QUEM É O ÚNICO ENVOLVIDO NO ASSALTO AO BANCO CENTRAL QUE NÃO FOI PRESO? FABIO PREVIDELLI, em aventurasnahistoria.uol.com.br - 20/03/2022 de ( registros)
QUEM É O ÚNICO ENVOLVIDO NO ASSALTO AO BANCO CENTRAL QUE NÃO FOI PRESO? FABIO PREVIDELLI, em aventurasnahistoria.uol.com.br
20 de março de 2022, domingo. Há 2 anos
Até 2020, a Justiça Federal do Ceará havia condenado 119 réus pelo assalto ao Banco Central, ocorrido em agosto de 2005. Na ocasião, os criminosos roubaram cerca de três toneladas de dinheiro, o equivalente a R$164 milhões.
Para furtar o cofre de um dos bancos mais seguros do Brasil, a quadrilha cavou um túnel de 77 metros que ligava uma casa próxima ao local até o cofre do banco. O crime, realizado no final de semana, só foi descoberto na segunda-feira seguinte, e foi por muito tempo o maior caso de roubo a banco da história do Brasil — sendo superado apenas em 2011, quando doze criminosos levaram R$ 500 milhões em joias e dinheiro de 171 cofres particulares de um banco localizado na Avenida Paulista, em São Paulo.
17 anos depois do crime em Fortaleza, o caso é esmiuçado na série documental ‘3 Tonelada$: Assalto ao Banco Central’, que estreou esta semana na Netflix. Um dos pontos que mais chama a atenção na narrativa é que, embora a polícia considere que as investigações foram um sucesso — visto que grande parte dos criminosos foram presos, mesmo que apenas cerca de 30 milhões tenham sido recuperados —, somente um envolvido com o crime jamais foi preso: Juvenal Laurindo.
Um dos maiores roubos do Brasil
O plano para assaltar o Banco Central começou muito antes da madrugada, entre os dias 5 e 6 de agosto de 2005. Afinal, em meados de maio daquele ano, um grupo começou a cavar o túnel que ligava uma casa alugada pelo bando — onde funcionava uma empresa de fachada de grama sintética — até o cofre do banco.
Para construir os 77 metros da passagem subterrânea que ligava os dois pontos, os envolvidos no crime tiveram que passar por baixo de uma das mais movimentadas vias do Centro de Fortaleza, a Avenida Dom Manuel. Para dar conta do trabalho braçal, os criminosos trabalhavam em turnos de até sete pessoas, sem parar, usando apenas pás de jardineiro.
O túnel ainda contava com um sistema de ventilação, iluminação e uma linha para interfone (sendo que eles não usavam telefone para não deixar provas). Estima-se que 900 tábuas de madeira foram usadas em sua construção.
Na noite do furto, uma sexta-feira, os criminosos arrombaram seis gaiolas que guardavam montes de notas de R$50. Quatro delas foram totalmente esvaziadas, de uma retirou-se quase sua totalidade e a última foi apenas parcialmente furtada. Ao todo, o bando precisou fazer mais de 330 ‘viagens’ entre os pontos para levar todo o dinheiro.
O caso só foi descoberto no começo da semana seguinte, quando os funcionários do Banco Central chegaram ao local no início do expediente. Ao adentrarem o cofre, um buraco foi identificado no chão. As câmeras de segurança e os sensores de movimento não identificaram nenhuma movimentação suspeita enquanto os criminosos estiveram no local.
Os cabeças do crime
Antônio Jussivan Alves dos Santos, vulgo ´Alemão´, foi o responsável por recrutar criminosos para participar do assalto. Ele foi preso em 2008, em Brasília. Quase uma década depois, em 2017, ele tentou fugir de um presídio cearense, mas acabou sendo baleado, segundo informou o G1. Capturado, foi transferido para um presídio federal.
Alemão foi condenado por crimes como furto, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e falsidade ideológica. Por conta disso, sua pena total chegou em 130 anos de reclusão, mas acabou tendo sua sentença reduzida para 35 anos e 10 meses.
O assalto ainda tem, ao menos, outros três mentores. Um deles é Luís Fernando Ribeiro, o Fernandinho, que teria financiado a construção do túnel ao desembolsar cerca de 800 mil reais. Ele acabou sendo sequestrado em outubro de 2005, em Minas Gerais, onde acabou sendo morto mesmo com seus familiares pagando R$2 milhões por sua libertação. A suspeita principal é que policiais civis tenham cometido o ato.
Nessa história há também ‘Véi Davi’, alcunha de Davi Silvano da Silva, o mentor intelectual do furto. Preso em 2005, tinha cerca de 12 milhões em sua posse. Sua pena foi definida em 47 anos por furto, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e uso de documento falso. Mas sua defesa recorreu e a sentença foi diminuída para 17 anos e seis meses.
O último deles é Moisés Teixeira da Silva, o Tatuzão, que recebeu o apelido por ser um especialista em cavar túneis. Ele foi o último líder a ser preso, em julho de 2009. Sua sentença inicial foi de 16 anos por furto, formação de quadrilha e uso de documento falso. Pouco depois, a pena foi reduzida para 14 anos.
As buscas por Carcará
A maior parte dos envolvidos no crime foram presos, o que inclui alguns dos membros da família Laurindo, chamados de ‘primos’ do Alemão. O único envolvido que jamais foi capturado nestes 17 anos foi Juvenal Laurindo, o Carcará.
Conforme aponta o seriado da Netflix, a polícia chegou a montar diversas operações para capturá-lo, mas em nenhuma delas tiveram sucesso. Em uma delas, ocorrida em Boa Viagem, num município do Ceará, os agentes chegaram a ir até sua residência, por volta das 4 horas da manhã, mas ele conseguiu escapar assim que um jumento começou a zurrar e alertou o criminoso, que conseguiu fugir.
Conforme aponta matéria do SBT News, publicada em 7 de agosto de 2020, Juvenal conseguiu judicialmente o direito de continuar em liberdade. Na ocasião, sua defesa obteve uma determinação da Justiça para que o mandado de prisão em seu nome fosse cancelado. Assim, ele só passaria a ser procurado novamente caso outra determinação fosse emitida.
Juvenal Laurindo chegou a fazer parte da lista dos homens mais procurados do país. Além do envolvimento no assalto ao Banco Central, ele também possui condenações por receptação, formação de quadrilha, e está entre os suspeitos de ter cometido roubo à maior mineradora de diamantes da América Latina, em Nordestina (BA); além de ter participado da explosão de uma lotérica do município de Independência (CE), segundo aponta o jornal O Tempo.