105 anos antes do Kasaru Maru: A saga de 10 anos dos primeiros japoneses no Brasil
Atualizado em 25/02/2025 04:41:47
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Embora o Japão tenha enviado seus primeiros imigrantes ao Brasil em 1908, que após 52 dias no mar, desembarcaram em 18 de junho no Porto de Santos, os primeiros japoneses a pisar em solo brasileiro foram quatro tripulantes do barco Wakamiya Maru.
O Wakamiya-maru partiu da cidade de Ishinomaki para Edo – atual Tóquio, em novembro de 1793. Após dezesseis dias perdidos, devido a uma tempestade, os náufragos foram salvos por um navio de guerra russo que, mesmo não podendo desviar-se de sua rota, levou-os e o Wakamiya-maru chegou à ilha de Unalaska no norte do Pacífico.
Em território russo, a tripulação foi resgatada e transferida para Irkutsk. A Rússia, então liderada por Catarina, a Grande, tentava estabelecer relações comerciais com o Japão.
A Rússia, então liderada por Catarina, a Grande, tentava estabelecer relações comerciais com o Japão. No entanto, o seu falecimento levou os marinheiros a ficarem em Irkutsk por sete anos antes de convocados para St. Petersburg, quando Alexandre I tornou-se czar.
Dos membros da tripulação sobreviventes, quatro desejavam retornar ao Japão e acompanharam Nikolai Petrovich Rezanov.
Enviado da Rússia para o Japão, a bordo do navio Nadezhda, que partiu em 1803 do porto de Kronstadt e seguiu para Copenhaguen (Dinamarca), Falmouth (Inglaterra), Santa Cruz (Ilhas Canárias, Espanha), Ilha de Santa Catarina (Brasil) e Nuku Hiva (Ilhas Marquesas, Oceano Pacífico do Sul).
No retorno, a embarcação aportou, para conserto, em Porto de Desterro, atual Florianópolis (SC), no dia 20 de dezembro, permanecendo até 4 de fevereiro de 1804.
Ali, os quatro japoneses fizeram registros importantes da vida da população local e da produção agrícola da época. O Wakamiya-maru chegou em Nagasaki no dia 6 de Setembro de 1804.
Abertura brasileira às imigrações japonesas e chinesas, foi autorizadas pelo Decreto Lei 97 de 5 de Outubro de 1892.
Em 6 de Novembro 1907 Ryu Mizuno fechou acordo com o secretário da Agricultura de São Paulo, Carlos Arruda Botelho. [1]
O primeiro japonês brasileiroWasaburo Otake nem imaginava que se tornaria um carioca da gema quando foi designado intérprete de 8 oficiais da Marinha brasileira em visita ao Japão. Ele nem sequer falava nosso idioma – o inglês era a língua usada nas conversas com os militares. Mas o aristocrata japonês, então com 17 anos, ganhou a simpatia de Augusto Leopoldo, neto do imperador dom Pedro 2º, que o convidou a acompanhá-lo em sua viagem de volta para conhecer o Brasil. O navio nem deixou a Ásia e a aventura já começou a esquentar. No Ceilão (atual Sri Lanka), o príncipe teve de descer: era 1889, e a República, proclamada, obrigava a família real a se afastar das instituições brasileiras. Chegando ao Rio, Otake não tinha mais a proteção real. Precisou se virar. Aprendeu português, ingressou na Escola Naval e entrou para a história. É o primeiro japonês de que se tem registros concretos de ter morado no Brasil.O diploma de maquinista de Otake levou a assinatura do comandante do navio que o trouxe, o contra-almirante Custódio de Mello. E a vida do japonês carioca parecia caminhar para a tranqüilidade zen, não fosse o fato de Mello ser um dos líderes da Revolta da Armada contra o presidente da República, Floriano Peixoto. No meio da agitação política da Marinha contra o Exército, Otake se ofereceu para lutar com seus companheiros. Mas os colegas o desencorajaram, por ser estrangeiro. Desligou-se da Escola Naval e, logo, seu país o chamaria de volta para lutar na Guerra Sino-Japonesa. A distância, porém, não o deixou chegar a tempo.Assim que a legação (futura embaixada) brasileira foi inaugurada no Japão, Wasaburo tornou-se seu funcionário. Como dominava o português, ele ajudou na tradução da papelada dos imigrantes nipônicos que, em 1908, saíram no navio Kasato-Maru em direção ao Porto de Santos.Os trabalhos que o tornariam mais conhecido foram os primeiros dicionários português-japonês e japonês-português. Foram mais de 30 anos de pesquisa. Lançado em 1918, virou item obrigatório da mala dos que enfrentavam as lavouras de café – e hábitos alimentares esquisitos, como comer feijão salgado – do outro lado do mundo.Na início da década de 1930, o mundo já dava sinais de que um grande conflito armado estava por explodir. Os nacionalismos estavam exaltados às vésperas da 2ª Guerra. Getúlio Vargas demitiu todos os estrangeiros do governo em 1932. Quando a guerra finalmente eclodiu, Brasil e Japão cortaram relações – e Otake perdeu o contato com os amigos que havia feito por aqui. Ele morreu, no dia 23 de fevereiro de 1944, quando os dois países ainda se chamavam de inimigos.Grandes momentos
O amor de Wasaburo Otake pelo nosso país não foi abalado pela guerra. “Casualmente, no dia anterior à sua morte, jurou lealdade ao Brasil”, escreveu seu filho em uma edição do Dicionário Português-Japonês.
Wasaburo foi o primeiro japonês a viver no Brasil, mas há registro de outros que chegaram aqui antes dele, como 4 pescadores que naufragaram em Santa Catarina, em 1803.
Antes de seu dicionário, a única tradução do japonês para o português havia sido escrita por padres jesuítas por volta de 1600. Mas a obra se limitava a termos usados na pregação católica. [2]
Wakamiya-maru* Data: 01/01/1793 Créditos/Fonte: Hidro in Japan (.245.
ID: 1722
Kasato Maru Data: 01/01/1908 Créditos/Fonte: Wikicommons / Domínio público Navio que trouxe os primeiros japoneses(.245.
O que é História?
Abraham Lincoln (1809-1865) dizia que "se não for verdade, não é História. Porém, é possível contar um monte de mentiras dizendo só a verdade.
Existiu um homem que pegou uma nação destruída, recuperou sua economia e devolveu o orgulho ao seu povo. Em seus quatro primeiros anos de governo, o número de desempregados caiu de 6 milhões para 900 mil pessoas. Este homem fez o produto interno bruto crescer 102% e a renda per capita dobrar, aumentou os lucros das empresas de 175 milhões para 5 bilhões de Marcos e reduziu uma hiperinflação, a no máximo 25% ao ano. Este homem adorava música e pintura e quando jovem imaginava a seguir a carreira artística. [28174] Você votaria neste homem Adolf Hitler (1889-1945)?
Quantos ou quais eventos são necessários para uma História? Segundo Aluf Alba, arquivista do Arquivo Naciona: o documento, ele começa a ser memória já no seu nascimento, e os documentos que chegam no Arquivo Nacional fazem parte de um processo, político e técnico de escolhas. O que vai virar arquivo histórico, na verdade é um processo político de escolhas, daquilo que vai constituir um acervo que vai ser perene e que vai representar, de alguma forma a História daquela empresa, daquele grupo social e também do Brasil, como é o caso do Arquivo Nacional.
É sempre um processo político de escolha, por isso que é tão importante termos servidores públicos posicionados, de pessoas preparadas para estarem atuando nesse aspecto.
Mary Del Priori, historiadora:
Nós temos leis aqui no Brasil, que são inclusive eu diria bastante rigorosas. Elas não são cumpridas, mas nós temos leis para arquivos municipais, estaduais e arquivos federais, que deveriam ser cobradas pela própria população, para manutenção desses acervos, acervos que estão desaparecendo, como vimos recentemente com o Museu Nacional e agora com a Cinemateca de São Paulo. E no caso dos arquivos municipais, esses são os mais fragilizados, porque eles tem a memória das pequenas cidades e dos seus prefeitos, que muitas vezes fazem queimar ou fazem simplesmente desaparecer a documentação que não os interessa para a sua posteridade. Então esse, eu diria que essa vigilância sobre o nosso passado, sobre o valor dos nossos arquivos, ainda está faltando na nossa população.
Lia Calabre, historiadora:
A memória de Josef Stálin inclusive, ela serve para que não se repitam os mesmos erros, ela serve para que se aprenda e se caminhe. Os processos constantes de apagamento. Existe um depósito obrigatório de documentação que não é feita, na verdade se a gente pensar, desde que a capital foi para Brasília, os documentos não vieram mais para o Arquivo Nacional. [4080]
Quantos registros?
Fernando Henrique Cardoso recupera a memória das mais influentes personalidades da história do país.
Uma das principais obras do barão chama-se "Efemérides Brasileiras". Foi publicada parcialmente em 1891 e mostra o serviço de um artesão. Ele colecionou os acontecimentos de cada dia da nossa história e enquanto viveu atualizou o manuscrito. Vejamos o que aconteceu no dia 8 de julho. Diz ele:
- Em 1691 o padre Samuel Fritz, missionário da província castelhana dos Omáguas, regressa a sua missão, depois de uma detenção de 22 meses na cidade de Belém do Pará (ver 11 de setembro de 1689).
- Em 1706 o rei de Portugal mandou fechar uma tipografia que funcionava no Recife.
- Em 1785 nasceu o pai do Duque de Caxias.
- Em 1827 um tenente repeliu um ataque argentino na Ilha de São Sebastião.
- Em 1869 o general Portinho obriga os paraguaios a abandonar o Piraporaru e atravessa esse rio.
- Em 1875 falece no Rio Grande do Sul o doutor Manuel Pereira da Silva Ubatuba, a quem se deve a preparação do extractum carnis, que se tornou um dos primeiros artigos de exportação daquela parte do Brasil.
Ainda bem que o barão estava morto em 2014 julho que a Alemanha fez seus 7 a 1 contra o Brasil.
(...) Quem já foi ministro das relações exteriores como eu trabalha numa mesa sobre a qual a um pequeno busto do barão. É como se ele continuasse lá vigiando seus sucessores.
Ele enfrentou as questões de fronteiras com habilidade de um advogado e a erudição de um historiador. Ele ganhava nas arbitragens porque de longe o Brasil levava a melhor documentação. Durante o litígio com a Argentina fez com que se localiza-se o mapa de 1749, que mostrava que a documentação adversária estava simplesmente errada.
Esse caso foi arbitrado pelo presidente Cleveland dos Estados Unidos e Rio Branco preparou a defesa do Brasil morando em uma pensão em Nova York. Conforme registrou passou quatro anos sem qualquer ida ao teatro ou a divertimento.
Vitorioso nas questões de fronteiras tornou-se um herói nacional. Poderia desembarcar entre um Rio, coisa que Nabuco provavelmente faria. O barão ouviu a sentença da arbitragem em Washington e quieto tomou o navio de volta para Liverpool. Preferia viver com seus livros e achava-se um desajeitado para a função de ministro.