Se as pessoas em São Paulo hoje em dia vão à loucura nos festejos de uma final de Copa do Mundo que o Brasil vença ou de um título de algum dos grandes clubes da capital, poucos conseguem vislumbrar o frenesi que foi a celebração, em 1954, do 4º Centenário de São Paulo.
A expectativa do primeiro centenário a ser comemorado oficialmente em 400 anos de existência da cidade foi levada muito a sério, tanto que em 1951 uma comissão foi criada para organizar todos os festejos e celebrações da data que ainda estava por vir.
Para a chefia desta comissão foi escolhido ninguém menos que Ciccillo Matarazzo. Excelente articulador, o sobrinho do Conde Matarazzo fez com que tudo envolvendo o evento fosse um grande sucesso, como obras artísticas, objetos de decoração, livros (muitos deles), eventos, inaugurações, apoio institucionais de empresas etc. Ele só teve um problema para lidar: o monumento ao 4º Centenário de São Paulo.
Chamado de Aspiral o monumento foi um dos vários projetos elaborados pelo arquiteto Oscar Niemeyer para o parque do Ibirapuera, inaugurado em agosto de 1954 como uma das comemorações dos 400 anos de São Paulo. A escultura, por sua vez, seria inaugurado apenas em 1955.
Planejado para ser instalado no espaço hoje compreendido entre a Oca e o auditório o desenho do monumento era lindo e caiu no gosto dos políticos e da população. O símbolo oficial do 4º Centenário logo ganhou as ruas, sendo adotado em selos, moedas, balaústres, pinturas, flâmulas e outros mais produtos que se possa imaginar, um verdadeiro sucesso.
Porém o monumento tinha um grande problema: O desenho criado por Niemeyer era um desafio à física e a engenharia da época, pois seu ângulo de sustentação o tornaram impossível de ser construído e sustentado em pé. Afinal ele seria erguido com 17 metros de altura em concreto armado, partindo do chão do parque sem qualquer base e formando um ângulo de 45°.
O tempo ia passando e nada era capaz de colocar o monumento de pé, o que começou a deixar Ciccillo Matarazzo desesperado pois o prazo estava se esgotando. Após procurar nova ajuda optaram por fazer uma pequena mudança no projeto, mudando o ângulo da escultura para 60°, isso sem contar ao seu criador, Oscar Niemeyer. E ai finalmente foi possível executar a obra a tempo.
DEU RUIM
O que tudo parecia resolvido virou um enorme problema poucos dias antes de sua inauguração oficial. Os pedreiros que executavam a obra da escultura erraram na quantidade de concreto, colocando uma espessura de 4 cm quando o correto seriam apenas 2 cm. O monumento que já estava pronto ficou muito pesado e impossível de se sustentar, vindo a desabar.
O trágico acontecimento ocorrido levou o engenheiro Valter Neuman, construtor da obra, a ter que pensar rápido para uma solução ou a inauguração que aconteceria em dois dias teria de ser cancelada, se transformando em um grande fiasco. A resposta para entregar a obra no prazo veio de materiais básicos: gesso e juta.
O JEITINHO BRASILEIRO
De posse dos novos materiais e trabalhando contra o relógio a obra foi executada novamente e em tempo recorde. A haste de metal foi colocada, a espiral encaixada ao redor dela e todo o conjunto foi feito envolvido na juta e recoberto com a massa de gesso, sendo em seguida pintado na cor escolhida.A inauguração foi um sucesso e contou com inúmeras autoridades políticas, militares e eclesiásticas, além de convidados diversos e nenhum sequer desconfiou do "jeitinho" que foi aplicado para a obra monumental ser inaugurada em tempo. Tudo perfeito!Contudo poucos meses depois ações climáticas como chuva, umidade e vento foram exercendo sua força sobre a escultura, derretendo o gesso e soltando a juta, deixando a estrutura base, feita em ferro, exposta às intempéries. Sem manutenção alguma e esquecido no Ibirapuera a estrutura enferrujou completamente até que ruiu de vez e foi jogada fora. Era o fim da linha para o monumento que deveria representar a pujança de São Paulo, mas que acabou desmanchado e na lata do lixo.