Surpresas que a genealogia nos revela. Por Paulo Fernando Zaganin. Em xn--yep-dma.com.br
8 de setembro de 2019, domingo. Há 5 anos
A genealogia fornece muitas surpresas. Entre elas, a possibilidade de se descobrir parentescos absolutamente desconhecidos e inusitados, como alguns que, ao longo dos anos e das pesquisas, fui descobrindo e destaco a seguir.É grande, por exemplo, o número de pessoas que descendem no Brasil da família Leme, cujos ascendentes mais distantes foram Wilhelm Lems e sua esposa Claire Van Beernem, nascidos em Bruges, na Bélgica, por volta de 1380, meus 22º avós. Um dos descendentes do casal, Martin Lems, passou a viver em Portugal, onde o sobrenome foi aportuguesado para Leme. Anos mais tarde, parte desta família se transferiu para o Brasil e, hoje, são milhares as pessoas que descendem, por exemplo, de meus 13º avós Fernão Dias Paes Leme e Lucrécia Leme.Esta pode ser considerada a família que tem o maior número de presidentes da República em sua genealogia: Marechal Hermes da Fonseca, Prudente de Moraes, Campos Salles, Getúlio Vargas, Nereu Ramos e Tancredo Neves, todos descendentes da família Leme. No caso de FHC, Leme ele não é, mas sua mulher, Ruth Cardoso, era uma Leme, lemíssima.Ainda seguindo no rumo dos assim chamados “parentes ilustres”, um dos meus tataravôs, Alexandre Faustino de Almeida, era irmão de José Joaquim de Almeida, tataravô de D. Lu Alckmin, por sua vez prima em 5º grau da D. Ruth Cardoso. Cabe aqui dizer que nós três descendemos também do casal Guilherme da Cunha Gago e Brígida Sobrinha de Aguiar (meus 8º avós), ambos de famílias paulistanas tradicionalíssimas.
Outras personagens interessantes que descobri foram minha 14ª avó Catharina Nunes Velho, pentaneta de Álvaro Gil Cabral, que era trisavô de Pedro Álvares Cabral, o descobridor do Brasil. E também meu 13º avô, o Bandeirante Domingos Luis Grou, da família Annes ou Ianes de Portugal, que foi casado com Fulana Guaçu, filha do Cacique de Carapicuíba. Domingos Luis Grou possuía uma data de terra, que vizinhava com a sesmaria concedida aos índios de Piratininga, junto ao rio Carapicuíba.
Em 1570, Grou e outro nobre teriam cometido um assassinato e fugido com a família para o sertão, onde se associaram a índios que, naquela ocasião, estavam em guerra com a Capitania, cujo capitão-mor era Jerônimo Leitão. Padre Anchieta, então, buscando a paz, obteve dos camaristas perdão aos delinquentes e desceu o Anhembi atrás deles. Mas a canoa em que estava, com outros tripulantes, naufragou e Anchieta acabou salvo por um índio. Segundo a tradição, ele teria ficado meia hora debaixo d’água. Esse trecho depois ficou conhecido como Abaremanduava, que quer dizer “cachoeira do padre”. Anchieta conseguiu trazer Grou de volta para a vila e acabar com o perigo de um ataque dos índios. Contudo, em 1590, junto com Antonio de Macedo, filho de João Ramalho, e certo Marcuia, Grou e mais 50 homens fizeram uma entrada no sertão de Mogi, pelo rio abaixo de Anhembi junto do rio Jaguari e, nesta ocasião, foram mortos e devorados pelos índios.
Para minha surpresa, durante as pesquisas acabei descobrindo que até um santo temos na nossa família. Isso mesmo, eu e o Santo Antonio de Sant’Anna Galvão, mais conhecido como Frei Galvão, nascido em 1739, em Guaratinguetá, temos dezenas de ancestrais em comum. Como, por exemplo, meus 10º avós Pedro Vaz de Barros e Maria Leite de Mesquita, que eram bisavós do santo. Ou ainda seu bisavô Paschoal Leite de Miranda que era irmão da minha 10ª avó Clara de Miranda. Cabe aqui ressaltar que nós dois descendemos também de Piqueroby, índio tupiniquim, irmão do Cacique Tibiriçá, ambos contemporâneos do Padre Anchieta.Vale salientar também que a genealogia não nos une apenas com parentes tão longínquos. Por meio dela, acabamos “reencontrando” pessoas da família que, muitas vezes, estão mais próximas do que imaginávamos. Foi assim, que acabei descobrindo que o S. Cilas, esposo da D. Laurinda, era primo legítimo de minha avó Bertolina Andrade. E depois dele, fui sabendo de outros parentes, pela família Andrade, que moravam aqui em Iepê e eu desconhecia, como as queridas Madalena e Marina Andrade, D. Tica (esposa do Adelino Braga), D. Laurentina e D. Lídia, respectivamente esposas de Amado e João Seródio, e tantos outros com os quais nos “reconectamos” e passamos a ter mais contato.O estudo da genealogia nos proporciona, sem dúvida, a possibilidade de desvendar mistérios e histórias incríveis sobre nossos antepassados. Permite-nos conhecer um pouco mais sobre nossa própria história, sobre as origens, as tradições e os costumes de nossa família. A genealogia tem o poder de nos reconectar não apenas com o passado, mas, sobretudo, com as pessoas que fizeram parte dele e sem as quais não estaríamos aqui. Pois, se pararmos para pensar, dependemos de cada uma dessas pessoas que vieram antes de nós – avós, bisavós, trisavós, tataravós etc. –, de suas ações e de suas cargas genéticas, para estarmos aqui hoje, nesta fase da história da humanidade, tal como somos. E daqui cem, duzentos ou trezentos anos, seremos nós os antepassados de tantos outros que virão, certamente virão, depois de nós.