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Jornal "O Agricultor Bahiano"
28 de março de 1866, quarta-feira. Há 158 anos
Utilidade dos Nativos, em relação á colonização européia, que tem vindo para o Brasil

Ethnografia dos íncols no Brasil
BR>Chronohonia dos Nativos (continuação do n. antecedente)

O que suposto, respondendo agora á primeira pergunta, ha de se dizer que os primeiros progenitores dos nativos da América (segundo esta opinião) entraram a povoal-a sucessivamente com os que entraram a povoar a ilha Atlante; pois tudo era a mesma terra, mais ou menos distante das colunas de Hércules. E foi muito antes, que na dita ilha reinasse o príncipe Atlante, que sucedeu nos anjos da criação do mundo 2334, segundo o compulso dos autores que descrevem este seu reinado [Página 2]Marcílio Ficino, sobre este lugar de Platão, no Timaco, cap. 4.o, tem para si, que toda esta historia da ilha Atlante é verdadeira. O mesmo parecer tem Diodoro Siculo, liv. 6.o, cap. 7.o, onde diz o que já acima referimos, que os Fenícios em tempos antiquíssimos, navegando fora das colunas de Hércules, e correndo a costa da África, foram levados da força dos ventos, a uma ilha de notável grandeza, fronteira á Africa, que corria parte do Poente, ameníssima, cheia de bosques, de rios, de arvoredos, de cidades, e edifícios suntuosos. Abraham Hortelio (1527-1598), na Taboa da America, diz que ha muitos que tem para si, que a mesma América foi descrita por Platão, e debaixo do nome da ilha Atlântica, e que também Plutarco, seguira a opinião de Platão: e não diz ele coisa alguma em contrário.

(...) Os portugueses, depois que entraram no conhecimento das numerosas nações da nativos do Brasil, fizeram distinções, e consideraram grandes nações os Aimbéres, os Cahetés, Goytacazes, Potyguares, Puris, Tamoyos, Tupinambás, que ocupavam a costa marítima do Brasil; e á medida que se foram entranhando pelos sertões, acharam outras nações não menos numerosas que aquelas, como são em Mato Grosso os Bororós, Guaycurús, Payaguás e Parecis. No Rio Grande de São Pedro do Sul, descobriram os Guaranys. Em Goyaz, os Goyazes, e Chavantes: no Pará, os Manachós, ou Manochós, em outros lugares, os Coroados, etc.

O jesuíta Simão de Vasconcelos, diz, que alguns reduzem a três as nações dos nativos do Brasil, que são os Tapuyares, os Potyguares, e Tapuyas; outros a quatro, acrescentando os Tupinambás; outros a cinco, acrescentando os Tamoyos; outros a seis, acrescentando os Carijós. Vasconcelos, consultando a todos que escreveram, resume as nações dos nativos a duas somente, a que chama nações genéricas, que as divide em suas espécies da maneira seguinte:

Todos os nativos, quantos ha no Brasil, vemos que se reduzem a mansos e bravos. Mansos chamamos, aos que com algum modo de republica (ainda que tosca) são mais tratáveis, perseveráveis, entre os portugueses, deixando-se instruir, e cultivar. Chamamos bravos, pelo contrário, aos que vivem sem modo algum de republica, são intratáveis, e com dificuldade se deixam instruir. Aquela nação genérica, de nativos mansos, divide-se em algumas espécies, e a principal compreende todos os bandos, ou ranchos de semelhantes nativos, que correm ordinariamente a costa do Brasil, e falam aquela língua comum, de que compôs a Arte Universal o Padre José de Anchieta, da Companhia de Jesus, como são, Tobayaras, Tupís, Tupinambás, Tupiguaes, Tumiminós, Amoigpyras, Araboyaras, Rariguiaras, Potiguaes, Tamoyos, Carijós, e outras quaisquer, que houver da mesma língua. Todas tenho que fazem só uma espécie, ou nação específica, posto que acidentalmente diversas, em lugares, e ranchos.

A outra espécie é de Goyanás, nativos, que também se contam entre os mansos, mas de diferente língua; são dos mais tratáveis, e habitam para para a última parte do Sul, fronteiros ao Carijós, e contrários seus. Outras espécies muitas ha destes nativos pelo sertão dentro; especialmente pelo Rio do Amazonas acima, de homens não só nas línguas, mas na cor, feitio, e costumes diversos; mas gente mansa e tratável.

A outra nação genérica é de Tapuyas. Desta afirmam muitos, que compreende debaixo de sí perto de um cento de línguas diferentes; e por conseguinte outras tantas espécies, a saber: Aymóres, Potentus, Goytacazes, Guaramónis, Goaregoarés, Jeçarucús, Amanipaqués, Payeás; seria cansar contar todas.

(...) Tobayáras são os nativos principais do Brasil, e pretendem eles ser os primeiros povoadores, e senhores da terra. O nome que tomaram o mostra; porque ára quer dizer senhores, tobá quer dizer rosto; e vem a dizer que são os senhores da terra, que eles tem pela fronteira do marítimo, em comparação do sertão. [Página 3]

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