Apontamentos Históricos, Geográficos, Biográficos, Estatísticos e Noticiosos da Província de São Paulo seguidos da Cronologia dos acontecimentos mais notáveis desde a fundação da Capitania de São Vicente até o ano de 1876. Manuel Eufrásio de Azevedo Marques - 01/01/1876 de ( registros)
Apontamentos Históricos, Geográficos, Biográficos, Estatísticos e Noticiosos da Província de São Paulo seguidos da Cronologia dos acontecimentos mais notáveis desde a fundação da Capitania de São Vicente até o ano de 1876. Manuel Eufrásio de Azevedo Marques
1876. Há 149 anos
Manuel Fernandes Ramos - Natural de Portugal. Exerceu em São Paulo os cargos de governança da terra pelos fins do século XVI e em 1600 transferindo-se com sua família para o lugar em que está hoje a vila de Parnahyba, cuja povoação fundou com seu filho André Fernandes. [p. 61]
Mosteiro de São Bento da cidade de São Paulo - Teve origem por uma ermida dedicada á Senhora do Monserrate, que em 1598 foi ereta por devoção do governador D. Francisco de Sousa e por Fr. Mauro Teixeira, que da Bahia veio mandado pelo provincial para fundar o mosteiro, e para o qual foram concedidas pelo capitão-mór Jorge Corrêa, a 4 de julho de 1598, duas sesmarias como se vê do livro 2o. de registro d´elas, existente na Tesouraria de Fazenda; mas só em 1600 foi realizada a fundação por Fr. Matheus da Ascensão, como se vê da carta de data que segue:
"Os oficiais da Câmara da vila de São Paulo da Capitania de São Vicente do Brasil Balthazar de Godoy e João Maciel, vereadores Gaspar Vaz, juiz ordinário e João Fernandes, procurador do conselho, etc. etc.
Aos que esta carta de chãos de sesmaria para sítio de convento virem e o conhecimento d´ela com direito pertencer, fazemos saber que, por sua petição nos enviou dizer Fr. Matheus de Ascensão, prior da casa de São Paulo, novamente fundada n´esta vila, que ele fora enviado de seu maior á esta Capitania de São Vicente, para n´ela edificar mosteiro, aonde mais descente e melhor lhe parecesse, e por quanto n´ela vila lhe pareceu bem o achou já feita uma ermida em certo sítio e chão que lhe fôra assinado pelos oficiais nossos antepassados, fora d´esta vila, partindo com Gonçalo Madeira de uma banda, e de outra com Jorge e João, e com o rio Grande que vai para baixo d´esta vila e um ribeiro chamado Anhangovay n´aquele alto, por cima, pedindo-nos que dos ditos lhe mandássemos passar carta e dar d´ele posse, segundo o que na dita petição era declarado, por nós vista com a informação que do escrivão Belchior da Costa tomamos, por nos constar ser como o dito padre alega, por serviço de Deus Nosso Senhor e deu seu servo bem-aventurado São Bento, lhe damos e havemos por dados os ditos chãos para convento,k mosteiro ou casa do dito Santo, etc.
Convento do Carmo em Itú - Foi fundado em 1719 pelo padre comissário Fr. João Baptista de Jesus, por autorização de D. João V, a pedido das câmaras de Itú e Sorocaba. De um recenseamento dos bens dos conventos da Capitania de São Paulo, existente no arquivo da secretaria do governo, organizado em 1798, e assinado pelo secretário Luiz Antonio Neves de Carvalho, consta que este convento possuía naquela época os bens seguintes: a fazenda e engenho de açúcar, situada na capela do Desterro, com 8 braças de terras doadas para patrimônio pelo capitão Manoel Fernandes de Abreu, filho do capitão Balthazar Fernandes, fundador de Sorocaba; a fazenda Socorro, doada por Miguel Soares, com 300 braças ou 633,3 metros de terras; as terras de Pirajibú, compradas em 1750 por 30$; 100 braças ou 222,2 metros de terras juntas á capela do Desterro, que foram de Lourenço Castanho Taques; 66 braças, ou 138,6 metros de terras que vendeu João de Góes a João de Castro. Todas as terras que foram de Agapito Amaral, doadas ao convento em 1752. [p. 106]
Domingos Leme da Silva - Natural de São Paulo, da nobre família de seu apelido, filho de Pedro Leme do Prado e de D. Maria Gonçalves Preto. Na cidade de São Paulo e na vila de Sorocaba onde mudou-se, ocupou Domingos Leme da Silva a posição saliente que lhe proporcionavam os seus merecimentos e meios de fortuna adquiridos, á força de coragem inaudita e de atividade no trabalho. Faleceu em Sorocaba a 5 de julgo de 1684, deixando de seu primeiro casamento com D. Francisca Cardoso, e do segundo com D. Maria de Abreu, os seguintes filhos:
1 - D. Isabel Cardoso, casada com Bartholomeu Bueno, o velho Anhanguera. 2 - Francisco Leme da Silva, casado com D. Isabel de Anhaia. 3 - Domingos Leme da Silva, casado com D. Maria de Cordeiro de Almeida. 4 - Pedor Leme da Silva, por antonomásia, o Torto, falecido em Itú, casado com D. Domingas Gonçalves. Este foi o pai dos infelizes João e Lourenço Leme 5 - D. Maria Leme da Silva, casada com o alcaide-mór Jacintho Moreira Cabral. 6 - D. Helena do Prado da Silva, casada com Pedro Vaz Ratão. 7 - José Leme da Silva, casado em Pitanguy com D. Gertrudes de Siqueira Moraes.
Do 2o. matrimônio:
8 - Domingos Leme da Silva, mestre de campo falecido em Cuyabá. [p. 126]
Fábrica de ferro de Ipanema - Acha-se situada á margem do rio que lhe dá nome, nas fraldas da montanha Araçoyaba (vide este nome) a Oéste da cidade de São Paulo, da qual dista 20 léguas e meia ou 113,8 quilômetros, no município da cidade de Sorocaba, da qual dista 3 léguas ou 16,6 quilômetros a Noroeste. As minas de ferro foram descobertas em 1589 pelo paulista Affonso Sardinha, que buscava as de ouro, mas que não desconhecendo a importância d´aquele metal, ai construíra um forno catalão para a preparação do ferro, na qual, com os recursos do lugar e conhecimentos da época, encontrou, como era de prever, dificuldades insuperáveis.
Alguns anos depois (1600) cedeu-a a D. Francisco de Sousa, governador geral das Capitanias do Sul, o qual, transportando-se á Araçoyaba, intentou levantar em suas imediações e fundou mesmo uma povoação, a que deu o nome de Itapeboçú, com o fito de facilitar e desenvolver a fabricação de ferro. A povoação não progrediu, e parte de seus habitantes foi se congregando tempos depois para o lugar em que se acha hoje a cidade de Sorocaba. D. Francisco de Sousa faleceu em São Paulo em 1611, e por sua morte passou a propriedade a seu filho D. Antonio, que associou-se em 1619 a Francisco Lopes Pinto e a Diogo de Quadros, para darem impulso ao que então chamava-se engenho de ferro; porém, passados dez anos, estes novos empresários tinham já abandonado o seu propósito.
Descobertas as minas de ouro de Jaraguá, Apiahy e Paranapanema, e reconhecidas pobres, voltaram-se as atenções para as de Araçoyaba, porque se dizia existirem ali veeiros de prata. Para o reconhecimento d´esta especialidade mandou o Governo da metrópole em 1681 a Fr. Pedro de Sousa [p. 136]
Fábrica de ferro em Santo Amaro - A existência outr´ora de uma fábrica de ferro nas imediações e meia légua distante a NE. da vila de Santo Amaro, na marge do rio Gerybatiba ou dos Pinheiros, é fato averiguado. Teve princípio em 1600, no lugar então chamado Ibirapoera, extinguindo-se em 1629 com a morte dos sócios, que foram o primeiro Marquês das Minas D. Francisco de Sousa, o provedor-mór da fazenda Diogo de Quadros e seu cunhado Francisco Lopes Pinto, os mesmos que também tiveram sociedade na fábrica de Ipanema. A escritura da sociedade foi passada em 1609 pelo tabelião Simão Borges Cerqueira. [p. 138]
Sorocaba - Povoação situada a Oeste da capital, da qual dista 18 léguas ou 100 quilômetros, á margem do rio que lhe dá o nome. Está a 23o 39´de latitude e 330o 25´de longitude da Ilha do Ferro.
Ácerca de sua fundação ha o seguinte: Em 1600 o governador geral das minas D. Francisco de Sousa, em resultado das explorações que fez na Capitania de São Vicente e nas minas de Araçoyaba, resolveu fundar uma povoação nas vizinhanças da ditas minas. Este fato comprova, além de outros fundamentos históricos, com o documento que abaixo transcrevemos e consta do livro 3o. de sesmarias existente no cartório da Tesouraria de Fazenda:
"Illm. Sr. governador feral - Diz Francisco Rodrigues que ele é morador na vila de São Paulo e que está de caminho para o termo de Byraçoyaba, a povoar e lavrar mantimentos como outros moradores que lá vão, e porquanto não tem terras por serem já todas dadas pelos capitães passados, por isso pede uma légua de terra em quadra pela ribeira de Carapoy, começando a dita data da tapera de Hibapaara, rio abaixo de Carapoy, ressalvando as pontas e voltas que o rio fizer, ficando a dita data da banda do Sul do dito rio, visto ter muitos filhos e filhas para agasalhar, e haver muitos anos que está na terra, achando-se nela em todos os rebates e guerras que n´ela se fizeram, á sua custa, e demais resultar com a sua povoação muito serviço á Sua Majestade e ao descobrimento das minas de ouro e prata e mais que por V. S. serão, com ajuda de Deus, descobertas."
Despacho: "Dou ao suplicante as terras que pede. São Paulo, 14 de julho de 1601 - D. Francisco de Sousa."
É, pois, certo que o governador geral D. Francisco de Sousa (que faleceu em São Paulo em 1611) intentou fundar ali uma povoação e que chegou mesmo a estabelece-la pelos anos decorridos de 1600 a 1610, com o fim de dar desenvolvimento á exploração das minas; mas sobrevindo-lhe a morte, não progrediu a referida povoação, antes decaiu rapidamente até extinguir-se de todo; essa povoação chamou-se Itapeboçú. [p. 173]