'Carro usado: o comércio das mentiras 0 05/01/1983 Please click to see profile.
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   5 de janeiro de 1983, quarta-feira
Carro usado: o comércio das mentiras
      Atualizado em 13/02/2025 06:42:31

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Um dos assuntos mais sérios que abordei em meu tempo de repórter na QUATRO RODAS resultou em uma das reportagens mais engraçadas que já fiz. Saiu na edição 270, publicada em janeiro de 1983.

A pauta era séria porque mostrava práticas desonestas de alguns comerciantes de carros usados, entre elas uma bastante difundida, que era a alteração da quilometragem registrada no odômetro, mas que se tornava cômica em razão das situações vividas durante a apuração.

Coube a mim e ao saudoso Nehemias Vassão (competente caçador de segredos das fábricas) a tarefa de investigar o que acontecia quando um particular queria vender seu carro nas lojas de usados e outro tentava comprar esse mesmo carro, ou um modelo semelhante, horas depois.

O carro usado por nós foi um Ford Del Rey quatro-portas 1982, verde metálico, que havia sido usado no teste de Longa Duração, que na época durava 30.000 km, e estava com pouco mais de 41.000 km.

Minha missão era me passar pelo particular que saía para vender e a do Vassão era a de verificar quanto os mesmos revendedores pediam pelo modelo igual ou semelhante.

Fizemos nossa pesquisa em São Paulo e no no Rio de Janeiro, só que na Cidade Maravilhosa usamos um Gol 1.3 1980, marrom, que também era da Abril e estava com a quilometragem mais elevada, 88.000 km.

Nossa aventura começou no centro de São Paulo, em uma região conhecida como Boca, que concentrava o comércio de automóveis usados naquela época.

Mal cheguei ao local, fui abordado por um corretor de carros, um tipo de profissional muito comum antigamente, que ficava nas esquinas oferecendo ajuda aos motoristas que queriam vender seus carros.

O trabalho deles era levar o proprietário até as lojas e, por isso, recebiam uma comissão, caso o negócio fosse fechado.

O comerciante falou que o carro era novo para ter rodado tanto e que, por isso, daria um “tapa”no odômetro

Na tabela de preços (em cruzeiros) da Quatro Rodas, o Del Rey quatro-portas 1982 valia Cr$ 1.750.000 (hoje, R$ 75.289, tendo o salário mínimo como referência) e o corretor, depois de uma rápida olhada, disse que conseguiríamos algo em torno de Cr$ 1.500.000, se vendêssemos para um de seus lojistas.

Na primeira loja, o dono disse que pagaria Cr$ 1.600.000 se o Del Rey fosse duas-portas, mas como era quatro-portas sua oferta seria de Cr$ 1.400.000. Argumentei que na tabela da Quatro Rodas o preço era maior e ele disparou:

“A revista não compra e nem vende carros. Já tenho esta loja há muito tempo e o cara que faz essa tabela nunca passou por aqui. Pra mim, ele só anda é de metrô”.

Uma concessionária Volkswagen ofereceu Cr$ 1.750.000 na base da troca por um modelo zero-km. E isso nos incentivou a ir a um revendedor autorizado Ford, onde achávamos que receberíamos provavelmente um valor maior.

Nessa concessionária da Ford, eu entrei dirigindo o Del Rey e o Vassão chegou em seguida, a pé, dizendo-se interessado em comprar um carro semelhante ao nosso.

No momento em que o comprador da loja me explicava que carro quatro-portas era difícil de vender, pois o brasileiro só gosta de modelos duas-portas (o que de fato acontecia na época), o vendedor, notando a resistência do Vassão em adquirir um modelo quatro-portas, dizia que por ser um carro de luxo, executivo, o Del Rey havia acabado com a má imagem do quatro-portas no país.

Outro fato engraçado foi quando eu entrei em uma loja da Avenida Santo Amaro, zona sul de São Paulo, e, eu não sabia, o dono era simplesmente o síndico do prédio em que eu morava. Sem saber o que dizer, falei que estava vendendo o carro da Editora Abril.

Disse que esperava pegar Cr$ 1.700.000. Ele achou caro, mas me explicou que só trabalhava com os modelos da Alfa Romeo, por isso não se interessava.

Só que, tão desavisado quanto eu, o Vassão entrou na loja na mesma hora para simular a compra de um Del Rey e o síndico, apesar de ter achado alto o valor que eu pedia, me chamou de lado e disse que iria tentar vender o carro para o Vassão, por Cr$ 1.800.000, ficando com Cr$ 100.000 de comissão.

Fingindo que não conhecia o colega de redação, aceitei que ele desse uma volta comigo para experimentar o carro. Saímos de lá e nunca mais voltamos. Depois, falei para o síndico que o negócio não foi fechado.

Decidimos vender o carro, de fato, não pelo maior preço que conseguimos, mas para uma loja em que um dos sócios, ao oferecer Cr$ 1.450.000, deixou escapar que o carro tinha pouco tempo de uso para somar quase 42.000 km rodados e que, por isso, teria que dar um “tapa” no odômetro.

Eu fechei o negócio e horas depois o Vassão chegou tentando comprar o carro, mas o vendedor nem deixou que ele visse o Del Rey.

Disse que o modelo tinha acabado de entrar no estoque e que precisaria de um “trato” antes de ser posto à venda.

Vassão voltou na data combinada com o vendedor e notou que, além de mais bonito, com a pintura polida, nosso Del Rey estava com apenas 11.218 km rodados e custando Cr$ 2.250.000, ou seja, 55% a mais do valor pelo qual foi comprado.

A esta altura do texto, você deve estar querendo saber o que aconteceu com o Gol. Depois de vender o Del Rey, em São Paulo, eu e o Vassão viajamos para o Rio de Janeiro, com o VW.

Nas primeiras lojas que visitamos, os comerciantes não se interessaram pelo carro. Mas, depois, conseguimos vender o Gol de fato por Cr$ 700.000, em uma loja do bairro da Tijuca, na zona norte da cidade.

Trinta minutos depois do negócio fechado por mim, o Vassão entrou na revenda falando que queria comprar um carro barato.

Ofereceram um Opala, mas ele recusou. O dono da loja então disse que havia um Gol que acabara de chegar e convidou o repórter a entrar no fundo da loja, onde um funcionário mexia no painel do veículo.

Ainda distante do carro, o comerciante gritou para o funcionário: “Terminou de trocar a bateria?”. Diante da resposta afirmativa, o vendedor deixou Vassão examinar o carro, cujo odômetro já marcava 18.113 km.

A loja carioca pediu apenas Cr$ 150.000 a mais sobre o valor pago, porém, quando o Vassão falou que achava a quilometragem muito baixa para o ano e o estado de conservação daquele modelo, o dono da loja fez o seguinte comentário:

“Esse carro era de um diretor da Editora Abril, sabe? Ele fica lá numa sala com ar-condicionado e sem fazer nada. Por isso, o carro não anda.

Em qualquer ramo de atividade sempre houve bons e maus profissionais. Naquela época não era diferente. Com certeza, nem todas as lojas adulteravam os odômetros.

Mas era um tempo em que a tecnologia tornava fácil esse tipo de fraude e a quilometragem baixa era importante porque os motores não duravam tanto quanto hoje em dia.

Jornalista, trabalhou nove anos como repórter na QUATRO RODAS, dez anos como assessor do piloto Ayrton Sennae 25 anos na Audi



Carro usado, o comércio das mentiras
Data: 01/01/1983
Créditos/Fonte: Crédito/Fonte: Revista Quatro Rodas
01/01/1983


ID: 3168


O que é História?
Abraham Lincoln (1809-1865) dizia que "se não for verdade, não é História. Porém, é possível contar um monte de mentiras dizendo só a verdade.

Existiu um homem que pegou uma nação destruída, recuperou sua economia e devolveu o orgulho ao seu povo. Em seus quatro primeiros anos de governo, o número de desempregados caiu de 6 milhões para 900 mil pessoas. Este homem fez o produto interno bruto crescer 102% e a renda per capita dobrar, aumentou os lucros das empresas de 175 milhões para 5 bilhões de Marcos e reduziu uma hiperinflação, a no máximo 25% ao ano. Este homem adorava música e pintura e quando jovem imaginava a seguir a carreira artística. [28174] Você votaria neste homem Adolf Hitler (1889-1945)?



Quantos ou quais eventos são necessários para uma História?
Segundo Aluf Alba, arquivista do Arquivo Naciona: o documento, ele começa a ser memória já no seu nascimento, e os documentos que chegam no Arquivo Nacional fazem parte de um processo, político e técnico de escolhas. O que vai virar arquivo histórico, na verdade é um processo político de escolhas, daquilo que vai constituir um acervo que vai ser perene e que vai representar, de alguma forma a História daquela empresa, daquele grupo social e também do Brasil, como é o caso do Arquivo Nacional.

É sempre um processo político de escolha, por isso que é tão importante termos servidores públicos posicionados, de pessoas preparadas para estarem atuando nesse aspecto.


Mary Del Priori, historiadora:

Nós temos leis aqui no Brasil, que são inclusive eu diria bastante rigorosas. Elas não são cumpridas, mas nós temos leis para arquivos municipais, estaduais e arquivos federais, que deveriam ser cobradas pela própria população, para manutenção desses acervos, acervos que estão desaparecendo, como vimos recentemente com o Museu Nacional e agora com a Cinemateca de São Paulo. E no caso dos arquivos municipais, esses são os mais fragilizados, porque eles tem a memória das pequenas cidades e dos seus prefeitos, que muitas vezes fazem queimar ou fazem simplesmente desaparecer a documentação que não os interessa para a sua posteridade. Então esse, eu diria que essa vigilância sobre o nosso passado, sobre o valor dos nossos arquivos, ainda está faltando na nossa população.

Lia Calabre, historiadora:

A memória de Josef Stálin inclusive, ela serve para que não se repitam os mesmos erros, ela serve para que se aprenda e se caminhe. Os processos constantes de apagamento. Existe um depósito obrigatório de documentação que não é feita, na verdade se a gente pensar, desde que a capital foi para Brasília, os documentos não vieram mais para o Arquivo Nacional. [4080]

Quantos registros? Fernando Henrique Cardoso recupera a memória das mais influentes personalidades da história do país.

Uma das principais obras do barão chama-se "Efemérides Brasileiras". Foi publicada parcialmente em 1891 e mostra o serviço de um artesão. Ele colecionou os acontecimentos de cada dia da nossa história e enquanto viveu atualizou o manuscrito. Vejamos o que aconteceu no dia 8 de julho. Diz ele:

- Em 1691 o padre Samuel Fritz, missionário da província castelhana dos Omáguas, regressa a sua missão, depois de uma detenção de 22 meses na cidade de Belém do Pará (ver 11 de setembro de 1689).

- Em 1706 o rei de Portugal mandou fechar uma tipografia que funcionava no Recife.

- Em 1785 nasceu o pai do Duque de Caxias.

- Em 1827 um tenente repeliu um ataque argentino na Ilha de São Sebastião.

- Em 1869 o general Portinho obriga os paraguaios a abandonar o Piraporaru e atravessa esse rio.

- Em 1875 falece no Rio Grande do Sul o doutor Manuel Pereira da Silva Ubatuba, a quem se deve a preparação do extractum carnis, que se tornou um dos primeiros artigos de exportação daquela parte do Brasil.

Ainda bem que o barão estava morto em 2014 julho que a Alemanha fez seus 7 a 1 contra o Brasil.

(...) Quem já foi ministro das relações exteriores como eu trabalha numa mesa sobre a qual a um pequeno busto do barão. É como se ele continuasse lá vigiando seus sucessores.

Ele enfrentou as questões de fronteiras com habilidade de um advogado e a erudição de um historiador. Ele ganhava nas arbitragens porque de longe o Brasil levava a melhor documentação. Durante o litígio com a Argentina fez com que se localiza-se o mapa de 1749, que mostrava que a documentação adversária estava simplesmente errada.

Esse caso foi arbitrado pelo presidente Cleveland dos Estados Unidos e Rio Branco preparou a defesa do Brasil morando em uma pensão em Nova York. Conforme registrou passou quatro anos sem qualquer ida ao teatro ou a divertimento.

Vitorioso nas questões de fronteiras tornou-se um herói nacional. Poderia desembarcar entre um Rio, coisa que Nabuco provavelmente faria. O barão ouviu a sentença da arbitragem em Washington e quieto tomou o navio de volta para Liverpool. Preferia viver com seus livros e achava-se um desajeitado para a função de ministro.


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