na vila de Viana e de Mariana Pereira da Silva, da Casa de Regalados". 18v. 1 P- 13 Por não ser o filho mais velho, e visto que no morgado opatrimônio vinculava-se sucessoriamente ao primogênito, abalou João Paispara o Brasil como tantos fizeram antes dele e depois, quando era muita agente que frei Vicente do Salvador dizia ter acudido de Portugal e doutrasCapitanias brasileiras, atraída pela boa fama das terras de Perna rr)u Co. P 200Uma vez em Pernambuco, o menino minhoto foi crescendo na idadee nos haveres, tendo chegado a ser um potentado rural, senhor de muitas terras e escravos, e de quem diria Brito Freire muitos anos depois ter enriquecido sabendo "(o que é tão dificultoso) juntar a virtude, com a riqueza". 19p-344 [p. 2 do pdf]
freguesia de Santo Antonio do Cabo de Santo Agostinho, tudo levando acrer que a outra, a de São João "no engenho de Estêvão Alvo", 14 P. 131assinalasse a sede do futuro engenho Jurissaca. Com os três mencionadosno codicilo de 1617 somam oito, portanto, os engenhos que podem semvacilação ser tidos como próprios do colono João Pais.Parece certo que em 1586 Cristóvão Lins e sua mulher, D. Adrianade Holanda, tinham vendido por 3.000 cruzados a João Pais o engenho Pirapama, 11 P 275 cujo sítio da sede pode ser apontado ainda hoje pela tradiçãoà margem do baixo curso, mas esse engenho não está relacionadono codicilo.Neste, do que se fala também é de molinotes, pequenas moendas rudimentares que aparentemente não mereciam ser chamadas de engenhos, bem comode terras ao longo do rio Tabatinga, que desemboca logo ao sul do cabo deSanto Agostinho, e ainda do rio Una e de um seu afluente, o Caraassu.Essas terras também foram distribuídas por João Pais e agora já étempo de procurarmos saber quantos eram e quem foram seus filhos, seusherdeiros.
Tampouco nesse particular reina consenso entre as fontes históricas."Sete varões e uma fêmea", segundo Jaboatão. Oito ao todo, lhe atribuemcoincidentemente Frei Vicente do Salvador, Brito Freire e Borges da Fonseca. Conforme Pereira da Costa, ora teriam sido oito, ora nove. 12 v.1 P. 399 e 489E o "Hagiológio de Jorge Cardoso inventaria dez: seis filhos e quatro filhas.Na ordem em que os enumera a "Nobiliarquia Pernambucana". 18v.2 p. 27os filhos de João Pais chamaram-se João, Estêvão, Cristóvão, Miguel, Diogo,Filipe, Catarina e Maria. As "Memórias Diárias" de Duarte de AlbuquerqueCoelho, Marquês de Basto, Conde e Senhor de Pernambuco, falam tambémde oito, mas omitem Maria e incluem um Antônio. É no codicilo de 1617,porém, que tudo se esclarece: os filhos do velho João Pais eram oito homense duas mulheres. E aos que já foram nomeados acima acrescenta-se apenasum, chamado Julião.
Mencionada no codicilo como D. Luisa de Sousa, por integral assimilação do nome do marido, ficaria iaiá Catarina com "seu dote inteiramente", recomendando o testador que todos os filhos assim houvessem por bem, nada intentando contra o dote da irmã, sob pena de não poderem merecer a bênção paterna. 31 P. 15 Casara-se ela em 1614 com D. Luís de Sousa Henriques, 5°. filho de D. Francisco de Sousa, descendente dos condes do Prado e senhor de Berenger, e de O. Violanta Henrique, como apurou o padre Lino do Monte Carmelo Luna 27 P. 238n. 1 à vista da "História Genealógica da Casa Real de Portugal".
De 1591 a 1602 fora D. Francisco o sétimo governador geral do Brasil, "o mais benquisto´ e "o mais respeitado e venerando´´, segundo Frei Vicente-do Salvador. flp 348 Em 1608, ao instituir junto com a administração das minas de S5Ó Paulo um governo especial das Capitanias deSão Vicente, Espírito Santo e Rio de Janeiro, Filipe II de Portugal (III daEspanha) nomeou Capitão e Governador "do distrito das três Capitanias" aD. Francisco de Sousa, do seu Conselho, o qual um ano depois partiu de Lisboa para investir-se nas novas funções. D. Francisco tinha recomendações expressas para "ir em direitura aos portos do seu distrito" - talvez porque afama da riqueza e dos festins de Olinda costumasse desviar de suas rotas muitos dos que vinham ao Brasil cumprir missões dei-Rei - mas a 19 de fevereiro de 1609 seus navios inesperadamente ancoraram no porto de Pernambuco e com muitos festejos e homenagens o receberam em Olínda. De onde,por sinal, não recomeçaria a viagem para o Sul senão depois de um mês oumais.Há seis anos Duarte de Albuquerque Coelho, filho de Jorge de Albuquerque, tivera confirmação régia como quarto donatário da Capitania, masnão sabemos se estava presente em Pernambuco, porque até a invasão holandesa, em 1630, foi mais de uma vez substituído temporariamente no governo. Viera D. Francisco com duas caravelas, numa das quais navegava seu primogênito, D. António, e na outra viajava ele próprio com o filho adolescente, D. Luis, que acabava de abandonar os estudos em Coimbra para abraçar acarreira das armas. Tudo leva a crer que nessa ocasião o jovem D. Luis conheceu e namorou Catarina, filha de João Pais, que era dos principais da terra edos proprietários mais ricos da Capitania.
Em 1611 morreu D. Francisco na vila de São Paulo, "estando tão pobre" - escreveu Frei Vicente - "que nem uma vela tinha para lhe meterem na mão". Ausente D. Antônio, que na forma das prerrogativas outorgadas por el-Rei devia suceder a D. Francisco, evocou o governo D. Luis, mas sua gestão foi curta, porquanto logo vieram instruções de Lisboa para desobrigarse das três Capitanias. Em 1612, com efeito, foi reunificada a colônia e assumiu no ano imediato o décimo governador geral do Brasil, Gaspar de Sousa.
Em vez de voltar a Portugal, D. Luis "passou a Pernambuco por contrato ecasou com D. Catarina Barreto", lê-se na "Nobiliarquia" 18 v. 2 p. 33.De sorte que no engenho Jurissaca "que sua mulher trouxera em dote, alémde outros- bens, que reunidamente constituiam uma avultada fortuna, passou assim descansadamente e na mais feliz abastança todo o resto de sua vida", escreve o seu tanto maliciosamente Pereira da Costa. 12v.2 p352 É ainda Pereira da Costa quem assinala ter D. Luis de Sousa Henriques exercido,talvez em 1616 - o ano anterior ao da morte do sogro - o governo da Capitania, provavelmente por ordem de Gaspar de Sousa, então residente em Pernambuco, e, certamente durante uma daquelas ausências de Duarte de Albuquerque Coelho, já referidas atrás. Nada consta, porém, sobre o ano em que ainterinidade terminou, 12 v.2 p.350 e nos "Anais Pernambucano?´ faz-se a ressalva, aliás, de terem sido Frei Antônio de Santa Maria Jaboatão e D. Domingos do Loreto Couto os únicos escritores que deixaram menção desse governo interino, ambos, de resto, sem situá-lo com precisão no tempo. Comoquer que fosse, em janeiro de 1617 chegava a Pernambuco um novo governador geral do Brasil de nome D. Luis de Sousa, que por expressa determinaçffo real aqui se demorou até começos de 1619 para melhor atender aos"negócios do Maranh!o", ou mais precisamente aos problemas implicadosna fundação da Capitania do Pará a partir da ilha de São Luís, recuperadados franceses de La Ravardiêre. A coexistência em Olinda dos dois fidalgoshomônimos gerou freqüentes confusões nos registos históricos. E talvez fossepor via das dúvidas que D. Catarina Barreto se qualificava mulher de D. Luisde Sousa Henriques, tal como mandaria gravar na sua campa, e não de D.Luis de Sousa simplesmente. Entre outras coisas porque o D. Luis de Sousagovernador geral era casado em Portugal com a condessa de Mendelim, quenão deixou em paz as Cortes, aliás, enquanto não lhe devolveram para lá omarido.Quantos anos viveu D. Luis, senhor deJurissaca? Para isso não temosresposta e tampouco se conhecem outros fatos da vida do casal além de quetiveram seis filhos, cinco dos quais, segundo Brito Freire, rodeavam a já então viúva O. Catarina Barreto quando ela se pôs em marcha participando daretirada de julho de 1635. Um dos filhos era aquele D. J0ã0 de Sousa que em1645 permanecia no exílio da Bahia, quando ali foram ter o conselheiro p0-1Í´tico Balthazar van der Voorde e o comandante do forte do Pontal no cabode Santo Agostinho, Diederik van Hoogstraten, para protestar contra o apoiolevado do rio Real pelas gentes de Camarão e Henrique Dias aos primeirosassomas da insurreição pernambucana e ao mesmo tempo para sondar as intenções porventura veladas do governador Antonio Teles da Silva.D. Jogo de Sousa induziu ardilosamente Hoogstraten a uma clandestina audiência em que o mesmo governador lhe assegurou dar carta branca aocabo de guerra Paulo da Cunha para negociar com ele a entrega do forte, entrega que se verificaria, com efeito, pouco tempo depois, logo em seguida àbatalha das Tabocas, para grande furor do Conselho Supremo, no Recife.Dos filhos de D. Luis e D. Catarina seria D. João de Sousa o de maiorevidência no Brasil, tomando parte ativa na guerra da Restauração depois deter tido seu batismo de fogo nas lutas do Alentejo, em Portugal. Como mes [p. 5, 6, 7 do pdf]
coração aos pulos, desfiando contas de rosários, recitando nervosas ladainhasjuntamente com os filhos e as negras caseiras, beijando de quando em vezbentinhos, relíquias e imagens de santos que nunca abandonavam. Poderá tersido numa dessas aflições maiores que a viúva de D. Luís de Sousa Henriques,agarrada à esperança e ao propósito de um dia regressar ao seu engenho Jurissaca, dedicou três dos filhos à vida conventual.Retomando, porém, o mortificante itinerário, da vila de Sirinhaématé o rio Una há de ter passado o comboio pelo engenho das Ilhetas, pertencente a Estevão Pais Barreto, que provavelmente nessa oportunidade se incorporou à migração, o mesmo podendo ter acontecido por parte do irmão Diogo, quando atingida a margem esquerda do Una. Do Una onde um seu engenho fora estabelecido sob a invocação de Nossa Senhora da Guia. Apontahoje um barreirense ilustre, o professor Rui de Aires Belo, no sítio onde seencontra a sede da Usina Rio Una, agora desativada, o lugar onde estava onúcleo do engenho Una de Diogo Pais Barreto, o qual ainda existia com essenome quando Manoel da Costa Honorato o revistou no seu "Dicionário topográfico", em meados do século passado, 23 p.l47 e continuava existindo naúltima década de oitocentos, como propriedade do Visconde do Rio Formoso. 3 p. 276 Em 1636 o. Conde de Bagnoli, lá então sob as ordens de D. Luisde Rojas y Borja, despachou de Porto Calvo um destacamento que se foi fortificar - regista o Marquês de Basto - "junto ao rio Una, para a parte do sul,em uma casa que ficava em frente do engenho de Diogo Pais e à vista da povoação e da igreja de São Gonçalo. 10 P 23 4 Na ribeira meridional do rio,essa fortificação parece ter sido instalada em terras do hoje engenho Erval,na margem convexa do amplo meandro que o Una descreve a jusante da atualcidade de Barreiros. Dali, com efeito, avistam-se à direita os outeiros no altode um dos quais perseveram as vetustas ruu´nas da igreja de São Gonçalo, matriz da povoação homônima, também chamada de povoado de Una, nos arredores da qual o brabantino Verdonck dizia haver em 1630 quatro ou cincoengenhos além de muito gado. 35 pOiS Segundo apurou o desembargador Jerônimo Martiniano Figueira de Mello, o monte onde se encontra a igreja foidoado, para seu patrimônio, por Diogo Pais Barreto em 1624 ou 1625.´ 8 E oculto popular do santo - talvez São Gonçalo Garcia, franciscano, que foium dos mártires do Japão, talvez o dominicano São Gonçalo de Amarante -era celebrado todos os anos com proporções tamanhas que quando o conselheiro Bullestrate passou pelo povoado em 1641 foi instado pelo capitão comandante da guarnição holandesa para que lhe dessem meios de se fortificarmelhor, "visto que os portugueses ali residentes são audaciosos e, ainda mais,durante a festa de São Gonçalo, reúnem-se ali entre três a quatro mil pessoas"6 p645 Não é demais presumir que de passagem pelas terras do irmãoD. Catarina Barreto, devota como era, se tenha feito transportar ladeira ad [p. 19 do pdf]
Rocha Pitta era aquela mesma D. Brites da Rocha Pitta 32 P. 5 "insigne matrona de muito perfeito juízo, natural de Pernambuco de onde se retirou notempo do Holandês", 18v.1 r´.274 não estando claro, porém, se participouda retirada de 1635 ou de alguma das que se repetiram nos dois anos seguntes.Voltou a Pernambuco, com certeza, o olindense Lu (s Marreiros, queem 1650 era vereador na Câmara de Olinda. E regressou igualmente D. Catarina, cuja pedra tumu lar ainda hoje existe, não mais na igreja de São Gonçalode Jurissaca, mas na capelinha da enseada do Paiva, uma propriedade particular que se dilata entre a ponta das Pedras Pretas e a de Simão Pinto.De que essa lápide estivera antes na ermida de São Gonçalo deixoutestemunho Nasson Figueredo 17 P. 56 quando informou que ainda em 1888o epitáfio fora copiado pelo dr. C(cero Odon Peregrino da Silva, sócio doInstituto Arqueológico e Geográfico Pernambucano, tendo desaparecido depois das ruínas da igreja. A verdade é que foi levada para a capêla de S. Joséde Paiva já desde o fim do século passado, e para essa mesma capela o atualproprietário da praia, o industrial Ricardo Brennand, fez transportar recentemente, conforme revela em carta que nos escreveu, a pedra de fecho de arcocentral da ermida, pedra na qual está gravado o ano de 1653.A construção da ermida - ou sua reconstrução, porque no mapa intitulado "Praefecturae Paranambucae Pars Borealis" (1640) do livro de Barléu, já está assinalado um topônimo, "São Gonçalo", aproximadamente nolugar em que se encontra a ermida - fora conclu (da, portanto, já no ano anterior ao da definitiva expulsão dos holandeses. E como erigida em terras doengenho Jurissaca, que os holandeses tinham confiscado e vendido ao judeuMoisés Navarro por 45.000 florins e que foi afinal recuperado por D. Catarina, não parece haver dúvidas de que foi ela mesma quem mandou edificar aigreja. Talvez em cumprimento de algum voto feito nos dias tormentososda retirada para a Bahia, mas de qualquer modo testemunhando a pressa comque voltou ás suas terras, mesmo sem esperar que os últimos hereges tivessemafinal capitulado. Na lousa tumular armoriada, que nos chegou até hoje, estão os timbres dos Pais, dos Velhos e dos Barretos num escudo esquarteladoem cujo coração figuram as armas dos Souza Henriques e lê-se a seguinte inscrição: "Aqui jaz D. Catarina Barreto mulher que foi de D. Luis de SousaHenriques Pede pelo amor de Deus um Padre-Nosso e uma Ave-Maria pelaalma de ambos". [p. 21]