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OS MARCOS GEOGRÁFICOS COMO REFERÊNCIAS NA OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO PAULISTA. Data da consulta
5 de janeiro de 2024, sexta-feira.
2- OS CAMINHOS DAS “BANDEIRAS” E OS REFERENCIAIS GEOGRÁFICOS2.1- Os principais caminhos para Minas e o caso do morro do Lopo Desde o século XVI, expedições abriram vários caminhos em busca de riquezas principalmente em território mineiro. Em um primeiro momento as tentativas de descobrimento vinham do nordeste em direção ao sertão, com as “Entradas”.Temos os principais caminhos descritos por Antônio Gilberto Costa:13

Entre 1553 e 1554 aconteceu a “Entrada” de Francisco Bruzza de Spinosa (Fig. 8), a partir de Porto Seguro, para tentar se chegar a “Serra Resplandecente”. Um primeiro relato do sertão se inicia, tendo sempre marcos geográficos como referenciais, mesmo que para demonstrar a dificuldade que estes impunham à expedição. Segundo descrição do jesuíta João de Aspilcueta Navarro, que acompanhou Espinosa, os sertões eram ‘intratáveis a pés portugueses, dificultosíssimos de penetrar (...), tendo que atravessar inúmeras lagôas e rios(...), os montes fragrosíssimos, os matos espesíssimos, que chegavam a impedirlhes o dia’.14

Em 1561, para se tentar alcançar a região de Sabarabuçu (região da atual Sabará), no território de Minas Gerais, ocorreu a “Entrada” de Dom Vasco Rodrigues Caldas, sendo seguida da de Martim Carvalho em 1568. E assim, sucessivamente várias “Entradas” foram organizadas durante o século XVI, com roteiros partindo principalmente da Bahia e do Espírito Santo.

Por outro lado as “Bandeiras” paulistas, no final do século XVI, abriram alguns caminhos partindo de São Paulo de Piratininga incentivadas pelo Governador-Geral das capitanias do sul, Dom Francisco de Sousa. Capistrano de Abreu destaca a posição geográfica estratégica de São Paulo que

(...) impelia-a para o sertão, para os dois rios de cuja bacia se avizinha, o Tietê e o Paraíba do Sul, teatros prováveis das primeiras bandeiras, que tornaram logo famoso o temido nome paulista.15

Costa16 relata que um dos primeiros registros de expedições partindo de São Paulo em 1596, é a que foi chefiada pelo Capitão-Mor João Pereira de Sousa Botafogo, e se configura pelo deslocamento seguindo o Vale do Rio Paraíba.

E é nessa trilha que se configura um dos mais importantes caminhos partindo de São Paulo, que chegava a Minas, a partir da bifurcação em Guaratinguetá, atravessando a Serra da Mantiqueira pela garganta do Embaú,17 atual cidade de Cruzeiro no Estado de São Paulo (Figs. 6, 8, 9, 10 itens 8, 9 e 11). Também ficou conhecido como “Caminho Velho”.

Esse caminho, entre outros, fazia parte de trilhas indígenas que já se encontravam dispostas segundo o sentido dos cursos de água, atravessando os campos abertos ou aproveitando as gargantas naturais, que permitiam a passagem de uma bacia para outra.18 Os mais conhecidos nesta época eram os: “Caminho dos Guaianases” e “Caminho dos Goytacases”. Existia um outro caminho importante que aproveitava também uma trilha indígena, que fez com que as vilas paulistas do Vale do Paraíba se comunicassem com o Rio de Janeiro através de Paraty, no século XVII. Este derivava da bifurcação do caminho paulista para Minas através da garganta do Embaú, só que no sentido oposto, pois seguia a direção do litoral, passando pelos campos de Cunha e pela Serra do Mar (Fig. 10, itens 11, 15 e 16). A descoberta dos rios Sapucay e o Verde, no final do século XVI, foi de fundamental importância para ligação à Goiás (Fig. 10, itens 5 e 6).

Conforme Costa,19 em 1596, membros da expedição de Martim Correia de Sá perseguiram índios tamoios próximo a esses rios, e ainda no mesmo ano a Bandeira de João Botafogo, já mencionada, alcançou as regiões dos rios Verde e Sapucahy, após travessia da Mantiqueira pela garganta do Embaú, passando pelo morro do Cachambú em direção ao território Goiano (Fig. 10, itens 1, 3, 9, 12 e 13). [Páginas 4 e 5]

Em 1602, foi feito o mesmo caminho passando por estes rios em sentido contrário: a expedição de Diogo Gonçalves Laço e Francisco Proença chegou em Minas a partir do Caminho de Mogi-Guaçu e voltou para São Paulo pelo “Caminho Velho” (Fig. 10).

Esse traçado que ligava Goiás a Minas e que passava pelos rios Verde e Sapucahy propiciou o surgimento de uma bifurcação que se ligava ao morro do Lopo, e iria se transformar posteriormente, em importante caminho de “Bandeiras” (Fig. 5 e Fig. 10, itens 4 e 14). Mesmo com algumas iniciativas esparsas, o início do século XVII não propiciou a expansão de Caminhos rumo à Minas, pois, aliada à situação precária de alimentação, em 1624 um Mandado do Capitão-mór Álvaro Luiz do Valle, proibia ‘...sahir gente para o sertão obrigando a gente de armas a se aprestar para a defeza da Capitania...’, os paulistas foram obrigados a continuar inativos no bandeirismo.20

É somente com o fim da união das coroas ibéricas (1580 - 1640), as “Bandeiras” paulistas voltam a ser organizar em direção busca do sonho de encontrar riquezas. A primeira que se tem referência é a de João Pereira em 1643, sendo seguida em 1655 pela de Álvaro Rodrigues, e a partir da década de 60 muitas outras “Bandeiras” saíram em busca de ouro e esmeraldas rumo à serra de Sabarabuçu.

A “Bandeira” de Lourenço Castanho Taques, em 1668, foi importante para consolidação dos caminhos para Minas, conforme explica Costa,21 pois enfrentou os ferozes índios cataguazes e araxás. O caminho desta expedição pode ter sido o do Morro do Lopo, porém existem divergências.

Ausente
15 de maio de 1668, terça-feira (Há 356 anos)
 Fontes (2)

Em 1672, D. Pedro II (de Portugal) encarregou Fernão Dias Pais Leme de encontrar as minas. Recebe a nomeação de governador de toda a gente de guerra e outra qualquer que tiver ido ao descobrimento das minas de pratas e esmeraldas.22Essa “Bandeira” partiu em 21 de junho de 1674 na direção de Sabarabuçu. Fizeram parte da expedição 674 homens, entre os quais: Garcia Rodrigues Pais (filho de Fernão Dias), José Dias Pais (filho bastardo) Manuel da Borba Gato (genro) e o Capitão Mathias Cardoso de Almeida (comandante da expedição).

Partida
21 de junho de 1674, quinta-feira (Há 350 anos)
 Fontes (1)

Segundo a tradição e os cronistas, faleceu Fernão Dias, em 1681, nas margens do rio das Velhas, quando regressava das explorações na região banhada pelos rios Jequitinhonha e Araçuaí.23

Primeira notícia do falecimento
26 de junho de 1681, quinta-feira (Há 343 anos)
 Fontes (6)

O exato caminho de ida e volta da expedição de Fernão Dias é controverso: sabe-se que passou por Paraopeba e Sumidouro até Serro Frio (local que ligava Minas a Bahia), porém a travessia da serra da Mantiqueira pode ter sido feita pelo Embaú no “Caminho Velho”, que acompanhava o Vale do Paraíba, ou pela região de Atibaia e Camanducaia, passando pelo morro do Lopo.

Pedro Taques24 aponta os pioneiros do desbravamento da estrada de São Paulo para Minas, através de São João de Atibaia, descrevendo que em 1673, que as tropas de Fernão Dias Pais haviam entrado nos sertões em direção a Sabarabuçu por este caminho.

Por outro lado, Costa25 relata que a “Bandeira” de Fernão Dias de 1674 deslocou-se pelo vale do Paraíba, atravessando a Mantiqueira, e passando por Ibiturana, Paraopeba, Sumidouro, Roça Grande, Itacambira, Itamarandiba, Esmeraldas, Mato das Pedrarias e Serro Frio.

A possibilidade da existência de passagem de “Bandeiras” pelo caminho do Lopo, vem da expedição de D. Rodrigo de Castelo Branco. Em 12 de março de 1681, D. Rodrigo partiu de São Paulo em direção a Sabarabuçu passando por Juquery, no “Caminho de Atibaia”, também denominado como “Caminho que Vae para o Rio das Mortes”26 (Figs. 4, 5, 7, 10 e 11).

Chegou em Atibaia em 24 de março e a partir daí seguiu o curso do Camanducaia entrando em Minas, tendo a Serra do Lopo à sua direita. Em meados de abril alcançou a região do Sapucahy e por volta de 15 de junho chegou ao Arraial de São Pedro de Paraopeba. Nesse arraial encontrou-se D. Rodrigo com Garcia Rodrigues, que retornava para São Paulo com os restos mortais de Fernão Dias e as famosas pedras verdes encontradas.27

Tornam-se freqüentes as expedições nesta época até que se chegue ao [Páginas 6 e 7]

João de Atibaia que funcionava como entroncamento de vias de comunicações com as regiões do sertão e das minas,31 fazendo com que se a partir daí se derivassem outros caminhos. 3- A OCUPAÇÃO HUMANA E A FORMAÇÃO DOS NÚCLEOS URBANOS NA REGIÃO DO MORRO DO LOPO 3.1- A ocupação indígena Existem registros da presença indígena na região desde o século XVI. Capistrano de Abreu32 diz que os índios Maramumis e Guarulhos (tribos dos Guaianazes) passaram por gargantas do rio Cachoeira e Muquém na atual cidade de Piracaia.33Os jesuítas estabeleceram o controle dos índios guarulhos ou guarus34 nas margens do rio Tietê, Nossa Senhora da Conceição dos Guarulhos, e no sertão35 paulista, no aldeamento36 de São João de Atibaia (Fig. 12).

(...) o Padre Manuel Nunes de Siqueira, vigário de S. Paulo, conduziu e localizou [os índios guarulhos] “no sítio chamado Atibaia”, isso no ano de 1565 (Aureliano Leite).37 Os índios guarulhos chamavam este local de “ty-baia”, que significava “manancial saudável”.

Existem outros registros de índios no local, conforme explica Cassalho,38 descrevendo a história do pirata inglês Antonio Knivet, que esteve na aldeia dos Tamoios em aproximadamente 1598, nas imediações ou confluência do Rio Jaguari com o rio do Peixe (maior afluente da margem esquerda do Jaguari), próximo ao local onde hoje está Igaratá.39

Knivet fazia parte da expedição do famoso pirata Cavendish, e escreveu a história de sua viagem que foi publicada em inglês no início do século XVIII.40

Cavendish foi náufrago e prisioneiro de Salvador Correa de Sá. Antonio Knivet integrou a bandeira de Martim de Sá, saindo do Rio de Janeiro em 1597, passando por Parati, Ubatuba, até o planalto. Ficaram aproximadamente um mês nas proximidades de São José dos Campos. A situação era de fome, pois nas aldeias só havia batata, e já haviam morrido 180 homens. A desordem e a indisciplina completaram o desastre. Nas margens do Jaguary dispersou-se a expedição e por outros trilhos começou a viagem de regresso.41

Antonio Knivet relatou sua viagem dizendo que desceu por uma semana o rio Jaguari com bandeirantes que procuravam seus inimigos Tamoios. A partir daí caminharam rumo sudoeste:

(...) fomos ter a uma montanha grande e selvagem e chegamos a um lugar cujo solo seco e de uma cor escura, crespo de colinas e penhascos, onde vários ribeiros tinham ai suas origens.42

A montanha era o morro do Lopo e, conforme Teodoro Sampaio, o rio seria o Guaripocaba de Bragança Paulista.43 [Páginas 9 e 10]

Em 1618, Ambrósio Fernandes Brandão, escreveu os seis Diálogos das Grandezas do Brasil e dizia que o problema da mineração era a dificuldade de alimentar as pessoas e não a de encontrar metais, e fazia uma estratégia:

O primeiro que se devia fazer antes de bulir nelas, depois de estarem certos que eram de proveito, houvera de plantarem-se muitos mantimentos ao redor do sítio onde elas estão e como os houvesse em abundância tratar-se-ia da lavoura das minas; mas isto se faz pelo contrário, porque sem terem mantimento entenderam em tirar o ouro e como as minas estão muito pelo sertão os que vão levam de carreto o mantimento necessário e como se lhe acaba tornam-se e deixam a lavoura que tinham começado. E esta cuido que é a verdadeira causa de darem as ditas minas pouco de si.52

Fernão Dias Pais,53 fazia o planejamento referente à alimentação de seu bando, e recomendava que se fizessem lavouras ao redor das minas, e que também era necessário muito gado, para que a bandeira não ocorresse de forma aleatória.54Dizia com relação às minas: O primeiro que se devia fazer antes de bulir nelas, depois de estarem certos que eram de proveito, houvera de plantarem-se muitos mantimentos ao redor do sítio onde elas estão e como os houvesse em abundância tratar-se-ia da lavoura das minas; mas isto se faz pelo contrário, porque sem terem mantimento entenderam em tirar o ouro e como as minas estão muito pelo sertão os que vão levam de carreto o mantimento necessário e como se lhe acaba tornam-se e deixam a lavoura que tinham começado. E esta cuido que é a verdadeira causa de darem as ditas minas pouco de si.55

E foi desta forma que Fernão Dias organizar a sua famosa expedição de 1674, mandando na frente para a região do Sumidouro, Bartolomeu da Cunha Gago e Matias Cardoso de Almeida, com a missão de plantar roças de mantimentos, para que quando a expedição chegasse a este local pudesse permanecer e reabastecer. [Página 13]

A fundação de arraiais era fundamental para a sobrevivência das expedições, assim esta “Bandeira” fundou o arraial de Ibipiruna (Serra Negra), o arraial de Santana (no rio Paraopeba) e o de São João de Sumidouro (Pedro Leopoldo).

A partir da chegada ao arraial de Sumidouro, Fernão Dias solicita auxílio ao Governador e a sua esposa devido às baixas sofridas no caminho, e ficou neste local cultivando cereais e criando pequenos animais domésticos. Foi também aí que seu filho José Dias preparou uma insurreição e sendo descoberto foi morto. Desta forma, os caminhos existentes a partir de São Paulo, propiciaram o surgimento de uma rede de povoados que ocuparam o sertão, criando-se entrepostos comerciais principalmente nos locais de pousos das tropas. O local destes povoados dava-se em pontos estratégicos ao longo dos caminhos, onde a natureza era mais acolhedora e propícia para tal.

Exemplo claro disso é o caso da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição das Campinas do Mato Grosso de Jundiaí (Campinas), cuja primeira povoação surge ao redor de três “campinas” surgidas no interior de uma mata densa e de difícil penetração, ao longo de um caminho vindo de Jundiaí em direção a Goiás.563.3- Núcleos urbanos: Freguesias e Vilas Segundo Paulo Prado,57 nos caminhos paulistas das minas reuniu-se a população escassa da capitania, em vilas e arraiais. A partir desses núcleos urbanos se estabelecia (...) uma diretriz sertão adentro, através do que Ratzel nomeou, pela força das tendências antropogeográficas, ‘área de transito’ dos povos. Parnaíba e Itu apontavam para Mato Grosso; Jundiaí, para Goiás; Sorocaba, para os campos onde já surgia Curitiba; as vilas do Paraíba do Sul, para as próximas Minas Gerais (...).58 Da mesma forma, Capistrano de Abreu afirma que as vilas paulistas não eram populosas:

(...) além de Sorocaba, ou de Itu, ou de Guaratinguetá começa o deserto, a população termina bruscamente, como montanha em talhado (...).59 No século XVII, também eram poucos os povoamentos na estrada do “Caminho que Vae para o Rio das Mortes”, apontando para o morro do Lopo, como relata Antonio da Costa Santos.60São João de Atibaia (Atibaia) era a porta de entrada e o mais importante núcleo seguido do de Nossa Senhora de Nazaré de Atibaia (Nazaré Paulista) e Jaguary (Bragança Paulista) (Figs. 4 e 13). A constituição das principais núcleos urbanos da região do morro do Lopo teve a seguinte cronologia: 1- Atibaia: em 1665, foi construída uma capela de São João Batista dando origem a São João do Atibaia,61 passando a ser Paróquia em 1747.62 Foi elevada à Vila em 1769,63 e em 1864 à categoria de Cidade. 2- Nazaré Paulista: a construção da capela primitiva de Nossa Senhora de Nazaré de Atibaia foi efetuada em 1676, tendo sido elevada a vila em 1850 e a Cidade em 1906.643- Bragança Paulista: em 1763 foi construída a Capela de Nossa Senhora da Conceição, próximo ao morro do Lopo, que deu origem ao povoado de Conceição do Jaguary. Em 1797, torna-se vila com o nome de Vila Nova Bragança e em 1856 Cidade de Bragança.65 Existiam, portanto, núcleos urbanos referenciais,66 a partir dos quais orbitavam outros núcleos sendo a existência de todos, conseqüência do traçado dos caminhos e de seus pousos, assim como dos marcos geográficos e econômicos. A hierarquia das cidades ao longo dos caminhos fica explícita na cartografia principalmente do século XVII e início XIX, dada a escassez da mesma no século XVII, já explicada anteriormente, e conforme decorre o tempo, sua representação torna-se cada vez mais elaborada. [Páginas 14 e 15]

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